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Querido Diário

Iniciado por Vifibi, 08/01/2013 às 20:36

Sobre o texto: Antes de ler, saiba de duas coisas, caro leitor. Primeiro, esta saga foi exclusiva da Caverna do Dragão até que foi finalizada (Não que isso importasse muito por aqui, eu ainda mantinha meu embargo). Segundo, e mais importante, eu criei esta saga com o intuito não apenas de lhe divertir, como também me testar. Por isso mesmo, quero que você, como leitor e como crítico, dê sua opinião sobre as personagens, os ambientes, tudo. Sua opinião é muito importante para mim. Agradeço a atenção, e aproveite a leitura.


Um novo ano

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Eu... Eh... Eu não gosto de escrever. Eu realmente não gosto. Acho chato, ridículo. Só desempregados e bêbados fazem isso. Mas, meu professor insistiu que cada aluno mantivesse um diário por um mês, então acho que não tenho escolha. Se você precisa saber, eu sou estudante do CAP, do Rio de Janeiro. Há uns doze ou treze dias começaram as aulas. Estou no segundo ano do segundo grau, e até agora ninguém fez uma piada sobre "22", o que é algo bom.

Como toda pessoa sã, ou no meu caso insana, eu não gosto de escola. Bem, eu tenho amizades que gostam, mas essas são anomalias naturais. Eu gosto de ouvir música. Toco um pouco de guitarra, junto com uma bandinha tosca que eu arrumei no colégio. Não são exatamente bons, mas eu também não sou. Meu maior sonho é tocar numa banda boa.

Hoje de manhã eu me atrasei. Acordei com pressa, e me arrumei o mais rápido que pude. Tropecei e bati o braço enquanto vestia a calça, quase me sufoquei com a camisa, arrumei a mochila e saí de casa correndo. Só quando estava no elevador do prédio, já no térreo, que me dei conta: Tinha esquecido de vestir o sutiã. Voltei para casa, me atrasando ainda mais.

O meu colégio é o que você chamaria de um "Lixão". O pátio fedia à mijo, os banheiros fediam à mijo, um dos professores fedia à mijo. Mas, fora o fedor, era uma escola agradável. Eu ainda a odeio, mas pelo menos meus amigos deixam as coisas menos desagradáveis. Eu tenho cinco amigos, e duas amigas. Não sei o porquê, mas me dou melhor com meus amigos. Um deles, o Lúcio, ficou na minha sala neste ano, junto com minha amiga Vívia.

- Suzana! - Lúcio me chamou no começo da aula. Como sempre, ele tinha uma barba ridícula, que insistia em deixar.
- Ei, Lúcio. Bom ver que você ficou na minha sala. Assim eu sei quem vai ser o pervertido atrás de mim bufando o ano inteiro.
- Você, como sempre, é tão agradável quando uma seringa no pescoço.
- Não se preocupe, com essa barba ninguém vai achar seu pescoço.
- Por que você não vai se ferrar?
- Logo atrás de você, princesa. - Lancei para ele um olhar desafiador. Por um momento, ele pareceu se irritar, mas logo depois se acalmou.
- Isso não é maneira de se tratar um amigo de infância... Enfim, venha cá, me dê um abraço. - Me abraçou com força, como sempre fazia. Já fechava meu punho, esperando ele tentar abrir meu sutiã. E, como sempre, ele tentou. E eu soquei ele.

Lúcio pode ser um tarado, mas ele ainda é um bom amigo. Um bom amigo que fica sempre tentando tirar meu sutiã, mas como todo bom amigo, ele pode ser disciplinado com um soco. E depois eu me sinto mal por ter batido num cachorro. Vá entender, vai ver eu sou assim mesmo. Nossa primeira aula do dia foi de matemática, que, para ser honesta, eu não poderia me importar menos. É tão redundante.

Depois da aula de matemática, eu tive redação. Eu nunca gostei de redação, mas hoje foi diferente. Tínhamos um professor novo, um tal de Gustavo. Ele começou falando de como a história era escrita pelos escritores, ou alguma baboseira assim. Eu não estava prestando muita atenção. Outra coisa sobre mim é que eu gosto de desenhar. Não tenho altas esperanças sobre isso, mas é algo que me agrada quando estou entediada.

Quando cheguei em casa, cansada, meu pai estava dormindo no sofá. Ele ainda não estava muito bem, desde que ocorreu. Sentei do lado dele, e, cansada, acabei adormecendo do lado dele. Ele me acordou depois, com o jantar na mesa. Meu pai é gentil comigo, mas ele anda muito deprimido. Às vezes eu me preocupo sobre o que ele vai fazer se algum dia eu for embora.

Ah, está tarde demais para pensar sobre isso. Amanhã eu volto a escrever mais. Agora eu vou dormir... Então... Boa noite, diário.
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O Novo

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Na aula de redação de hoje meu professor falou que era importante manter datas no diário, então... Hoje é uma Terça-Feira, dia 16 de Março. Meu pai me levou para a aula, já que chovia. Eu nunca entendo meu pai direito, mas ele sempre parece ter dinheiro, mesmo sem trabalhar. Ele me disse que é aposentado, mas ele não tem nem quarenta anos. Ah, bem, tanto faz.

Na aula, novamente tivemos Redação. Na outra aula eu tinha dormido, mas desta vez teve algo de... Interessante. O professor falava com paixão de livros, escritores, quase deixava o assunto interessante. Hoje também apareceu um novo aluno, que, aparentemente, resolveu faltar todas as outras aulas antes de hoje. Ele era bonitinho. Quando eu comentei isso com a Vívia, o Lúcio ficou morto de inveja. Eu cheguei a rir da reação dele.

O garoto novo, como que eu posso definir? Era um idiota. Bem, todos são, mas este caso era especial. O cara parecia querer parecer idiota. Tinha cabelo curto, uma barbinha tosca. Com um cigarro ele ficaria parecendo um daqueles garotos de quem você desvia na rua. Vívia, no entanto, ficou vidrada nele. Até o final da aula. E, no final da aula, ela me pediu para ir falar com ele. Tem horas que eu odeio a Vívia.

- Eh... Olá? - Eu comecei, a contra-gosto.
- Ei, você é a... Suzana, né?
- Parabéns, acertou meu nome.
- Qual o prêmio?
- Um encontro com a Vívia. Aquela ali, de cabelo castanho e longo. E olhos verdes. O que está esperando? Vá reclamar seu prêmio.
- Você não é muito boa nisso - Ele riu-se.
- Hein?
- Nisso. Em ajudar a amiga à conquistar o cara.
- Ah, obrigada. Agora eu posso desistir da minha carreira como Hitch.
- Ainda bem. Você seria uma péssima Will Smith.
- Você mal me conhece e já faz piadas, que ótimo. - Eu pus a mão na cara. Sou uma tonta mesmo.
- Ah, que isso. Você não é tonta - Ele levantou da cadeira.
- É, certo. De qualquer modo, eu vou avisá-la de que você não está interessado.
- Ei, espera.
- O quê? - O cara de repente beijou minha bochecha.
- Não estou interessado nela. Você, por outro lado... - Ele sorriu. Eu dei um soco nele. Ele riu. - Vai ter que ser mais forte pra me machucar... Aliás, você está vermelha.
- V-v-vá se foder! Babaca! - Dei um tapa nele e saí dali.
- Mas que Porcaria foi aquela?!? - A Vívia estava puta comigo. Ótimo.
- Ele beijou minha bochecha, e eu esmurrei ele. Ah, e ele não está interessado em você.
- E em você?
- Como?
- Ele te beijou.
- Bem... Eu nunca vou gostar desse babaca.
- Uhum, certo. Vamos pra casa, a chuva parou.

A Vívia mora num prédio perto do meu, então sempre pegamos o metrô juntas. Quando cheguei em casa, meu pai estava escrevendo alguma besteira. Sentei irritada no sofá e fiquei jogando. Morri demais na internet. Garoto idiota. Completamente sem-noção. E eu nem ao menos sei o nome dele! Argh, se meu pai soubesse...

- Soubesse o quê? - Lixo. Eu estava falando sozinha. De novo.
- Ah! Nada, nada...
- Vamos, pode falar.
- ... Bem, já que você precisa saber...
- O que houve?
- Hoje na aula...
- Sim?
- Eu beijei... Uma garota. - De vez em quando eu gosto de torturar meu pai. A expressão na cara dele foi impagável.
- Quê?! Como?! Quando? Quem? E... Ah, sua maldita! - Ele ficou irado quando eu caí no chão rindo - Você me paga por essa...
- Ok, desculpa, pai. Quer jogar comigo? - Ofereci um dos controles para ele.
- Tudo bem. Vamos ver você sorrindo assim depois de morrer três vezes seguidas. - Ele perdeu. Feio.
- Você é uma droga nesse jogo.
- Bem, não é justo, você teve prática!
- Pai, tá tudo bem. Sua garotinha ganha de você em video-games. Acontece.
- Mas... Tudo bem, tudo bem - Ele suspirou de repente - Mas você não é mais uma "Garotinha" há algum tempo.
- É, mas eu tento agir assim perto de você.
- Ah, é? Por que?
- Para te proteger.
- Proteger do que?
- Bem, se eu te contasse tudo que eu faço com meus amigos...
- Ok! Chega! Você pode estar se tornando uma mulher, mas não precisa me contar isso!
- Pai, só estou brincando! - Ri de novo.
- Ainda bem, acho. Bem, eu vou pedir nosso jantar. Está com vontade de comer o quê?

Nós comemos comida chinesa depois que eu insisti. Ele queria comer carne, mas eu queria comer comida japonesa. Então decidimos comer chinesa. E... Foi isso. Agora eu vou tomar banho, estou cansada e amanhã eu tenho treino. Então... Tchau (?)
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Novas Paixões

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Quarta-Feira, 17 de Março. Eu tenho uma nova paixão: Filmes antigos. Meu pai trouxe uns dois quando eu cheguei em casa, e eu simplesmente adorei os dois. Um foi Rocky, e o outro O Iluminado. Meu pai morreu de medo do segundo.

Hoje de manhã começou aquela época do mês. O pior de tudo é que hoje tinha Educação Física, que eu geralmente adoro, e não pude fazer nada. Fiquei sentada na arquibancada a aula inteira. E o babaca que tinha beijado minha bochecha apareceu, puxando conversa.

- Hey, não gosta de educação física?
- Argh, você não tinha esquecido de mim?
- Não. E você nem teve a mera cortesia de perguntar seu nome.
- No momento que você dá nome você começa à se importar. E filhotes são mais agradáveis.
- Boa - Ele riu, mostrando os dentes. Eu faria algum comentário sobre amarelos e tortos, mas não eram.
- O que você quer?
- Bem, eu quero que você saiba que meu nome é Bernardo, e eu quero que você me conheça um pouco melhor - Ele sentou do meu lado e pôs a mão na minha perna. Eu dei outro soco nele.
- Você é um tarado, sabia disso?
- Não, não sou. E, se você me conhecesse, também acharia isso. Que tal a gente sair hoje?
- Hein?!
- Você, eu, e um lugar qualquer. Vamos sair.
- Não!
- Ora, vamos. Você sabe que quer - Ele se inclinou quando eu virei o rosto - Eu consigo te ver corada, sabe.
- N... Tudo bem. Vamos sair depois da escola, mas se você contar pra alguém, eu vou...
- Você vai?
- Não sei, mas eu vou pensar em algo bem doloroso para fazer e fazê-lo com você!
- Tudo bem, entendido.

Eu não sabia o que estava pensando. Acho que meu pai deixou cair cachaça no meu café sem querer. É a única explicação plausível. O resto da aula passou como qualquer dia normal, com a exceção da Vívia ter me xingado uma vez ou duas, e o Lúcio ter me abraçado, dito: "Você está virando uma mulher.", e ter tentado tirar meu sutiã. Algumas coisas nunca mudam.

Depois da aula, eu tentei correr para casa, sem o Bernardo me ver. Se não tivesse tropeçado, caído e ficado meia-hora reclamando da dor, teria conseguido. Ele me alcançou, e tentou me ajudar a levantar. Eu recusei a ajuda.

- Então, pensou no castigo?
- Sim, durante a aula de educação sexual.
- Ah...
- Olhe pelo lado bom: Você será pioneiro no esporte de Bungie-Jumping testicular.
- Ainda bem que não contei para ninguém.
- É, sorte a sua. Então... Você... Quer ir aonde?
- Bem, primeiro nós vamos passar na minha casa, e você vai ficar por lá mesmo.
- Ha ha - Eu dei um soco nele. Esse garoto deve ser masoquista.
- Bem, vamos por aqui.
- Afinal, onde você está me levando?
- Não se preocupe, você vai gostar.
- Não é com isso que estou me preocupando, é com você que estou preocupada.
- Que fofo. Por que está preocupada?
- Bem, se você tentar me atacar de qualquer forma, eu teria que te espancar muito, com força. E isso simplesmente estragaria meu dia.
- Retiro o que disse. Enfim, venha. Estamos quase chegando.

Ele me levou num parque de diversões abandonado, que tinha fechado mesmo antes de nascermos. Estava surpresa, não vi nem mesmo um mendigo. Ele foi numa caverna de papelão gigante, me chamando. O lugar era escuro, úmido, e a água que passava ali fedia.

- Que lugar é esse?
- Esse? Bem, eles chamavam isto de Túnel do Amor. Acho que isso não existe mais há algum tempo.
- E... Por que chamam de Túnel do Amor? É melhor que seja uma referência àquela música.
- Bem, é que as pessoas aproveitavam o escuro e a privacidade para... - Ele chegou perto de mim, e me beijou. Foi inevitável, foi... Bom. Eu senti meu coração pular uma batida, meus olhos fecharem. Eu o abracei, ele me abraçou. E, por fim, eu dei um tapa nele. Ele riu outra vez, e nos beijamos uma última vez.

Cheguei em casa flutuando, e meu pai me mostrou os dois filmes. Assistimos juntos, e depois eu vim para meu quarto. Acho que meu coração não é apenas burro, como eu achava. Ele também é retardado, cego e masoquista.
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Capa dura, namorado mole

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Quinta-Feira, 18 de Março. Bem, agora já é 19, mas isso aconteceu no dia 18. Primeiro, eu acordei feliz de ir para a escola, o que deixou meu pai suspeito. Na escola, contei para a Vívia o que aconteceu ontem, e ela... Bem, ela me chamou de nomes.

No intervalo entre aulas, o Bernardo me chamou para ir à um "Lugar" que ele conhecia. O lugar era o salão de atividades do colégio, que ficava vazio durante a maior parte do ano. Ele me beijou novamente ali, e eu senti meu coração acelerar outra vez. Isso é, até o pervertido tentar pegar nos meus seios.

- Gah!! - Eu gritei, me afastando dele.
- O que foi?!
- O que você está fazendo?
- Bem... Eu pensei que fôssemos...
- O quê?! Seu idiota, você só queria fazer isso?!?
- Não, não, me desculpa. Eu pensei que você...
- Que eu...?!
- Sabe, já... Fizesse esse tipo de coisa.
- C-Como? Você acha que eu sou quem? Qualquer vadiazinha que você pega, transa e dá no pé?
- Não! Eu nunca achei isso. Olha, me desculpa. Eu me precipitei. Vamos, deixa eu me remediar.
- Se você tentar de novo, Bernardo...
- Não vou tentar, prometo - Ele me beijou de novo. E dessa vez, tentou segurar minha bunda. Eu dei um tapa nele. Ele pareceu irritado. Idiota.
- Tudo bem, chega. Até mais, Suzana. Te vejo depois da aula - E foi embora. Babaca.

Depois da aula, eu fiquei sem falar com o Bernardo, mesmo ele tendo tentado se desculpar. A Vívia pediu que eu fosse na biblioteca com ela, e eu sinceramente queria conversar com alguém.

- Vívia.
- Sim? - Ela estava lendo a contra-capa de um livro, distraída.
- Hoje, durante o intervalo...
- O que houve?
- Bem, o Bernardo tentou... Pegar nos meus... - Ela fitou-me, com uma cara de quem acabou de levar um tiro na perna.
- Ele tentou pegar nos seus...
- Peitos.
- E você fez o quê?
- Dei um tapa nele.
- Bom.
- Bom?
- É. Bom. Eu teria feito o mesmo. Garotos acham que, só porque estamos namorando eles, temos que fazer sexo com eles. É bom ver que nem todas concordam com eles. - Ela me sorriu.
- Então, você nunca?
- Ah, eu já fiz. Lembra do meu ex? É, eu fiz com ele. Mas eu gostava muito dele. E eu também queria.
- Queria?
- Ah, sim. Tem uma hora que você, não só ele, quer. E, se for com alguém que você goste, é melhor ainda.
- Huh - Eu sentei numa cadeira que tinha por perto, pensativa.

A Vívia se misturou na área de livros mais antigos e grossos, enquanto eu olhava distraída a área de romances. Em uma estante, sentado sozinho, estava um livro chamado "Uma Cabana de Inverno". O que me deixou interessada, no entanto, foi o nome do autor: "Júlio Olinda de Marcques". Era o mesmo sobrenome que o meu, exatamente.

- O que que você está olhando? - A Vívia voltou, carregando três livros.
- Esse livro.
- "Uma Cabana de Inverno"? Nunca li esse. Quem é o autor? Também nunca ouvi falar. Hey! Ele tem o mesmo sobrenome que o seu.
- É, eu sei.
- Que coincidência.
- Com certeza. Ei, posso te pedir um favor?
- Odeio quando você diz isso. O quê?
- Você pode pegar este livro para mim? Eu não tenho associação com... Esta biblioteca.
- Você quis dizer "Nenhuma biblioteca". E tudo bem, eu pego. Mas me devolva em uma semana, ou eu pago multa.
- Tudo bem.

Quando cheguei em casa, eu assisti "Curtindo a Vida Adoidado" com meu pai. Ele falou alguma coisa sobre como eu não falava mais da minha vida pra ele, mas eu estava gostando demais do filme para prestar atenção. Depois do jantar, eu comecei a ler o livro, e só me dei conta da hora quando dei uma pausa. Agora, diário, eu vou dormir. Amanhã eu ainda tenho um longo dia pela frente. Ainda bem que será Sexta-Feira!
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More Than a Feeling

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Sexta-Feira, 19 de Março.

Eu adoro rock. É de família. Meu pai adora rock, meu avô muito provavelmente adorava rock, e assim por diante. Meu pai, especialmente gosta de ficar no escritório dele ouvindo rock. Especialmente Boston. Não passa um dia nessa casa sem alguém tocar "More Than a Feeling".

Hoje, no entanto, eu toquei porque estava chateada. Deprimida. Eu terminei com o Bernardo. Durante o intervalo, de novo, o idiota tentou pegar em mim. E eu, de novo, dei tapas nele. E ele ficou irritado, e simplesmente disse "Chega. Cansei. Adeus." e foi embora.

Eu, como a mulher madura e bem composta que sou... Ah, quem estou enganando? Eu chorei. Garoto idiota. Eu também fui idiota, por chorar por ele. Passei o dia inteiro deprimida, e ainda por cima levei uma bronca do professor de geometria por isso.

Depois da aula, o professor de redação veio falar comigo. Ele parecia preocupado. Também, não o culpo. Passei o dia inteiro olhando para meu caderno feito uma tonta. Ele sentou na cadeira da frente, fitando-me.

- Suzana.
- Eu?
- Você está bem? Ficou quieta a aula inteira.
- Sim, eu... Não. O Bernardo terminou comigo.
- Bernardo? O garoto novo? Vocês estavam namorando?
- Bem, eu acho que sim. Há uns dois dias que ele me convidou pra sair depois da aula, e me beijou. Parecia quase mágica.
- Huh - O professor suspirou - Bem, existe algum motivo para ele ter terminado?
- Ele... Ele queria... Quer que eu... Faça... - Fiquei sem palavras. Não conseguia dizer sem soluçar, ou chorar um pouco.
- Ah. Entendi. Ele queria que você fizesse sexo com ele.
- É! Por que todos os garotos só querem isso?! Bando de pervertidos!
- Bem, nem todos são assim. E, se você disse que não queria, mas ele não aceitou isso, acho que você fez a escolha certa.
- Como assim?
- Bem... Eu tenho uma amiga - O professor, eu lembrei, tinha vinte e poucos anos - E essa amiga estava sob constante pressão por conta do namorado, que queria fazer sexo com ela. Ela, no final, não aceitou, e ele terminou com ela. Claro, no começo ela chorou, mas depois ela viu que, apesar de tudo, fez a escolha certa. Ela não estava preparada. E, assim como ela, você também vai saber quando estiver.
- Você... Promete?
- Bem, prometo até onde posso prometer. Agora, vá para casa. O Antônio - Antônio é o nome do meu pai - deve estar ficando preocupado, não concorda?

O professor de redação era amigo de bebidas do meu pai, se eu me lembro corretamente. Ele já passou pela minha casa antes de virar professor. Sempre achei ele um cara muito bacana. Depois que cheguei em casa, me sentindo um pouco melhor, voltei a ler o livro que a Vívia pegou para mim.

Meu pai me interrompeu quando o Maurício - Meu professor - ligou perguntando se eu tinha chego em casa bem. Quando ele me perguntou o que houve, eu contei do Bernardo. Contei da Vívia, contei do livro, contei tudo. Fazia tempo que eu não tinha uma conversa tão aberta com meu pai.

- Bem, acho que você já resolveu isso tudo sem minha ajuda. Pode doer agora, mas acredite, até a pior das dores se cura com o tempo.
- Obrigada, pai.
- Agora, qual era o nome do livro que você estava lendo, mesmo?
- "Uma Cabana de Inverno".
- D-Do Júlio Olinda de Marcques?!
- É! Você já ouviu falar dele? A Vívia nunca, e ela é a que mais lê no colégio.
- Sim, sim... Eu já ouvi falar dele.
- Ele é parente nosso?
- Hein?
- Ele tem o mesmo sobrenome que o meu. Ele é parente nosso?
- Bem... É uma longa história. Está tarde, e eu aluguei para vermos "Ghostbusters". Que tal eu te contar amanhã?

Ghostbusters é um excelente filme. Morri de rir com ele. Depois de ver o filme, sem que meu pai soubesse, eu abri a Wikipédia e procurei por "Júlio Olinda de Marcques". Mas só pude ler "Presumido morto" antes que meu pai me chamasse dizendo que ia fechar a água. Então fui tomar banho.

Acho que é só. Não estou com a menor vontade de que Segunda chegue e ver a cara idiota do Bernardo. Talvez eu nunca encontre um rapaz que só se importe com sexo, mas acho que não custa nada sonhar. Vou dormir, estou exausta.
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O Segredo

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Sábado, 20 de Março.

Meu pai me levou hoje para o forte do Posto 6 de Copacabana. Era um lugar lindo, dava para ver a praia, o mar, e tudo com um lindo pôr-do-Sol... Como eu queria que algum garoto me levasse ali. Meu pai pediu uma cerveja para ele e uma Coca Zero para mim - Ele ainda acha que eu não bebo.

- Bem...
- Você ia me dizer algo sobre o autor do livro.
- É, eu ia. Eu vou.
- Quem é ele? É um parente distante?
- Não.
- É alguém que você conheça?
- Bem, pode-se dizer isso. Eu era o autor do livro.
- Você era? Como assim, você era?
- Bem, você tinha uns cinco anos quando aconteceu, então não me surpreende muito que você não lembre, mas você e sua mãe foram o motivo que eu troquei meu nome.
- Mas isso não faz sentido. O sobrenome do autor do livro era exatamente igual ao meu. O seu sobrenome é "Bolton de Sá".
- Bem, eu mudei para meu nome de solteiro quando sua mãe morreu.
- Espera. Você adotou o nome dela? Que nem o...
- É, bem, eu gostei da idéia.
- Mas, afinal, o que aconteceu?
- Bem, você, sua mãe e eu vivíamos numa casa na Barra. Eu consegui fazer sucesso com alguns livros, tipo o que você está lendo, e assim eu ganhei algum dinheiro. No entanto, um dia, eu não sei como, e não sei porque, começou um incêndio na casa. Sua mãe estava dormindo, e eu estava cuidando de você, que estava tendo pesadelos.

"Eu acordei sua mãe quando vi o fogo, e corremos para fora da casa. Só que, ao passarmos pela cozinha, que ficava no caminho da saída, o gás escapou e explodiu mais da metade da casa, e trancou sua mãe dentro dela. Eu não tinha escolha, eu tinha que te tirar dali. Depois, os bombeiros me disseram que não puderam salvá-la.

Às vezes eu me arrependo de não ter voltado e tentado salvar ela, mas aí eu penso em você, e lembro que fiz a escolha certa, que sua mãe queria que eu fizesse. Mas enfim. Depois do incêndio, eu queria paz. A imprensa iria acabar com a sua privacidade, e a minha, e eu não queria isso. Eu mudei de primeiro nome, e troquei para meu nome de solteiro. Eu ganhei dinheiro suficiente escrevendo para não ter que trabalhar por um tempo, e desde então me dediquei a cuidar de você."

Meu pai e eu conversamos durante o resto da tarde, e depois vimos um filme nos cinemas. Eu dormi no filme, então nem consigo lembrar qual era o título. Era bem chatinho. Ainda tenho que pensar um pouco sobre o que meu pai me falou. Acho que amanhã não vou escrever no diário, não sei.

Estou feliz que meu pai finalmente tenha me contado o que sempre escondia, mas eu achei que fosse algo terrível, um crime que ele tivesse cometido... Mas... Era só... Uma dor. Meu pai sempre foi assim para mim, mesmo que eu não soubesse qual era a fonte dela, mas eu sempre soube que tinha uma.

Ainda assim, pelo menos agora eu entendo mais ele. Acho que me distanciei demais dele nesses últimos anos. Vou tentar evitar que isso volte a ocorrer. De qualquer forma, vou terminar de ler o livro que meu pai escreveu. Estou curiosa para ver o que acontece.
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A Dança no Parque

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Hoje, 21 de Março, um Domingo, o Lúcio me chamou para sair. Eu estava cansada, mas resolvi sair de qualquer forma. Não era todo dia que ele fazia algo, e não era todo dia mesmo que ele me convidava para fazer algo com ele.

Ele me levou para um parque de Copacabana, perto daonde ele mora. Era um dia calmo, tranqüilo. Os pássaros cantavam nos poleiros, os casais andavam de mãos dadas, os cachorros defecavam na grama... Tudo bem, não era um dia perfeito. Mas era um bom dia.

- Então - O Lúcio me olhou, parecendo preocupado - Como que você está... Sabe, se segurando?
- Como?
- Bem, eu soube da história que rolou com o Bernardo...
- Ah, eu estou bem.
- Mas, ele te machucou? Foi... Gentil com você?
- Hein?!
- Bem, ele contou pra sala inteira que ele... Transou... Com...
- COMIGO?!
- Ele transou mesmo?
- Não!
- Mas...
- Ele é um idiota! Mentiroso! Ele tentou pegar nos meus peitos, e eu bati nele, aí ele terminou comigo!
- Bem, não foi isso que ele contou pra sala.
- Aquele babaca! Eu vou quebrar o nariz dele amanhã!
- Bem, estou feliz que você não transou com aquele babaca. - Ele sorriu.

Depois disso, começou a chover, e corremos para a casa dele. Passei o dia conversando com ele, jogando, etc. Eu fiquei surpresa: Ele nenhuma vez tentou tirar meu sutiã. Quando voltei para casa, a Vívia me ligou, chorando.

- Suzana?!
- Ei! Vívia! Se acalme. O que houve?
- O Bernardo! Ele... Ele!
- Eu não transei com ele, não importa o que ele diga!
- Não, eu sei que não transou!
- Então o que houve?
- Ele transou comigo!
- O quê?!
- E filmou!
- O QUÊ?!
- Ele disse que vai manter...

O telefone ficou mudo. Era tarde, eu liguei para ela de novo duas vezes, para o celular dela, e nada. Não consegui dormir direito, então estou escrevendo aqui antes de tentar mais uma vez. Ah, Vívia, o que você foi fazer...
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Filho da...

Spoiler

Hoje eu corri para a aula, preocupada com a Vívia. Ela estava chorando na aula, e o Bernardo estava conversando com uns garotos, rindo e mostrando alguma coisa no celular dele. Babaca. Sentei do lado da Vívia, e ela se jogou em cima de mim.

- Maldito!
- Hey, hey...
- Cachorro! Maldito!
- Vai ficar tudo bem...
- Não! Não vai! Esse babaca disse que ia postar tudo no Youtube!
- Mas por quê?
- Eu não sei! Por favor, Suzana, me ajuda!
- Eu?! O que que eu posso fazer?!
- Sei lá! Mas... - Ela me fitou, desesperada. Depois, voltou a se apoiar em mim, chorando.

Bernardo ia pagar. Aquele idiota, imbecil... Argh, nem consigo descrever ele direito.

- Bernardo!
- Opa, olá Suzana - Ele me deu um sorriso amarelado. Me deu vontade de socar os dentes dele.
- Bernardo, por que você foi filmar a Vívia?
- Ah, ela te contou.
- Sim, ela me contou. Ela é minha amiga.
- E você não está irritada com ela? Por ela ter...
- Sim, eu estou, mas ela continua minha amiga, transando com você ou não, e eu me preocupo com ela. Então... Apague o vídeo dela, ok?
- Ok. Com uma condição.
- Qual?
- No salão de atividades, durante o intervalo. Se você quer que eu delete o vídeo, você vai ter que fazer algo por mim.
- O quê?! Você não espera mesmo que eu vá... - Eu olhei para a Vívia, chorando - ... Tudo bem. Durante o intervalo. Mas você vai deletar o vídeo depois disso!
- Feito.

Voltei para meu lugar, já que o professor tinha chego. Fiquei sem falar com ninguém, e não consegui me concentrar. Quando deu o intervalo, eu fui para o auditório. Lá estava ele, com aquele sorriso imbecil. Ele falou alguma coisa, eu ignorei.

- Bem - Ele pegou o celular do bolso - Aqui está - Eu fui pegar, ele afastou a mão - Mas antes... - Ele pôs o celular de volta no bolso.
- Tudo bem. Você pode... Fazer... Isso comigo.

Ele me beijou. Me segurou, e soltou meu sutiã. Me virou de costas, e levantou minha camisa. Começou a mexer com meus seios como se fossem brinquedos. Eu pus uma mão atrás de sua cabeça e o beijei. Comecei a sentir o "Objeto" dele se projetar nas minhas costas. Botei a mão no bolso dele.

Ele mudou uma das mãos para minha vagina. Eu me segurei para não dar um tapa nele. Minha mão mexia quase que freneticamente no bolso dele. Ele sorriu para mim, e disse "Que bom ver que você está gostando". Eu peguei o celular do bolso dele, e dei uma cotovelada no nariz dele.

- Argh! - Ele gritou, com o nariz sangrando - Sua puta!
- Eu te avisei, Bernardo - Mostrei o celular para ele - Você deveria ter deletado.
- Eu vou te expulsar desse colégio, sua puta!
- Ah, vá em frente. Chore para o professor sobre como você apanhou para mim. Eu conto da sua chantagenzinha para eles. Vamos ver quem expulsará quem.
- Me devolva meu celular!
- Pra quê? Você só usa pra ouvir funk mesmo. Adeus, Bernardo. Espero que tenha aprendido alguma coisa. - Pus o sutiã, abaixei a camisa e fui embora.

- Hey.
- Ei, Suzana... Escuta, o Bernardo me contou o que ele ia fazer com você... Eu entendo se você não pôde deletar o vídeo...
- Bem... - Eu entreguei o celular para ela - Achei que você fosse preferir deletar você mesma.
- Esse... Esse é o celular dele!
- Yep. - Eu sorri.
- Então ele... - Ela olhou para minha calça.
- Não!
- Então como... - Nesse momento, o Bernardo entrou na sala, enfezado. O nariz dele sangrava muito.
- Bem, ele mereceu - Sentei do lado dela.
- Mas... Como...

A Vívia, depois de me encher de perguntas, me convidou para dormir na casa dela. Eu passei em casa para pegar roupas e você, diário, e depois fiquei conversando com ela, que só se deu por satisfeita quando eu repeti a história de como peguei o celular do Bernardo umas treze vezes.

Vou dormir, acho que já tive aventuras demais por hoje, e amanhã tenho que acordar cedo.
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Confusão

Spoiler

Eu estou... Estranha. Quando acordei de manhã, estava me sentindo bem, triunfante, alegre. Fui para a aula com a Vívia, ríamos, cantávamos alguma besteirinha improvisada, etc. Agora, eu estou pensando seriamente sobre o que vou fazer.

O Bernardo não apareceu para a aula, o que me deixou contente, e o Lúcio comentou sobre ele estar reclamando e xingando como se fosse um doido com tourettes. Depois do recreio, o Lúcio me convidou para irmos no cinema ver "Alice no país das maravilhas".

Quando a aula acabou, fomos. Ele me levou por um caminho onde eu não conhecia muito bem, em Copacabana. Ele segurou minha mão enquanto andávamos, apesar de ter mais medo do que eu de... Absolutamente tudo.

Depois do filme, ele me levou pelo mesmo caminho, mas fez um desvio. Esse desvio levava para um pequeno terreno no meio da cidade que tinha uma árvore. Essa árvore se encontrava justamente no meio, e estava começando a perder folhas. Sentamos embaixo da sombra dela, enquanto o Sol se punha no horizonte.

- Então, o que achou do filme? - Eu comecei, cansada do dia.
- Tim Burton é Tim Burton.
- Ah, é, eu tinha esquecido desse seu fetiche com ele.
- Não é fetiche, eu só gosto dos filmes dele.
- É, e masoquistas não tem fetiches por dor, eles apenas gostam do jeito que sentem cera queimada na pele deles.
- Você acha que vamos passar um dia de nossas vidas sem você me sacanear?
- Bem, eu posso passar um dia sem falar com você, se você quiser.
- Prefiro as sacaneações, obrigado.
- Pensei que fosse.
- Sabe, eu adoro passar o tempo com você.
- Ah, obrigada. Você também não é um porre.
- Não, é sério. Eu adoro você.
- Bem, você também é um bom amigo.
- Você é minha melhor amiga - Ele se virou para mim.
- Bem, você é meu melhor amigo - Me virei para ele.
- É uma pena...
- O quê?
- Bem... Eu não sei ser romântico nem nada, mas... - Ele me beijou. Por uns bons dez segundos, antes de eu sair correndo para casa.

Por que ele foi me beijar, droga? Ele é meu amigo, e talvez sinta algo a mais por mim, mas eu não sinto isso por ele! Lixo. E agora? Se eu namorar ele, mesmo não sentindo o que ele sente, estarei mentindo para ele. Se eu disser "Não", eu vou magoá-lo. Por que esse tolo foi se apaixonar por mim?
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A Primeira Vez

Spoiler

Diário, eu sei que eu fiquei sem escrever em você há uma semana, mas me dê uma folga, eu tive uma semana exaustiva. E ainda é Quarta-Feira! Na verdade, eu estou escrevendo porque... Bem, eu mudei. Passei uns dois dias equilibrando o que o Lúcio sentia por mim e o que eu não sabia sentir por ele, mas no final ele ganhou.

Acho que ele sempre foi assim, embora seja um tanto quanto chato isso. Ele gosta de mim, eu gosto dele. Eu sempre gostei dele, ele sempre foi meu amigo. Meu melhor amigo. Mas aí ele me beija e diz que quer mais do que isso. E me deixa completamente confusa. Tem horas que até melhores amigos são cruéis com você.

Ele passou um dia inteiro ora pedindo desculpas ora tentando me "Conquistar", até que eu finalmente cansei, falei para ele ficar quieto e beijei ele. Acho que, no final, eu também sentia algo por ele. Ontem, depois da aula, fomos para a casa dele.

Estávamos nos beijando, deitados na cama dele, quando eu percebo algo estranho vindo de mim. Uma sensação nova. Quase dominadora. Pelo visto, ele também sentiu, porque começamos a nos tocar ali mesmo. Do nada, ele parou, e começou a pedir desculpas feito um louco.

- Hey! - Eu ri, aliviada. Estava nervosa com o que estava para acontecer.
- Me desculpa! Eu sei que foi assim que começou aquela bobagem com o Bernardo, me desculpa!
- Ei. Acalma.
- Você... Me perdoa?
- Não precisa pedir perdão.
- Não?
- Não.
- Então, o que...
- Lembra quando eu disse, que queria fazer com alguém especial, quando estivesse preparada?
- Lembro. Você começou a citar nomes e me deu pesadelos.
- Bem. Você é especial. E eu estou preparada. - Os olhos do Lúcio se arregalaram.
- Você quer fazer isso aqui?! Agora?!
- Bem, contanto que você tenha uma camisinha... - Abri a gaveta dele. Tinham treze ali, como eu já sabia.

Ele demorou um pouco, mas depois já estava pronto. Nú, diante de mim, pronto. Eu me deixei levar pelos instintos, e tirei a roupa, peça por peça. Não me sentia eu naquele momento, me sentia outra pessoa. Uma pessoa que me agradava muito naquela hora.

Ele me beijou ternamente, e prosseguiu, levemente, e cautelosamente com a penetração. De início, doeu um pouco. Mas depois a dor passou. Era prazeroso, bom. Senti ele respirando em cima de meu peito, que começava a arfar conforme aumentava a velocidade. Meu coração batia acelerado, até o ponto que veio: Um prazer inexplicável, enquanto ele também soltava o que tinha. Parecia mágica.

Depois, eu deitei abraçada à ele, cansada, mas satisfeita. Ele me beijou uma última vez, antes de fechar os olhos e dormir. Contou-me depois que também foi a primeira vez dele. Tudo bem, ele viu pornografia para saber o que fazer na hora, e provavelmente "Praticava", mas valeu a pena. Foi perfeito.
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... Oh...

Spoiler

Lixo. Três semanas. Três semanas sem nem ao menos tocar no meu diário. Hoje de manhã eu estava enjoada. Vomitei umas três vezes, antes de meu pai chamar um médico, e eu pedir pra ele não chamar. Na segunda vez eu já sabia o que era.

Lúcio veio me procurar antes da aula, desesperado, e carregando três sacolas com testes de gravidez. Eu peguei um pacote, abri, e peguei um dos palitos. Quinze minutos depois, um sinal de "+" apareceu, como um sinal de que minha vida acabaria em nove meses.

Fui até o Lúcio, tentando falar algo. Eu caí. Chorei no ombro dele. Não tinha o que discutir, não tinha o que fazer. Ele me abraçou, entendendo a situação.

- Mas... Nós...
- Elas não são... 100% seguras.
- O que vamos fazer?
- O que podemos fazer?
- Nós podemos... Não ter o bebê.
- Você é capaz de viver com isso?
- ... Não.
- Nem eu.
- Bem, eu te prometo uma coisa.
- O quê?
- Eu vou estar aqui. Eu não vou fugir. Eu vou te ajudar.
- Promete?
- Prometo.

Eu deitei na cama, deprimida, e ele deitou do meu lado. Nenhum de nós foi à aula, e meu pai fez o máximo que pôde para não dar uma ataque. Depois, o Lúcio foi embora, e eu me tranquei no meu quarto. Não consigo acreditar. Não quero acreditar. Estou grávida. E agora?
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Inesperado

Spoiler

Eu tinha me acostumado à idéia de ter uma filha. Eu estava me preparando, fisica e psicologicamente, assim como financeiramente. Lúcio e eu arranjamos trabalho, e durante dois meses, parecia que não seria o fim do mundo.

Eu já estava começando a amar aquele bebê, que nem tinha nascido ainda. E Lúcio também, apesar de nosso mútuo medo e de nossas incertezas. Por fim, eu arranjei um modo de continuar na escola e de balancear isso com meu trabalho.

Meu pai, no entanto, parecia cada vez mais e mais distante de mim. Algumas vezes, eu conseguia ouvi-lo resmungando algo sobre "Cedo demais", ou "Não era hora", e o encontrava falando durante o sono. Paramos de ver filmes juntos.

Há uma semana, eu fui no médico para checar como estava o meu filho. Ele me deixou chocada.

- Eh... Suzana?
- Sim? O que houve?
- Bem, eu estou olhando no ultra-som, e...
- E?
- O bebê
- Que que tem ele?!
- Ele está pequeno demais para ter dois meses.
- Como?!
- Ele está morto, e por isso não cresceu.
- Mas!
- Sinto, Suzana, mas temos que tirar ele daí, caso contrário você poderá ter complicações. Eu sei que é difícil, mas tente se acalmar. Vai acabar em breve.

Doeu. Muito. Tanto fisica quanto psicologicamente. Eu passei dois dias na cama, sem falar com ninguém. Sem querer ouvir nada, sem fazer nada. só chorando. Eu não estava preparada, eu não queria estar, mas... Algo dentro de mim... Alguma coisa, simplesmente sabia que ia dar certo, e que eu ia amar essa criança que, assim como chegou inesperadamente, sumiu inesperadamente, e ainda por cima brutalmente.

Depois, meu pai voltou a falar comigo. Ele sentou na minha cama, fez um pouco de carinho na minha cabeça e disse:

- Escuta, querida, eu sei que você está chateada. Eu sei que você está deprimida. Mas não deixe que sua vida acabe por isso. Você ainda é muito jovem, e você ainda terá outras oportunidades para ter um bebê. Essa oportunidade não era a oportunidade certa, acredite. Você ainda vai ter um filho. Talvez, mesmo que você esteja deprimida agora, você vá perceber no futuro que isso foi para melhor.
- Pai! Você está falando do meu filho! Do seu neto! Você acha mesmo que a morte do seu neto é para melhor?!
- Talvez. Eu aprendi algum tempo atrás que há males e mortes que vem para bem. Todo mundo morre um dia, e eu estou feliz que esse alguém de hoje não foi você. De vez em quando eu tenho que ser frio para poder te proteger, Suzana. Muito embora eu não possa mais te proteger como protegia.
- ... Obrigada, pai.
- De nada. Eu vou te deixar sozinha agora, a não ser que você queira ver "A Vida de Brian" comigo.
- Vamos, vamos ver. Estou cansada de ficar no meu quarto.
- Ok então.

Nós dois rimos enquanto víamos "A Vida de Brian", terminando com a música "Always Look on the Bright Side of Life", que me animou um pouco. Depois, Lúcio, Vívia e até mesmo o idiota do Bernardo vieram me visitar. Foi uma surpresa agradável.

Por fim, acho que eu vou melhorar. Dói agora, e muito, mas, como meu pai disse, nem tudo de ruim vai ser algo que te prejudique. Talvez tenha sido para melhor, talvez não. Eu nunca saberei com certeza. Mas pelo menos, meu pai tem razão em uma coisa: Eu vou ficar bem. Gostaria que ele soubesse o quanto significa para mim, apesar de nossa distância.

Bem, já é tarde. Estou cansada. Acho que, depois de tudo isso, você já tem uma história e tanto, meu querido diário. Quem sabe em alguns anos eu não te encontro novamente, re-leio você e me lembro, nostalgicamente, dos momentos que passei? Essa é sua função, não é? Então... Até daqui à alguns anos, e tenha uma boa vida até então.

Adeus.
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