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Vicissitude, Maverick e Crocitar

Iniciado por Hanzo, 13/02/2016 às 18:14

Se eles não estivessem tão assustados naquele momento eles poderiam ouvir o som do motor v8 dobrando a esquina. Mesmo se tivessem ouvido, eles também não saberiam dizer se era ou não uma boa coisa que vinha a bordo do Maverick que acelerava rua acima.

Em frente ao trio uma besta de três metros caminhava ameaçadoramente em direção ao grupo. Eles já haviam enfrentado coisas como aquelas, mas nunca uma tão forte. Com a pele azul, quase negra, a besta sorria, mostrando dentes parecidos com os de um tubarão. Seus olhos vidrados e chifres torcidos apontavam em direção ao líder dos caçadores, Heitor.

André e Henrique tentavam levantar suas armas em direção à criatura, mas seus braços já estavam cansados, assim como seus corpos. Aquela coisa já havia batido neles bastante, e ela ainda não estava cansada.

Com um movimento rápido jogou os dois para a esquerda, e com um gancho fez Heitor subir todos os degraus da frente da igreja, batendo as costas no chão em frente à porta principal da Catedral do Carmo.

André, já quase desmaiado, conseguiu disparar mais um tiro na besta, que já subia a escadaria. Apesar de sua costumeira precisão, sua condição atual não permitiu que ele desse seu melhor tiro. A criatura parou a subida e levou sua mão ao pescoço. A bala estava ali.

A besta olhou para o caçador a tempo de vê-lo perder a consciência. O último golpe havia acertado de jeito. Henrique, que estava ao lado de André, rastejava em direção a sua arma, que havia voado mais para trás.

Heitor recuperava o ar que havia perdido quando se chocou contra o chão e observava a criatura que ainda analisava seus companheiros. Ao fundo ele pode ver o vulto esverdeado do Maverick entrando na praça e freando bruscamente atrás da besta.

O monstro voltou-se para o novo visitante e iniciou a descida da escadaria. O mesmo olhar vidrado agora ganhara um brilho especial. Ele não sabia por que ele havia dirigido até ali, mas já que ele havia chegado, ele poderia finalmente provar para todos que ele era mais forte do que Abel.

   - O que você quer aqui, Abel? – perguntou a criatura.
   - Você sabe que não deve mostrar sua forma por ai, Natã. – respondeu o motorista do Maverick.
   - Abel... – murmurou Heitor. – eu já ouvi esse nome antes.
   - Eles são caçadores, escoria humana. Vou mata-los, vou fazer o seu trabalho.
   - Meu trabalho não é matar caçadores. Meu trabalho e punir idiotas como você, que fazem com que caçadores existam. Se não fosse por gente estupida, eles nem saberiam que existimos.

O recém-chegado já havia se aproximado mais da escadaria, mas Heitor ainda não era capaz de vê-lo, pois a criatura tapava praticamente toda a vista que ele tinha da praça. O caçador já havia recuperado o folego, agora era hora de encontrar sua arma. Seja quem fosse esse tal de Abel, ele teria problemas para vencer aquela fera.

Natã, a besta, saltou em direção ao seu novo adversário, quebrando alguns degraus da escadaria. Seu pulo foi a coisa mais absurda já vista pelo caçador, sua impulsão foi suficiente para fazê-lo sumir do campo de visão de Heitor. Ele então conseguiu ver quem era o outro ser que havia chegado.

Calça jeans, camisa de flanela, cabelos longos e escuros. Abel olhava para cima, acompanhando o movimento da fera que saltara em sua direção. Poucos segundos antes do pouso mortal, Abel se deslocou em velocidade surpreendente para o lado e golpeou a criatura antes mesmo que ela tocasse o chão.

O som do cruzado de direita parecia o som de um trovão. A besta fora jogada contra um pequeno posto policial que ficava ocupado durante o dia, mas àquela hora da noite, ninguém estava por ali.

As telhas e os vidros do pequeno posto foram estilhaçados, e parte das paredes caiu sobre a criatura, que teve dificuldades para se levantar. Ainda tonto, Natã levou sua mão ao lado da face que foi atingido e chacoalhou a cabeça.

Heitor não acreditava no que acabara de ver. O tal Abel não podia ser humano. A besta que ele caçava era um vampiro, um daqueles que podiam se transformar em monstros, eles já haviam enfrentados vampiros como esse, já haviam enfrentado lobisomens, talvez o recém-chegado fosse um deles.

Natã recuperou-se do golpe e grunhiu, mostrando os dentes para o seu agressor, que retribuiu o gesto, abrindo sua boca e mostrando seus dentes de vampiro para a besta, deixando Heitor ainda mais
chocado. Abel era um vampiro.

Antes que a fera se move-se, o caçador pode ver o vampiro desaparecer de onde estava e só pode localiza-lo pois voltou a ouvir o som de trovão causado pelos golpes disparados por ele. Três potentes golpes reduziram a besta a sua forma humanoide.

Natã voltara a ser o vampiro franzino e esbranquiçado que o grupo de caçadores havia seguido desde aquele bar, dois bairros para depois do centro. O último soco dado por Abel não fez um som muito alto, mas apagou o outro vampiro.

Heitor e Henrique saíram do choque assim que a cabeça de Natã tocou o solo. Abel era ainda mais perigoso do que aquela fera, e eles estavam desarmados. Henrique voltou a rastejar em direção a sua arma, mas assim que seu corpo virou ele tomou um chute que o deixou inconsciente.

Heitor colocou a mão em sua arma, mas antes que pudesse se virar contra a nova ameaça, Abel já havia chegado até ele. Com um movimento rápido, o vampiro desarmou o caçador e com a palma da mão aberta acertou-o no peito, jogando-o contra a porta da igreja.

O caçador tentou acertar o vampiro com seus melhores golpes, mas não conseguiu nem passar perto do vampiro, que mais uma vez o jogou contra a parede em um golpe rápido com a palma de sua mão.

   - Fique calmo, caçador. Eu não quero o seu mal. – disse o vampiro.

Heitor não deu atenção às palavras ditas pelo adversário e sacou de dentro de sua jaqueta uma estaca de madeira, o que despertou um pequeno sorriso no vampiro, que saiu de sua posição de combate.

Avançando e golpeando, o humano se cansou rapidamente de golpear o vazio, até que foi mais uma vez desarmado. Abel tomou a estaca e a jogou no chão, fazendo-a rolar escada a baixo. Ele voltou a encarar o caçador, o sorriso ainda estava em seu rosto.

   - Esta mais calmo agora, ou apenas frustrado, caçador? Consegue ver que não quero lhe fazer mal agora? Eu derrotei o monstro que mataria você e seus amigos, e não lhes fiz mal algum.
   - O que você quer, Abel? É esse seu nome, não é?
   - Sim, Heitor, esse é o meu nome.
   - Espera ai, como você sabe o meu nome?
   - Eu sei tudo o que acontece na minha cidade, meu jovem. Conheço todos aqueles que de alguma forma chamam a atenção nela.
   - Pra quem é dono da cidade, seu carro é bem velho...
   - Mas ainda assim é bem legal, não?
   - Prefiro a minha moto... o que você quer então, vampiro, se não é o mal?
   - Por hora basta você saber que não quero o seu mal, nem o do seu grupo de caçadores. Vocês podem continuar sua caçada pela cidade, fiquem a vontade. Só tenham certeza que conseguem lidar com as criaturas que caçam. Eu não poderei ajuda-los a todo momento.
   - Não precisamos de sua ajuda. Nós vamos acabar com todos vocês, vamos limpar essa cidade. Vamos acabar com todas as criaturas que se escondem da luz do Sol.
   - Pois façam isso. Só não se esqueça de que há criaturas andando quando o Sol esta de pé que podem fazer muito mais mal do que um pequeno bando de vampiros.
   - Do que você esta falando?
   - Lembre-se do que falei, Heitor. Há mais coisa acontecendo nessa cidade do que você consegue ver agora. Por que você não pede para a sua amiga das pesquisas olhar com mais atenção para os sinais. Talvez ela encontre alguma coisa interessante.

O vampiro desceu as escadas e pegou a estaca de madeira, andou em direção ao vampiro que estava desacordado e enfiou a estaca em seu peito. Ele continuou andando até chegar à porta do Maverick e de lá olhou para o topo de uma árvore e depois deu uma última olhada para o caçador.

   - Peça desculpas para o outro caçador, Henrique. Espero que o chute não tenha arrancado nenhum dente.

Ele entrou no carro e saiu da praça da igreja tão rápido quanto havia chegado ali. Heitor correu em direção aos amigos e em pouco tempo, os três já estavam próximos às cinzas que restaram do outro vampiro.

   - Quer dizer que esse tal de Abel, salvou a nossa pele? – perguntou André.
   - É... – respondeu Heitor.
   - E isso o faz um dos bons?
   - O cara me deu um chute! Ele não é bom! – respondeu Henrique.
   - Mas o outro, Natã, ele ia engolir a gente vivos... – ponderou André.
   - Eu não sei se ele é bom ou mal. O que eu sei é que hoje ele nos salvou. O que não consigo entender é porque, nem como ele sabia tanto sobre nós. – respondeu Heitor.
   - E o que vamos fazer agora?
   - Vamos pesquisar mais sobre ele, e mais sobre o que esta acontecendo aqui em Santo André... Se ele disse a verdade, estamos deixando passar algo importante.

Os três montaram em suas motos e partiram dali, pensativos. Nesse mesmo momento um corvo crocitou de cima da árvore e voou para o infinito. No fim, mais gente havia visto o que acontecerá ali. As peças já estavam em movimento há décadas, mas a primeira delas havia caído naquela noite.

FIM