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Gabriel

Iniciado por Nolan, 22/02/2020 às 19:14

Gabriel era um jovem adulto de vinte e dois anos que tentava tocar sua vida sozinho. O garoto já trabalhava a uns dois anos em uma padaria que ficava a uma hora de ônibus de sua casa e também tinha o seu próprio lugar para chamar de lar. Quer dizer, "o apartamento minúsculo onde ele passava as noites", já que passava o dia inteiro no trabalho. O cubículo ficava em um bairro próximo, era alugado e custava um terço do seu salário mensal.
   Apesar de todas as dificuldades e dos dias intermináveis no emprego cansando-o cada vez mais, Gabriel sempre arrumava tempo para ir à igreja. De certa forma, o garoto não podia ser chamado de "crente", mas como havia sido criado em família cristã, esse hábito o perseguia como um vício. Não é a toa que muitos filósofos a consideravam como o "ópio do povo". Era por meio de suas frequentes preces que ele pedia uma melhoria em sua vida, uma completa transformação do inferno que ele vivia. Porém, não sabia ele que o inferno também tinha ouvidos, alguns bons pares dos mais atentos.
   Em uma sexta-feira, após um dia extremamente cansativo de trabalho, Gabriel chega em casa exausto, suas roupas pingando de suor por ter passado horas e horas perto dos fornos da padaria. Mesmo assim, se joga em sua poltrona e liga a TV para assistir ao jogo do seu clube de futebol favorito, um dos únicos prazeres aproveitáveis em sua vida corrida.
   Falando agora de sua sala de estar, ela era bem pouco mobiliada, possuía uma "poltrona do papai" daquelas bem confortáveis ocupando o centro da sala, um rack de madeira dado por sua tia como um presente para a casa nova e um sofá meio velho e afundado onde ele recebia as poucas visitas que ainda apareciam.
   Em cima do rack, estavam praticamente os pertences de maior valor para ele, uma TV de tubo de trinta polegadas, uma relíquia nos tempos atuais, alguns retratos onde ele estava junto de seus dois irmãos e de seus pais e uma carta recém aberta com um convite para a "cachaçada de pós-nascimento da caçula da família", mostrando que sua irmã estava perto de nascer.
   Para servir de acompanhamento ao jogo e matar a fome que ele acabou de perceber que sentia, Gabriel foi em sua cozinha buscar alguns petiscos, mas para a sua surpresa, acabou achando também uma cerveja perdida no fundo da geladeira, catando-a e levando também para sala. Ao passar de um vão a outro do apartamento, voltando à sala, ele percebe que há um estranho sentado em sua poltrona. Ele arqueava as costas para frente, estava completamente concentrado no jogo, tinha as pontas dos dedos juntas como se fosse um daqueles vilões de filmes de super-heróis no momento em que planejavam as maiores atrocidades. Para combinar com a pose de vilania, o estranho vestia um terno risca de giz preto e tanto a gravata quanto a camisa social abaixo num tom forte de vermelho sangue.
   O jovem gelou ao ver o estranho intruso que adentrou em sua casa e, não sabendo o que fazer, decidiu voltar à cozinha para buscar uma faca para se defender, mesmo que o elegante visitante não parecesse ter entrado ali para agredi-lo. Gabriel dá uma olhadela da cozinha e percebe que ele ainda estava lá, usufruindo de sua TV e poltrona. Juntando toda a coragem que possuía, Gabriel sai da cozinha empunhando sua faca e fala de maneira nervosa.

— Como entrou aqui?! Peço que se retire agora por favor, ou então...

— Ou então o quê? O que fará comigo Gabriel? Irá me furar com essa faca? Você? Hahá, nunca conseguiria, não tem coragem para tal feito. Vamos, largue isso. — Com um displicente gesto, o misterioso homem apontava para a faca que rapidamente esquentava na mão de Gabriel, fazendo-o largar ela no chão.

— Quem é você?! — Perguntava o garoto completamente perplexo. A pergunta pareceu agradar o visitante indesejado.

— Tenho vários nomes Gabriel, vários, mas para que você entenda bem, vou ser o mais "claro" que eu consigo ser. Sou Lúcifer, ou simplesmente "O Diabo". Venho aqui te dizer que ouvi suas preces diárias.

   Aquilo parecia surreal, e realmente era. A primeira reação do garoto ao ouvir aquelas palavras foi de incredulidade. Mas antes que ele desconsiderasse o que o homem falou, a queimadura em sua mão ardeu um pouco mais, lembrando-o deste estranho incidente que o invasor parecia ter causado.

— Eu rezei para Deus, porque foi você quem me escutou? E outra, como me ajudaria? — Lúcifer escutou as perguntas e sem nem mesmo virar para olhá-lo nos olhos, as respondeu sem pensar duas vezes:

— Deus?! Ele está muito ocupado apenas observando sua espécie nas alturas. Nunca viria ao seu auxílio. Mas eu adoro vocês, sempre que posso tento ajudá-los. E aqui estou, pronto para ser útil a ti.

   Gabriel, um cristão desde criança, não demorou para desdenhar das palavras do anjo caído. Não iria cair naquelas ardilosas palavras tão facilmente.

— Você engana Lúcifer, nenhuma ajuda terei vinda de você, em nome de Deus, saia de minha casa, não é bem vindo aqui.

   Pela primeira vez, as feições do tenebroso visitante mudaram. Mesmo que por apenas poucos segundos, Gabriel percebeu o perigo que corria ao chamar pelo nome de Deus na frente do seu maior antagonista. Não é possível pôr em palavras o medo que ele sentiu quando o homem olhou-o pela primeira vez nos olhos.

— Não... Diga... Esse... Nome... Outra... Vez... — Cada palavra era como um sibilar dito pela mais perigosa das cobras, porém, depois disso, Lúcifer voltou ao seu estado natural de humor, calmo e calculista.

— Apenas me ouça garoto. Posso fazer você mudar de vida apenas apertando um botão, é sério, você estará rico antes de poder dizer Belzebul, e isso não custará nada a você, sem contratos, sem pactos, você estará completamente livre de mim depois disso.
   Aquilo parecia algo realmente suspeito, o Diabo não era conhecido por ser bonzinho, nunca foi. Era o maior dos pecadores, aquele que engana, mente, deturpa. Porém, a curiosidade do jovem rapaz o venceu, fazendo-o ignorar toda as precauções que ele devia tomar.

— Qual é o porém dessa oferta? — perguntava desconfiado.

— Moleque esperto! — Lúcifer parecia ter gostado da pergunta. — É claro que tem um porém. Para cada vez que você apertar o botão, quinhentos mil dólares serão adicionados à sua conta, porém, uma pessoa aleatória no mundo morrerá. — Ao terminar seu discurso, Lúcifer retirava um botão vermelho do bolso e o entregava nas mãos de Gabriel.

   Ele que foi criado sabendo que uma vida não tinha preço estava preso em um enorme dilema. Cinquenta mil dólares mudaria muito sua vida. O mundo era vasto, dificilmente ele sequer tomaria conhecimento da morte que ele causaria ao apertar o botão, e outra, era praticamente impossível que algum familiar ou amigo próximo fosse atingido por tal destino. O garoto pensa por um bom tempo e com um leve pesar, aperta o botão pela primeira vez, o que deixou a Estrela da Manhã muito feliz.

— Não doeu, doeu? O dinheiro já está em sua conta, a mensagem já vai chegar em seu celular. — Como se fosse comandado por ele, o celular vibrou audivelmente em cima do rack.

— Agora, que tal ficar cinquenta mil dólares mais rico? Aperte uma segunda vez, com cem mil dólares você ficará livre de problemas por um bom tempo, se souber como economizar, você viverá bem por alguns bons anos.

   Porém, uma morte em suas costas era suficiente para o garoto que já se sentia culpado pelo seu primeiro ato. Reunindo o pouco de coragem que lhe restava, Gabriel afrontou o Diabo, expulsando-o de sua casa:

— Já está bom para mim. Não vou matar outra pessoa para ficar mais rico. Percebo que foi uma péssima ideia te ouvir. Saia de minha casa e nunca mais apareça em minha vida. — Ao invés de Lúcifer parecer desapontado, ou pior, de resistir, simplesmente deu um sorriso de canto de boca e se despediu do garoto.

— Você que sabe. — disse ao recolher o botão. — Mas se eu fosse você, checaria o celular, acho que terá uma grande surpresa.

   Tão de repente quanto foi sua chegada foi sua despedida e num piscar das luzes, Lúcifer não se encontrava mais na casa. Sem nem respirar e esperando pelo pior, Gabriel corre na direção do seu celular. Os cinquenta mil dólares prometidos estavam expostos em uma mensagem de seu banco, mas ele nem prestou atenção, pois em seu aplicativo de mensagens, uma única mensagem foi capaz de tirar toda a cor de seu rosto. Ele larga o celular no chão, pega sua carteira e corre para o hospital no centro da cidade. Sua mãe estava morta e seu irmão prestes a nascer.

Gostei muito do início... é certamente uma escolha inteligente de palavras. :ok:
Agora... não gostei muito do final. Previsível, e meio cliché. Não é mau. As suas palavras conseguiram salvar-me de muito aborrecimento. O final poderia ser pior se tivesse menos tempo para desenvolver a trama. Se lá. :humpf:
Adiante, a história é interessante. Gostei do começo, começando por apresentar o protagonista da história. Gostei do facto dele visitar a missa só porque é lhe um "vício". :ok:
Achei a chegada d'"O Diabo" meio... ok... mas as suas motivações até me parecem suficientemente razoáveis.
Só não gostei daquela cena...
Citação de: Nolan online 22/02/2020 às 19:14

— Não... Diga... Esse... Nome... Outra... Vez... — Cada palavra era como um sibilar dito pela mais perigosa das cobras, porém, depois disso, Lúcifer voltou ao seu estado natural de humor, calmo e calculista.

A cena em que "O Diabo" simplesmente tem um ataque de raiva... meio meh... mas suportável. :=|:

Resumindo, bom. :ok:

A sua história é muito boa, escolha muito inteligente de palavras. Quando eu a li, fiquei muito concentrado, isso significa que ela prende o leitor. Achei o final meio previsível, na parte em que o protagonista falou que era impossível um familiar seu morrer, a partir dai eu já sabia como seria o final.
O inicio é muito bom, apresentou o protagonista muito bem, a situação em que ele se encontrava atualmente tendo que trabalhar o dia inteiro e não ser muito bem sucedido financeiramente e por ai vai. Não achei muito necessário você explicar o ambiente, na minha opinião só serviu para encher linguiça, a não ser que você use tudo isso mais para frente. Esse conceito de apertar um botão e ganhar dinheiro e ao mesmo tempo matar uma pessoa, eu já ouvi falar em algum lugar que não consigo lembrar onde, mas não deixa ser interessante. Resumindo: Ótima história dou 8/10. Boa sorte!  :wow: :wow: :clap: :clap:
Castanha Branca é o nome da minha empresa imaginária de desenvolvimento de jogos, onde o único membro sou eu ;-;

Citação de: RodLego10 online 27/02/2020 às 16:51
Gostei muito do início... é certamente uma escolha inteligente de palavras. :ok:
Agora... não gostei muito do final. Previsível, e meio cliché. Não é mau. As suas palavras conseguiram salvar-me de muito aborrecimento. O final poderia ser pior se tivesse menos tempo para desenvolver a trama. Se lá. :humpf:
Adiante, a história é interessante. Gostei do começo, começando por apresentar o protagonista da história. Gostei do facto dele visitar a missa só porque é lhe um "vício". :ok:
Achei a chegada d'"O Diabo" meio... ok... mas as suas motivações até me parecem suficientemente razoáveis.
Só não gostei daquela cena... A cena em que "O Diabo" simplesmente tem um ataque de raiva... meio meh... mas suportável. :=|:

Resumindo, bom. :ok:

Mano, obrigado pelo feedback! Eu concordo com tudo o que você falou. Essa com certeza não é uma das minhas histórias mais elaboradas e realmente esse final foi clichêzaço asuhsauh, não tenho muito o que dizer, obrigado por ter lido!

Citação de: Castanha Branca online 28/02/2020 às 22:54
A sua história é muito boa, escolha muito inteligente de palavras. Quando eu a li, fiquei muito concentrado, isso significa que ela prende o leitor. Achei o final meio previsível, na parte em que o protagonista falou que era impossível um familiar seu morrer, a partir dai eu já sabia como seria o final.
O inicio é muito bom, apresentou o protagonista muito bem, a situação em que ele se encontrava atualmente tendo que trabalhar o dia inteiro e não ser muito bem sucedido financeiramente e por ai vai. Não achei muito necessário você explicar o ambiente, na minha opinião só serviu para encher linguiça, a não ser que você use tudo isso mais para frente. Esse conceito de apertar um botão e ganhar dinheiro e ao mesmo tempo matar uma pessoa, eu já ouvi falar em algum lugar que não consigo lembrar onde, mas não deixa ser interessante. Resumindo: Ótima história dou 8/10. Boa sorte!  :wow: :wow: :clap: :clap:

Poh mano, muito obrigado tbm pelo feedback. Admito que o final foi clichêzão mesmo, como disse mais acima e, na questão do cenário, era só pra mostrar o quanto a casa dele era humilde, sabe? Pra que o dinheiro apresentado fosse mais relevante. SObre o botão e dinheiro, creio que com certeza deve ter algo conhecido com isso, só n sei dizer oq também. Agradeço muito pela leitura e obrigado pela nota!!