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Sorrow

Iniciado por Vifibi, 08/01/2013 às 20:37


Ele acordou com a Lua iluminando-o, envergonhada. O sótão vazio de sua casa mostrava apenas seu único amigo: A poeira. Ele esfregou os olhos, e se levantou, ainda se sentindo cansado. Girou sem rumo pelo aposento, tentando se decidir o que fazer.

Viu seu sofá velho de couro paralelo à sua cama, que recebia o luar convidativamente nessa hora. Sua mesa de escritório passou de relance pelo seu olhar. Parou, pensativo. Decidiu tentar naquela noite.

Sentou-se, calmo, em sua cadeira. Deixou o conforto chegar a todo seu corpo, e olhou para seu datilógrafo desconfiado. Colocou uma página na máquina, e digitou dezenove palavras, incerto:

Sob o Luar,
Está minha alma
Acorrentada,
Lutando por sobrevivência.
Aprisionada com ela
Está a carcaça de minha inocência.

Ele fitou o papel por mais alguns segundos, e arrancou a folha. Amassou-a, e jogou para alguma direção qualquer. Pôs os braços na mesa, encostando a testa nas palmas de suas mãos. Cansado, ele xingou baixo.

Sentiu uma mão pousar no seu ombro. Era uma mão pequena. Provavelmente de uma mulher. Ele olhou. Estava certo. No salão ao redor deles, a senhorita de cabelos castanhos havia o convidado para uma dança. Ele se levantou, formando uma pose elegante.

Ele segurou a mão da senhorita, beijando-a delicadamente. Ela, por sua vez, sorriu, estendendo a outra mão. Este a tocou, tomando-a nos braços, e começando a dançar pelo salão. Eles sorriam enquanto uma platéia observava atentamente.

Três danças se sucederam e depois pararam, dando a banda alguns minutos para descansarem. Nesse tempo, o homem fitou alegremente sua parceira, sem dar importância para outros assuntos.

A banda voltou, tocando uma valsa. Diversos casais se cumprimentaram formalmente e se juntaram à dança. Sua parceira girava cada vez mais rápido nos seus braços, ambos sorrindo sem se importar com outros. O homem, subitamente, bateu a cabeça no telhado.

Ele soltou um palavrão rapidamente, olhando ao redor com mais atenção. Seu sótão continuava empoeirado e fedorento. Ele pôs a vassoura no lugar, e voltou a se sentar em seu "Escritório", tentando mais uma vez escrever o que conseguisse.

Escreveu quatro frases antes de parar. Tentou pensar em mais algo para escrever, mas não conseguiu. Ele suspirou, demonstrando certa irritação. Levantou, e começou a andar pelo sótão, olhando para o que quer que pudesse ver.

Ele se jogou contra o sofá, tentando não gritar de raiva. Ele fechou os olhos, amaldiçoando sua vida, e tudo mais o que pudesse pensar. Deitou-se na almofada do sofá. Abriu os olhos assustado, sentindo o colo de uma pessoa contra sua nuca.

A dama de cabelos castanhos o acariciava, rindo para si mesma. Ela usava um jeans e uma camiseta comum. Estavam no parque, sob o Sol. O homem levantou a coluna, ficando sentado. Ela recostou-se em suas costas, sussurrando com um leve sorriso.

Ambos deitaram sobre a grama, olhando para o céu azul. A dama se recostou no homem, fechando os olhos. Ele sorriu de leve, e depois beijou a cabeça dela, se demorando por alguns segundos.

Ela se debruçou sobre seu peito, fitando-o por alguns segundos. Ele agiu primeiro, e a beijou. A dama primeiro tentou resistir, mas depois fechou os olhos e puxou-o para si. Ambos rolaram pelo gramado, e o homem acabou em cima da mulher. Ele a beijou outra vez, e percebeu-se fitando o sofá.

Ele socou o sofá, com raiva. Três lágrimas caíram na almofada. Ele se levantou rapidamente, esfregando os olhos. Sentou uma segunda vez na cadeira, e digitou mais quatro frases. Tentou, novamente, escrever mais um parágrafo, sem sucesso.

O homem gritou aos céus, e se levantou, derrubando a cadeira. Ele socou um pilar de sustentação do sótão, machucando sua mão. Ele xingou outra vez, andando depressa. Por fim, ele tropeçou na vassoura que estava jogada no chão, indo de encontro ao mesmo.

Ele estava deitado em sua cama, quando ouviu a noiva o chamar. Ela estava sentada numa extremidade do móvel, passando a mão gentilmente na perna do homem. Ela sorriu fracamente, e depois assumiu uma atitude séria.

Ela falou com calma, causando desconfiança nele. A noiva sorriu novamente, e era um sorriso falso. Ela chamou um nome, e pela porta entrou o ladrão. O ladrão sorriu envergonhado para o homem, e beijou a noiva.

Ele, tomado pela raiva, gritou com ambos, e ameaçou socar o ladrão. A noiva, no entanto, entrou no caminho. O homem não teve coragem para descontar sua raiva nela, e foi embora, insultando-os com todas as forças que tinha.

Passou dias em sua casa, alternando gritos de raiva e choros deprimidos. Até que, algum momento depois, ele recebeu uma carta. Da noiva. Ele tocou no envelope, mas não abriu. Não teve coragem. Não conseguiu suprimir o rancor. Guardou o envelope no bolso.

O homem acordou, horas depois, em seu sótão. Pôs a mão no bolso, esperando não encontrar nada. Tocou em alguma coisa. Ele tirou o envelope do bolso, com mãos trêmulas. Abriu-o com certa incerteza. De dentro, caiu um objeto metálico.

Ele pegou a aliança com sua mão imunda, e chorou uma última vez. Viu que, no envelope, tinha uma mensagem. Ele leu em voz alta, percebendo que sua voz estava rouca e fraca. Chegou ao fim da carta com certa dificuldade.

Deixou sua cabeça cair no chão mais uma vez. Insultou a si mesmo por alguns minutos, deixando mais lágrimas caírem. Por fim, ele se levantou, e foi até seu datilógrafo, aonde escreveu mais dois parágrafos.

Tirou a folha da máquina, e leu-a uma última vez. Tirou de dentro da camisa uma coisa metálica. Era uma moldura antiga. Olhou a foto, e pôs o papel em cima da mesa, junto com a foto. Ele se levantou.

Parou, subitamente, quando ouviu o tintilar do anel no seu bolso. Observou-o novamente. Suspirou, e, colocando-o junto com o papel, foi até a porta do sótão. Ele tocou na maçaneta e olhou ao redor. Fez um "Adeus" mudo, e abriu a porta.

Imediatamente, o ar fresco tocou sua face. Ele respirou fundo, e foi embora. O homem abandonou o sótão.

Algo mudou entre nós.
Seu sorriso não é mais sincero,
E eu sinto seu olhar envergonhado.
Não sei ainda o que fiz de errado.

Por que você me deixou?
Deixou-me por outro.
E já não me ama mais.
Deixou-me sozinho.

Você diz que ainda me ama
Mas diz que ama o outro mais.
Você diz que é difícil
Mas sabe que o difícil seria ficar.

Mas vá. Seja feliz.
Se é o que você quer,
Quem seria eu para impedir?
Vá, seja feliz. Eu também tentarei.

Mesmo sem você.