O TEMA DO FÓRUM ESTÁ EM MANUTENÇÃO. FEEDBACKS AQUI: ACESSAR

Ela

Iniciado por Vifibi, 08/01/2013 às 20:46

Ela

Era uma garota morena e bonita. Seu peito subia e descia a cada ciclo de respiração concluído. Seu busto era lindo, como se esculpido por Afrodite à sua imagem e semelhança. Seus olhos castanhos profundos como um poço passavam de uma palavra a outra da página com rapidez e exatidão, sem pestanejar. Ela lia concentrada, alheia a todo o resto. Seu nariz fino e arqueado separava com graça suas duas bochechas cheias, e faziam uma leve sombra aos seus lábios. Os lábios eram carnudos, e o superior era do formato de um 'm' estilizado, de forma que eram atraentes até mesmo quando ela não desejava que fossem. Ela movia sua boca involuntariamente conforme lia o livro, sem saber que o fazia. Seus cabelos caíam-lhe por trás da cabeça e por cima das orelhas, sendo ele ondulado e castanho-escuro, com algumas mechas mais claras.

Ela sentava numa cadeira de madeira bem construída, de pernas cruzadas sobre o assento. Usava um suéter da cor do mel, e por baixo dele uma camisa de verão marrom. Vestia também um jeans justo e apertado que, embora não demonstrasse muito, não deixava muito à imaginação. Ela não usava sapatos, mas tinha duas meias brancas com partes cor de gelo que estavam sujas de lama por ter andado descalça pelo pátio. Em suas belas coxas descansava o livro Terra Papagalli, que ela lia com vigor. A cadeira onde ela sentava situava-se justamente abaixo de uma árvore, o que a protegeu parcialmente da chuva que ocorreu há algumas horas. A cadeira em que eu sentava, em frente à dela, não teve a mesma sorte, e eu fui obrigado a sentar no molhado. Mas a água valeu a pena.

Era uma visão esplêndida, aquela diante de mim. Ela, calma, resoluta, lendo seu livro sem interrupções, absorta e indiferente ao mundo. Cada fibra de meu corpo desejou ter uma câmera naquele momento para que eu pudesse registrar com imagens, e não palavras, a simples beleza daquele momento magicamente bucólico. Em nenhum momento ela tirou os olhos do livro para olhar diretamente para mim, porém ela sabia inteiramente que eu a fitava sem rodeios. Vez ou outra ela olhava para algo que atraía sua atenção, mas logo voltava à sua leitura. A cada instante que eu a observava, eu ficava mais e mais interessado em cada átomo de seu corpo. Ela era para mim um labirinto, um quebra-cabeças, um problema matemático. Tudo que eu queria fazer era chegar ao centro, ao resultado. Encaixar cada peça. Parte de mim desejava ser uma dessas peças, porém meu realismo conteve tal esperança.

Ela continuava a ler, imperturbada, quando soltou uma risada. A risada parecia música, ecoando no ar e desaparecendo não pela propagação, e sim pelo egoísmo do vento de ter só para si uma risada como aquelas. Olhou para mim a garota e, com um sorriso, leu o poema que inspirou o nosso hino nacional. Ela era um quebra-cabeças, e eu tentava encaixar as peças. E pelos céus, como eu queria ser uma das peças.