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Um pequeno esboço

Iniciado por Eliel Micmás, 10/11/2014 às 13:41

Volto a trabalhar com uma ideia minha que pode ou não virar um jogo, mas que certamente começará como um livro. É uma série de três partes em períodos bem diferentes. Existem outros detalhes interessantes, mas não pretendo spoilerar tudo, então...

...De qualquer forma, o que segue abaixo é um esboço do prólogo da história, ou melhor, do início do prólogo. Antes de começar a escrever a fundo, quero ver se o começo é capaz de prender a atenção do leitor. Aproveitei para experimentar um pouco de mudança de narrador de 3ª para 1ª pessoa.

Estou mais do que disposto a ouvir críticas; sintam-se livres para avaliar.

O que se podia ouvir era um gotejar irritante. O ruído, chocando-se contra as paredes enferrujadas e ecoando fortemente, tirou inúmeras vezes o monopólio do silêncio no escuro laboratório. Computadores finos e cobertos por uma carcaça amarelada cobriam todas as paredes, oferecendo ao local sua única fonte de luz.

Uma das máquinas da sala quebrou não só o silêncio, mas algum sistema operacional desconhecido.

Certo emaranhado de cabos entrou em curto-circuito, cercando de eletricidade  uma cápsula no centro do laboratório. Os poucos ratos trafegando pelo chão úmido e sujo tiveram como última visão um clarão azul. Dois olhos de mesma cor abriram ao som do baque dos roedores contra as muralhas interiores do cômodo.

Ela abriu suas mãos, sentindo certa náusea de teor mais psicológico do que estomacal. Aquele lugar era capaz de dar claustrofobia aos mais fortes. De fora do vidro, podia-se ouvir as mãos da mulher batendo incessantemente contra a barreira transparente.

Sem se quebrar, o vidro deslizou para dentro de um sulco no interior das placas que compunham a cápsula. Estava finalmente livre.




Ao meu ver, existe um manual dentro de cada cérebro humano, criado para as mais diferentes ocasiões. Dentro da versão utilizada por esta que acaba de sair da cápsula, se pudéssemos ver suas páginas, localizariamos a seguinte instrução:

Em situações adversas, entreviste-se.

Não consigo resgatar na minha mente uma situação específica que escreveu tal ordem em minha memória. Provavelmente foi um resultado de inúmeras dúvidas acumuladas com os anos, as quais eu consegui responder  Não que existisse importância para isto naquele momento; a prioridade era localizar-me no tempo, no espaço e na qualidade.

A escuridão de onde havia acordado me amedrontou. Pairava um ar nauseante, mistura horripilenda de decomposição e química. A roupa que deveria me cobrir não existia; só haviam plugues, tiras metálicas e algum líquido viscoso e incolor. Estava particularmente nervosa no momento, e não demorou para que eu me livrasse dos estranhos cabos conectados ao meu corpo. Logo daria de cara no chão, me levantando quase dois minutos depois.

Quando fiquei de pé, a entrevista já havia começado. "Onde estou?" não era uma pergunta que eu poderia responder totalmente. Minha civilização, segundo minhas lembranças, não havia ainda tido interesse em quebrar a fronteira final do espaço, e estava mais ocupada lidando com problemas do meu próprio planeta. Fora de Ypesti então não poderia estar.

Essa afirmação minha, naquele momento, foi prontamente analisada pela outra pergunta: "Que dia é hoje?"

O frio perfurou meu corpo como uma faca, dando-me o impulso necessário para procurar algo que me cobrisse. Andei sem ânimo até uma bancada lotada de computadores. Havia uma bolsa retangular entre dois monitores, e não hesitei em abrí-la. Quem olhasse para mim naquele momento veria algo similar a uma criança  que acabara de receber um presente.

Foi o último sorriso que tive naquele dia.




Enquanto vasculhava os conteúdos da bolsa, mais perguntas brotavam dentro dela. As mais básicas, testemunhas de sua integridade psicológica, foram prontamente respondidas.

Nome? Heloisne Admanta-Sertevta. Idade? Espera-se que seja 23. As questões menos pertinentes no momento podem ser ignoradas.

A luz branca das letras nos monitores imprimia de códigos e comandos trechos de sua pele negra. Logo cobriu-se com as roupas que havia encontrado: uma calça preta, uma camisa não muito bem conservada e um sobretudo verde-claro levemente sujo. Um par de botas revestiu por fim seus pés descalços. Seja lá onde ela estivesse, pelo menos o frio não a incomodaria novamente. Uma data surgiu na tela à sua direita; não demorou para que recebesse um choque expressado pelo rápido movemento de seus olhos, coloridos no momento com um tom similar ao da grama prestes a amarelar.

3º dia do quarto ciclo de 9820. Sua última lembrança era de 9740.

Seu olhar esfriou por alguns segundos. O grito que se seguiu quase acordou os ratos defuntos.

Gostei do que li!
As descrições ficaram simples e objetivas, mas estão ótimas. Em relação à troca de narrativa, ficou bom, sim. Achei interessante essa abordagem, hehe.
Mas eu acho que você deveria ter escrito todo o capítulo e depois tê-lo postado. A vontade de ler fica, óbvio, mas eu acho que isso é proveniente do estado no qual essa parte se encontra.
Quanto à história, acho que ela pode ficar muito bacana. Ficção desse tipo é algo de que eu gosto muito e, pelo visto, você montou um universo bem rico e vasto. Será ótimo ver como você irá manejá-lo.
fear is the mind-killer

Citação de: FilipeJF online 10/11/2014 às 20:05
Gostei do que li!
As descrições ficaram simples e objetivas, mas estão ótimas. Em relação à troca de narrativa, ficou bom, sim. Achei interessante essa abordagem, hehe.
Mas eu acho que você deveria ter escrito todo o capítulo e depois tê-lo postado. A vontade de ler fica, óbvio, mas eu acho que isso é proveniente do estado no qual essa parte se encontra.
Quanto à história, acho que ela pode ficar muito bacana. Ficção desse tipo é algo de que eu gosto muito e, pelo visto, você montou um universo bem rico e vasto. Será ótimo ver como você irá manejá-lo.

Obrigado pelo comentário, e fico feliz por você ter gostado do texto :3 Kkkk, também pensei em ter feito logo o capítulo todo, mas vou ser sincero, no meio do caminho fiquei um pouco desanimado e decidi colocar aquilo que já tinha feito pra ser avaliado.

Logo postarei a continuação.