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Eu, aleatório

Iniciado por Rawen, 18/04/2017 às 14:22

Eu, Aleatório

Eu era um pouco diferente. Aos cinco, diferente de qualquer outra criança não gostava de chocolate ou qualquer tipo de doce, eu gostava de amendoim salgado. Sério, como alguém pode não gostar de amendoim? Aos quinze, enquanto todas se apaixonavam por cantores, eu ouvia música. Sim, eu ouvia música. Elas não ouviam, elas viam. É engraçado pensar que, com o tempo, a música foi perdendo a importância.

Não, não foi.

Não bastasse as músicas que eu, em minha humildade, considero vazias, sem conteúdo; ainda deveria me acostumar com artistas visuais armados de guitarras, baterias e, muitas vezes, nem mesmo disso? O problema não é o conteúdo das músicas — nem a falta dele —, o problema é que a música não importa, o que importa é o cantor.

Não generalizo, sou um caso diferente, devem existir muitas outras como eu.

Lembro que, naquela época, uma amiga me recomendou confiante a música de um artista que, na época, fazia um sucesso incrível — não me recordo do nome agora —, então pedi para que ela cantasse um trecho de uma música dele. "Música? Bem... eu não decorei as letras dele". Depois dessa resposta, educadamente pedi para que me dissesse do que elas se tratavam. "Estão em inglês, não entendo muito bem". Eu disse que procuraria por ele ao chegar em casa de noite e não sei, sinceramente, se me esqueci ou não fiz questão.

Aos dezenove ingressei numa faculdade pública na região. Muitas pessoas de muitas idades diferentes, mas uma coisa em comum me surpreendeu: quantidade de pessoas que dormiam. Sabe, gente, eu entendo completamente as pessoas que dormem do infantil e fundamental ao médio, elas só não gostam de estar ali e estão sendo obrigadas ao mesmo; mas o que leva alguém a dormir num curso que, com muito suor — acredito —, está pagando? É impressionante que estes mesmos dorminhocos tiveram notas maiores que as minhas no fim — não falo de setenta ou oitenta, falo de noventa, noventa e cinco. Não apresentaram um único trabalho em sala, pelo que me lembro. Será que sairiam dali como profissionais? Finalmente cheguei aonde gostaria. Nossos profissionais que são tão corruptos naquele estágio têm direito de reclamar por um país mais justo?

Sim, tem.

Todos têm o direito, não? São poucos os que, de fato, fazem-no valer. Eu falo sério quando digo que me revolto ao ver alguém que não é capaz de me dizer quanto é seis mais seis passar numa prova de matemática com nota maior que a minha, alguém que não sabe onde vai o "n" e onde vai o "m" numa palavra tirarem notas melhores que as minhas em avaliações de português. Elas realmente sabem o que marcam naquela folha de papel? Elas não são capazes de lidar com um trabalho direito mais pra frente em sua vida, o que as leva a fazer um trabalho mal-feito. Isso não é corrupto?

Aos vinte e oito arrumei um namorado. Ele era um cara muito legal, nos conhecemos na faculdade e continuamos a nos falar por alguns anos antes de namorar — nove, talvez? Nos casamos um ano depois disso. Três meses depois do casamento nos divorciamos.

Por quê?

Ele não era o namorado que conheci aos dezenove na faculdade, era um babaca aos trinta. De verdade, por mais infantil que ele poderia ser, não era esse o problema. Como alguém consegue reformular seu caráter para pior em menos de três meses? Como alguém consegue mudar completamente em tão pouco tempo? É tão fácil jogar fora sua máscara? Me ensina. Eu não chorei quando ele foi embora, aliás, quem o mandou embora fui eu. Por que eu deveria chorar? Se nos divorciamos é porque não deu certo, não é? Aliás, adoro usar esse ocorrido como exemplo para quando algum amigo está em depressão pós-divórcio, não dói em mim, não deveria doer muito em você. Tá bom, tá bom, eu tenho uma personalidade ruim, mas não me culpe por isso.


Isso sou apenas eu, aleatório.

Orra, muito bom Sr. [user]Manec[/user]. Gostei bastante desses leves tapas na cara espalhados pelo texto haha. Também, esse estilo mias íntimo fica perfeito para a escolha narrativa. O ritmo flui muito bem.

Citar"Nos casamos um ano depois disso. Três meses depois do casamento nos divorciamos."

Esse trecho ficou genial.

Obrigado, Poe   :ded:
Que bom que gostou do texto, cara  :XD: