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Desencantar do Reino Sertanejo Caipira (Título provisório)

Iniciado por Brno, 13/04/2020 às 03:18

[box2 class=titlebg title=Introdução]
Não sei nem por onde começo hahaha. Conheci o RPG Maker com 11 anos, sempre quis fazer meu próprio jogo, mais porque gosto de criar histórias do que por gostar de jogos (não me considero gammer). Os anos foram passando, fui aprendendo a mexer no RM, mas nada de jogo.

Com o tempo novas preocupações foram surgindo, esse desejo foi deixado em segundo plano. A vontade de contar histórias, no entanto, só cresceu, tanto é que a faculdade que acabei cursando é justamente história haha. Agora com 20 anos, terminando a faculdade e, principalmente, de quarentena, creio que é o momento ideal pra tirar esses planos do baú e finalmente terminar meu primeiro jogo.

Mas chega de enrolação. Acredito que o melhor lugar pra começar é com o título (provisório), se você já leu O Romance da Pedra do Reino de Ariano Suassuna talvez já tenha ideia do que está por vir. DESENCANTAR DO REINO SERTANEJO CAIPIRA, para quem não sabe, o livro do Suassuna trata de um sertão quase mágico, onde a história, as fantasias e os "sonhos de fidalguia" do protagonista se mesclam à secura do chão pedregoso do sertão nordestino.

Fiquei maravilhado quando li, mas de certa forma parecia também distante do restrito mundo que conheço. Como eu gosto de identificar, um mundo triangular entre norte paranaense, o oeste paulista e o leste sul-matogrossense. Região essa em que passei 99% de minha vida e que é, ou já foi, um sertão, mas um sertão caipira.
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[box2 class=titlebg title=A ideia]
RESUMINDO: Sebastião é um historiador recém formado resiste a ideia de virar professor, entra numa crise profunda ao ter seu projeto de mestrado rejeitado e acaba retornando à cidadezinha do interior onde cresceu. Diante da inexistência de professores no lugar acaba tendo que aceitar essa nobre missão. Paralelamente ao descobrimento de sua vocação à docência, Sebastião acaba descobrindo eventos perturbadores na história da aparentemente desprezível vila do Cruzeiro do Sul e as estranhas crenças dessa gente.

Brasão da Vila do Cruzeiro do Sul


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Prólogo

    Recém formado e desempregado, uns bicos de qualquer coisa, nada na minha área de formação. Desiludido, sem destino. Na tela do notebook um e-mail escancarava o meu fracasso, meu projeto de pesquisa para o mestrado foi revisão outra vez "falta uma delimitação mais clara do tema", pensava comigo mesmo.
    Meus devaneios são interrompidos por uma ligação, era sobre meu pai, sua condição tinha piorado. Ele não podia mais estar sozinho, teimoso se recusou a vir morar comigo, não tenho mais escolhas. Sem nada que me prenda a essa cidade, não parece má ideia retornar à vilazinha onde cresci.
    Mais de mil e quinhentos anos atrás um grupo enorme de pessoas teve que migrar, assim como eu. Os germânicos, erroneamente chamados de bárbaros, tiveram que deixar sua terra natal na escandinávia e partiram ao sul, em busca de um clima mais agradável. Tirando a parte do clima, me identifico com eles, já que parti também numa jornada por sobrevivência, sem saber bem qual seria meu destino.
    Pus tudo nas malas, não que fosse muita coisa. Peguei o ônibus, desci numa cidadezinha do estado vizinho, foram umas três horas de viagem, mas parecia uma eternidade para mim. Mais uma hora de caminhada até a mundialmente conhecida Vila do Cruzeiro do Sul, população de 323 pessoas, corrigindo... 324.
    Cheguei na casa onde cresci e vivi até os catorze anos. Um sentimento nostálgico se apoderou de mim, mas logo me apressei pois meu pai me esperava no hospital. "Sebastião, é você? Eu... Tentei te ligar" a enfermeira me disse alguma coisa assim. Não entendi na hora, demorou pra cair a ficha, quando cheguei no quarto do meu pai o seu leito estava vazio.
    Sem saber direito como reagir a isso fiquei um bom tempo sentado no meio fio, olhando pro vazio, lembrando-me dos meus pais brincando comigo e correndo por essas ruas de terra. Naquela época nem asfalto tinha, agora as ruas são parcialmente asfaltadas, mas há ainda uma grossa camada de terra cobrindo tudo.
    Suspirei profundamente e não pude conter o choro. De tardinha tratei logo de voltar pra casa, antes de tudo virar breu. Chegando em casa chorei de novo, tudo naquele lugar tinha o cheiro do meu pai, não conseguia nem olhar para a porta do quarto dele. Decidi dormir na sala, cômodo novo, estranho pra mim, sem lembranças.
    Após a queda do Império Romano os visigodos inicialmente permaneceram no norte da Itália, mas aquele não foi seu destino final, assim como esse não é o meu. Eles ficaram definitivamente na península ibérica, já eu não sabia ainda onde me assentaria. Não desfiz minhas malas.
    Burocracias à parte eu já estava pronto para partir, sem destino, sem lastro. Só eu e o sol forte que queimava minha pele. De mochila nas costas e malas em ambas as mãos parti para a saída da cidade, infelizmente tinha perdido meu boné. Cinco minutos andando, fones no ouvido e ansiedade irrefreável.
    Meus pés estavam me matando, me arrependi de ter economizado nos tênis. Sem aguentar mais sentei-me no meio-fio da rua semi-asfaltada. Pus a mão sobre os olhos, tapando o sol e pensando na vida. Um fusquinha caindo aos pedaços que se aproximava de mim chamou minha atenção.
    De repente ele parou na minha frente, minha primeira surpresa foi ver um carro andando por essas bandas, a segunda foi ele parar na minha frente. "Não sou daqui, não posso te dar informações", já fui me preparando para responder. Até que veio a terceira surpresa, quando o vidro do carro abriu ouvi a voz da enfermeira de antes.
    _Sebastião, é você? - Quando me dei conta já estava dentro do carro indo em direção à Santa Maria do Rio Preto, a megalópole de sete mil habitantes, da qual a Vila do Cruzeiro do Sul era um distrito. Me mantive calado boa parte do tempo, não sabia muito bem como me comportar e não estava no clima para fazer amizade.
    _Então... - Ele tentava puxar assunto para quebrar o gelo, reconhecendo seu esforço tentei fazer a minha parte.
    _Vai fazer o que em Santa Maria? - Fiquei me perguntando depois se eu tinha sido invasivo.
    _Tenho que buscar um professor da escola... - Disse ela enquanto ajeitava os óculos com as costas da mão esquerda. Me perguntava porque a enfermeira tinha que buscar o tal professor - Não tem muita coisa pra fazer no hospital sabe? Tenho tempo livre e acabo ajudando na escola.
    Não sei quanto tempo se passou, o sol parecia cada vez mais quente, a lataria preta do fusquinha transformou-o num forno, ar condicionado nem pensar. Só não estava tão preocupado porque se eu desmaiasse no caminho pelo menos eu teria uma enfermeira ao lado. Notei então que ela suava tanto quanto eu, seus óculos estavam molhados de suor e ela tentava secar com a manga da camiseta.
    No geral ela não parecia se importar muito com isso, com certeza já estava acostumada. Ela virou os olhos em minha direção num momento, foi só então que percebi que eu tinha ficado alguns instantes a encarando sem querer. Silêncio constrangedor e o calor parecia aumentar, suspirei profundamente.
    Inclinei a cabeça no banco, olhando na direção oposta para evitar o constrangimento. Acabei adormecendo, não tinha conseguido pregar os olhos nos dias anteriores por motivos óbvios, mas agora eu estava num sono profundo. Lembro vagamente de ter sonhado com meu pai, ele corria pelas ruas de terra que citei antes, tinha uma bola de futebol, quando ia se aproximar de mim a enfermeira chacoalhava suavemente meus ombros para que eu acordasse.
    Bocejei e agradeci pela carona. Peguei minha coisas no porta-malas e rumei em direção ao meu destino. Enquanto andava na direção oposta a enfermeira entrava numa pequena casinha com uma placa na frente [Secretaria da Educação]. De repente me veio à mente a cena dela limpando os óculos com a manga da camiseta, foi quando me dei conta que não sabia o nome dela. Sem saber exatamente o porquê virei de volta e perguntei:
    _Desculpa... Qual é o seu nome mesmo? - Ela não estava mais lá na frente do prédio, quando eu já me virava de novo tentando fingir que não tinha falado sozinho ouvi gritos altos e raivosos. "Você aqui de novo? Eu já te disse que não tem professor, quem é que é doido pra querer trabalhar naquele fim de mundo?"
    Parei na hora, me aproximei da porta. Me deparei com a enfermeira saindo de lá com uma expressão triste. Envergonhada, quando me viu virou o rosto para o chão, lentamente foi em direção ao carro e antes de entrar no carro olhou para mim novamente.
    _Espera! - Gritei sem nem perceber. Sua expressão se tornou de espanto rapidamente. Me apoiei no carro com o braço direito e olhei para ela sem saber o que dizer - Tá... Tudo bem? - perguntei gaguejando. Ela tirou os óculos e limpou-os cuidadosamente com a camiseta.
    _Tá... Tudo bem - Ela parecia estar esperando que eu dissesse algo, eu também esperava dizer algo. Finalmente o silêncio foi quebrado - Eu tenho que ir, tchau.
    _Eu sou professor! - Disse sem hesitar. Na hora nem percebi, mas essa foi a primeira vez que essas palavras saíram da minha boca.
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Enquanto escrevia imaginei cutscenes animadas em pixel art nessas cenas mais descritivas. Acabei desenhando a enfermeira (aliás, aceito sugestões de nome para ela) em p.a. do jeito que eu a imaginei:

Spoiler
Só depois que eu percebi que ela tá vestida igual o Cebolinha hahaha
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Enfim, eu diria que é uma história de mistério com algumas pitadas de slice of life e vida escolar. O que vocês acharam? No que eu posso melhorar? Por favor deixem suas opiniões (e desculpam qualquer erro ortográfico, tô escrevendo no celular de madrugada).
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