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Criando Roteiros — Aula 1: O Esqueleto

Iniciado por Rawen, 27/07/2016 às 13:03

27/07/2016 às 13:03 Última edição: 31/07/2016 às 12:37 por ManecBR3
Criando Roteiros
Aula 1
O Esqueleto


[box2 class=green title=Introdução:]
Podemos perceber que o corpo humano é uma máquina, mas mais do que isso, uma base perfeita em seu funcionamento, e sem esta base perfeita vêm as deficiências, erros e problemas. Além destes erros, existem os vírus que atapalham o funcionamento e degradam a base. Podemos aprender com o corpo e com ele criar um método de trabalho, e um dos exemplos de utilização deste método é na escrita, seja bem-vindo às aulas de roteirização, onde aprenderá usando esta base!

Aulas:

Aula 1: O esqueleto.
Aula 2: Os órgãos.[/box2]


[box2 class=green title=O esqueleto:]Você já deve ter ouvido a expressão "o esqueleto de...", talvez até mesmo conheça seu significado, mas sabe aplicá-lo? É aí que as aulas entram, saber aplicar o que já sabe, e aquilo que não sabe. Comecemos: O esqueleto é a base literal do corpo humano, a base da base. O esqueleto é a última coisa a se degradar e é a primeira a ser pensada. É o núcleo, pode ser usado até mesmo para identificar de onde veio, o que é. No caso da escrita, o esqueleto até mesmo as folhas deixadas na gaveta, e falaremos das folhas deixadas na gaveta. O esqueleto é o início, as ideias que se tornarão o texto, o organismo completo. Trabalhar no esqueleto é necessário, é aquilo que pode ser considerado o primordial. Então, vejamos o esqueleto no texto.[/box2]


[box2 class=green title=As folhas deixadas na gaveta...]
Já ouviu falar nas folhas deixadas na gaveta? É algo legal e dinâmico de se fazer. Já ficou com uma ideia no meio da rua ou do trabalho? Naquela reunião eu na saída com os amigos? Talvez sim, e nessas horas temos a vontade de anotar a ideia, e se não pudermos o fazer pensamos: "Me lembrarei quando chegar em casa".
Sabe qual é a parte legal das folhas? Elas são só suas, podem ser uma linha, uma palavra, seja o que for. Letra feia, ilegível, é só para você, não importa como ficar, e isso as torna dinâmicas. Então, dou-lhe uma dica: Leve sempre com você um bloco de notas, leve caneta também. Sempre que tiver uma ideia, anote, não a perca, isso pode realmente ajudar na hora de criar seu roteiro.
Existe algo que deve ser pensado: para anotar nas folhas, não tente pensar em nada, deixe que venha à sua cabeça, assim você não se desesperará e terá ideias cada vez melhores conforme seu cérebro for se acostumando, assim, elas realmente serão folhas deixadas na gaveta, conforme ideias que se completem forem se acumulando, será mais fácil passar para o próximo passo, essa é uma das formas de construir seu esqueleto.[/box2]


[box2 class=green title=Transformando inspirações:]Isso é interessante, você pode estar vendo um filme e de repente ter a ideia de fazer algo baseado naquilo, e que tal realmente se basear? Um esqueleto pode sim ser copiado, como os fósseis na reconstituição dos museus, não é vergonha nenhuma se inspirar numa obra, o problema é copiá-la descaradamente. A transformação segue passos, e o primeiro delas e identificar a premissa, a base, o esqueleto da obra à se inspirar. Precisamos de um exemplo, certo? Vamos usar uma obra simples para se inspirar, como estamos falando de roteiros gerais podemos usar qualquer obra, mas como o caso mais comum é de games, vamos usar um.
No caso dos jogos, é mais difícil identificar o esqueleto, seria mais simples ler o prólogo, mas aí não seria nossa visão da história, o que dificultaria na hora de modificar, então, peguemos um jogo conhecido que o Skyloftian adora: The Legend Of Zelda: Ocarina of Time, vou tirar a minha ideia do esqueleto do game, lembrando, essa premissa deve ser de fácil entendimento pessoal, não para os outros:
Eram tempos de paz, até que o homem mau do deserto decidiu estragá-los. Seu objetivo era conseguir o poder da Triforce, localizada no reino sagrado, e para isso precisaria[...]
Essa é a premissa da história, podemos modificá-la, vejamos como fica:
Eram tempos de paz, mas eis que em meio aquilo inicia-se uma guerra de reinos, o celestial e o terreno, amos prezavam por uma única coisa, os artefatos um do outro, eram artefatos que criariam o povo onipotente[...]
Se você prestar atenção, verá que existem semelhanças entre as duas histórias, e a base meramente foi modificada.[/box2]


[box2 class=green title=Fechando:]
Essa foi a primeira aula do "Criando Roteiros", espero que possa ajudar, no mais, boa sorte com seus roteiros, mas tem uma coisinha, preguiçosos já tremem:
[box2 class=red title=Lição de Casa:] Criar uma base modificada de algum jogo, série, filme, anime, desenho, livro, mangá, quadrinhos, etc. Deve-se postar a base retirada da obra original, nada de copiar a sinopse, ok?[/box2]
É isso, espero que tenham gostado.
-Abraços do Manec, até*
:ok:
[/box2]

27/07/2016 às 15:43 #1 Última edição: 27/07/2016 às 16:08 por Joseph Poe
Muito interessante, Senhor [user]ManecBR3[/user]. O esqueleto, conhecido na literatura como outline é indispensável para se ter total controle da trama. Sobre o hábito de andar com blocos de nota: concordo plenamente. Você vai estar dentro do ônibus, seguindo para a escola ou para o trabalho. De repente vai ter uma ideia incrível e faz uma nota mental. Noventa por cento das vezes, você não vai se lembrar dela se não anotar. Deixo meu dever de casa aqui, professor.

Escolhi como base, O Livro do Cemitério, de Neil Gaiman. Usei apenas a primeira frase, para me adaptar ao estilo e tentar imitá-lo da melhor maneira possível. Obviamente, não consegui um décimo da qualidade original, mas quebra o galho.

O Livro do Cemitério - Base
No escuro havia uma mão e ela segurava uma faca...
O cabo preto, lustrado brilhava a luz da lua e refletia o rosto de um homem encapuzado. Este homem seguia pela rua sinuosa até que parou diante de uma porta. Era uma porta robusta do tipo que existe para uma única finalidade. A porta existia para impedir que pessoas como o homem que segurava a faca passassem por ela. O que havia do outro lado, o homem não podia dizer.
   Ele tentou abrir a porta de três maneiras:
   Primeiro tentou usar a maçaneta, mas obviamente a porta estava trancada. Depois tentou abrir a fechadura com um grampo que tirou do casaco, mas o grampo era muito pequeno para uma fechadura tão antiga e tão importante como aquela. Por último, tentou enfiar a faca entre a porta e o umbral, mas a faca não aguentaria o serviço de um pé de cabra.
   Então o homem pensou em uma quarta maneira.
   No centro da porta havia uma aldrava. A argola de metal com arabescos entalhados era pesada e por isso faria um barulho infernal no silêncio da madrugada. O homem que segurava a faca pensou bem, pois não queria chamar a atenção. A ideia era entrar sem ser visto ou ouvido. Tocar a aldrava era anunciar sua presença literalmente.
   Por fim, resolveu bater na porta de leve com os nós dos dedos. Não eram batidas para serem ouvidas. Ele esperava que passassem despercebidas ou ignoradas, apesar de saber que precisava entrar ali.
   O homem que segurava a faca parou, prestou bastante atenção no silêncio. Detrás da porta, um par de pés (ou dois pares muito bem sincronizados) se aproximava. Por baixo da porta surgiu a iluminação típica das lamparinas a óleo. Escondeu a faca sob o casaco. A porta se abriu e uma mulher com muitos anos de idade apareceu. Ela vestia uma camisola rosada e segurava uma lamparina nas mãos trêmulas.
   - Posso ajudar? – perguntou ela com a voz rouca.
   - Certamente que sim – respondeu ele. Pensou em algo rápido para manter a porta aberta. Algo que desse mais tempo para pensar. – Por acaso a senhora saberia me informar quantas horas são?
   A velha senhora ficou espantada. Por que alguém bateria a sua porta para lhe fazer uma pergunta dessas? Ainda por cima de madrugada! Desconfiou e fechou um pouco a porta, deixando apenas uma fresta por onde um olho podia espiar. Deu uma olhadela na parede onde um grande relógio de pêndulo balançava.
   - São três e meia. Mais alguma coisa, senhor?
   O homem acariciou a lâmina sob o casaco. A faca de cabo escuro era fria e reconfortante. O homem precisava encontrar uma forma de entrar na casa. Mas não podia simplesmente avançar. Não sabia o que havia lá dentro. Precisava de mais tempo.
   - Eu poderia usar o seu banheiro? – Disse ele envergonhado por não conseguir pensar em algo melhor.
   A senhora ficou ainda mais desconfiada. Apertou mais a fresta e quase desapareceu por detrás da porta. A chama da lamparina já não era visível e lançava luz para a calçada como a haste de uma lança.
   - Não creio que seja uma boa ideia – respondeu ela. Seguiu-se um silêncio incômodo. Os únicos sons vinham do vento na rua e do relógio de pêndulo atrás da porta. Ela encarou o homem de casaco. Não conseguia imaginar porque uma pessoa faria aquele tipo de pergunta. Somente a elegância a impedia de fechar a porta na cara do homem.
   Ele pigarreou. Reuniu e organizou as palavras em sua boca.
- Permita-me insistir. Eu realmente preciso usar o seu banheiro. – Ele continuava alisando a lâmina sob o casaco.
   A senhora não entendeu porque continuava conversando com aquele estranho às três e meia da madrugada. Queria voltar a dormir debaixo das cobertas quentes e confortáveis. Pensou em qual seria a forma mais educada de se livrar dele, mas não encontrou uma forma muito delicada para fazê-lo.
   - O senhor vai me desculpar – começou ela. – Mas não chegou em boa hora. Eu estava dormindo e pretendo voltar para a cama. Está frio e o senhor também deveria voltar para sua casa. Recomendo que procure um banheiro público. Há um na estação de metro a duas quadras daqui que o senhor pode usar. Obrigada e tenha uma boa noite.
   A senhora mal começou a fechar a porta quando a mão do homem se colocou entre a porta e o umbral. Assustada, deixou a lamparina cair fazendo muito barulho. Deu sinais de que iria gritar e a mão avançou até sua boca.
   Como não havia outra maneira, o homem revelou a faca sob o casaco. A lâmina fez o que precisava fazer e voltou para o esconderijo.
   O homem passou pela porta e a primeira coisa que viu foi o grande pêndulo na parede.
   Tic, tac...
   Ele pegou com cuidado a lamparina do chão. Por sorte era uma lamparina a óleo difícil de apagar. Com a faca sob o casaco e a lamparina em mãos, ele se esgueirou pelos corredores da casa. A chama da lamparina lançava sombras dançantes por toda parte e várias vezes o homem que segurava a faca se assustara com elas.
   Depois de alguns instantes (e alguns sustos), o homem se deparou com uma escada em forma de caracol. Esse tipo de escada era extremamente desconfortável, pois os degraus eram apertados e não se podia ver o topo da base. Sem saber o que havia lá em cima, ele subiu hesitante.
   Degrau por degrau, as sombras dançando.
   Quando colocou o primeiro pé no andar de cima, uma lufada de vento apagou a chama da lamparina. O homem olhou em volta e viu que havia uma janela aberta. Fechou-a tarde demais. Não trouxera consigo nenhum fósforo. Agora a única luz que iluminava os corredores vinha das janelas sem cortinas. O homem tirou a faca do casaco e a empunhou com firmeza...
[close]
Tudo bem, me empolguei... :ded:
Aguardando a próxima aula!

De fato muito bom, Poe. Mas não vale, você é bom demais  :sad:
Enfim, gostei realmente, mas fiquei com pena da velhinha, queria continuar à ler.
Espero mais lições, obrigado por participar  :XD: