O TEMA DO FÓRUM ESTÁ EM MANUTENÇÃO. FEEDBACKS AQUI: ACESSAR

Amor de Inverno

Iniciado por Vifibi, 08/01/2013 às 20:51

O que se sucede é um texto feito para o Dia dos Namorados de 2011, também para um concurso feito na comunidade do deviantART chamada LiteraturaBR. O texto não chegou a ganhar o concurso, porém foi bem-recebido pela comunidade. Foi escrito em tempo recorde, com as sete páginas feitas em três horas e mais duas de revisão.

É um texto baseado numa viagem minha à Bariloche com dois amigos, e tem muitos fatos verdadeiros, porém continua sendo um trabalho de ficção. Quaisquer semelhanças com a realidade ou pessoas físicas ou jurídicas é mera coincidência e não deve ser levado a sério.


O trabalho Amor de Inverno de Victor Biancardine foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em victorbiancardine@hotmail.com.


Amor de Inverno
Um gole de Bourbon para aquecer a alma e para apagar a memória. Eu andei pela neve lá fora, vendo o céu laranja escurecer lentamente. Ela apareceu na minha mente por um segundo e novamente eu fiquei deprimido. Mais um gole. Deitei na neve, ignorando protestos de meu gélido corpo, e fiquei à deriva do vento, minhas mãos cada vez mais geladas. Eu tinha deixado a pousada às nove da manhã, e agora já era quase noite. Não sabia mais onde eu estava, nem se conseguiria voltar para a pousada antes de congelar até a morte, mas não me importava. Tudo que se passava por minha mente era Aline. O anjo dos olhos castanhos, dos cabelos negros, das bochechas que coravam no frio e na vergonha. Ela tinha ido embora.

Eu conheci Aline com o começo do inverno. Todo mês de Junho Henrique, Fernando e eu íamos à Bariloche esquiar. Junho começava o inverno, então era a melhor época para o esporte. Henrique não era muito bom, mas Fernando e eu tínhamos bastante habilidade. Instalamo-nos na pousada Posada Caliente, como fazíamos todo inverno. O dono da estalagem já nos conhecia, e deu-nos os mesmos quartos que sempre pedíamos. Como havíamos chego tarde da noite, quase meia-noite, fomos direto aos nossos aposentos, cansados e com sono.

— Señor Frederico! — o dono sorriu com mais entusiasmo que o normal, interrompendo-nos enquanto subíamos aos nossos quartos.
— Por favor — respondi ao sorriso, encabulado — me chame de Fred.
— Perdóname, señor Fred. Pero venho avisar ustédes que três chicas guapas se hospedaram aqui.
— Guapas? — Henrique perguntou. Ele e eu não sabíamos falar espanhol.
— Bonitas — Fernando explicou pacientemente — Três garotas bonitas se hospedaram aqui.
— Bem — foi a vez de Henrique sorrir — e quão bonitas elas são?
— Muy hermosas, señores. Achei que deveria avisá-los, considerando o histórico de ustédes.
— Muchas gracias, Guillermo — dei uma nota para ele, e fomos deitar-nos. Nossa suíte era espaçosa e grande, e cada um tinha seu próprio quarto e banheiro. Fernando e Henrique brigaram para ver quem ficaria com o quarto maior enquanto eu me instalei no menor quarto. Nunca me importei com o tamanho do quarto — passaria pouco tempo nele de qualquer forma. Depois que a briga foi decidida — Henrique ficou com o quarto maior —, fomos todos dormir.

Henrique me acordou cedo no dia seguinte, excitado para ir esquiar. Eu ainda tinha sono e vontade de ficar debaixo das cobertas, mas me levantei. Tomamos um gole do Bourbon que Guillermo tinha deixado em nossa suíte e trocamos de roupa. Fernando e eu tínhamos trazido nosso equipamento de esqui, mas Henrique teve que alugar o seu da pousada. Enquanto esperávamos ele escolher seus sapatos, esquis e bastões, ficamos a conversar com Guillermo. Guillermo contou-nos do estado da estação, dos turistas, e, por fim, da neve. A neve estava perfeita para esquiar, ele disse.

— Mas as chicas... — ele voltou a falar das tais garotas que se hospedaram. Ouvi com atenção, apesar de não ter muito interesse. Fernando nem ao menos ouvia, concentrando-se mais na neve fora da hospedagem — as chicas vem da França. São uma graça.
— Quem vem da França? — Henrique apareceu, já totalmente equipado.
— As tais chicas — eu respondi.
— Ah. Que droga. Não falo francês.
— Fernando fala — apontei para ele, que continuava esvanecido em pensamentos.
— Como? — ele perguntou, percebendo que tínhamos chamado seu nome.
— Você fala francês, certo?
— Certo.
— Então pode traduzir o que as garotas francesas vão falar para nós! — Henrique exaltou-se. Havia dois assuntos com os quais ele ficava animadíssimo: Bebida e mulheres.
— Por que eu faria isso?
— Porque são francesas, Fernando! Francesas! França é o país do sexo, meu caro. As garotas lá nascem sendo ensinadas como satisfazer um homem!

Fernando e eu rimos. Dei um tapa de leve nas costas de Henrique e fomos esquiar. A neve estava de fato boa. Não estava dura, mas também mantinha-se firme, sem deslizar. Fernando e eu descemos a maior colina da pousada, enquanto Henrique desceu a que ele achou estar no seu nível. As horas passaram rápido, e logo já era hora do almoço. Voltamos à estalagem com fome e fatigados, mas felizes. Henrique contava histórias e piadas durante a jornada, enquanto Fernando e eu escutávamos. As montanhas estavam cobertas de neve, e elas cercavam-nos por completo. A estadia era reclusa, e era por isso que gostávamos dela. Chegamos na recepção e entramos, indo direto ao restaurante. Sentamos numa mesa de quatro lugares, deixando nosso equipamento encostado na cadeira livre. Pedimos um bife de chorizo e uma garrafa de vinho. Eles nos trouxeram uma garrafa de vinho feito na própria pousada, sem rótulo. Serviram-nos uma taça cada e deixaram-nos estar. O vinho era um pouco jovem, mas bom. Tinha um gosto adocicado e agradável, e pedimos para ficar com a garrafa. Guillermo sorriu e nos serviu a garrafa inteira. Logo depois trouxeram o bife de chorizo, e ele estava delicioso. Depois de termos almoçado eu paguei pelo almoço e fomos para a sala de estar da pousada. Era uma sala grande e luxuosa com uma grande lareira no centro. Sentamo-nos num sofá e ficamos conversando até que três lindas mulheres entraram no salão.

Henrique imediatamente parou de conversar para prestar atenção nas garotas. Pelo que falavam, eram as francesas que Guillermo tinha nos contado sobre. Ele não estava errado, eram todas lindas. Até mesmo Fernando ficou embasbacado com a beleza que elas demonstravam sem qualquer vergonha. Suas bochechas estavam vermelhas, e eu sabia muito bem que ele tinha se apaixonado. As mulheres se sentaram no sofá à frente do nosso, do outro lado da lareira. A mulher do meio era a mais bonita, de cabelos negros e olhos castanhos. Ela olhou para mim e corou, desviando o olhar.

— Fred — Fernando pegou no meu braço, sem tirar os olhos da mulher do meio.
— O que foi?
— Vá falar com ela. Fale com ela por mim. Por favor.
— Como? Não! Eu não vou ser seu mensageiro.
— Por favor, Fred. Eu não posso.
— Mas eu nem ao menos sei francês!
— Por favor, eu não posso ir.
— Eu não entendo por que não... Mas... — suspirei com o olhar desesperado dele. Quando Fernando ficava assim, era melhor fazer o que ele queria — Tudo bem. Eu vou.

Levantei e fui até as mulheres, resmungando levemente. Sorri para as três, e todas exceto a do meio retribuíram meu sorriso. Isso era um mal sinal. A do meio olhava fixamente para o chão, como se não quisesse ser perturbada. Justo a minha sorte que Fernando tinha se apaixonado por ela.

— Olá! — disse sorrindo para a mulher do meio. Ela levantou o olhar para mim e corou, novamente desviando-o — Parles vous portugais?
— Non! — a amiga dela respondeu, sorrindo. Ela tinha olhos verdes e cabelos louros. Ela tinha um sorriso muito aberto, e olhava bastante para Fernando.
— Merde. Et anglais?
— Oui! — A do meio sorriu e começou a falar em inglês — Eu falo inglês.
— Ótimo. Meu nome é Frederico Fischer. Me chame de Fred.
— Aline Reverbel. Esta — ela mostrou a amiga loira — é Chantal e esta — ela apontou para a outra amiga, que tinha cabelos castanhos e olhos azuis — é Eloise.
— É um prazer conhecê-las. Desculpem-me incomodá-las assim, mas é que eu venho com uma missão. Meu amigo, Fernando — apontei para ele — está interessadíssimo na senhorita, Aline.
Aline riu. Ela tinha uma risada linda.
— Não. Eu não estou interessada nele. Me sinto lisonjeada, mas não tenho o menor interesse naquele homem. Obrigada mesmo assim.
— Bem, vocês gostariam de ir esquiar conosco amanhã, pelo menos?
— Vocês são bons? — Chantal perguntou. Seu inglês não era tão bom quanto o de Aline, mas ela ainda falava muito bem.
— Fernando é ótimo, e Henrique é quase tão bom quanto. Eu tenho um pouco de habilidade.
— Eu gostaria de aprender com alguém — Chantal disse —, nós não somos muito boas.
— Bem, adoraríamos ensinar-lhes a esquiar.
— Vocês podem ir sem mim — Aline disse, seu sorriso sumido. Ela estava séria — Não tenho o menor interesse de sair esquiando com um bando de garotos imaturos.

Eu fiquei sem palavras. Apenas acenei para as duas e voltei para Henrique e Fernando. Disse-lhes a situação, e Fernando ficou desapontado. Henrique, contudo, ficou animadíssimo.

O dia seguinte veio animado, com o Sol raiando forte e Henrique quase gritando de excitação. Eu tinha decidido não ir com eles, preferindo ficar na pousada. Henrique ficou irritado com minha decisão, e Fernando mais ainda, mas eu fui rígido e intransigente. Eles foram, e eu fiquei no meu quarto. Não gostava de ficar no meu quarto, me sentia preso. Peguei um livro que tinha trazido — era algo de Ernest Hemingway — e fui ao saguão, onde tinha a lareira. Sentei no mesmo sofá onde sentamos no dia anterior e comecei a ler do início. O livro era em inglês, pois eu queria praticar meu inglês escrito. Passei algum tempo absorto no livro até sentir que estava sendo observado. Olhei ao redor e meus olhos encontraram os de Aline, sentada no sofá ao lado do meu, fitando-me. Ela corou e rapidamente voltou a observar o que estava a ler. Dei de ombros e voltei ao meu livro. Não consegui continuar lendo. Minha atração foi atraída por Aline novamente, e mais uma vez nossos olhares se encontraram. Ficamos alguns segundos nos fitando, até que ela corou ainda mais forte e desviou o olhar. Eu levantei. Não conseguiria ler meu livro, então iria perturbá-la também. Fui até ela e sentei ao seu lado. Ela ficou vermelhíssima, mas nada disse.

— Você preferiu ficar lendo a esquiar? — eu perguntei, quebrando o silêncio. Não havia interrompido sua leitura, pois ela tinha parado de ler há muito tempo, ficando apenas me olhando pelo canto do olho.
— Eu não gosto de esquiar. E não gosto quando me consideram um simples prêmio para ser conquistado.
Fiquei embasbacado.
— Um prêmio? O que faz você pensar que era um prêmio?
— Eu sei como vocês homens pensam — ela sorriu de um modo travesso —, sempre indo de uma conquista para outra. Eu não sou assim. Não gosto de ser apenas uma "aventura de férias".
— Fernando não te considerava uma aventura de férias. Ele se apaixonou contigo no momento que o viu.
— Bem, paixões não me interessam. Eu sou uma mulher comprometida, senhor Frederico.
— Por favor, me chame de Fred. E sinto muito por tê-la perturbado, Srta. Aline.
Levantei-me para ir embora.
— Espere — ela me segurou pelas costas da camisa, impedindo-me de ir.
— O que foi? — voltei a me sentar.
— Eu me sinto péssima. Desculpe-me pelo modo como te tratei. Você... Você merece melhor que isso.
— Está tudo bem. Agora, se me der licença, vou continuar a ler meu livro.
— Hemingway, certo?
— Como?
— O livro que você está lendo. A Farewell to Arms. Do Hemingway.
— Sim, sim. É meu autor preferido. Leio em inglês para melhorar minha compreensão da língua.
— Já li o livro. Se eu quiser — ela deu um risinho — eu posso estragar o final para você.
— Bem, você não vai fazer isso, vai?
— Talvez.
— Isso seria algo detestável para se fazer.
— Então façamos um acordo. Você conversa comigo, e eu não te conto o que acontece com Frederic Henry e Catherine Barkley.

Eu sorri e concordei. Passamos horas conversando, falando de diversas coisas. Falamos de esqui, apesar de ela demonstrar um desgosto pelo esporte. Esquiar é uma prática fácil de começar, porém dificílima de se dominar. Pode-se passar anos esquiando sem ter até mesmo qualquer tipo de habilidade. É necessário se amar a neve que passa por cima, assim como aquela que você está para passar. Esquiar é um esporte de paixão, eu expliquei para ela. Conversamos sobre autores, Hemingway, Twain, Verne, Dumas, De Assis, De Alencar. Estávamos conversando sobre The Sun Also Rises quando nossos amigos voltaram. Fernando fitou-me furioso, e eu sabia que ele iria querer me matar. Disse minhas despedidas à Aline e voltei ao quarto com Henrique e Fernando. Ao chegarmos, Fernando me deu um soco forte na barriga, me xingando. Não ataquei-o de volta e fui de volta para meu quarto, onde passei o resto da noite.

Acordei no dia seguinte me sentindo mal. Estava com febre. Henrique e Fernando desejaram-me melhoras, mas logo foram esquiar com as francesas. Fiquei no meu quarto, lendo. Estava aborrecido e irritado, mas não podia sair no frio. Tentei pegar no sono, mas não consegui. Quase chorei de alegria quando bateram na minha porta. Quase morri de surpresa quando vi que era Aline.

— Me disseram que você estava doente. Senti pena de você.
— Não foi esquiar com os outros? — me senti um idiota por ter perguntado isso.
— Não gosto de esquiar, te disse isso ontem.
— Certo. Quer entrar?
— Era o que eu planejava. Tenho alguns filmes. Posso te fazer companhia — ela fez um sorriso lânguido que quase me deixou sem palavras.
— Entre — foi tudo que consegui dizer.

Ficamos deitados na minha cama durante horas, vendo filmes. Ela ficou encostada em mim, e eu passei meu braço por volta dela. Conversamos durante os filmes, rindo e nos divertindo. Um silêncio tomou conta do quarto quando ela e eu nos encaramos. Meus lábios foram de encontro aos seus e nos beijamos. Ela me deu um tapa e levantou da cama, aborrecida.

— O que foi? — eu perguntei, irritado.
— Você não tem vergonha?
— Não — sorri —, não tenho.
— Você é um porco. Eu sou comprometida!
— E daí? — eu acariciei-a por trás, beijando seu pescoço. Ela me deu outro tapa e foi embora, me deixando sozinho. Deitei de lado e dormi, irritado.

No dia seguinte Henrique e Fernando não queriam esquiar, então eu fiquei passeando pelos arredores da pousada. Surpreendi-me quando encontrei Aline, também andando sozinha pela neve. Começamos a caminhar juntos, conversando. Fomos até um ponto que eu conhecia, aonde se podia observar toda a cadeia de montanhas, que era lindo no inverno. Aline ficou pasma e encantada com a visão.

— Fred.
— O que foi?
— Lembra-se de ontem?
— Lembro. Você me deu um tapa quando eu tentei te beijar.
— Beije-me.
— Você não era comprometida?
— Você me quer ou não?
— Quero. Muito.
— Então me beije e pare de fazer perguntas.

Eu a beijei. Nossas línguas se entrosaram durante alguns segundos, e parecia que o tempo tinha parado. Eu a levei para meu quarto, e removi cada uma de suas roupas. Seu corpo nu era lindo, esplêndido sob a luz do Sol poente. Ela estava vermelha de vergonha, mas me olhava nos olhos sem desviar. Beijei-a outra vez, tentando deitá-la, mas ela me impediu.

— Ainda não.
— Por que?
— Tire uma foto de mim.
— Como?
— Tire uma foto de mim.
— Pois bem.

Aline fez uma pose. Não era uma pose sensual ou tentadora. Era uma pose romântica, de simples amor. Eu peguei minha câmera e tirei uma foto. Era uma câmera Polaroid, então a foto saiu logo em seguida. Sacudi-a. Era uma boa foto.

— Essa foto — Aline disse, me beijando — é sua. Ninguém pode tirá-la de você. É sua lembrança de mim.
— Eu não preciso de lembrança de você. Eu já tenho você.

Ela sorriu, mas nada disse. Deitou-se na cama, e eu subi logo atrás. Beijei seu umbigo, seus seios, seu pescoço, seus lábios...
Aline e eu passamos duas semanas muito boas. Eu a ensinei a esquiar, e ela me contava de coisas francesas. Ela tentou me ensinar algumas coisas de francês, mas eu não compreendi nada, e não fiz muito esforço para conseguir. Falávamos muito do futuro, e ela nunca elaborou sobre seu "compromisso". Eu também nunca perguntei. Toda vez que dizia que podíamos ter algo sério, ela apenas beijava-me e dizia:
— Você já me tem. Não queira mais do que isso.

E eu concordava. Ela sempre me lembrava de que iria embora, mas eu não acreditava. Ela era minha amada. Eu a amava muito, mesmo sem tê-la conhecido muito, e a queria para mim. Queria casar com ela, queria ter filhos com ela. Eu estava perdido por ela. Quando ela foi embora, eu não estava preparado. Ela arrumava as malas e eu jogava tudo de dentro no chão, irritado.

— Você não pode ir embora! — eu gritei
— Eu tenho que!
— Eu não vou deixar. Eu te amo. Você vai ficar comigo.
— Não, não vou — seus olhos se encheram de lágrimas — Eu não posso. Eu sou comprometida.
— Esqueça o compromisso. Venha para o Brasil comigo. Moraremos juntos.
— Isso iria estragar sua vida, Fred. Foi bom o que tivemos. Apenas aceite isso. Você me tem. Sempre me terá. Mas eu tenho que ir embora. Eu te amo, mas eu tenho que ir.

E ela foi. Deixou-me. Eu fiquei à deriva na neve, andando sem rumo. Deitei no local onde nos beijamos pela primeira vez, e fiquei esperando a neve me cobrir. Ela não era minha. Ela não era de ninguém. E então eu me lembrei. Tomei um gole de Bourbon e levantei-me. Procurei no meu casaco e sorri. Ainda estava lá. Peguei-a, minhas mãos trêmulas, e olhei para a foto de Aline uma última vez. Levantei-a contra o Sol poente, e soltei. O vento levou a foto para longe, para onde eu nunca mais a veria. Ela não era minha. Ela pertencia ao vento. Terminei a garrafa de Bourbon e comecei a jornada para voltar à pousada.