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Et Iudicium

Iniciado por Vifibi, 08/01/2013 às 20:41

Eu estava sozinho. O quarto girava ao meu redor. Suas paredes mudavam de cor. Minhas mãos suavam. Eu sentia frio. Sentia calor. Sentia dor. Sentia prazer. Então, eu parava de sentir. Eu estava sozinho. Eu estava sozinho. E o quarto girava. A casa estava escura, eu estava morto? O silêncio não mais me satisfazia. Eu estava... Acompanhado.

O quarto estava vazio, mas alguém estava lá. Alguém que não era eu. Ele queria me machucar, queria me matar. Eu não podia vê-lo, mas ele estava lá. Tramando, planejando, observando, espiando. Preparou-se para o bote, e eu corri. Os corredores já não eram pequenos e largos, eram longos e estreitos. Cheguei à porta. Trancada. Eu estava... Condenado.

A presença sumiu. O som de risos me alarmou, vindo do nada. Procurei em vão a fonte, mas ela não estava em lugar algum para ser achada. As risadas me acharam, no entanto. Uma ciranda de crianças, rindo, cantando. As risadas eram malignas. As canções, pornográficas. Ao centro, eu vi uma garota. Nua, ela chorava, aterrorizada.

As crianças tomavam vez em judiar da garota, rindo ainda mais com cada soluço dela. Eu levantei a mão, enfurecido. Para minha surpresa, havia uma arma nela. Eu apertei o gatilho, e a ciranda sumiu. Fui até a garota, e a abracei, confortando-a. E então, ela riu. Ela sangrava por todo o corpo, mas me segurava com força, rindo, me enforcando.

Lutei para me soltar, e vi que os olhos dela haviam mudado. Não mais carregavam uma inocência infantil, mas sim uma malícia pervertida. E eu escapei. A arma havia sumido, e, com ela, a garota. O quarto ficou escuro. Ao fundo, eu vi uma luz, acesa, imponente. Corri em sua direção, torcendo por um ponto seguro. A luz apagou.

E as trevas me envolveram. Me seduziram, me cantaram. Lutei para me conter, mas elas eram mais fortes. Brincavam com minha mente, chamavam por meu nome, confortavam o meu corpo. E eu não me contive. Deixei-me levar pela escuridão. E ela me guiou, sorrindo. Ela me prometia o mundo, e eu ouvia, com cada palavra ficando mais alegre.

No entanto, ela me deixou. Me seduziu e me deixou. Me amou e me deixou. Eu estava abandonado. Mas não estava desacompanhado. Atrás de mim, estava eu. Não apenas um, mas dois. Ambos de mãos dadas, ambos sorrindo. Ambos debochando de mim. E eu enlouqueci. Fiquei furioso. E ataquei. Ambos sumiram, do mesmo modo que chegaram. E levaram consigo uma parte de mim.

Eu chorei. No escuro, as trevas me observavam, mudando de forma, de voz. Todas mulheres, todas belas. Todas me odiavam, mas ao mesmo tempo me seduziam. Tentaram me torturar novamente, mas eu me contive. Elas não me ganharam desta vez. E, sem sucesso, me deixaram. E eu ouvi uma voz.

Era uma aberração. Um monstro de pessoa. Mas era uma pessoa. Era tanto homem quanto mulher, e me observava desapontado. Falou em uma voz grotesca, e eu me enfureci. Ataquei-o, e ele morreu. Seu corpo se tornou dois, de um homem e uma mulher, ambos conhecidos, ambos monstros. Monstros, mas uma pessoa. E eu fugi, novamente.

E eu a vi. Ela. Ela me encantava, me amava. Ela não me deixaria. Me beijou, e eu a beijei de volta. Éramos um novamente, e nada a faria se separar de mim. A escuridão nos envolvia, mas era confortável. Era suportável. Enquanto ela estivesse comigo, eu podia domá-la. Eu podia matá-la. E ela iria obedecer.

No entanto, ela sumiu. Outra vez, fiquei desolado. Fiquei acompanhado apenas da escuridão. E ela sentia minha raiva, sentia meus desejos. Ela queria a mim, queria meu corpo. E ofereceu em troca minha amada. Guiou-me novamente, até seu lar. Sussurrava promessas no meu ouvido, encantos no meu corpo, mentiras na minha mente. E me levou à ela.

E ela esperava. Ela sorria. Ela se mostrava. Ela me obedecia. E a escuridão propôs. Minha mente, minha vida, meu corpo... Em troca dela. E eu aceitei. Fui reunido com minha amada. E ela sorria, se mostrava, obedecia. Ela... Obedecia. Então eu percebi: Fui enganado. E a escuridão sorriu, vitoriosa. Levou de mim tudo, e me deixou com nada. E eu fiquei, pela última vez, sozinho.

Eu corri. Eu chorei. Eu xinguei. Mas, no final, não havia solução. A escuridão havia me tomado, e eu a havia dado tal permissão. Eu estava condenado, e sabia disso. Não havia luz, não havia esperança. Não havia um fio de sanidade. Apenas eu, a escuridão, e tudo que ela tirasse de mim. E ela me fez amar-lhe. E eu a amei, odiando-a. Odiando a todos.

A culpa era deles. Era de todos. Toda essa maldição. Era uma insanidade, e quem havia a lançado sobre mim eram os outros. Malditos. Malditos, todos eles! Me deixaram morto, me deixaram desolado, me deixaram quebrado. Todos, todos estão contra mim. Todos estão contra mim. Todos estão contra mim...

E a escuridão propôs novamente, se deliciando com minha raiva. Morte. Morte para todos. Ela se propôs a matar todos, a me fazer de todos eles, um rei. Me obedeceriam, dementados. Ela me beijou, e eu a beijei de volta. Amando-a, embora a odiasse. Eles iriam pagar. Eles iriam pagar... Traidores, todos iriam pagar!

E eles sofreram, pelas minhas mãos. Eram meus brinquedos, meus servos. A escuridão era minha rainha, e deitava-se comigo por cima do reino. Eu era rei, eu era deus! Mas... Não havia nada. Eu estava sozinho. A escuridão me amava, mas era um amor sórdido. Era um amor... Vazio. Eu não queria aquilo. Eu não quero ser um boneco de uma escuridão gananciosa!

Então eu fugi. Fugi do meu reino. Fugi da minha rainha. E ela me perseguiu. Ela me encontrou. Ela me beijou. Mas eu não a beijei de volta. Eu estava determinado. Eu iria escapar. Mas ela ganhou de mim, por uma última vez. Mas a escuridão morreu. Morta por ela. E ela sumiu, sorrindo. Então, eu fui preso. Preso por mim mesmo.

As luzes se acenderam, cegando-me. A corte se pôs. O juíz se levantou, e todos adentraram. Sob uma máscara, estava eu. O juíz falou, e eu não ouvi. Ele riu, e eu não senti. Ele me chamou, mas eu não me movi. O júri se espantou, e conversou entre si. Em uníssono, declararam, mas eu não entendi. O juíz balançou a cabeça, e repetiu.

"Culpado, mas não sem esperanças."

E o silêncio voltou. O quarto parou de girar. A luz acendia, e eu podia falar. Eu podia ver, podia ouvir. E eu podia sentir. Estava deitado, suado, mas não estava morto. Estava cansado, mas não estava exausto. Estava trancado, mas não excluído. Eu estava sozinho, mas não por muito tempo.