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Starved - Capítulo 1[CRÍTICAS SÃO BEM-VINDAS]

Iniciado por @StinkMonkey, 20/05/2015 às 10:13

Criado por: @StinkMonkey
Betada por: BeaFoox
Versão corrigida e modificada


Capítulo Um: O Início do Fim

O celular tocava sem parar na sala de estar. Eu estava com muito sono.

Já era oito da manhã em um sábado e eu não havia conseguido dormir.

Sou um simples executivo que não tem uma vida empolgante. Nada demais, afinal de contas.

Levantei-me com todas as forças possíveis e sai do quarto, caminhando pelo corredor.

O chão de madeira estava gelado. Meus pés, então descalços, faziam barulho pela casa silenciosa e até solitária.

Já na sala, fui em direção à pequena mesa que ficava no centro, com os sofás envolta.

Peguei o celular e o atendi. Era referente ao meu trabalho. Meu chefe informou que por conta da nevasca não teria como ir para o serviço.

Ele não fazia a ideia do quanto aquele telefonema me deixou grato.

Neste dia, eu realmente não aguentaria mais um minuto daquele trabalho miserável.

Abri a cortina da janela, mas parecia que haviam colocado uma placa branca, tampando totalmente a visão de fora. Nem um palmo sequer eu conseguia visualizar por causa da nevasca.

Por um momento, senti certa vibração pelos pés. Depois os fitei e senti essa vibração aumentar, agora mais para um tremor, fazendo os objetos do recinto se movimentarem pela intensidade.

Nada anormal.

Sempre alguma vez no ano acontecia esse tipo de coisa naquela merda de lugar.

Dei de ombros para mim mesmo, liguei a TV e me espalhei pelo sofá.

Mas a maldita estava com uma leve interferência, dificultando a visualização dos canais. Levantei-me novamente, procurei um filme qualquer, inseri no DVD player e voltei a sentar-me no sofá.

E então, outra vibração, outro tremor. Bem mais intenso que antes. Ouvi pratos se espatifando da cozinha.

Respirei fundo, pausei o filme e fui até a cozinha. Havia um montinho de cacos perto da pia. Peguei os pedaços mais grossos com a mão e varri o resto, jogando em um saco de plástico preto.

Vesti meu casaco, peguei o saco e me fui até a porta de entrada da minha residência.

A nevasca ainda estava forte, porém eu podia visualizar o que tinha ao meu redor. A rua estava totalmente deserta, obviamente, se é que o que eu via era exatamente a rua, pois mal dava para ver o pavimento.

E então, outro tremor. E um barulho ensurdecedor de algo se partindo.

Quando olhei para trás, vi uma rachadura enorme se abrindo e indo na direção da minha casa.

E minha casa partindo-se ao meio.

Os escombros fizeram o chão tremer, mais do que já tremiam, me fazendo perder o equilibro.

Tentei recuperar minha sanidade e levantei-me rapidamente, correndo o mais rápido para longe dali.

Eu passava e via as casas desabando, o tremor só se intensificando, carros saindo numa velocidade absurda e vindo na minha direção, quase me atropelando.

Continuei correndo. Meus pulmões pediam clemência, mas eu estava em pânico.

Finalmente vi sinal de pessoas, mas todas corriam para direções aleatórias, totalmente apavoradas e gritando de terror quando aquela catástrofe entrava em ação.

Apenas continuei correndo, mas eu estava exatamente igual aquelas pessoas: sem rumo algum.

Fugir para onde, afinal?

Tropecei em um escombro e caí de joelhos no chão, minhas mãos pousando em pedaços de vidraças. Quando as tirei rapidamente, senti aquele maldito ardor, e minhas mãos levemente ensanguentadas. Tentei não me apavorar mais do que eu já estava apavorado.

Maldito frio. Imaginei o que eu iria passar se não tivesse pego o meu casaco antes de sair da minha agora então destruída casa.

Me levantei e comecei a correr, outra vez. Só que em um ritmo um pouco mais lento, tentando não ficar entre escombros ou passagens da rua.

Vi pessoas sendo arrastadas por carros vindo com toda velocidade, perplexo. Nunca imaginei ver aquilo em minha vida. A bile em minha garganta veio à tona.

Olhei mais para frente e vi caminhões tombados, e muitas pessoas saqueando-os.

Não conseguia entender a natureza humana.

Como podia se transformar tão selvagem em tão pouco tempo?

Vi uma mulher próxima desesperada, gritando tanto, que parecia que sua garganta ia se rasgar. Ela gritava o nome de alguém. Eu queria ajudar.

Mas sei que não conseguiria mesmo que tentasse. Quem quer que ela estivesse procurando, talvez... nem esteja mais entre nós.

Pois então segui em frente. Sem olhar para trás.

Veio o cansaço. Veio a fome. Veio o sono. Tudo de uma vez, por fim.

Os flocos de neve batiam em meu rosto, que já estava dormente de tanto frio. Não sentia meus lábios, mas com certeza estavam todos feridos.

Já estava anoitecendo. E definitivamente, não foi o dia que eu esperava ter. E muito menos esperava esquecer.

Perguntava-me: foi apenas um terremoto? O quão grande esse terremoto foi?

Nada me vinha. Mas isso não importava por hora. Eu só queria um local para dormir e de preferência algo para comer.

Entrei em um estabelecimento quase intacto, mas muito empoeirado e sem iluminação alguma. Quando percebi, consegui por um minuto me animar.

Eu estava numa loja de conveniências.

Havia suprimentos por todos os lados, mesmo que esparramados, derrubados, abertos no chão ou desordenados nas prateleiras, e me recompus.

Achei e peguei alguns pacotes com carne e outros alimentos salgados, até doces.

No entanto tive uma ideia excelente para me livrar de todo aquele frio por um momento.

Fui até os fundos do estabelecimento e achei uma lata de lixo bem alta, e a trouxe comigo.

Peguei revistas que estavam numa das prateleiras do balcão do caixa e as joguei dentro do lixo. Procurei então por fósforos, algo que me fizesse ter fogo, pelo menos.

Felizmente havia uma prateleira com várias caixas de fósforos disponíveis para eu usufruir. Tinha que admitir: sortudo. Eu era muito sortudo.

Voltei para a onde havia deixado a lata de lixo e rasguei uma folha das revistas, acendendo um palito e colocando fogo nela. Depois, joguei a folha dentro do lixo, e rapidamente, tudo dentro dele começou a queimar.

Sinceramente, o conforto daquele calor até me acalmou.

Entretanto, eu não sabia como ia comer alguma coisa. O que mais havia para comer que não necessitava de preparo eram sacos de salgadinho, mas aquilo de jeito nenhum faria minha fome dissipar. Talvez até me faria passar mal. Então fiquei pensando por um momento.

Precisava de uma grade, algo do gênero. Lembrei-me de onde as revistas estavam. Aquele suporte era parecido com grades.

Agi rapidamente então, quebrando o que as segurava do balcão, quase tombando para trás com a força que utilizei. Coloquei aquele suporte como uma tampa encima da lata de lixo.

Sim, fazer o que eu estava fazendo era um insulto à higiene. Mas era preciso.

Abri os pacotes de carne, e os coloquei cuidadosamente encima do suporte de grade. Rapidamente a carne começou a assar, e eu pude sentir aquele cheiro delicioso. Meu estomago murmurou, mas fui paciente.

Olhei para fora. Estava tudo muito silencioso. E a neve estava mais calma que antes. Porém quase não havia iluminação. Apenas onde eu estava, por causa da lata de lixo.

Quando a carne já estava no ponto, as retirei e coloquei encima do pacote para esfriar um pouco, mas não consegui esperar por muito tempo. Comi como se eu tivesse passado uma semana fazendo jejum. E ainda sobrou bastante carne.

Joguei mais algumas revistas dentro do lixo, para que o fogo permanece-se por mais tempo e me recostei em um canto do local.

Meus olhos pesavam. E em poucos momentos, deslizei para um sono profundo.

---


– Ei. – escutei uma voz murmurar baixo. Em um solavanco levantei e recuei.

– Desculpe! Não se preocupe, não vou fazer nada.

Fitei então a direção de onde a voz havia saído, era suave e doce, e me deparei com uma garota. Aparentava ser uma adolescente. Não imaginei que uma pessoa com essas características vindo até a mim naquele momento.

Me permiti relaxar um pouco. Na verdade, não soube o porquê que fiquei tão alarmado.

– O que quer? – perguntei, sem delongas.

– Tem algo pra comer aqui? Ou já pegaram tudo, como nos outros locais? – perguntou ela, um pouco angustiada.

– Na verdade... tem bastante. – respondi-lhe, me sentando. – Eu assei algumas carnes e tem bastante sacos com biscoitos pra comer, bebidas também, mas não achei água alguma.

– Finalmente... sério, obrigada. – respondeu ela, dando um suspiro, e adentrando mais o local, indo em direção à lata de lixo.

– Sem problemas. – respondi, levantando-me.

– Você já vai? – perguntou ela, mastigando a carne assada.

– Na verdade, não. – respondi, olhando-a de soslaio. Adolescentes eram tão curiosos.

– Qual o seu nome? Meu nome é Joana.

– É Carl.

– O que você vai fazer agora, Carl?

– É uma pergunta bem difícil, devo mencionar. – respondi, suspirando longamente. – Você está sozinha por acaso?

– É... pelo jeito sim... – respondeu ela, um pouco baixo demais.

– Você mora por aqui?

– Não... nem ao menos sei em que cidade estou. Apenas me afastei o máximo quando tudo começou.

– Não achou ninguém pra acompanhar você?

– Não. Não há mais ninguém. – respondeu ela, mais amarga agora.

Decidi então realmente mudar de assunto.

– Quantos anos você tem?

– 15. E você?

– 29. – respondi, fazendo certa careta. Provavelmente ela achava que eu era como um avô para ela.

– Você também está sozinho?

– É.

– Você parece ter um bom senso de sobrevivência. – falou ela, aparentando segurar uma risada.

– Receio que você esteja certa. De preferência que realmente esteja. – respondi, abrindo um saco de biscoitos próximo.

– Então... para onde você vai agora?

– Dizem que o sul é um lugar que costuma não ter terremotos. – comentei, mas não sabia se era verídico.

Então, comecei a ouvir passos. Levantei a mão, sinalizando para que ela não falasse. Ela me fitou apreensiva, olhando ao redor.

Não eram passos de uma pessoa, na verdade, parecia um grupo de pessoas andando. Conseguia ouvir múrmuros, mas não compreendi o que eles diziam.

– Você vai ver...? – pronunciou ela, quase em um sussurro.

– Eles com certeza vão passar aqui, mas podemos pedir informação... pois não faço a mínima ideia de onde estou também. – admiti, caminhando até a entrada da loja.

Quando olhei na direção de onde vinham os passos, me surpreendi.

O grupo, com aproximadamente sete pessoas, estava com roupas imundas e armados. E havia alguma coisa vermelha nessas vestimentas, que não quis ficar muito tempo para realmente constatar o que era.

Mas não tive tanto tempo de sobra.

– Pega eles! – um deles berrou, e todos os restantes fitaram nossa direção. Quando vi o rifle apontado para nós, paralisei.

Olhei para Joana, que estava mais atônica que eu, e levantei os braços, acenando para que ela efetua-se o mesmo gesto.

O grupo se aproximou e puxou meus braços para baixo, prendendo-os atrás das minhas costas. Minha real preocupação era com Joana. Afinal, ela era só uma adolescente, seja lá o que eles queriam conosco.

– O que vocês querem? Por favor, deixem a garota. – pedi o mais calmo possível.

– Isso é Deus! Ele quer sacrifícios! Ele mostrou sua ira contra nós! – respondeu o mesmo homem que comandou que nos pegassem. Sua voz parecia uma hiena gritando, e com certeza ele não batia bem da cabeça.

– Isso não faz sentido algum! – gritou Joana apavorada.

– Cale-se, menina! – berrou o homem, aproximando-se dela.

– Não! Deixe-a! Ela é só uma criança! – berrei.

Ele deu uma coronhada forte na cabeça de Joana, fazendo-a impactar com o chão com força total. Simplesmente me desesperei.

Dei uma cotovelada no outro rapaz que prendia meus pulsos, e fui para cima do homem, que provavelmente era o líder.

Mas senti algo batendo no meu crânio. E daí, vi apenas a escuridão.

---


Não sabia onde eu estava, mas minha cabeça latejava de dor. Meu corpo estava dormente. Não conseguia arranjar forças para movimenta-lo.

Havia quatro pessoas ao meu lado. Três homens e uma mulher, como uma fileira, recostados na parede.

Mas a mulher não era Joana. Nem havia sinal dela.

Mal conhecia a garota, mas o fato de eu a ter visto levando aquela coronhada me deixou muito chocado.

Como alguém poderia fazer algo do gênero à uma simples garota, que não tem como revidar? Estou furioso com isso e irritado, pois não faço a mínima ideia do porquê que nos pegaram sem mais nem menos.

O líder, se aproximou, falando em voz baixa, como se estivesse orando. Levantou o homem que estava na ponta da fileira, e o despiu, deixando-o totalmente nu.

Quando fitei o que estava mais à frente, fiquei mais perplexo do que nunca. E não acreditei no que com certeza iria ser feito em seguida.

Havia vários pedaços de madeira queimando, amontoados num canto do recinto. Havia um certo círculo no centro do amontoado, ajustado propositalmente, imaginei.

Tinha uma abertura no teto, feita pelo terremoto possivelmente, acima da "fogueira". A maior parte da fumaça se dissipava por lá, mas o local estava já infestado. Tossi algumas vezes por conta disso.

Levantaram um tipo de poste metal atrás do homem despido, e o amararam lá com uma corda grossa.

Colocaram-no no círculo que não havia madeira sendo queimada. O homem começou a murmurar e se mexer levemente, mas igualmente a mim, debilitado e sem forças. Então, o líder e outros homens, empurraram as madeiras queimando para mais perto dele.

Eu apenas fechei meus olhos. De forma alguma veria aquilo.

O cheiro era horrível. Senti uma ânsia enorme para vomitar, mas não tinha forças nem para isso.

Efetuaram o mesmo processo com a mulher.

Não. Eu não estava aguentando mais aquilo. Preferiria ser queimado vivo primeiro que todos do que saber que aquilo estava sendo feito da minha frente.

Pior que o cheiro, era a alma desumana das pessoas que estavam fazendo aquilo.

Mas sabia que minha vez estava próxima. Bem próxima.

Onde estava Joana?

Engoli um seco. Não.

Por favor, que isso não tenha acontecido com ela.

Porém, se ela foi pega e não estava ali... a única constatação era essa.

Respirei fundo, tentando ignorar esses pensamentos. Eu estou sozinho, afinal. Desde o início estive.

Mas no fundo sei que meu desejo não era permanecer assim... sozinho.

Tentei mexer minhas pernas. Finalmente algum sinal de vivacidade delas. Mas ainda estavam muito moles.

O homem ao meu lado parecia ter recobrado um pouco suas forças também, porque não parava de se remexer. Mas tinha os pulsos amarrados. Como os meus.

A minha ideia era que ela desamarra-se a dele para ele desamarrar a minha. Mas e se ele não desamarra-se a minha? Eu nem conhecia aquele homem.

Então, eles terminaram o processo e vieram buscar uma nova isca. Levantaram um homem velho, diferente do que estava ao meu lado, mas aquele homem se debatia com veracidade.

Aproveitei que estavam distraídos, e consegui me levantar. Mas quando fui dar impulso para correr, alguém me puxou, me levando ao chão de costas, com tudo.

– Nem pense nisso! Ninguém sairá daqui! – berrou um deles, mas reconheci a voz, era o líder.

Eu vi o reflexo de alguém agarrando o líder por trás, e o puxando para fora da minha visão já turva. Senti um baque, e depois algo se rasgando.

Juntei minhas forças para me levantar, e senti algo nas cordas dos meus pulsos, e depois, meus braços livres para se movimentarem.

– Levante-se! – berrou o homem que estava ao meu lado antes.

Eu o fitei, e vi o líder se levantando atrás, tirando algo do bolso da calça. Uma arma.

Entrei em pânico, e puxei o homem que me libertou para o lado, o fazendo rolar, felizmente fazendo os tiros não o acertarem. Levantei e corri para cima do líder, o empurrando de volta para o chão, tirando a arma em punho.

O soquei diversas vezes, mas ele era resistente, me jogando para o lado e trocando as posições, agora quem apanhava era eu. Senti meu rosto ficar dormente por conta das porradas, mas o meu agora parceiro de fuga deu-lhe um chute nas costelas, o tirando de cima de mim.

Ele me levantou com rapidez e corremos o mais rápido para um tipo de balcão que tinha no local. Meu parceiro tinha uma pistola em mãos, e trocava tiros com os presentes no recinto. Não sabia de onde ele havia pego aquela arma, mas de uma coisa eu sabia: aquele balcão não ia aguentar por muito tempo. As balas nos perfurariam em breve.

A fumaça do local já estava me fazendo passar mal. O cheiro de carne queimada ainda impregnava minhas narinas.

– Com certeza não tem só eles aqui! – gritou ele, em meio aos tiros. – Temos que fugir! Você me ouviu!?

Ouvi o que ele disse. Mas não conseguia processar nada. Eu estava perdendo meus sentidos aos poucos.

Senti que ele agarrou meu braço, me levantou e correu meio que me levando junto até a porta do recinto. Senti uma bala passar de raspão pela minha cabeça.

Já fora do recinto, recobrei um pouco da minha consciência, então corremos o quanto podíamos. Ele trocava o pente da arma enquanto isso, e eu quase não via nada pela escuridão do corredor que seguíamos sem saber o destino que ia nos oferecer.

Havia muitos pedaços de vidro, metal e concreto pelo chão. Os terremotos atingiram esta construção, sem dúvidas. Imaginei que não duraria nem 2 meses em pé.

– Essa construção está só a rapa. Algo que faça impacto nas paredes, alguma explosão, iria desabar isso aqui muito rápido. – comentei.

Viramos o corredor e me deparei com uma janela no corredor. Rapidamente me aproximei para ver, pois havia uma claridade estranha saindo dela. A janela dava visão para um piso baixo.

Olhando mais atentamente, constatei que havia três pessoas amarradas, de joelhos e com as bocas tampadas por um pano amarrado atrás da cabeça.

E fiquei surpreso.

Uma delas era Joana.

Há alguns minutos atrás, pensei que ela estava... morta.

– Vamos logo, não tem nada aí! – disse ele, afobado.

– Joana! Ei! — gritei pela janela. Ela não sabia de onde saia o som, mas olhou freneticamente ao redor para saber. Até que finalmente me viu, e seu rosto estava totalmente atordoado.

– Precisamos sair desse lugar! – berrou o meu até então parceiro, voltando para o corredor, mas antes, eu o puxei com intensidade pelo ombro.

– Não viu? Há pessoas ali embaixo!

– Não conhecemos esse lugar!

– Não há ninguém para nos impedir de tira-los de lá, acabei de ver! – falei, com certa impaciência.

Se deixássemos eles lá, aqueles caras fariam a mesma coisa que haviam feito com as pessoas anteriores.

E eu não sairia daquele lugar imaginando isso.

– Acho que no fim desse corredor há alguma escada. Vamos, daí talvez estaremos mais perto da saída também. – argumentei para tranquiliza-lo, porém se havia alguma incerta naquela frase, eu diria que tinha sim, por inteiro. – Qual o seu nome, afinal?

– Bruno. Sargento da 2 CIA. – respondeu ele, enquanto finalmente achamos a escada para o andar de baixo.

– Carl. Apenas Carl. – respondi, descendo as escadas com pressa.

Encaramos um salão enorme sem absolutamente nada, nem móveis. Era um prédio abandonado mesmo.

Procurei ao redor alguma porta ou abertura, e me deparei com uma entrada. Me direcionei à ela, com Bruno em meu encalço.

Estávamos em um corredor novamente. Diabos, prédio grande do cacete.

Abri a primeira porta mais próxima, e finalmente, adentramos o recinto onde eles estavam presos.

Corri até Joana e tirei o pano amarrado em sua boca, e ela começou a falar desesperadamente.

– Ele vai voltar! Ele saiu porque ouviu os barulhos vindo de cima!

– Então não temos tempo. – disse Bruno, desamarrando as outras duas pessoas, enquanto eu desamarrava Joana.

E então, ela me abraçou em seguida.

Admito que foi estranho. Mas naquela hora, permiti retribuir o abraço.

Ainda bem que ela não viu ou sentiu o que eu senti lá encima.

Ela com certeza estaria mais apreensiva do que já estava.

– Acalme-se, vamos sair daqui. – tentei acalma-la, ajudando-a a levantar-se.

Tinha um rasgo em seu casaco, e estranhei por um momento. Percebendo meu olhar, ela meneou a cabeça.

– Não, não! Isso foi do terremoto! – respondeu ela, um pouco acanhada.

Eu assenti. Parece que aqueles lunáticos achavam melhor queimar pessoas vivas do que qualquer outro sacrilégio.

Nos apressamos para fora do recinto, e quando chegamos ao salão vazio, ouvimos passos vindo das escadas.

– Desgraçados! Voltem aqui! – berrou o cara.   

Segurei a mão de Joana e corri, arrastando-a junto.

Bruno atirou no homem com sua pistola em mãos, mas ela descarregou, e não havia mais pente disponível. Só nos restou correr.

Conseguimos sair do local, mas o homem continuava disparando contra nós.

Em momento algum olhei para trás, apenas corri, até que não ouvi mais tiro algum.

Permiti dar uma olhadela, e constatei alguém estirado no chão, no meio da rua deserta, e alguém em pé ao seu lado, olhando-o, como se quisesse constatar que estava morto.

Era o Bruno.

E olhando mais atentamente, vi que quem estava estirado no chão, era o cara que estava atirando em nós.
Nem ao menos quis saber como ele executou aquilo.

Apenas continuei correndo, com Joana em meu encalço, sem parar. Outra vez, de súbito, virei, procurando o Sargento.

Ele já então nos acompanhava, limpando suas mãos, segurando uma outra arma.
Falar até adiantaria... se o seu intelecto compreendesse.