CAPITULO I
JOGOS OUTONAIS
"Abre os olhos..." "Abre os olhos..."
Eles não querem se abrir.
__ Bom dia alteza!
__ Bom dia Rên.
O príncipe Hóberon cumprimenta o servo ainda dormindo.
__ Não seria muito tarde agora? Seria?
__ Não vossa alteza, ainda é bem cedo, não passamos da hora do desjejum.
__ Hum!!! – Hóberon se senta na cama fofa feita de lã, pensa um pouco e esforça se para levantar.
O servo termina de lhe preparar o banho e questiona:
__ Vossa alteza vai querer seu cavalo pronto quando se levantar?
__ Sim, mande prepará lo Rên. – Hóberon irá ao campo...
Os jogos de outono sempre provocavam essa reação em Hóberon: desejo de ver tudo acabando. Tudo que ele queria realmente era se livrar do peso de sua realeza, e da sombra de seu irmão, Mansur.
Hóberon sempre o amou, isso era notório. Mansur era um espadachim esplêndido, o maior do reino de Góroth, como era a lei daquele reino, Mansur desde muito jovem aprendeu as artes da guerra de seus antepassados, bem como foi introduzido nos conhecimentos de magia, como era costume na sua linhagem real.
Os jogos outonais eram uma comemoração ao dia em que Góroth foi instituída como reino unificado pelo primeiro imperador, o rei Hornothon, tataravô de Hóberon. E, durante os jogos eram feitas diversas provas de múltiplas habilidades de combate: espada, lança, corpo a corpo, conhecimentos gerais de estratégia, magia história, raciocínio matemático...
E era também durante os jogos que se escolhiam os novos oficiais e se graduavam soldados e cavaleiros da guarda real.
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Depois de um banho quente Hóberon monta seu cavalo favorito: Séf, e cavalga pra bem próximo da arena central, seis delas em volta da central ligadas por estradas cercadas de madeira tomando a forma de uma enorme estrela hexagonal, entre elas proliferavam uma grande quantidade de barracas com todas as coisas que podiam ser necessárias dentro do evento: comida, bebida, espadas, escudos... e foi numa das barracas de talismãs que Hóberon encontra Zágon.
Zágon pertencia a uma casta de magos – conselheiros do reino, Hóberon o tinha como seu melhor amigo. Era um homem alto de tez escura, tinha braços longos e emitia um estranho sorriso por baixo das ataduras que cobriam seu rosto quase que por completo. Muitos diziam que ele teria queimado seu rosto enquanto preparava um de seus encantamentos, mas a proximidade do mago e o príncipe fazia com que as línguas ferinas ficassem dentro da boca.
__ Vossa alteza!!
__ Zágon, meu bom amigo...
__ Animado, meu príncipe?
__ Você sabe bem como me sinto na proximidade desses jogos, Zágon.
__ Hum-rum – Zágon sabia sim...
__Hei príncipe!!! Não vai lutar esse ano? – A voz que chegava doce aos ouvidos de Hóberon era de Lizy, uma das mais belas cortesãs de Góroth. Desde bem jovem Lizy "arrastou asas" para o príncipe, mas ele, não se sabe se por inocência ou por falta de vontade, nunca lhe deu oportunidades mais extremas de concluir seus desejos.
__ Como todos os anos, eu não pretendo, mas vejo que nosso rei Hódrian acabará por me "convencer" – A voz de Hóberon era carregada de uma mistura de sarcasmo e tristeza.
__ Por que fala assim de seu pai? "Rei Hódrian", não soa com o carinho a que se tem com um pai...
__ E não era pra ser... – O Interpelou.
__ Vossa alteza, vossa alteza...
Os gritos que interromperam Hóberon chamaram a atenção de todos e os fizeram virar se na direção deles, foi quando viram Zímor, o jovem escudeiro do príncipe Hóberon.
__ Calma Zímor, respire, respire. Disse Zágon.
__Vossa alteza, vosso pai está a sua procura. Disse o garoto entre pausas ofegantes não dando ouvidos ao mago.
__ Diga lhe que irei logo...
__ Mas vossa alteza...
__ Vá Zímor! E ele se foi.
__ Acho melhor irmos. Disse o mago.
__ Sim, claro! Você nos acompanha Lizy? Pergunta Hóberon.
__ Com todo prazer. Respondeu a moça sorridente.
Eles se encaminharam para mais próximo da arena central, e foi nessa proximidade que se depararam com a grande tenda real. Ao entrarem na tenda o príncipe Mansur que estava sentado à direita do rei subitamente se levanta e dirige s ao irmão:
__ Muito bem! Já que chegou, você tem o meu lugar. E saiu.
__ Ele anda muito ausente. Comentou o rei.
__ Ele sempre esteve ausente, pelo menos pra mim...
As palavras de Hóberon soaram como um murmúrio angustiado, mas seu pai não o havia ouvido.
__ Já está preparado para o desafio desse ano? Pergunta o rei.
__ Tenho sempre que estar, não é?
__ Hum!
Os dois se entreolharam.
__ E quem é o desafiante? Questionou Lizy.
__ Não importa quem seja, Hóberon sempre os vencerá.
Falou Zágon em tom animado.
__ Até quando?!? – suspirou Hóberon.
CAPITULO II
OS DESAFIOS REAIS
__ Força!!!
Os gritos soavam como explosões aos ouvidos de Hóberon. Seu olhar concentrado nos movimentos de Ábis. Um homem esguio criado por guerreiros do pântano do sul. Hóberon se defende bem, mas, seu oponente é rápido e sua espada é afiada, um único descuido e o príncipe quase o braço amputado.
Hóberon não era tão talentoso com Mansur, mas sabia bem manejar uma espada .
Seus movimentos começaram a ficar pesados, girar a espada já lhe era bastante custoso, mas, Ábis não parecia estar cansado.
__ Levante se príncipe – Esbravejava o algoz com voz impassiva – Me Deixa lhe mostrar o que um lobo faz com um cord ... Ele cala bruscamente e sente o sangue quente por baixo de sua armadura a escorrer pela malha metálica.
Ele nem mesmo viu o movimento do príncipe que o haveria atingido.
__ Suas palavras não assustam ... – disse o príncipe num suspiro.
Ao sair da arena Hóberon vê Abis sendo socorrido pelos seus, e Zágon se aproximando questiona:
__ Tudo bem com você?
__ Tudo, só um pequeno corte no braço, mas nada demais.
__ Você não o quis matar, não é?
__ Ele não precisava morrer... Não hoje, e não por mim.
__ Entendo... – Disse lhe o amigo.
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__ Porque você não o matou? – o rei estava impaciente por uma resposta plausível do filho, seus olhos fagulhavam com o ódio da vergonha que sentira do filho. – Responda me Hóberon, por que você não o matou?
__ Ele não precisava morrer. – Repetiu ele ao pai.
__ Precisava sim!!! Seria uma honra pra ele morrer pelas mãos de um príncipe de Góroth. Porque é assim que age um príncipe: com força! Se for pra matar, mate!
O rei saiu da barraca ainda sussurrando lamentos contra Hóberon. Zágon aproxima se do príncipe e toca lhe o ombro.
__ Se acalme, você fez o que deveria fazer.
__ É, mas acho que ele não concorda com isso.
__ Mas tudo passa, e a raiva de seu pai há de passar.
Hóberon suspira, e nesse instante ouvia se os gritos de todo o reino, anunciando a entrada de Mansur na arena.
Ele irá enfrentar Ígnos, general dos exércitos do povo do norte, era luta muito esperada.
Ígnos era um homem de uma altura descomunal e músculos muito vigorosos. Já Mansur era muito menor, mas bastante rápido e era considerado o espadachim mais poderoso de Góroth.
Eles escolheram as armas e se cumprimentaram no centro da arena, se afastaram um pouco e deu se inicio o combate.
Ígnos escolhera usar uma massa cheia de pontas metálicas, arma que dificilmente um homem que não tivesse a sua força conseguiria mover devido ao seu peso. Mansur decidira se por um sabre longo por ter mais afinidade por aquele estilo de armas.
Fagulhas espirravam de todos os toques que as duas armas tinham. Podia se sentir o chão tremer a cada vez que Ígnos errava o golpe e acertava o solo.
Em um determinado ponto da luta a gritaria cedeu lugar a um silêncio absoluto, os olhos castanhos de Mansur tomavam agora um tom mais claro parecido com a cor das chamas que cerceavam a arena.
Ígnos sentia o suor escorrer em sua calvície. O arrastar dos minutos pareciam uma eternidade, e a luta parecia durar mais que a força dos adversários, pois já se via os traços do cansaço nos rostos dos dois gladiadores. Todos esperavam o momento final, aquele que todos sabiam que terminaria com a luta e a vida de um dos oponentes.
Hóberon que até àquela hora havia ficado dentro de sua barraca então resolve assistir a luta do irmão.
Ao ver o irmão, Mansur tomou novo ânimo, mesmo sendo um tanto quanto individualista e egocêntrico Mansur amava seu irmão e gostaria de mostrar isso um dia a ele.
Encontrar uma brecha entre a massa e o corpo de Ígnos parece impossível, Mansur arrasta a luta mantendo se a uma certa distancia, pois conhece o perigo da proximidade.
Ígnos já se move mais lentamente, sua massa da a impressão de pesar toneladas. Ele vê Mansur serpentear em sua frente, seu olhar turva diante da velocidade do príncipe, em seguida a dor, sua mão cai ao chão. Com o braço extirpado ainda pode ver a espada se aproximar de seu pescoço e na seqüência o seu corpo sem cabeça caia ao chão.
Todo o reino gritava freneticamente comemorando a barbárie. Soldados espetaram a cabeça de Ígnos em um lança e ela foi colocada no topo de um poste, o troféu de Mansur.
Hóberon não conseguia ver motivos para comemorações, já havia derramamento de sangue demais nas guerras de seu pai, as quais ele considerava a grande maioria tolas.
CAPITULO III
O MARTÍRIO DE UM REI
__ Merit, Merit... - Rei Hódrian gritava impaciente.
__ Aqui majestade!
__ Onde diabos você estava Merit? Traga me Mansur e o general Torijat até aqui imediatamente. E Merit, traga me água também.
Aquela seria uma manhã difícil, e o rei sabia disso, Mérit, seu criado pessoal nada tinha haver com isso mas o rei podia prever o caos em que afundaria seu reino se seus temores se tornassem realidade.
Aqueles já não eram mais tempos onde as criaturas míticas eram vistas facilmente, muito raramente encontrava se esqueletos de pequenos dragões brancos, os protetores das águas, ou, para aqueles que se prestavam a caçar nas profundas florestas de Zíon, podiam, por alguma casualidade esbarrar em um elfo peregrino.
Os únicos que ainda eram vistos com freqüência, eram os pequenos anões de Tóroth, os mineiros incansáveis que passavam suas vidas num transito entre suas minas e os postos de troca na região sul de Góroth. O rei sabia da pouca probabilidade dessas criaturas criarem distúrbios à paz de Góroth, mas continuou devaneando sobre quando seu pai, o antigo imperador, sobrepujou sozinho a três centauros negros que viviam numa das cavernas do deserto branco, ele ainda pequeno viu de longe a luta descomunal entre os seres mágicos e seu idolatrado pai, ele nunca se sentiu triste ao lado de seu pai , mas seus filhos... Nesse instante Mansur entra nos aposentos do pai, tinham se passado pouco mais de um mês desde os jogos de outono, mas as pessoas ainda o cumprimentavam por sua bravura, e a luta ainda estava bem recente na forma da dor que o príncipe sentia em uma das costelas que fora atingida pela feroz massa de Ígnos.
__ Pois não, meu pai? Mandou me chamar?
__ Sim, sim, mas quero que espere Torijat. - O rosto do rei agora assumia certo clima de suspense. - O assunto que trataremos deverá passar por ele também.
Rei Hódrian era a quarta geração de reis da terra unificada de Góroth. Fardo, realmente um peso que ele tinha que carregar. Segredos eram mantidos restritos aos reis de Góroth, e esses segredos tinham preços, às vezes altos demais.
A grande porta dos aposentos reais estava sendo aberta, passava por ela o comandante dos exércitos do norte, general Torijat. Um homem pequeno demais visto a enorme fama e respeito a ele creditado.
__ Senhores, senhores... - o rei devaneou por mais alguns instantes. - Acredito que devamos ter uma vigilância maior nas fronteiras do norte.
__ Por que tal preocupação agora meu senhor? – perguntou o general.
__ Estive reunido com o conselho de magia, e eles previram um ataque vindo daquela região.
__ Mas, quem atacaria nossas terras meu pai?
__ Não quem, mas o que...
__ Não entendi!?!
__ Todos conhecemos a história da unificação das terras de Góroth, e sabemos que a muito meus antepassados encerraram diversas, digamos criaturas, nas profundezas das terras de Naratót. Sabemos também que a partir daí as criaturas mágicas não mais perturbaram em Góroth.
__ Sim majestade, disso tudo nós sabemos, agora diga nos o que deveríamos saber. – Inquiriu o general ao mesmo tempo em que se ajeitava sobre o estreito acento que lhe havia sido oferecido.
__ Claro Torijat... – a expressão de Hódrian toma novo sentido. – vou lhes explicar.
Ele se encaminha até uma prateleira feita de madeira escura, com traços bastante finos retratando a guerra da unificação, uma verdadeira obra de arte digna dos aposentos de um rei, vasculha por alguns instantes e diz:
__ Aqui! O pergaminho de Hórnothon, fundador de Góroth, meu bisavô. – ele desenrola o pergaminho e lê – Aqui diz:
__ "As criaturas da escuridão foram controladas e encerradas na montanha mais alta da fronteira mais distante ao norte de Góroth. Somente pelo poder que selou poderá ser aberta. Somente o sangue derramado sobre o túmulo do tempo pode acordar o mal ali guardado..."
__ Perdoe me majestade, mas ainda não consigo entender. – Dessa vez o homenzinho se levanta.
__ Nem eu Torijat, mas a busca é exatamente essa.
O rei vasculha novamente os pergaminhos retirando outro e o lendo:
__ "A ordem oficial do conselho de magia de Góroth reza que o rei proteja a fronteira norte com todo o seu exercito, visto que só assim poderá guardar o tumulo do tempo de maneira propicia à sua não abertura..."- e com uma voz dramática – Vocês compreenderam?
__ Deveriamos? – perguntou o príncipe – O que na verdade é esse "túmulo do tempo"?
__ Esse é o grande problema... A única referencia que temos de tal coisa é nesses pergaminhos, e também acredito que – mas uma vez voltou à prateleira e pegou algo – aqui contenha o que esperamos descobrir! - O rei exibia um livro feito com folhas de papiro, a capa bem trabalhada em uma espécie de casca de madeira, tendo incrustada uma gema que se parecia com uma esmeralda, ele ergueu o sobre os dois convidados e disse:
__ Esse é o Cádmir, livro da verdade dos reis de Góroth, escrito por Hórnothon, fundador de Góroth.
Nesse momento o rei Hódrian para, olha para os homens a sua frente e com um ar inquisitivo lança o livro sobre a mesa diante dos dois.
__ O problema maior é que não tem como abrir o livro, existe uma chave mágica, escrito num dialeto muito antigo e impronunciável, nenhum dos magos do reino conseguiu decifrar.
__ Mas então qual o fundamento dessa reunião meu pai?
__ Vocês irão me ajudar cada um de uma maneira a resolver esse problema.