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Runnin' Wolves

Iniciado por Vifibi, 08/01/2013 às 20:39

Minha mais nova saga – Agora no Velho Oeste. Por que? Pois eu estou com vontade, e também adoro os "Spaghetti Western" do Clint Eastwood. Enfim. Aproveitem.



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O Sol se pôs no horizonte, dando lugar à chuva. Numa planície deserta, longe da estrada de terra, encontrava-se um homem. Ele tinha cabelos curtos e negros, tinha um corpo alto e magro, e por entre seus olhos, quase de encontro com seu nariz, estava uma cicatriz.

Ajoelhado, o homem olhava deprimido uma cova, que desportava uma simples cruz de madeira amarrada com o que conseguiram achar no momento. Flores brancas estavam depositadas na terra que cobria o corpo. Não havia uma lápide.

Ao longe, um trovão se fez ouvir, assustando o cavalo branco do homem. Ele se levantou, tocou levemente na face de sua montaria, subiu, e partiu noite adentro, com a chuva zunindo em seus ouvidos. Em sua mente, sorria uma pessoa.

Após algum tempo na estrada, ele chegou numa cidade. Já estava de noite, e ele estava encharcado. Prendeu o cavalo perto de uma das casas, e entrou na mesma. Jogou o chapéu de lado, e foi deitar na cama. No dia seguinte, a única coisa que lhe mantinha vivo o acordou, chorando.
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O Sol brilhou fraco na janela do quarto, iluminando um homem, sentado em sua cama, com uma mulher do seu lado. Ele não lembrava o nome dela, e nem se importava. Acendeu um cigarro, e vestiu suas roupas. Pegou suas coisas, e tentou abrir a porta do quarto vagarosamente, sem fazer barulho. Não conseguiu.

- Walt? - A mulher acordou com o barulho.
- Walt, por que você já está vestido? Ainda é cedo.
- Adeus - O homem desenrolou alguns dólares, jogando-os na cama - E obrigado.

Foi embora, deixando a prostituta fazer o que quisesse com o dinheiro. Provavelmente iria comprar bebidas. E ele sabia disso. Saiu da porta do bordel, lembrando subitamente que estava em Carcaça Perdida, uma cidade mexicana. Procurou seu cavalo, que, para sua surpresa, estava lutando contra um ladrão.

- Ei! Algum problema? - O homem gritou, assustando o ladrão.
- Gringo! O que diabos você quer?
- Esse - Ele apontou para o cavalo - É meu meio de transporte. A não ser que você queira comprá-lo, eu recomendo que você suma da minha vista. Comprende, amigo?
- Ah, senhor, mil desculpas! Deixe-me... - O ladrão sacou seu revólver. O homem, no entanto, foi mais rápido e atirou no braço dele.
- Tente uma gracinha dessa de novo, imbecil, e eu não serei tão bonzinho. Agora, seu rato, vá embora.

O ladrão correu. O homem chegou perto de seu cavalo, acalmando-o. Alguns minutos depois, montou-o. Preparou-se para correr estrada afora, quando ouviu um grito em espanhol. Virou-se, e tinham seis mexicanos, montados, e armados. O ladrão estava entre eles.

- Cabrón! Achas que pode simplesmente chegar en México e atirar num dos nossos? - O homem não respondeu.
- És surdo? Talvez devêssemos então sujar esta linda estrada com seus sangue, o que achas?
- Eu não faria isso se fosse você, amigo.
- Ah, então tu sabes hablar! Escute, cabrón, dê-nos o teu cavalo, e nós não te matamos, que tal?
- Escute, "Cabrón". Vocês vão dar meia-volta agora, e vocês vão me deixar em paz. Hoje é um bom dia, e eu não quero estragá-lo tendo que matar vocês.

Os homens riram. Então sacaram suas armas, apontando para ele. O homem suspirou, jogou o cigarro fora. Sacou o revólver, e atirou cinco vezes, antes que os homens pudessem reagir. Logo após, todos exceto o ladrão estavam no chão, mortos.

- Ladrão... - O homem desceu do cavalo, andando até ele, com o revólver apontado para sua cabeça.
- No! No, señor! No me mates! - O homem encostou o revólver na testa do ladrão.
- Ah, é? Me dê um bom motivo.
- Eu tenho dinheiro! Sim, tenho! E posso te dar! Todo ele! Só não me mate!
- Se dinheiro me salvasse, ladrão, eu não estaria nesse buraco, não é?
- Senhor! No! Por favor!
- Walter.
- Como?
- O nome. É Walter Burns.
- Por que... Está me dizendo seu nome?
- Acho rude matar alguém que nem ao menos me conhece. - Apertou o gatilho.

Walter subiu em seu cavalo, agora observando a estrada de terra atrás dele, manchada com o sangue de seis vermes. Acendeu um cigarro, e saiu estrada afora, indo à noroeste, para perto da fronteira americana. Perto da ponte que ligava México e Estados Unidos, saiu da estrada, seguindo oeste.

Por fim, chegou num círculo de casas abandonadas e corroídas pelo tempo. Prendeu seu cavalo perto do bar abandonado, e entrou. Foi recebido com risadas e gritos. Na mesa ao centro, jogando poker, estava seu amigo de infância e criador da gangue, Mack. Sorriu, contente de estar em casa.

- Walter! Achamos que você tinha morrido.
- Uma noite com uma prostituta, e eu já estou morto? Precisaria ser muito mais lento que isso, Mack.
- Bem, bem... Ninguém se lembra direito das merdas que fizemos na Carcaça. O velho Hugo ali acabou acordando na cadeia! - Mack riu. Walter juntou-se à ele, e em breve, todo o bar estava rindo. Exceto por Hugo, que abaixou o chapéu.
- Então, Mack, você conseguiu o que queria na cidade?
- Se consegui? Consegui ainda melhor!
- Quer dizer que...
- Walter, o banco não só estava cheio de dinheiro, como também tinha isso - Ele abriu uma carta em cima da mesa - Eu não sei o que diz, mas estava lacrado no cofre. Com certeza é algo importante.

Walter debruçou-se sobre a mesa, lendo o papel. Apesar de algumas manchas de sangue, estava bem legível. Nele, lia-se: "Nove, Maio, 1889. Transferência monetária de Nova York à ser executada por trem no dia Quatorze de Junho, com dinheiro a ser distribuido de bancos desde Southplains até os bancos mexicanos com americanos."

- Mack! Isso é uma mina de ouro!
- Mina?!
- Eles vão trazer dinheiro de New York para cá! Para todos os bancos americanos e mexicanos que fazem fronteira! Você tem idéia de quanto dinheiro é isso?
- Quanto?
- No mínimo, quinze mil. - Mack se engasgou.
- Quinze mil?! Quando vai ser isso, homem?!
- Em um mês, por trem!
- Haha! Walter, nós vamos nos esbaldar em dinheiro! Em um mês, estaremos mais que ricos! Gangue! Três dias até conseguirmos tanto dinheiro quanto vocês acharam imaginável! Vocês poderão comprar casas em Southplains e ainda ter dinheiro de sobra! - Então começaram a celebrar.
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- Mack! Se concentra! - Mack acordou, assustado. Walter fitava-o, irritado. Ele olhou em volta. Estava no bar da cidade abandonada, justamente na mesa principal, e a mais perto do balcão, aonde um bartender velho  servia bebidas para os seus companheiros.
- Hein? O que foi?
- Mack... - John se sentou em sua cadeira, se acalmando - Se nós vamos roubar quinze mil dólares, nós temos que planejar.
- Planejar? - Ele riu - Pra quê? Vamos pular no trem, roubar o dinheiro, e matar quem ficar no nosso caminho, como sempre fazemos!
- Boa idéia. Faça isso, e os canalhas vão ficar na nossa cola até estarmos seis palmos abaixo da terra! São quinze mil dólares, de todas as cidades grandes da America até o México! Cruzar a fronteira não vai nos salvar dessa vez.
- Então como vamos roubar essa Porcaria? Você que começou com essa idéia em primeiro lugar!
- Tudo bem, tudo bem... - Walter se levantou - Eu vou pensar em algo.
- Aonde você está indo, babaca?
- Tenho que cuidar de outros assuntos - Ele pôs o chapéu - Não fique com ciúmes, eu voltarei.

O homem saiu do bar, ouvindo uma garrafa sendo jogada contra a parede e estilhaçada por tal. Subiu em seu cavalo, e seguiu caminho, mantendo o Sol nascente no seu lado esquerdo. No caminho, encontrou um coiote ferido. Ignorou-o, até que esse tentou atacá-lo. Então ele o matou com sua faca.

Por fim, quando o Sol já marcava oito horas, ele chegou num pequeno vilarejo. Desceu de seu cavalo, prendendo-o no poste mais perto. O vento carregava consigo uma sarça, quando ele ouviu gritos. Gritos de uma mulher. Vindos de uma das casas.

De dentro da casa, saiu uma garota que aparentava ter quinze anos, e atrás dela saíram três homens armados. Um deles pegou a garota pelos pés, e ela caiu no chão. Eles começaram a tentar rasgar as roupas dela, e ela tentava jogá-los para longe de si. Por fim, Walter sacou seu revólver e atirou para cima.

- Fora.
- O que?
- Fora. Vocês.
- Isso é uma brincadeira, gringo?
- Não, não é uma brincadeira. Saiam daqui, antes que o cemitério da vila ganhe três novas lápides.
- Gringo, ela é novinha. Consegue agüentar nós quatro. Por qu - Walter atirou nele. Um deles tentou atirar de volta, apenas para levar o mesmo destino do companheiro. O último tentou correr, e levou um tiro na perna.
- Agora... - Ele tocou o revólver na cabeça do homem.
- Não! - Ele implorou, começando a chorar.
- Ugh... - Walter expressou desgosto, e então se virou para a garota - Você está bem?
- Sim, estou. Obrigada, pai. Você chegou bem na hora. Você vai...
- Não sei. Ele definitivamente merece uma cova.
- Por favor, não mate ele.
- Você sempre foi boazinha - Ele suspirou. - Tudo bem - Ele tirou o revólver da cabeça do sujeito, e então atirou em sua genitália, fazendo o dono dela gritar de dor, e se arrastar para longe - Mas vou ter certeza que ele nunca mais fará algo desse tipo. Aliás, por que esses homens estavam atrás de você?
- Por que eu...
- Por que ela estava no bar! - Ela foi interrompida por uma mulher. Era uma mulher um pouco mais baixa que Walter, obviamente latina, mas que falava inglês fluentemente. Seu cabelo negro e olhos verdes sempre atraíram Walter.
- Estava no bar?! Mas que diabos você estava fazendo no bar?!
- Eu estava...
- Ela estava bebendo!
- Be... - Ele gaguejou, começando a gritar - Bebendo?! Você enlouqueceu?!
- Como se você pudesse falar! Você matou esses homens, lembra?! - Ao ouvir, Walter suspirou, sentando-se na calçada de madeira perto de uma das casas.
- Escute, Allie, o motivo que eu não quero você bebendo em bares, morando perto da gangue... É que eu não quero que você cometa os mesmos erros que eu. Por isso que eu tento tanto conseguir dinheiro, para que possamos deixar essa vida toda para trás. Entende? - Allie ficou quieta.
- Allisson - A mulher começou - Vá para casa tomar um banho, essas roupas estão fedendo à álcool.

Allisson obedeceu, entrando em casa, e deixando escapar um resmungo. A mulher sentou-se ao lado de Walter, que esfregava o suor da testa com desinteresse. Ela abraçou-o, e foi atrás da filha dele. Walter agradeceu aos céus por uma mulher como Eva, e passou o resto do dia na cidade.
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Walter estava na cidade de Deadhorse, sentado do lado de fora do Saloon. Olhava a estação de trem com certo interesse. Na estação, além da cabine de bilhetes, o banco para pessoas se sentarem, ele viu que o vendedor de bilhetes tinha espaço extra embaixo do balcão. Ele acendeu um cigarro, e o trem parou na estação.

- Máquinas extraordinárias, não concorda? - Um desconhecido falou com ele, assustando-o. Logo em seguida, sacou seu revólver, apontando para o queixo do homem de pé. Ele usava terno e gravata.
- Eu não atiraria se fosse você.
- Ah, é? Por que não?
- Por isso - Ele sentiu um objeto tocar em sua nuca, parecendo uma pistola. E definitivamente era.
- Muito bem... Dois contra um. - Walter guardou sua arma, e o outro homem fez o mesmo - Acho que é melhor não morrer hoje. O que você quer, pomposo?
- Eu? Bem, eu quero um salário mensal de três mil, uma casa em Nova York, e você numa cova rasa. - Walter ameaçou sacar o revólver novamente - Mas não se preocupe, Walter. Eu trabalho para alguém que quer conversar com você.
- Bem, eu não poderia recusar um convite tão agradável. Ainda mais quando ele usa terno!
- Muito engraçado. Siga-me, rapaz, antes que eu resolva me agradar.
- Se você não me dá escolha, tudo bem.

Entraram pela cidade, caminhando calmamente. O Sol começava à se pôr no horizonte. Seguiram a estrada principal, passando pela cadeia, alguns prédios, o prestíbulo, e, por fim, uma pequena igreja, suja e quebrada. Entraram na Igreja. Ela continha poucos bancos, um pequeno altar, e uma cruz partida pela metade atrás do mesmo. Em um dos assentos, estava um homem de cabelos ruivos. Quando o homem de terno o chamou, ele mostrou uma face aparentemente jovial, parecendo um pouco mais novo que Walter. O nariz dele se destacava, e os olhos davam a aparência de cansaço, apesar da pouca idade.

- Ah! O famoso Desperado, Walter "O Lobo" Burns! É, de fato, um prazer conhecer alguém da sua espécie!
- E você é?
- Meu nome, meu caro, é Montgomery Henrington III.
- É um prazer, Monty - Ele estendeu a mão. O homem encarou-a, demonstrando o que aparentava ser nojo.
- Pois bem. Esses cavalheiros que lhe escoltaram até mim, caso não tenham se apresentado ainda, são Henry Jackson - Ele apontou para o homem de terno e extremamente pálido - E Braun Steffan - Dessa vez, mostrando o homem armado, que era mais alto, forte, e bruto do que qualquer um da gangue de Mack.
- Tudo bem. Mas chega de... - Walter coçou o queixo, procurando o que dizer.
- Elegâncias? - Montgomery sugeriu.
- Pode ser. O que vocês querem?
- Bem, Sr. Burns... Nós sabemos que a sua... - Ele parou por um momento - Pequena "Gangue" dos "Lobos Perdidos" estão planejando um assaulto à um trem. De uns... Quinze mil dólares? Era isso?
- Como diabos você sabe disso? - O pistoleiro apontou a arma para o homem. Os dois capangas sacaram suas armas e apontaram para ele.
- Relaxem, relaxem - Montgomery disse sem nem ao menos piscar. Deu um sorriso leve, e continuou - Nós não queremos que você não roube o dinheiro, Walter.
- Hein? - Walter abaixou a arma, mas manteve-a em sua mão.
- Nós queremos... - Ele fez uma pausa. Walter ficou ainda mais irritado - Bem - Ele deu um sorriso amarelo - Nós queremos que você roube o dinheiro.
- E precisava me ameaçar para isso? Eu teria feito sem saber que vocês existiam, muito obrigado.
- Ah, mas eis o 'x' da questão. Nós queremos que você roube o dinheiro, e dê ele para nós.
- Você enlouqueceu! - Ele riu, cuspindo no sapato de Monty, e se virou para ir embora. Os capangas impediram sua passagem.
- Sabe, você está certo. Nós enlouquecemos. Pode ir embora. Até mais.
- Obrigado. E... Adeus. - Ele foi até a porta.
- Aliás, você tem uma filha linda.
- Como?! - Ele voltou a encará-lo.
- Allisson. É um belo nome. Sabe, eu sempre pensei que, se eu tivesse uma filha, eu a chamaria de Allisson. Mas eu tive um filho, então o chamei de... - Ele riu - Walter.
- O que você sabe da minha filha, seu babaca? - Ele encostou o revólver na barriga do homem, jogando-o contra a parede mais próxima.
- Vá em frente, atire. Atire, e nós contaremos para o seu... Amigo, "Mack", não é o nome? É, nós contaremos para ele de seu precioso segredo. Seu precioso segredinho. A sua filhinha, que você tanto tenta guardar só para você. Me diga, você quer mesmo salvá-la de seus "amigos", ou só não quer dividi-la? - Walter deu um soco no rosto de Monty com o revólver.
- E se eu matar todos vocês? Aí o meu "Segredo" não vai ser contado para ninguém.
- Ah, não se preocupe. Eles irão saber. Você vê, Walter, nós todos trabalhamos para uma força maior. Uma força de mudança! E... Se nós morrermos, alguém mais irá contar. O único modo de você manter seu segredo à salvo é trabalhando para nós. Compreendido? - Walter soltou o homem, e, com raiva, chutou o banco perto dele, e se sentou no que ainda estava em pé.
- Tudo bem. Mas se eu vou roubar dinheiro para vocês, eu quero saber o motivo.
- Ah, mas que maravilhoso! - Ele se sentou no banco do lado dele - Extremamente maravilhoso!
- O motivo, Montgomery. Qual é o motivo?
- Bem, o que você acha?
- O que eu acho? Eu acho o mundo um lugar idiota, mesquinho e cruel. Você vive e morre sozinho.
- Bem, e o que você acha do governador Franco Müller?
- Ele é idiota, mesquinho e cruel. Como ele morre é problema dele.
- Excelente, excelente! - Monty riu, dando tapinhas nas costas dele - Veja bem... Nós trabalhamos para o candidato à governador Dennis Laurence. Ele, Sr. Burns, ele é um candidato confiável!
- Se ele é tão confiável, por que eu vou roubar quinze mil para ele?
- Olha só! Você até que é esperto! Ainda mais para um selvagem...
- O que você quer dizer com isso, Monty?
- Ah, nada, nada. Bem, Walter, o motivo que você vai roubar esse dinheiro para nós, é para que nós possamos devolvê-lo.
- Devolver o dinheiro? Que tal deixar o dinheiro aonde está então?
- Ah, mas o grande problema, Walter, é que o governador em pessoa está coordenando a transferência. Se o dinheiro sumir, ele ficará manchado em Nova York, assim como aqui! E os eleitores ficarão furiosos!
Então, quando nós tivermos o dinheiro, devolveremos ele para seus legítimos donos!
- Mas quem vai levar a culpa?
- Bem, é aí que você entra.
- Você quer que eu leve a culpa? Você enlouqueceu mesmo.
- Não, não! Mas é claro que não. Você tem que roubar esse dinheiro, mas ninguém pode saber que foi você. Ninguém! Assim, não terão como negar quando acusarmos o prefeito de desviar o dinheiro. Brilhante, não?
- Não, e eu não me importo. Mas, se é para manter minha filha à salvo, acho que não tenho escolha. - Ele se levantou, e foi até a porta.
- Você está ajudando uma boa causa, Walter - Montgomery tentou assegurá-lo.
- Boa causa? - Ele deu uma leve risada - Não existem boas causas, Monty. Apenas aquele que sobrevive - E foi embora.

Saiu da igreja, e foi em direção ao Saloon, aonde tinha prendido seu cavalo. Montou, e seguiu a estrada até o México. No meio do caminho, passou por um pequeno lago. Parou nele, e tomou um pouco d'água. Percebeu que a água refletia sua imagem.

Seus olhos verdes mostravam idade.

"Alisson..."

Seu nariz soltava pequenas gotas de suor.

"Como eles descobriram?"

Ele coçou seu queixo protuberante, e então secou o suor de sua testa.

"Como eles sabem quem eu sou?"

Lavou o rosto, e sentiu sua barba por fazer deixar cair pingos d'água.

"Mack, me desculpe pelo que vou ter que fazer."

Ele pôs o chapéu, percebendo que não tinha escolha. Voltou a montar seu cavalo, e, depois que este tomou um pouco de água, partiu de volta para o México, para ver sua filha, e, mais importante, para pensar no que iria fazer.
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O Sol estava alto quando o Pistoleiro chutou a porta do Saloon. No mesmo instante, toda a atividade no lugar parou. O pianista que ficava diretamente abaixo da escada deixou de tocar, a mesa de poker à frente da porta parou de olhar, e um dos integrantes parou de marcar cartas. As mesas sobressalentes também deixaram de fazer o que estivessem fazendo para observar o homem.

Ele caminhou lentamente até o bar, olhando de lado à outro. Levantou o braço direito, e o Saloon inteiro se alarmou. Ele então re-ajustou seu poncho, que estava torto, tirou o cigarro de sua boca e o deixou cair no chão, pisando nele logo em seguida. No bar, ele puxou uma jovem que bebia whiskey, para o espanto de um homem que a observava atentamente.

- Você enlouqueceu de vez?! - Ele bronqueou a mulher.
- Pai, me solta!
- O que você pensa que está fazendo?!
- Bebendo, e daí?!
- E daí? E daí?! Você perdeu a noção das coisas? O Sol te afetou?! Foi isso?!
- O que diabos te importa o que eu faço com minha vida?
- "O que diabos me importa"? Que tal, "Tudo"? Eu faço o possível para tentar nos conseguir uma vida melhor, e você fica se destruindo por vontade própria!
- Mas...
- Não. Vamos, você vai para casa.

Walter segurou-a pelo braço, arrastando-a para fora do Saloon, que ainda fitava-o espantado. Passaram pela mesa de poker, quando um homem se levantou. Quando chegaram perto das portas, ele barrou a passagem, mostrando claramente seu rosto envelhecido e seus cabelos já no caminho de ficarem grisalhos.

- Esse homem está te perturbando, senhorita?
- Quem diabos é você? - Walter olhou desconfiado para ele, ainda segurando o braço de Allisson.
- Meu nome é Jonah Houston, e você não me conhece. Mas, infelizmente, eu te conheço, embora não saiba seu nome.
- Meu nome não é para todos os ouvidos, obrigado. Saia do caminho, amigo, eu quero sair. - Ele pôs a mão no ombro de Jonah.
- Eu não sou seu amigo - Ele tirou a mão - E você não vai embora desta cidade com vida. - Ele ameaçou sacar sua arma, mas Walter foi mais rápido, apontando-a para a face do homem.
- Bem - Ele deu uma risada falsa - Você é rápido. O que você vai fazer, seu verme? Vai atirar em mim? Vai me matar? Que nem você matou meu filho?
- Allisson - Walter falou, sem se mover - Vá para casa.
- Mas pai... -
- Escute seu pai, garota. - Ela deu uma última olhada para os dois, e foi embora correndo.
- Escute, amigo - Walter começou, quando sua filha já estava longe - Eu nunca matei crianças.
- Ah, pode ser que não, mas eu reconheço esse poncho. Você é de uma gangue, não é? É, eu reconheço esse poncho... Pois num certo dia, a gangue que usa esse poncho matou tudo que mais me era precioso na vida.
- Eu nunca matei crianças, Jonah, e não quero ter que matar um adulto hoje também.
- Você sabe como é... O que você sente... Quando você enterra seu próprio filho?
- Escute - Walter ficou irritado - Eu não matei seu filho. Agora saia do caminho, e ambos sairemos daqui com vida.
- Um duelo.
- Como?
- Eu te desafio para um duelo, senhor. - Ele cuspiu no sapato de Walter - Você matou meu filho de forma desonrosa, mas eu sou um homem de princípios. Estou te oferecendo a chance de morrer de forma honrosa.
- E se eu atirar primeiro? - Walter riu de leve.
- Aí... Bem, pelo menos eu me juntarei ao meu filho.
- Eu não quero te matar, amigo, mas se você não me dá escolha, eu aceito. - Ele abaixou a arma, guardando-a no coldre.
- Muito bem. Ei, você aí - Ele falou com o bartender, que se escondia embaixo do balcão - Toque o sino, ok?
- T-t-tudo bem!

Os dois saíram do Saloon. O Sol apontava meio-dia, observando atentamente todo e qualquer movimento na Terra. O vento estava forte, carregando consigo folhas e jornais. Os dois homens tomaram posição na rua, roupas chacoalhando ao vento na direção do bar, aonde um bartender amedrontado segurava a corda de um sino instalado na parede mais próxima.

Walter inspirou e olhou em volta sem mover a cabeça. O vento carregou consigo uma bola de sarça, e subitamente parou, como se estivesse ele mesmo prendendo a respiração. Ao seu redor estavam pessoas ansiosas, curiosas, ou simplesmente com vontade de ver sangue. No meio delas, ele reconheceu Eva, segurando um punho contra o peito e fazendo o sinal da cruz. Voltou a olhar seu oponente.

Segundos se passaram. O som de um sino se fez ouvir. Jonah sacou seu revólver. Eva segurou a respiração. Ele mirou na cabeça de seu oponente. Eva fechou um dos olhos, deixando o outro entre-aberto. Walter apertou o gatilho, acertando o punho e desarmando o homem. Guardou o revólver.

A platéia misturou aplausos e olhares incrédulos, enquanto Jonah olhava aterrorizado para seu punho, e então para o homem que causou tal estrago, que andava em sua direção. O homem ficou em um joelho só, pegou o revólver dele do chão, e guardou-o num dos bolsos.

- Só para ter certeza que você não irá se matar. - E se afastou, indo para casa. Eva correu ao seu encontro, mostrando excitação e um pouco de medo. Ele abraçou o corpo moreno e magro dela com um braço.
- Por que você... Não matou ele?
- Não vejo motivo em matar quem já está morto.
- Como assim?
- Ele... Perdeu o filho. Alguém da gangue matou o filho dele.
- Dios mio.
- Eu entendo o que ele sente. Se algo acontecesse à Allisson, eu não seria capaz de continuar vivendo. E... É por isso que eu tenho que te contar uma coisa, quando chegarmos em casa.

Quando estavam em casa, Walter contou para Eva tudo que tinha ocorrido, desde descobrirem a transferência do trem até o governo abordá-lo sobre o mesmo. Quando acabou, ela estava inquieta, e ele cansado.

- Mas o que nós vamos fazer?
- O que podemos fazer? Eu vou ter que roubar o dinheiro, e vou ter que entregá-lo para os políticos.
- Mas e se eles te matarem no minuto que você der o dinheiro?!
- Eu preferiria morrer do que ver você e Allisson em perigo. E... - Ele pegou a arma de Jonah do bolso - Eu quero que você fique com isso. Eu tenho medo que a paz que vocês tinham por aqui pode acabar à qualquer momento, e, se acabar, não quero que vocês estejam desarmadas.
- O... - Ela pegou a arma, incerta - Obrigada.
- Você sabe usá-la?
- Sim, eu sei.
- Ok então. Eu vou voltar para a gangue, Mack vai ficar com suspeitas se eu ficar tempo demais longe de repente.
- Espera! Você não pode ficar só mais um pouco? - Ela segurou-o pelo braço.

O Sol se punha quando Walter cavalgava para sua gangue, tentando pôr o poncho em movimento. Ele pensou sobre Jonah, e o filho dele, em Eva, em Allisson, e o que podia fazer para protegê-las. Por fim, ele pensou no trem, e no dinheiro. Não conseguiu pensar em nenhuma solução, então cavalgou para casa mais rápido, conseguindo vestir o poncho.
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- Ah! Que espetacular! Você enfim chegou! - Monty acenou para Walter do outro lado do aposento. Walter andou pelo quarto, passando por uma mesa com cadeiras para seis, parando perto de duas janelas na parede em sua frente.
- Bem, já que você está aqui, vamos aos negócios.
- Pois bem... - Ele continuou quando Walter não respondeu - Você deve estar se perguntando por quê te trouxemos aqui.
- Além de quererem que eu roube o dinheiro do trem para vocês?
- Bem... Sim. Você vê, nosso competidor prometeu que uma certa pessoa seria levada à justiça.
- E?
- E que ele não conseguiu até agora. E desistiu. Se nós conseguirmos, será mais eleitores que ganharemos!
- E vocês precisam de mim por quê?
- Bem, nós enviamos dois homens atrás dele. Um deles voltou.
- Com o bandido?
- Com cinco tiros.
- Bem, pelo menos ele não voltou de mãos vazias - Walter riu um pouco.
- Muito engraçado, senhor Burns. Nós queremos que você capture esse bandido.
- Hah! Agora você quem está fazendo piada, Monty.
- Escute aqui, seu inútil. Nós precisamos dele. E precisamos dele vivo.
- Tudo bem, mas eu nem sei quem ele é, e nem aonde encontrá-lo.
- Muito justo. Vamos levá-lo até ele então.

Os dois saíram do prédio, que, segundo uma placa dizia, era um banco. Montgomery montou num cavalo marrom e branco, e um de seus capangas, Braun, apareceu estrada abaixo, andando num cavalo negro. Walter montou em seu cavalo branco, e seguiram norte da cidade, entrando numa cadeia de montanhas depois de alguns minutos.

No labirinto de montanhas, encontraram após algum tempo uma casa. Era uma casa grande, de dois andares, que tinha um pátio em sua frente. Antes que pudessem desmontar, um tiro acertou o cavalo de Walter na cabeça, matando-o instantaneamente derrubando-o, e salvando-o do próximo tiro, que teria sido fatal.

Walter xingou, e se protegeu no muro baixo do pátio. Montgomery e Braun fizeram o mesmo. Quatro tiros acertaram na parede. Walter xingou de novo, e sacou seu revólver, tentando adivinhar daonde vinha o som dos tiros. Outro tiro acertou na parede.

- Lixo! - Monty pareceu desesperado - O que vamos fazer?
- Bem - Walter pensou, ouvindo outro tiro - Ele tem que recarregar alguma hora. Mas eu preciso saber que arma ele está usando antes de poder tentar atirar. - Nesse momento, Braun espiou por cima do muro.
- Ele está usando uma pistola. Ela parece ter seis cartu... - Sangue jorrou de seu olho esquerdo, conforme um tiro acertava-o. Monty se encolheu de medo.
- Bem... - Walter continuou calmo, acendendo um cigarro - Belo tiro.

Ele levantou, vendo o bandido na janela do segundo andar, recarregando. Atirou nas duas mãos dele, que então correu para longe da janela. Ele deu um tapa em Monty e correram para dentro da casa. A casa mantinha um ar velho, estagnado. Passaram pela sala de estar depressa, e subiram as escadas que estavam próximas.

Um som de vidro quebrando se fez ouvir, e eles correram ainda mais. Walter se desviou a tempo de uma faca, que atingiu com o punho a testa de Monty, nocauteando-o. O pistoleiro xingou de leve, apreciando um pouco de justiça irônica, e atirou três vezes no ar. E entrou no quarto.

Quase que imediatamente, uma pá atingiu-o no peito, deixando-o sem ar. Ele apontou o revólver contra o atacante, que levantou as mãos sangrentas para o ar. Ele então deu uma olhada melhor para o quarto. Completamente destruído e em pedaços, a única mobília era um sofá corroído.

O homem se encontrava em frente à única janela do quarto, era feio, ruivo, e carregava dois coldres. Ele abaixou um dos braços para sacar o outro revólver, e Walter chutou-o, que caiu pela janela. Ele então atirou na cabeça do homem.

Se virou para sair, e viu o corpo de Monty desacordado no chão. Ele suspirou, e carregou-o até os cavalos. Montou no antigo cavalo de Braun, e amarrou Monty no cavalo dele. Tocou as rédeas e voltou para a cidade.

Montgomery acordou algumas horas depois, cansado e com dor de cabeça. Henry fitava-o preocupado, seus olhos castanhos atentos.

- Henry? O que aconteceu?
- Você foi nocauteado, senhor.
- Por quem?
- Pelo bandido que você e o senhor Burns estavam tentando prender.
- Mas... Braun morreu. Quem me carregou até aqui?
- O senhor Burns.
- Ele me carregou de volta? Por que?
- Não sei, senhor. Ele apenas me disse o que ocorreu, e foi embora.
- E o que ocorreu?
- Ele matou o bandido, senhor. Um tiro na cabeça.
- Que... - Monty parou. Olhou para o alto por um momento, e disse, pensativo: - Bom, eu acho.
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Spoiler

O som de gritos ecoou pelo quarto escuro, acordando o pistoleiro. Ele levantou-se da cama, ouvindo atentamente. Era uma mulher. Olhou ao redor do seu quarto, procurando o poncho. Achou-o, e vestiu-o com pressa, saíndo do quarto. Estava no segundo andar do Saloon da cidade abandonada da gangue dos Lobos.

Ele pulou o corrimão, caindo em cima de uma das mesas, e acordando os homens que dormiam nas cadeiras adjacentes. Andou até a porta do estabelecimento, sacou sua arma e, dando um suspiro, saiu. Olhou ao redor da cidade circular, cuja única fonte de iluminação, além das luzes dos prédios, era uma fogueira no centro.

Três Lobos despiam rindo e bebendo uma mulher. Era uma das prostitutas da cidade, e gritava por socorro. Walter deu um assobio, e os homens fitaram-no, deixando a prostituta respirar um pouco. Um deles cuspiu no chão e voltou a mexer com sua acompanhante involuntária.

- Hey, rapazes. Deixem-na em paz.
- E quem é você pra me dar ordem, Walter? - Um dos homens retrucou.
- Eu sou um dos líderes, John. E, caso tenha se esquecido, eu sou quem te salvou de ser enforcado.
- Você é um covarde! Sempre se escondendo atrás do Mack. Como um pequeno cachorrinho - John riu, debochando.
- Escute aqui, deixem essa mulher ir.
- Ela é uma puta, seu imbecil. Ela é nossa puta. Ela nos chupa, e nós deixamos ela viver. Você esqueceu como isso funciona também?
- Você vai concordar... - Ele lançou um olhar para a prostituta - Que ela já trabalhou o suficiente para um dia só. Vamos, deixem-na ir. - Receosos, eles soltaram a mulher, que correu para sua casa no prestíbulo da cidade - Obrigado, rapazes. Durmam bem, amanhã nós teremos um longo dia.

Ele se virou, e começou a andar de volta para o Saloon, quando John sacou sua arma e atirou no chapéu dele. Walter parou. Respirou fundo. Ouviu o som de três homens engatilhando seus revólveres. Ele se virou, sacou sua arma, e atirou no braço de todos os três, desarmando-os.

- Jesus! O que diabos aconteceu aqui?! - Mack saiu correndo do Saloon.
- Apenas uma noite movimentada, Mack. Vamos, me pague uma cerveja.
- Então, Walter, o que vamos fazer amanhã? - Mack indagou, depois de três cervejas.
- É bem simples, Mack. Amanhã nós temos que entrar, pegar o dinheiro, e saírmos sem sermos vistos ou identificados. Se eles souberem quem somos, vão nos caçar até que estejamos mortos.
- Então o que diabos podemos fazer?! - Ele gritou, batendo na mesa.
- Acalme-se. Eu vou entrar no trem. Eu vou abrir o cofre, e vou pegar o dinheiro. Vocês criarão uma distração na cidade. Nós nos encontraremos aqui antes do pôr do Sol.
- Tudo bem então. Conto com você, Walter.
- Pode deixar, Mack. Agora, se você me der licença, eu tenho que cuidar de outros assuntos.
- De novo? Aonde você vai dessa vez?
- Cuidar de outros assuntos, Mack. Eu não posso te contar tudo sempre.
- Tudo bem então. Mas não vá se matar! Vamos precisar de você.

O Sol começava a se levantar quando chegou no vilarejo aonde morava sua filha. Em sua casa, ele notou um coche, e de dentro dele, Monty conversava, descontraído, com Allisson. Ele se aproximou devagar, ouvindo brevemente a conversa dos dois.

- Ah! Sr. Burns!
- Olá Monty. O que você está fazendo tão ao Sul da fronteira?
- Apenas passando o tempo, Walter... E também quis conhecer pessoalmente seu pequeno tesouro.
- Bem, você conhece. Que tal ir embora agora?
- Hah, não tão cedo. Não tão cedo... Diga-me, doçura, vá para sua casa. Eu tenho que discutir alguns assuntos com seu pai. - Allisson obedeceu, correndo para casa.
- Então...
- Tsc, tsc... Nessa idade elas são tão... Deslumbrantes. - Monty balançou a cabeça, resmungando. Walter pôs sua mão no coldre do revólver, por segurança.
- O que você quer, Montgomery?
- Eu quero, senhor Burns, saber se amanhã você irá roubar o trem. E queria te lembrar também o que aconteceria caso você não o fizesse.
- Como você sabia que eu estava vindo para cá?
- Bem, senhor Burns, quando um homem teme por sua filha, ele se torna espantosamente previsível.
- Pois bem. Eu vou roubar o dinheiro para vocês, se isso lhe importa tanto. Só não espere mais alguma cooperação de minha parte depois disso.
- Excelente! Excelente... Então o que vou lhe falar será de valor inestimável: Eles têm guardas posicionados em todas as trilhas. Se você não der um jeito de entrar e sair sem ser visto, eles irão saber que é você, e vão...
- Me caçar até os confins da Terra. Eu sei.
- Bem, para um selvagem, até que você é esperto. E... Boa sorte, Walter.
- Obrigado, Monty.

Montgomery deu uma palavra para o cocheiro, que tocou as rédeas, levando-os de volta para os Estados Unidos. Walter explicou a situação para Allisson, que ele descobriu estar ouvindo atrás da porta, e foi embora, lembrando de dar um último "Adeus" para Eva. Ele sabia que, agora, ele iria roubar o dinheiro - Ou morrer tentando.
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Spoiler

O Sol iluminava entediado a estação de trem. Fora da cidade, doze homens se encontravam, escondidos e sussurrando. O trem ainda se encontrava longe no horizonte, marchando em uma velocidade estupendamente alta.

- O.k. - Walter começou, acalmando a gangue - Eis o que vamos fazer. Vocês - Ele apontou para o grupo da esquerda - Vão começar um tumulto. Ele tem que atrair a atenção dos guardas. Assim que eles estiverem distraídos, Clark e eu entraremos no trem, e roubaremos o dinheiro. Para evitar atrair atenção, vamos pular do trem quando ele estiver em movimento, da traseira. Nos encontraremos depois da fronteira.
- Tudo bem. Vão entrar em posição - Mack continuou, suando de nervoso - Nós começaremos o tumulto. Mas, por tudo que é mais sagrado, entrem naquele trem!

Os dois grupos trocaram um último balançar de cabeça, e partiram caminhos. O coração de Walter batia pesado, dividido entre trair seu amigo de infância ou ver sua filha se tornar uma prostituta da gangue. E tudo por causa daquele maldito Montgomery.

Clark e o Pistoleiro assumiram posições, aguardando o sinal de Mack. Um tiro foi disparado. Os guardas, alarmados, seguiram o som do tiro, armas em mão. Aproveitando a chance, os dois pularam dentro do trem, se escondendo da melhor maneira que pudessem com os sacos de areia que ficavam no último vagão.

Minutos se passaram. O tumulto havia terminado, mas nada do trem se mover. Walter suava com ansiedade. Mais de uma hora se passou, sem nenhum deles sequer se mover. Por fim, ouviram o grito de um dos guardas, e o trem começou a mover.

Após o trem ter ganho mais alguma velocidade, eles saíram do esconderijo, e pularam para o telhado do trem. Sorriram com a ausência de quaiquer guardas ali, e caminharam lentamente até a cabine aonde guardavam malas e cofres.

Eles entraram furtivamente, vendo que tinha um guarda ali. Walter esgueirou-se até ele, e, agindo rápido, enfiou uma faca em sua garganta, matando-o no mesmo instante. Subitamente, ele ouviu o clique de um revólver engatilhando. Clark. Ele sentiu o metal contra sua nuca.

- Então... Você que vai abrir o cofre?
- Sim.
- Quem combinou isso? Foi o Mack? Ou foi o Montgomery?
- O qu... - Ele gaguejou. No mesmo momento, Walter girou no chão, e esfaqueou o braço dele. Logo em seguida, segurou a boca dele para que ele não fizesse barulho.
- Eu sabia que tinha um rato na gangue. Só podia. Pois bem, velho colega, hora de morrer. - O Pistoleiro cortou a garganta de Clark friamente.

Ele deixou o corpo de Clark cair no chão, tendo uma idéia. Ele vestiu as roupas do guarda no rato, e jogou seu corpo  para fora do trem, aproveitando que estavam numa ponte. Virou-se para o cofre, respirando fundo. Começou a abri-lo.

Virou para a direita.
Ele ouviu passos acima dele.
Acertou o número.
Barulhos no outro vagão começaram a aumentar.
Ele virou para a esquerda.
Uma garrafa se quebrou, ao longe.
Acertou o número.
Virou para a direita novamente.
Alguém atirou um revólver.
Acertou o número, e abriu o cofre. Dentro, quatro sacos, todos recheados com moedas de ouro, sentavam majestosamente. Ele pegou-os rapidamente, enfiando o que podia nos bolsos, e o resto pendurando no cinto. Ele saiu da cabine, e começou a fazer seu caminho para os fundos do trem.

Chegou no vagão aonde ele se escondera, e viu que ele agora estava sendo vigiado por um guarda. Pegando uma corda, ele aproveitou que o guarda estava distraído e amarrou-o. Carregando-o consigo, pulou para fora do trem.

Encontrou-se no deserto, longe de comida e cavalos. Sem se desesperar, andou o mais longe possível dos trilhos. Após horas, ele chegou num oásis d'água. Ouvindo o guarda xingando em suas costas, ele amarrou uma pedra na corda, e jogou-o no fundo do lago. "Perfeito" ele pensou.

Bebeu um pouco da água, e, vendo alguns cavalos, domesticou um deles o melhor que pôde com o resto de corda que tinha. Galopou para a cidade de Dead Horse, aonde iria se encontrar com Montgomery. Chegou pelo fim da tarde. Foi até o prédio do governo, e encontrou-o conversando com Henry.

- Aqui o dinheiro, seu maldito. - Ele entregou os sacos com desgosto.
- Ah! Excelente, excelente... Mas... Acho que...
- Que está faltando alguém? Clark tentou me matar. Então eu o matei.
- Que... - Ele procurou a expressão - Infortúnio. Mas não vamos ficar nos deprimindo pela morte de um rato! Nosso político irá adorar essa notícia.
- O.k. então. Eu vou embora. Adeus.
- Espere, senhor Burns?
- Sim?
- Aqui - Ele jogou dois sacos de dinheiro. 7.500 dólares em ouro - Vai soar suspeito se tivéssemos recuperado todo o dinheiro. E com 7.500, senhor Burns, você já pode comprar um apartamento em Nova York.
- Obrigado, Monty - Ele sorriu genuinamente antes de sair.

Walter, uma vez fora do prédio, cavalgou o mais rápido que pôde para sua filha. Seu coração bombeava com excitação. Allisson teria uma vida normal. Uma vida longe do crime, longe de gangues. Ele parou, subitamente. A cidade estava pegando fogo.

Todas as casas estavam destruídas. No centro da cidade, estava uma placa. Escrito nela, estava a mensagem com a letra que ele reconheceu como sendo de sua filha. A mensagem dizia:

"Nós pegamos sua filha.
Se quiser vê-la novamente, traga os 15.000 para nós.

Mack
"

Ele xingou entre lágrimas Montgomery e Mack. Subiu de volta em seu cavalo, indo direto à cidade abandonada, sem se importar com os gritos de seu cavalo. Chegou na cidade quando a noite já estava no meio, e não viu ninguém. Ele sacou seu revólver.

Andou até o meio da cidade, olhando ao redor freneticamente. Quando estava perto da fogueira, ouviu vários cliques de armas vindos dos prédios. Ele sacou seu outro revólver, e atirou em doze deles. No mesmo instante, correu para dentro do Saloon, levando um tiro na perna direita.

O Saloon estava vazio, exceto por uma prostituta terrivelmente assustada. Ele se protegeu na parede, ouvindo atentamente. Ele tinha seus balas restantes. Ouviu atentamente. Silêncio. Olhando ao redor, ele pegou um copo de cerveja, e jogou-o para fora da porta. Menos de um segundo depois, o copo explodiu com o impacto de uma bala nele. Walter esfregou os olhos. Era Mack.

- Mack? - Ele perguntou, não esperando resposta.
- Walter!
- Olá, Mack.
- Walter, nos dê o dinheiro. Nós prometemos que vamos deixar ela ir embora. - Ele olhou pela fresta. Sua filha estava presa pelo pescoço com o braço de Mack.
- Não posso, Mack. Não tenho o dinheiro.
- Então sinto muito, Walter.
- Eu não quero te matar, Mack. Deixe-a ir.
- Deixá-la ir?! E depois disso o quê, me entregar ao governo? Walter, você nos traiu. Você era meu irmão! E você se vendeu por uma... Putinha!
- Mack. Me escute. Eu não quero ter que te matar. Deixe-a ir embora.
- Quantas balas você tem sobrando, Walter?
- Seis. Quantos homens você tem sobrando?
- Uns quinze. Acho que você vai morrer, no final de contas.
- Provável. Mas se você não soltar minha filha, eu vou te levar comigo pro Inferno.
- Então venha aqui fora! Resolva isso como homem!

O Pistoleiro suspirou uma última vez. Com o revólver em punho, saiu pela porta. Seis homens com revólveres apontavam para ele, com Mack no meio.  Em lugares mais elevados, capangas com rifles recarregavam, nervosos. Walter tirou o chapéu, deixando-o cair no chão.

Ele mirou e atirou seis vezes. Seis homens caíram no chão, mortos. Entre eles, o corpo de Mack sorria, com um furo na testa. Allisson caiu no chão, podendo respirar novamente. Walter gritou para ela fugir, e ela obedeceu.

Nove pessoas apontaram seus rifles para o Pistoleiro. Ele sorriu, e deixou o revólver cair no chão. Allisson parou o cavalo ao ouvir nove tiros ao mesmo tempo, e, chorando, continuou correndo, atravessando a fronteira. Ela sabia quem tinha feito aquilo. Montgomery iria pagar.
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