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Além da Morte

Iniciado por Nandikki, 24/06/2015 às 15:20

Nasci na primavera de 1945.
Morri no final do século vinte.
Fechei os olhos e estava no vazio.
O vazio era preto e cheirava muito mal.

Logo percebi que era um caixão.
A priore medo tive de sair.
Pensei que morreria sufocado.
Mas com um impulso transcedi.

Estava em um cemitério abandonado.
Minhas pernas tremiam e meus lábios congelavam.
Contudo logo percebi que nem perna havia.
Pois já estava no céu vendo a mocinha.

A mocinha vestia azul e era gordinha.
Era a única no cemitério.
Ela olhava constante para o céu.
Parecia conversar com a lua.

O que tinha no céu?
Me perguntei.
Sem perceber já estava lá,
Vendo a terra de tão longe.

Vi pessoas com roupas estranhas.
Estavam presos dentro de câmeras metálicas.
Pareciam meio aflitas.
Mas sorriam em vez de se desesperarem.

Logo logo fui pra tão longe.
Vi grandes bolotas e várias anãs.
Lá estava eu perto de uma luminária.
Uma grande bola luminosa de natal.

Ouvindo conversas de estranhos
Eu entendi.
Chamavam de estrela,
Aquilo que eu vi.

Escutei muitas conversas
E li muitas coisas.
Logo entendi onde estava.
E que impossível era eu estar ali.

Aprendi muito de química,
Ao ver as estrelas queimarem.
Os átomos ligavam-se entre si,
E traziam a explosam ao acaso.

Nunca tive a chance de estudar a física.
Mas aqui a vejo na prática.
Tão fabuloso as estrelas boiando no espaço.
E estabilizando o trivial.

Tive tanto tempo pra ver esses fenômenos
Que me fascinei com suas formas
Quantidades minúsculas mas fantásticas
Era o mundo, que viam os matemáticos.

Por falar em tempo
Tanto tempo tive
Que com tudo que aprendi
Questionei o próprio tempo.

Aprendi que nada é absoluto
Ou inquestionável.
Deuses caem como reis
Como em revoluções ou guerras armadas.

Por que não questionar o tempo?
O rei dos reis, absoluto incontestável.
Eu que desafiara deuses
E o tempo, nem ousava.

Pela primeira vez parcial
Não fui espectador.
Com tudo que aprendi
O tempo me domou.

Como um rebelde,
Me rebelei.

Com o tempo
O tempo aprendi.

Pelo tempo eu voltei
Para o início do meu fim.

E antes de morrer
Essa carta escrevi
Para alguém como você
A encontre e seja feliz.


O poema está bem legal. O sistema de rimas é bem interessante, usou em palavras no meio da frase, e não no final. Curti, bom trabalho :blink:
Prazer, Terror dos Modinha


Gostei do texto, Nandikki.
A maneira como você construiu ele - sua ideia central e estrutura - está ótima.
Você jogou contextos diferentes, falando de "deuses", matemáticos, física e química. Ficou elegante.


Apenas um verso me estranhou um pouco:
A mocinha vestia azul e era gordinha.
Não sei porque também, só estranhei.


Parabéns!