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Segredo das Luzes: A Guerra Entre Condado e Centro RPG Maker

Iniciado por Kazzter, 29/12/2021 às 13:52

Nota: Essa história foi escrita em 2018, então pode conter vícios de linguagens ou trechos prolixos que eu 100% não cometeria mais hoje. Eu acho.

Segredo das Luzes

  - E então, mãe? Está impressionada?

   - Sim. - Diz Lua. - Estou impressionada com sua tolice.

   - Mãe? - Indaga Lirk, assustado. - A senhora viu o que fiz? Tenha um pouco de orgulho do seu filho, pela primeira vez.

   Muito espanto se via naqueles que continuavam a ver o reino voar sobre a cidade, mais alto que qualquer dirigível. Espectadores, congelados como estátuas. O tempo passou, a situação permanecia. Entardeceu.

   - Já não podemos mais permanecer. Nos leve de volta, seja lá como. Não me interessa. Se voa, também se move e desce. - Dizia Kharl, alterado.

   Lirk toma a direção, feita com uma enorme engrenagem reluzente, material desconhecido pelos pais, uma barra de ferro e linhas de algum material não identificável. Também haviam alguns circuitos ligados atrás da engrenagem, mas estavam ocultos por uma placa de metal. A maneira como que a direção era manuseada não parecia nada agradável, apesar de se assemelhar a um leme. Porque não foi feita para aquilo, sendo pontuda e desagradável de movimentar, pareceu uma péssima ideia já muito depois de ter sido executada.

   Notando depois de alguns minutos que a viagem de volta seria longa, Lua e Kharl começam a se locomover pelo reino para trabalhar. Demorou muito mais tempo do que deveria para ambos perceberem que o local ainda estava todo ali, e as terras que envolviam o reino eram desnecessárias para exercer as funções. A sensação de trabalhar em voo era estranha, mas imperceptível depois de um tempo.

   Em todo o reino, tudo o que se falava dentre os ignorantes era sobre Lirk e seu feito. O único que não havia se pronunciado era o conselheiro, mas este nem havia sido encontrado naquele dia. Uma junção estranha de tristeza e angústia era o sentimento que o rei e a rainha compartilhavam do filho.

   O dia estava perto do fim e Lua encontrava-se observando a paisagem se locomover pela janela de uma das torres do castelo. Kharl que a procurava, a viu tão hipnotizada que se aproximou lentamente e a abraçou pelas costas.

   - Kharl... Fui rude, não fui? - Indaga Lua ao notar que foi envolvida pelos braços do marido.

   - Lua. Sempre tivemos aversão aos luzianos. Suas ideias de querer desafiar o tempo e a lógica com suas invenções e sua tecnologia. E ainda têm a audácia de dizer que somos atrasados. E Lirk...

   - Lirk está indo para o mesmo caminho. - Completou Lua. - Não quero que meu filho se torne um luziano e perca a razão e a sabedoria. Não precisamos de desgraças, certo?

   - Paciência. - Kharl responde, já cabisbaixo - Ainda é muito jovem, deixa-se levar facilmente pelas influências.

   - Nessa idade, pelo menos, devia ter consciência do que faz. Mas a última coisa que desejo é que ele vá pelos luzianos. Por favor, converse com ele. Primeiro entendê-lo, depois repreendê-lo. - Pede Lua.

   Foi chegada a hora em que o reino parou de locomover e um estrondo se ouviu com um leve tremor, notaram todos que o destino foi alcançado. Aproveitando que o filho deixaria o controle de sua invenção, quis Kharl conversar com ele. Aguardou até que o jovem estivesse em seu quarto e bateu na porta.

   - Lirk? Lirk, por favor. - Dizia em voz serena. Ao ouvir a voz do pai, Lirk abre a porta e o convida para se sentar com um gesto.

   - Lirk, bem... Já de antemão peço perdão por nossa atitude agressiva. Mas de qualquer modo, eu gostaria de entender como conseguiu executar... isso.

   - Bem. Eu sei o reino não tem uma relação muito boa com os luzianos, porque...

   - Porque eles além de entrar em guerra conosco, roubaram todas as nossas riquezas para que sua tecnologia fosse mantida. - Kharl interrompe.

   - Eu sei, mas... - Lirk tenta argumentar. - Talvez se pudéssemos relevar, tentar esquecer os erros do passado.

   - Eles se negam. - Explica Kharl. - Querem tentar apagar, esconder, esquecer a verdade de que tudo que eles possuem só existe hoje porque nos saquearam no passado. Sem nossas riquezas, sem nosso poder, nada seriam hoje. Mas lhe darei a palavra agora, para que me conte tudo.

   - Certo, pai. - Inicia Lirk.

   Disfarçado estava na Cidade das Luzes, Lirk precisava descobrir o segredo que tanto empoderava a cidade. A tecnologia dos dirigíveis. Depois de ter estudado a cidade, sua história, e tudo que nela havia várias e várias vezes pôde finalmente ir à fábrica de dirigíveis. Com a tecnologia certa, faria algo tão grandioso, talvez até mais, que um dirigível. E para benefício de seu próprio reino. E parecia ser algo tremendamente justo, considerando tudo que havia sido retirado no passado. Porém, não eram jóias e metais raros.
Era conhecimento. Ao adquirir conhecimento, quem o deu não o perde. Riquezas sim. E era esse pensamento que guiava Lirk.

   Repleta de guardas e praticamente impenetrável. Esta é a descrição da fábrica de dirigíveis. Dois deles protegiam a entrada, com trajes especiais e fatais. Carregavam uma fraqueza. Como os equipamentos eram fracos contra a água, eram revestidos por uma camada oleosa, porém inflamável. Com tal fraqueza em mente, Lirk pôde se livrar dos guardas na entrada facilmente, de modo tão fácil quanto acender uma fogueira. A maioria dos guardas se foram desta maneira.

   Porém havia algo que ele não pôde prever. Dois protótipos assustadores de armas enormes com rodas e garras foram avistados por Lirk numa sala. Protegidos por uma densa camada de vidro e com uma placa que dizia "Mechassassino". Somente o nome já foi o bastante para amendrontar o jovem e causar arrepios por todo o corpo. O desespero o fez tropeçar, gerando um barulho que ecoou na fábrica.

   - Alguém está aqui dentro! - Gritavam sem parar os guardas que ouviram o som. Lirk tentou imaginar como que cogitaram que se tratava de um invasor, e não um guarda qualquer. Mas se lembrou que os guardas não saem de seus lugares caso não haja uma invasão (ou ao fim de expediente) então não vão tropeçar em nada.

   Passos foram ouvidos e o único esconderijo disponível era a parte traseira do vidro espesso que protegia o Mechassassino. A sorte e a estupidez dos guardas eram os dois fatores que determinariam sua salvação. E todos os guardas foram embora. Ao lado, havia outro Mechassassino, porém sem o vidro de proteção. A maior vontade de Lirk naquele momento era montar naquilo e destruir tudo, mas pensando duas vezes, seria estúpido.

   Continuou a seguir vagarosamente pelos corredores até encontrar uma sala com dezenas de plantas e cartazes com projetos protegidos. No segundo depois de entrar, o alarme dispara. A porta se fecha atrás de Lirk, paralisado e tremendo. Se arrependia naquele momento de ter vindo. Mas nenhum arrependimento seria maior do que o sentido quando um Mechassassino se ligou no canto daquela sala. Não foi avistado antes, mas naquele momento era naquilo que os olhos do jovem se fixavam.

   A máquina avançou com velocidade para atacá-lo, que salta para tentar desviar, mas falha caindo em cima da máquina. Então a máquina tenta retirá-lo dali com suas garras, mas tudo o que faz é desferir golpes contra ele. Começa a manusear os botões para fazê-la parar, e de tanto esmagar tudo que ali havia, o Mechassassino para de funcionar. Com alívio, começa a coletar todas as plantas e cartazes rapidamente e deixa o local às pressas. Sangrando, porém com a vitória nos braços.




Segredo das Luzes Pt.2

   A cidade se extendia para todos os lados. Quilômetros e quilômetros de puras luzes brilhantes e a obscura tecnologia. Só haviam três formas de se locomover mais rapidamente, e elas eram necessárias, porque fugir dali era a prioridade máxima de Lirk. Dirigíveis, máquinas pessoais e trens. As primeiras duas opções eram totalmente inviáveis, além de chamar a atenção para o garoto com plantas e cartazes secretos debaixo dos braços. Foi para a estação.

   A espera foi muita aos olhos de Lirk. Não havia mais ninguém na estação além dele. Ouviu o som do trem se aproximar depois de muito tempo. Embarcava com alívio, esperando chegar à fronteira de modo invisível. Ao entrar, a porta se fechou atrás dele. Olhou com estranheza, mas tomou seu assento. O que o surpreendeu minutos depois foi uma figura de vestes brancas e com o rosto oculto em pé no vagão. O jovem virou-se para o outro lado tentando ignorar, mas quando olhou de volta a figura havia desaparecido. Um calafrio na espinha e um pensamento de: "Me descobriram?". E continuou a viagem tentando esquecer o que vira.

   No primeiro minuto de distração, três figuras, idênticas à anterior, apareceram em pé no vagão. Uma voz grave saía, dizendo: "Não podeis sair. Não podeis fugir. O que fizestes, não poderás reverter.". A fala se repetia assustadora e perfeitamente. Lirk paralisado não queria olhar para não sofrer riscos. Repetia em sua mente dezenas de vezes: "É somente uma ilusão, porque não quero que minha vitória seja um pesadelo.". Tudo isso o levou a uma só conclusão. Se era real de fato, estavam o perseguindo por causa daquilo que roubou. Se rendeu, não suportando mais, e colocou as plantas e cartazes no chão longe dele, esperando que aqueles levassem e deixassem-o em paz. Mas isso não ocorreu.

   - Já lhe dissemos. Não poderás reverter. As consequências deverás temer. Que assim há de haver. - Era repetido em coro. Depois de repetir dez vezes a fala, aqueles que ali estavam começaram a se aproximar de Lirk repetindo a única frase: "Não poderás reverter.". Aquela situação o forçou a agir. Levantou-se de seu assento e correu para o próximo vagão por impulso. E aqueles continuaram a se aproximar.

   Lirk pega seus cartazes e plantas e corre até o último vagão do trem, mas continuavam perseguindo-o lentamente até que pararam na entrada. Um daqueles apontou para baixo, onde havia o metal que ligava os vagões. Uma luz azul emanava de seu dedo e o jovem já cogitou o que iriam fazer: "Vão soltar este vagão e eu vou me desprender do trem!". Tentando evitar isso, Lirk avança na direção daquele que apontava e tenta desferir um golpe para impedi-lo, mas seu punho atravessa o corpo. "Fantasmas? Não creio." Pensou Lirk, recuando.

   O jovem teve um plano estúpido, mas esperava sucesso de qualquer forma. Avançou fingindo que iria tentar um segundo ataque, mas desta vez atravessou o corpo dos fantasmas indo para o outro vagão. Correu para o antepenúltimo vagão, esperando que na velocidade em que andavam os fantasmas não o alcançariam a tempo. Sentou próximo do metal que segurava o penúltimo vagão e tentou arrancá-lo com alguma das ferramentas que trouxe para a invasão. Estava quase conseguindo soltar com a chave de boca, mas o desespero de saber que as criaturas estavam se aproximando o deixou aflito e impaciente. Por fim, conseguiu soltar e os vagões retrocederam.

   Quase aos prantos, Lirk segue para retornar ao seu assento e continuar a viagem. Mas uma dúvida o incomodava. Caso se tratasse realmente de um trem amaldiçoado, quem seria o maquinista? Com receio, mas deixando a curiosidade o possuir, resolve ir à cabine do maquinista. Em passos lentos no trem deserto, andou até o próximo vagão, parando bruscamente ao ver outro fantasma.

   - Os compatriotas de minha pessoa vieram a ser de alguma educação para com vossa mercê? - Disse com a mesma voz grave aquele fantasma. Aterrorizante como os outros.

   - Quem é tu? O que há com este trem? O que quis dizer com compatriotas? E que linguagem estranha é esta? - Foram as perguntas ejetadas da boca de Lirk. Apesar de não estar ali ser sua maior vontade, a segunda maior seria que suas perguntas fossem respondidas.

   - Ora, quantas indagações, futuro compatriota! És de tamanha maestria em furtos, o que decerto exige uma avantajada capacidade cognitiva e não sabeis a resposta para tais perguntas? - Dizia o fantasma com um certo deboche em sua voz e fazendo gestos com as mãos, o que deixava aparente para Lirk que este não era incorpóreo.

   - Não apresentei-me propriamente. - Disse o fantasma. - Atendo-lhe pela nomenclatura de Giott. Dar-lhe-eis uma sugestão. Solucionarmos tais complicações em um pacífico combate. Como podeis ver, minha pessoa não é incorpórea. Vossas explicações virão após a vitória de vossa mercê. - E Giott entrou em posição de combate.

   - Parece que não há outra solução, não é mesmo? - Dizendo isto, Lirk equipa em uma mão sua arma de choques elétricos e em outra mão sua arma de calor. - Não pensei que usaria essas armas, mas... a situação exige.

   O fantasma desaparece diante dos olhos de Lirk, que olha para todos os lados tentando encontrá-lo, e o acha atrás de si. Por impulso, atira com a arma de calor e as ondas quentes derretem parte das vestes de Giott, revelando um rosto desfigurado.
   - O que houve? - Pergunta Lirk.

   - Digo-lhe-eis novamente... - Responde Giott, avançando com um chute que é defendido pelo braço de Lirk - Indagações serão respondidas após vossa vitória, futuro compatriota.

   Lirk parte para o ataque com o chute, que é segurado por Giott, mas antes que girasse sua perna, o jovem atirou com a arma de choque, que eletrocutou o lado direito do rosto do fantasma, mas não o impediu de jogar Lirk contra a parede, causando um estalo e uma dor insuportável nas costas que não permitiu que ele se levantasse.

   - Que infortúnio. O combate teve decerto uma duração inesperada. Todavia... Vossa mercê obteve um resultado levemente louvável, deste modo minha pessoa virá a responder vossas indagações. - O jovem gemia de dor, mas confirmou para receber sim suas respostas. E Giott explicou esta história:

   Giott e seus compatriotas eram realmente fantasmas, que estavam presentes naquele trem de forma visível a olhos humanos pois aquele trem em específico possuía uma energia que enfraquecia o selo entre o mundo dos mortos e o mundo dos vivos, mas disse que não sabia o porquê daquilo acontecer.

   Segundo ele, o mundo dos vivos e o dos mortos era o mesmo lugar, porém em "dimensões" diferentes. Ambos os vivos e os mortos viam as mesmas coisas, porém aqueles no mundo dos vivos não podiam ver os mortos por causa do selo, com exceção dos locais em que o selo enfraquecia. Já os mortos em sua dimensão podiam ver os vivos e outros mortos, mas não podiam causar nenhum efeito ou interação com os vivos ou sua dimensão.

   Giott e seus amigos entediados, buscavam por locais onde o selo era enfraquecido para interagir com os humanos e encontraram o trem amaldiçoado. Desde então, assustavam os viajantes e se divertiam naquele local. Certo dia ele encontrou uma espécie de artefato que o fazia perder sua característica incorpórea em áreas de selo fraco. O seu corpo adquire a aparência do momento de sua morte, e como Giott morreu incinerado, seu corpo é deformado quando aparece aos vivos.

   Naquele dia, quando ele e seus amigos vagavam pela cidade das luzes olhando as pessoas que ali viviam, notaram Lirk que estava tentando invadir a fábrica de dirigíveis. Uma curiosidade despertou nos fantasmas que decidiram segui-lo por algum tempo. Ao notar que Lirk entraria no trem amaldiçoado, eles logo se preparam para assustar mais uma vítima.
- Mas que interessante. E vocês estão permitidos de contar tais fatos para qualquer viajante? - Pergunta Lirk, e naquele momento, os outros fantasmas já haviam aparecido perto de Giott.

   - Negativo. - Admitiu o fantasma. - Vós sóis o primeiro indivíduo pelo qual relatei tais fatos putrefatos. Vossa Grandeza, governante do reino dos mortos, exprimirá infinda indignação por meus atos.

   - Quem é o governante do mundo dos mortos? - Já diz com maior curiosidade o jovem Lirk, se preparando para fazer ainda mais perguntas.

   - Se fores um indivíduo de sorte, demorarás para descobrir! - E Giott desapareceu com seus compatriotas às gargalhadas. Tudo que se ouviu foi o som do trem desacelerando.




Segredo das Luzes Pt.3

   - Entendo. Então esta é a história? - Disse por fim, Kharl. - Tem convicção de tudo isso que me contou e que só disse a verdade?

   - Sim, pai, tenho. - Lirk responde com firmeza. O quarto estava excessivamente quente. O calor da lareira incomodava ambos, mas Lirk demonstrava indiferença com suas vestes leves e o rei derramava tanto suor que o jovem se afastou dele, mas Kharl tomou isso por outra interpretação.

   - Já me conhece o suficiente, não é? Sabe que lhe darei uma punição e teme por isso. - Disse Kharl se levantando, o que fez Lirk se afastar ainda mais na defensiva.

   - Não é uma punição física, não seja estúpido, Lirk. Independente de nossos conflitos com os luzianos, o que fez é um crime que vai contra os nossos princípios. - Explica Kharl. - Apesar daqueles indivíduos tomarem uma atitude pior que a sua, não devemos retribuir o mal com a vingança, devemos retribuir com a justiça.

   O rei sentou-se novamente na cadeira e Lirk confiou o suficiente para se aproximar e sentar na outra cadeira.

   - Creio que já lhe contei inúmeras vezes sobre a fala "Rosas têm espinhos para cortar quem indevidamente tocar em si.". Quando te contei pela primeira vez você era muito pequeno e pode ser uma fala estúpida na idade em que se encontra, mas acho que já sabe o que significa.

   - Sei. - Responde Lirk. - As rosas são os guerreiros que carregam as lâminas para se proteger daqueles que fazem mal a si.

   - É, mas há algo implícito nessa fala. Aqueles que tocam num espinho de rosa e se ferem são levados a não querer tocar em mais nenhuma que esteja naquele jardim, pelo menos por ora, por cogitar que todas tenham espinhos. E mesmo que algumas não tenham, aquela uma protegeu as outras. Nós protegemos a nós, ao nosso reino e também protegemos aqueles que não tem espinhos para proteger.

   - Compreendo. - Diz Lirk, atento.

   - Nossa lâmina serve para a proteção e a justiça, não para a vingança e vontade própria. Por mais que isso pareça estranho, atacar não é o mesmo que proteger. Nós protegemos e fizemos a justiça na guerra no passado, e mesmo agora, podemos não ter uma relação de amizade com os luzianos por causa dos erros e crimes do passado, e abrir espaço para confraternização com aqueles que não abrem a sua mente e querem negar, ou melhor, esconder o que fizeram é fora de cogitação. Porém, atacar e tentar vingança pode ser pior do que a tal confraternização que julguei que estava tentando. Mas tenho uma pergunta...

   - Diga, pai.

   - Se não estava trabalhando com os luzianos, e sim tomou o conhecimento deles para si, qual o motivo da conversa sobre tentar relevar os erros do passado que teve anteriormente? - Perguntou Kharl.

   - Eu... Queria tentar parcialmente me redimir pelo o que eu fiz. - Explicou Lirk. - Normalmente ou eu estou ocupado, o que aconteceu com frequência enquanto estava trabalhando nos mecanismos, ou os senhores estão ocupados, o que sei e compreendo, por causa de seus cargos, mas...

   - Compreendo. - Disse Kharl. - Apesar de entender que isso tudo deve ter sido algo extremamente trabalhoso, pode ser que tenha sido melhor que nada disso fosse feito.

   Depois dessa fala, Kharl se distraiu um pouco por causa do barulho que vinha de fora, de pessoas, animais e algum mecanismo em constante movimento, que devia ser do trabalho de Lirk. Prosseguiu para fechar a janela e notou um objeto estranho voando nas proximidades do reino.

   - Dirigíveis! Desgraçados... Veja bem, Lirk. Lhe darei a sua punição depois. Não temos tempo. - E ambos correram do quarto, sendo que Kharl se dirigiu à sala do trono, mas Lirk levou sua bolsa de ferramentas com a arma de choque e calor apenas caso fosse necessário. Mas como não encontrou a arma de calor, levou uma besta no lugar. Fez a checagem das ferramentas e se foi.

   Kharl já se encontrava na sala do trono, e os seus gritos aos soldados podiam ser ouvidos por Lirk, que ainda descia as escadas, um pouco apressado com sua bolsa, mas com cuidado para não tropeçar e rolar escada abaixo. Muitas coisas passaram por sua cabeça naquele momento, mas a principal foi: "Descobriram que eu fui quem tomou os conhecimentos sobre os dirigíveis para usar no reino, claramente. De começo pensei que não era uma boa ideia participar daquela competição espalhafatosa."

   Pensamentos sobre a competição passaram por sua cabeça. O prêmio que recebeu, as pessoas que teve que conhecer, e tudo passando a imagem de que tudo é limpo, feliz e contente, sem que as pessoas saibam dos horrores que acontece por detrás da cortinas, coisas que nem havia contado a Kharl com receio. "Eventualmente contarei. Não tive a oportunidade agora, e certamente não é a hora." Pensou isso ouvindo os incessáveis gritos que vinham da sala do trono.

   - Os soldados que estiverem disponíveis, por favor vão ao comando de Licht, chequem e se mantenham atentos aos dirigíveis que se aproximam - Exclama o rei. - Analisem cada movimento deles. Noto um presságio sombrio.

   - Mas Vossa Majestade, pode ser apenas um dirigível comercial. - Argumenta Capitão Licht.

   - Por que um dirigível comercial passaria por aqui? Estamos perto da costa e a ilha mais próxima fica a centenas de quilômetros daqui. E além disso, dirigíveis comerciais têm a marca da cidade, e não notei neste. - Disse Kharl.

   - Sim, Vossa Majestade. - E os guerreiros avançaram.

   Do outro lado da cidade, os curiosos já observavam os objetos estranhos se aproximarem do local, rodeando o reino como se fossem tubarões aéreos. Aqueles dirigíveis eram enormes e suas hélices ensurdecedoras, o que chamaria atenção de qualquer um. Mas depois de muito rodear, os veículos finalmente pousaram na entrada do reino, soltando muita poeira pelo ar e instigando as pessoas a se aproximarem ainda mais para observar. E foi o que aconteceu.

   Os dirigíveis eram maiores de perto. Tinham uma estranha cor de ferrugem que não parecia ser realmente ferrugem. Tinham três portas cada um, uma do lado da outra. As portas eram conectadas por uma ligação que permitia que apenas uma se abrisse, duas ou três. Tinham apenas duas janelas circulares e suportes na parte de trás junto às hélices.

   Minuto após minuto se passou e nada acontecia. Até que a porta de um dos dirigíveis se abriu, revelando soldados com vestes estranhas para a população, a roupa especial dos soldados e guardas luzianos e por fim alguém com vestes negras e capuz. Do primeiro dirigível desceram 36 pessoas, do segundo 21 pessoas, e do terceiro desceram 6 pessoas, até que pararam de vir.

   O aglomerado de pessoas só foi afastado quando os soldados se aproximaram, abrindo caminho para tentar contato com os desconhecidos.

   - Saudações. Somos soldados de Kharl Aldebaran e Lua Aldebaran do Reino Aldebaran. Estamos aqui por ordens de Vossa Majestade para tomar conhecimento do motivo de sua presença. - Disse cordialmente o capitão ali presente.

   - Saudações, Capitão Licht. Como deve ter notado, somos da Cidade das Luzes. Pretendo falar com o Príncipe Lirk Aldebaran. - Disse o homem encapuzado em voz serena. Não era possível ver seu rosto.

   Às ordens de Licht, os soldados voltaram ao castelo um a um em fila. Não era muito distante dali, um ou dois quilômetros de distância. Enquanto retornava em seu cavalo, o capitão Licht pensou: "Como que ele sabia meu nome? Eu não lembro de ter me apresentado." Mas ignorou logo em seguida, pensando que talvez tenha se apresentado e não se lembrava.

   A cidade real tomava uma forma interessante. Não se via pessoas nas ruas, até alguns comércios se fecharam. O que parecia era que todas as pessoas estavam concentradas naquele mesmo lugar. Isso de alguma forma abria um sorriso em alguns dos soldados luzianos, mas logo eles se dissipavam ao ouvir o pigarro de algum capitão luziano. Algo como "Não podemos rir, esta é uma missão séria" certamente passava pela cabeça deles.

   - Vossa Majestade, as pessoas contidas nos dirigíveis desembarcaram. Um encapuzado, que aparentemente é aquele que toma a liderança se dirigiu a nós procurando por Lirk Aldebaran. - Reportou Licht após todos os soldados estarem no castelo.

   Kharl estava intrigado. Pensou quem poderia ser o tal encapuzado, o que queriam no reino, mas mesmo procurando outras alternativas, somente uma lhe vinha à mente, e não precisava ser muito inteligente para saber. Na verdade parecia muito óbvio. O invento de Lirk. O rei queria mesmo que fosse outra coisa, mas era necessário encarar os fatos. Lirk estava presente na sala e não demorou muito para que se pronunciasse.

   - Eu não vou. - Disse Lirk. - Não devo satisfações para os luzianos. Já sei o que querem, e se querem outra coisa, que enviem uma nota ou algo deste gênero.

   Kharl olha de canto de olho para Lirk por alguns segundos e confirma a informação ao capitão dos soldados.

   - Capitão Licht, dê essa informação ao líder deles. Diga que o Príncipe Lirk não deseja ir, e caso seja algo de extrema importância, que enviem uma nota. - Confirmou Kharl.

   O capitão e os soldados retornaram do castelo, com o capitão a cavalo e alguns soldados mais importantes também, mas o restante a pé seguindo atrás.

   - A Vossa Alteza disse que não deseja comparecer. - Disse com firmeza o capitão. Dito isso, o líder parecia ter se alterado um pouco conforme a sua voz mudou.

   - Bem, que seja. Diga ao seu rei que tentamos uma entrada pacífica, mas se isso não... - E enquanto terminava a frase os soldados e o capitão já desembainhavam suas espadas e os soldados as suas armas tecnológicas. - ...funcionou, tentaremos uma entrada um pouco mais radical.

   As pessoas que observavam a trama desapareceram num piscar de olhos aos gritos depois de ver a primeira arma temendo por seus futuros. O procedimento padrão era voltar para casa, trancar fortemente a entrada com tudo o que pudessem usar e proteger a família. E aquele parecia ser um momento para fazer isso.




Segredo das Luzes Pt.4

   Gritos, choro e sussurros atravessavam as portas das residências. Um clima sombrio se aproximava, com o receio do próprio futuro estar cada vez mais presente na mente das pessoas. Como sempre, o ar cheirava a morte. Morte acompanhada de destruição. Tudo isso era visível para Lirk. O garoto não era cego. Mesmo da janela segura de seu castelo real, podia ver e sentir tudo que estava acontecendo com as pessoas. Seu medo e sua angústia. Não queria ficar lá, sem ação, mas nenhuma alternativa lhe restava.

   - Que raios de príncipe sou? Que raios de pessoa sou? Deixar todos em sofrimento para a minha proteção. Proteção ao rei é de mais sentido, sem ele, o reino nada é, ou pelo menos nada deveria ser. É a mim que o inimigo quer, é a mim que os luzianos querem. O arrependimento por ter tentado qualquer tipo de envolvimento com estes saqueadores. O arrependimento por ter participado daquela maldita competição de inventos na cidade onde o conhecimento para a construção do invento foi adquirido. Dizem que possuo alguma inteligência, mas os inteligentes não cometem tais erros. Do que adianta saber criar máquinas tão bem quanto a maioria dos engenheiros luzianos mas ser tão estúpido para outras coisas? - Termina seu solilóquio.

   Depois de ver por sua janela o que fizeram, Lirk não se aguentou e pegou novamente seus equipamentos para se encontrar com eles. Algo deveria ser feito imediatamente, se era ele que os luzianos queriam.

   Desceu as escadas, rapidamente mas com o mesmo cuidado para não se despencar dali, porque se fosse travar uma batalha, que fosse iniciá-la sem ferimentos ou vestes rasgadas.

   O Castelo Aldebaran era grande e majestoso. Feito de tijolos reforçados com metais, possuía quatro torres altas (assim como todas as paredes do castelo) que formavam uma barreira de proteção ao seu redor. Janelas altas com grades com o formato do brasão Aldebaran. Um simples portão de madeira reforçado com ferro e grades metálicas que só podiam ser abaixadas por uma alavanca do lado de dentro. Uma pequena cachoeira artificial era formada na entrada, e suas águas passavam por debaixo da ponte da entrada, rodeando toda a área do castelo por dentro das muralhas.

   - Bom, creio que não chegaremos num acordo. - Disse o homem encapuzado. As espadas estavam desembainhadas e as armas tecnológicas ativadas. Os homens de Kharl esperavam um ataque inimigo para atacar. Era o que faziam na maioria dos casos. - Não queria usar isso, mas não queremos ficar em desvantagem. Venha, Mechassassino Alpha.

   As três portas do último dirigível se abriam. Em posição defensiva, os guerreiros de Aldebaran não conseguiam identificar aquilo que se aproximava. Mas os soldados luzianos sabiam, e seu líder também. Passos fortes foram ouvidos, sons de garras metálicas, e o chão tremia, assim como os guerreiros mais inexperientes. Licht não queria demonstrar medo, então se manteve firme. O barulho das garras seguiu uma terrível máquina, o chamado de Mechassassino Alpha, que saiu do dirigível com suas garras mecânicas.

   - Lindo, não é? - Disse o líder, tirando o capuz. - Eu acompanhei seu desenvolvimento pessoalmente para me certificar que poderia destruir todo este reino insignificante!

   Licht congelou. Reconhecia aquele rosto perfeitamente. Eles haviam entrado em combate na última guerra. O rosto um pouco envelhecido, mas era inegável.

   - K-Krähe! - Gaguejou Licht. - Seu desgraçado, então andas cá após a última guerra, creio eu? Anda aproveitando as pilhagens e roubos? - O capitão se deixou levar pela emoção e começou a tremer. Algumas lágrimas sairam de seu rosto.

   - Ora, vamos nos divertir um pouco, Licht! Não vamos falar dos erros do passado. Vamos falar dos erros do presente. O erro de vocês em não entregar-me o garoto Lirk!  - Dizia Krähe às gargalhadas maquiavélicas. - Acabou. É metal contra metal. A consequência? Morte. Vá, Mechassassino Alpha!

   Mechassassino Alpha tinha uma aparência assustadora. Com cerca de três metros de altura, se movimentava com garras de metal e tinha patas de caranguejo metálicas para atacar. Um corpo não muito robusto de ligas metálicas e uma cauda de escorpião no final. A cauda tinha duas armas acopladas, e ao lado dela saía fumaça. Que cheirava a morte.

   - Bom, creio que vão ser destroçados tão brutalmente que nem gastarão espaço num cemitério. Podem se decompor facilmente. - Gracejou Krähe enquanto a máquina avançava escorrendo óleo. Os barulhos mecânicos eram quase ensurdecedores e a aparência do Mechassassino Alpha não era nem um pouco amigável.

   - Certo, soldados. É chegada a hora. Preparai-vos para o combate. - Grita o capitão Licht com um pouco de esperança.

   - Compreendido, Senhor! - Gritaram em coro os soldados ali presentes. Nenhuma pessoa era vista pelos arredores, por mais que checassem inúmeras vezes. E a máquina se aproximava lentamente, causando terror.

   - Ora, o que pretendem fazer com suas lâminas inúteis? - Zombou Krähe. - Já disse-lhes, é metal contr...

   - Lancem as gemas aquáticas! - Grita Licht interrompendo a zombaria de Krähe. Os soldados retiraram várias gemas azuis de seus bolsos e lançaram no Mechassassino Alpha. As gemas emanaram uma luz estranha, e uma explosão aquática surgiu atingindo a criatura mecânica. Faíscas saíram da máquina imediatamente. O Mechassassino batia as garras loucamente e tentava se movimentar, mas sem sair do lugar.

   Então, o Mechassassino partiu a avançar para dentro da cidade do reino soltando faíscas, tão rapidamente que atropelou os soldados que ali estavam, os lançando para longe. A máquina andava aleatoriamente pelas ruas da cidade, ainda soltando faiscas. Em alguns segundos foi ignorada pelos homens dali para prestar atenção ao perigo principal. Krähe e os soldados luzianos.

   - Ora, Licht. - Krähe solta uma risada nervosa. - Cada dia com técnicas novas. Que gemas interessantes. Que gemas bem feitas e formosas. Quero levá-las comigo, se me permite. Oh, que digo eu? Se me permite? Tomarei-as a força.

   Krähe equipa armas em ambas as mãos, assim como todos os soldados luzianos. Os soldados do rei Aldebaran não haviam embainhado suas espadas até então. E o momento de usá-las havia chegado.

   - Acalmem-se. A tática deles é avançar por nosso nervosismo, não se deixem abalar. - Disse Lirk. - Se há algo que possuem maestria, e talvez a única coisa que não foi fruto de saques e crimes hediondos, é em táticas psicológicas.

   - Vossa Alteza, creio que o momento não é muito favorável. - Diz Licht. - Creio que deveria ficar feliz por tê-lo ao nosso lado, mas triste porque a ajuda do príncipe se mostra necessária?

   - Lirk, então você apareceu! Que impressionante. - Krähe interrompe o diálogo com um deboche. - Seus soldados até que se deram muito bem enquanto você se negava a aparecer. Conseguiram deixar nosso Mechassassino Alpha desorientado com uma espécie de gema mágica, que eu terei muito prazer em roubar e aprender como são feitas. Mas creio que conhece os Mechassassinos, não é?

   Lirk treme e range os dentes. "Então eles sabem", pensou. Ainda sobrava alguma esperança que não se tratasse realmente daquilo, mas não pôde arriscar vir e saber antes. A verdade seria revelada a todos os soldados naquele momento e era impossível que mantessem segredo. Mas a revelação seria muito menos dolorosa se sua ajuda contribuísse para a salvação do reino.

   - Quer que eu conte o que fez agora ou depois, Lirk? - Disse Krähe, notando o nervosismo do príncipe. - Melhor contar agora, assim já teremos algum lucro nesta luta logo de antemão.

   Passos foram ouvidos ao longe, e todos se viraram para ver. Reforços foram chamados por Lirk, e se aproximavam à cavalo. O capitão Lefty e o grão-mestre Saurier chegavam com seus soldados para ajudar no combate. A máquina passou por eles, que olharam de relance, um pouco amedrontados, mas ignorando a situação e seguindo em frente de qualquer modo.

   - Que ótimo, mais reforços. - Disse Krähe revirando os olhos. - Bom... Soldados luzianos, se não começarmos agora vai ser mais complicado. Avancem!

   Notando o que estava realmente a acontecer, os reforços avançaram mais rapidamente para chegar a tempo ao combate, pois até então não sabiam que era aquilo que estava acontecendo. No momento em que chegaram no local, golpes já eram desferidos com as espadas e tiros elétricos já atingiam soldados armadurados.

   - Vossa Alteza? Não tenho conhecimento das ocorrências atuais, mas temo que não sejam boas novas. - Disse o capitão Saurier notando o estranho combate entre lâminas e armas de tiro.

   - Não creio que temos tempo para conversas, Grão-Mestre Saurier! Capitão Lefty também se encontra, pelo que vejo. Por favor, peço que ouçam o que tenho a dizer rapidamente. - Disse Lirk enquanto dois luzianos tentavam o surpreender pelas costas durante sua luta com aquele que estava em sua frente.

   - Atenção! Retirem suas armaduras. Sei que ficarão desprotegidos, mas ouçam! As armas de choques elétricos dos luzianos podem ser uma grande desvantagem. Algo como cota de malha pode causar menos danos. Contra os soldados, basta o uso de gemas flamejantes para afetar a camada de proteção externa! - Explicou Lirk em voz alta depois de acertar tiros de fogo em soldados luzianos.

   Gemas flamejantes funcionavam aparentemente do mesmo jeito que as gemas aquáticas. O artefato era lançado e ao acertar o alvo, uma explosão de fogo surgia no ar. Poucos sabiam o que fazia aquilo acontecer, se era magia ou tecnologia.

   Aos poucos, os soldados retiravam as armaduras pesadas e atiravam as últimas gemas flamejantes que restavam. Não demorou para que os soldados luzianos com a fraqueza revelada fossem derrubados. Krähe formava enquanto isso uma barreira com corpos desmaiados ou mortos para eletrocutar os que ainda estavam armadurados. Na ausência de gemas flamejantes, a boa e velha lâmina serviu. Com a melhor mobilidade permitida pela cota de malha ficou um pouco mais fácil desviar dos choques elétricos que demoravam um pouco para carregar.

   O combate parecia uma fantasia. Como se fossem duas eras se colidindo, a medieval e a industrial. Cada uma com seus truques e suas técnicas tentando se manter em vantagem. Lâminas cortando, armas atirando choques elétricos e chamas, gemas sendo atiradas e explodindo em ataques mágicos.

Em poucos minutos, metade dos soldados de ambas as partes já haviam caído. Alguns mortos, outros apenas imobilizados e feridos.
   - Creio que tomamos o controle da situação, Vossa Alteza! - Disse com um leve sorriso o capitão Lefty.

   Passos pesados foram ouvidos e todos se viraram para a cidade. O Mechassassino Alpha voltou ao controle e estava obedecendo as ordens de Krähe para atacar. Procurando nas bolsas, notaram que nenhuma gema sobrou para lutar com a monstruosidade mecânica que se aproximava rapidamente.

   - Como pretendia dizer antes mesmo de saber desta ocorrência... - Dizia Lirk revirando os olhos. - Não devemos nos proclamar vitoriosos sem uma vitória.

   As gargalhadas cada vez mais altas de Krähe foram ouvidas por todos. Poucos luzianos e guerreiros do reino sobraram, sendo que a grande maioria estava ou com ferimentos, ou imobilizada ou alguns que estavam mortos.

   - Creio que... - Ironizou Krähe. - Tomamos o controle da situação, Vossa Alteza! - Finalizou a frase gargalhando cada vez mais alto.




Segredo das Luzes Pt.5


   - Levante-se minha criatura! Levante-se minha criação. Levanta-te e vai!

   Um evento quase que sobrenatural foi avistado por aqueles que ali se encontravam.O Mechassassino que até então assustava e amendrontava todos ali presentes entrou em metamorfose. A criatura encolheu suas enormes garras dando lugar a estranhas patas. E da parte superior surgiram majestosas asas metálicas seguradas por engrenagens e ligas. Duas bobinas saíram das costas do Mecha, liberando descargas elétricas. Por fim, a cabeça encolheu para dar lugar a uma de dragão. Após a transformação, a criatura levantou voo acima dos soldados de ambas as partes e permaneceu a sobrevoar aguardando ordens de seu líder.

   - Em verdade vos digo... Se foi necessário chegar a este ponto, que peçam aos deuses misericórdia por suas inúteis e desgraçadas vidas. - Zombava Krähe às gargalhadas. - Está pronto. A última forma do Mechassassino... O primeiro dos Mechadraconianos, Atma!

   Naquele momento tudo parecia estar perdido para aqueles do reino Aldebaran. Licht, Lefty e Saurier perderam todas as esperanças. Usaram sua arma final, as gemas, contra o Mechassassino. Enfrentar um dragão mecânico estava fora de questão.

   - Atma, ataque! - Disse por fim Krähe. Os soldados luzianos e aldebaranos que restaram já se encontravam em combate. Lâminas se chocavam, armas de choque atiravam, mas os soldados luzianos não eram tão bons em combate, e estavam sendo aniquilados rapidamente. Já o dragão não estava atacando, por ora. O que soou estranho, mas menos desesperador para os aldebaranos.

   Os capitães tinham visuais marcantes. Lefty tinha cabelos curtos como o seu bigode. Um corpo não muito robusto com uma cicatriz no braço esquerdo. Empunhava uma espada de uma mão e nenhum escudo. Saurier tinha cabelos longos de cor escarlate, barba de dois dias. Equipava duas espadas e usava uma capa vermelha com o símbolo do trevo dos grão mestres de Aldebaran. Licht por outro lado usava espada e escudo e tinha uma barba longa como seus cabelos grisalhos. Uma pele extremamente pálida mas um corpo robusto e causava medo com seu olhar.

   Lirk, Lefty, Licht e Saurier como o comando naquele momento não viram outra opção senão lutar. O jovem filho de Kharl sem muitas habilidades de luta, tentou usar a fraqueza dos soldados luzianos a seu favor. Com a arma de calor pôde acender rapidamente dois deles, mas notou uma sombra alta no céu e água caindo sobre eles. "Atma estava como suporte recebendo ordens de Krähe, é claro." Pensou o jovem príncipe. "A tática de incinerar os soldados parece não funcionar." Sabe se lá quanta água o dragão armazenava. Resolveu tentar descobrir qual a opção mais viável.

   Observando o dragão dando seu primeiro rasante, era notável que seu tamanho não permitia o armazenamento de toda a quantidade de água que foi jogada para apagar o fogo dos soldados. Pensou que eles tinham algo semelhante às gemas aquáticas, ou que o estoque foi roubado pelos luzianos e por isso acabou tão rápido. Talvez dos que já estavam caídos. "Mas o Mechassassino estava na cidade!". Lirk fica intrigado, mas decide não se preocupar com isso no momento. Tudo que pôde decidir naquele curto período de tempo foi partir para ataques físicos. A veste especial luziana não protegeria tanto assim, afinal.

   Capitão Lefty estava em combate com dois soldados, um atacando normalmente por trás e o outro pela frente. Sua primeira tática foi tentar remover a arma de choque, que era fácil de distinguir por causa de sua listra vermelha chamativa. Notando que se encontrava em um estado crítico, um dos dois soldados tentou evadir-se sendo seguido pelo outro, mas o capitão os seguiu, pois podiam se recuperar. Lefty tenta desferir um golpe no braço de um dos soldados, mas quase que é antecipado, pois o mesmo coloca a mão para trás das costas. "Que tempo de reação incrível!" Pensou o capitão. Porém, os três ouviram algum murmúrio ao longe, e notaram a sombra do dragão logo acima. As descargas elétricas das bobinas ficaram mais potentes e avançavam na direção dos três, atingindo-os. Porém, Lefty sofre ferimentos levemente mais severos por causa de sua cota de malha.

   Afetados pela raiva, os dois luzianos começaram a atacar o capitão mais severamente, que tinha acabado de levar choques elétricos e mal pôde se defender, levando ferimentos no braço por causa da arma de calor. Lefty não conseguiu compreender o que estava acontecendo. "Por qual motivo Krähe comandou o dragão para atacar num local onde seus soldados estavam, com risco de danos muito maiores aos aliados do que aos inimigos?" Olha ao seu redor enquanto se defende dos golpes numa tentativa de sair daquele lugar nada favorável. Notou que os únicos soldados atingidos pela descarga elétrica foram aqueles dois que lutavam com ele. Os outros estavam distantes demais para sofrer qualquer dano. Então a verdade o acertou como um soco: "Essa tática havia sido planejada anteriormente. Não havia como eles se comunicarem entre tamanhas distâncias. Então eles se preparam bastante com antecedência, sabendo que o príncipe Lirk não cumpriria suas exigências. Que preparo."

   Os dois soldados permaneciam em combate com Lefty. Parecia que os três não se cansavam por nada, mas o capitão precisava terminar isso rápido. Estavam próximos dos outros soldados e o dragão parecia somente atacar outros grupos ou dar suporte a eles. Quis testar uma teoria, por isso foi quem evadiu desta vez. E como esperado, os dois perseguiram o capitão. Como esperado, um deles sacou a arma de calor e o capitão já esperava para desviar, mas não foi isso que aconteceu. O soldado segurou um botão e a espada começou a ser puxada da mão do capitão como se um enorme ímã estivesse sugando-a. A espada por fim caiu no chão pois Lefty não conseguia mais aguentar. Mas acabou por ignorar isso. Continuou tentando sua teoria.

   - Lefty, o que há? - Gritou Saurier.

   - Tudo em sua normalidade, seja lá até qual ponto podemos dizê-lo. - Ironizou Lefty.

   Notou que estava distante dos outros luzianos, e o dragão parecia não atacar aquele exato ponto. Realmente soava como uma tática única que não queriam repetir. Então um deles colocou novamente as mãos para trás e a sombra do dragão se mostrou presente. Naquele momento ficou claro para o capitão que as duas ações tinham alguma relação. Antes que o ataque se repetisse, Lefty fugiu da presença dos dois com uma rasteira, e as bobinas somente lançaram descargas elétricas sobre os dois soldados, que caíram ao chão mortos.

   - Por cá está acabado. - Anuncia Lefty recuperando sua espada. - Darei suporte a qual dos senhores?

   - Seria de grande cortesia que fosse a mim. - Disse Saurier tentando com todas as forças segurar o soldado que estava combatendo com suas duas espadas. - Preciso de um pouco de ajuda por aqui.

   Saurier e Lefty se juntam para atacar o grupo de cinco soldados. Os adversários estáticos, assim como os capitães. Olharam ao redor, e apenas outras duas batalhas ocorriam, uma delas protagonizada por Lirk e a outra por Licht. Não se via mais nenhum soldado dos seus vivo. Quem atacou primeiro foi um dos soldados luzianos com a arma de calor em configuração de atração para puxar as espadas. Os capitães se mantiveram firmes para segurar as armas pelo máximo de tempo possível.

   Primeira espada, de Saurier, solta, algo estranho ocorre. O soldado que estava puxando as espadas larga a arma e demonstra um olhar de medo ao se locomover sem que suas pernas se movam. Os outros ao seu redor estranham, mas logo começam a ser puxados de novo, soltando alguns gemidos. Algo de errado certamente acontecia. Lefty e Saurier se viram para a direção em que os dois estão indo e veem Krähe com uma enorme versão da arma de choque atraindo apenas os soldados luzianos de todos os combates, inclusive aqueles que combatiam Lirk e Licht. Ambos olham surpresos e em dúvida. E a velocidade da atração aumenta rigorosamente.

   - Não preciso destes inúteis. - Diz Krähe. - Estão morrendo muito fácil, não é isso que eu quero. Não preciso deles, eu tenho minha querida criação. Meu lindo Atma.

   Os soldados tentam se soltar em desespero mas seus movimentos estão bloqueados. A única coisa que não é bloqueada é o som de suas vozes. Os gritos de desespero parecem estranhos para soldados luzianos, como se já soubessem qual seria seu destino. Mas aqueles clamores por piedade e gritos desesperadores só deixavam Krähe ainda mais empolgado.

   Já estando perto o suficiente, só uma palavra foi dita por Krähe para sentenciá-los.

   - Incinerar.

   E assim foi feito. Os gritos de desespero se multiplicavam e tudo que sobrou daqueles soldados foi meras cinzas.

   - Atma esteve só brincando até então. Por que não começamos a batalha de verdade? - Sugeriu Krähe. - Venha, meu filho.

   Ordem dada é obedecida. O draconiano se aproxima de Krähe, permitindo que este monte no dragão, que inibe as descargas elétricas das bobinas para não causar perigos a seu mestre. A criatura levanta voo com um rasante que impacta todos que ali estão. Que naquele momento não eram muitos. Apenas Lirk, Saurier, Licht e Lefty estavam ali.

   - Criatura... Cuspa chamas! - Ordena Krähe. E a criatura se posicionou para atingir todos os capitães e o príncipe ao mesmo tempo e preparou seu ataque de chamas. Era possível ver sua preparação pelas engrenagens que se moviam mais rápido.

   A primeira coisa que tentaram fazer é correr, mas a cabeça do dragão seguia-os perfeitamente seja para qual lado fossem. Não havia como saber qual era a extensão das chamas, então tentar correr para as distâncias da cidade poderia ser algo estúpido.

   - Não quero que descubra a resposta tão rápido, jovem Lirk! - Disse uma voz. E aparece o fantasma encapuzado com suas mãos abertas apontadas para Atma.

   - Giott! - Exclama o príncipe. - Não creio que veio me auxiliar! Como pôde? E parou de falar daquele modo estúpido!

   - Como eu disse anteriormente, jovem Lirk. As perguntas são depois do combate. - E retirou o capuz, revelando um rosto jovem com cabelos encaracolados soltando um sorriso.

   - Vamos, compatriotas! - E surgiram seus dois fantasmas camaradas encapuzados. O dragão já estava prestes a lançar as chamas.

   - Já basta, Krähe. - Disseram em uníssono os três. - É hora de refletir sobre os seus atos. Reflexão!

   O dragão então abriu sua bocarra e soltou a explosão de chamas. Uma barreira se estendeu na frente dos fantasmas que refletiu as chamas com mais que o dobro da força diretamente no dragão e no pobre diabo que estava montado sobre ele. Tudo que se ouviu foi uma forte explosão.

   Lirk abre os olhos confuso em seu quarto. Olha para o lado e vê a rainha Lua, os capitães Licht, Lefty, o grão-mestre Saurier e Giott. A rainha fica extremamente emocionada ao ver que seu filho acordou e começa a abraçá-lo.

   - Oh, meu filho, não sabe o quanto sofri por achar que não voltaria mais daquele combate sangrento... Estes aqui ficaram todo o tempo aguardando seu despertar. - Lua aponta para aqueles que estavam no quarto.

   - Obrigado Licht, Lefty, Saurier, Giott... - Diz o príncipe soltando uma leve risada. A rainha fica levemente intrigada.

   - Giott? Não há nenhum Giott por aqui. - Diz Lua com estranheza. - Creio que o combate lhe afetou um pouco, mas tudo passará.

   Lirk fica levemente confuso, mas vê de relance o rosto juvenil de Giott piscar o olho direito e sorrir.