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†ƒคหтครмคgóя¡cค †—Fim

Iniciado por Elyven, 29/03/2013 às 21:36

29/03/2013 às 21:36 Última edição: 29/03/2013 às 21:49 por Elyven
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—Fantasmagórica é uma novelinha sobre Obsessão. Assim como espíritos são alimentados por paixões mais fortes do que qualquer vivo possa compreender, os Renegados são acometidos por Obsessões. Eles não são Zumbis no sentido pleno da palavra. Eles voltam também para a Mortalha quando satisfazem aqui na terra, um grande desejo. Eles podem voltar, eles podem ir quando quiserem.
††† թąʀ†ɛ 2/Fim †††
Nada aconteceu com Gabriel. Ele, seu charme viril e seu " Ei – xerife – você  – lembra – do meu – pai – não  – é? Fez com que a poeira abaixasse. Ele me matou e não passou um único dia na prisão. Ele até arrancou meu colar com o corpo ainda quente, lavou, e deu para um dono de uma loja de bebidas da cidade vizinha em troca de algumas garrafas de whisky. Eu chorei, incapaz de aceitar a ideia de um estranho com a foto do meu Lucas.

O espírito da mulher que supostamente assombrava nossa casa me encontrou assim que passei pela Mortalha;ela retirou minha Coifa e me tomou sob suas asas. Ela era como uma mãe para mim, e começou a me explicar as coisas, me ensinar como manipular esse mundo de sombras. Lentamente, me adaptei à minha nova casa.

No início foi difícil aceitar a existência do Céu ou do Inferno, mas eu acabaria por aceitar o que meus sentidos evidenciavam. Eu deixei tanto por fazer que era impossível deixar minha vida para trás, ou minha culpa e medo de ter deixado Lucas sem proteção  contra a fúria de Gabriel.

Eu tinha o que queria, ao menos a maioria das vezes. No mundo inferior minha outra metade era fraca, e eu podia algumas vezes tomar o controle – atualmente controle físico e mental e foi maravilhoso! Fez tudo valer a pena: as surras, a dor, a falta de esperança. Mas ainda faltava algo. Eu vi meu marido em nossa casa, com nosso filho, e eu não podia deixar de pensar que ele havia ganhado. Havia conseguido tudo o que queria sem ter que pagar por isso.  Eu precisava me vingar.  Eu queria machucá-lo. Eu queria que ele soubesse que não podia fazer nada para fugir de mim, e acima de tudo, eu queria que ele se sentisse como eu muitas vezes me senti – completamente sem saída ou esperança.

Assim eu aprendi.

Aprendi como afetar o mundo físico, mesmo depois de não pertencer mais a ele. Era difícil. Monumental.  E valia a pena.

Gabriel escapou por ter me matado.  Uma nevasca àquela noite desapareceu com todas as evidências ou pistas que eu possa ter deixado, e Gabriel enterrou cuidadosamente a massa de pele e ossos que meu corpo se tornou sob uma pilha de rochas dentro da floresta onde ninguém, a não ser que um andarilho ocasional passaria. Ele reportou meu desaparecimento à policia, recuperando o velho encanto juvenil que me atraiu a primeira vez e os convenceu que "Nós tivemos uma pequena discussão" e que eu fugi depois disso. Ele disse que eu achava que estava tentando lhe ensinar uma lição e que eu voltaria, mas ele começou a se preocupar ao cair da noite. Ele fingiu se sentir culpado, chorando enquanto dizia que era tudo sua culpa e que não devia ter se irritado comigo.

Aquilo me deixou enjoada.

Claro que a policia suspeitou no início; eles até procuraram por sinais de escavação no quintal, no caso de Gabriel ter sido estúpido o suficiente para me enterrar lá.

A mulher, Mãe, não podia me ensinar tudo que eu precisava saber, mas ela tinha amigos. Eles a visitavam uma ou duas vezes por ano e ficavam por um tempo. Elas os chamavam de Renegados.  Ela dizia que sua casa era tudo para ela e que não deixaria o que tinha para ajudá-los contra a Hierarquia, entretanto, que concordava com sua causa.  Então, ela fingia ser uma boa serva da Hierarquia a maior parte do tempo e mantinha a casa segura para seus amigos.

Haviam cinco Renegados que a visitavam constantemente, e eu aprendi tudo que podia com eles. Eu podia ter viajado com eles para aprender mais, e a ideia de me afastar de meu filho me deixava agonizada.  Eu aprendi rápido e tinha todas as razões para treinar o mais duro possível. Logo aprendi como me afinar com Gabriel, e se tornou cada vez mais fácil falar coisas em seu ouvido. Em pouco tempo aprendi até mesmo a me manifestar, apesar de intangível, para que ele me visse.

No começo Lucas se assustou porém o medo do temperamento do seu pai superava isso.  As frequentes namoradas de Gabriel o deixavam nervoso, pois ele não tinha para onde ir. Eu tinha medo que ele se afastasse quando crescesse. Lucas era solitário e não tinha amigos de verdade. A lei  exigia que Gabriel o colocasse numa escola mas não exigia que o levasse para jogos, comprasse brinquedos, ou o pegasse no colo quando ele chorava.

Eventualmente Gabriel começou a descontar suas inseguranças em Lucas. Eu me importava pouco com aquela peste e Gabriel não merecia nem mesmo um filho. Eu não queria nada além de matar meu marido, para ver seus olhos ficarem sem vida, sentir sua pele esfriar em minhas mãos.

Por dois anos um certo Renegado chamado Steven Ardwright vinha à casa regulamente.  Ele me deixou intrigada – eu senti como se ele visse atrás de mim, como se ele soubesse exatamente como eu era e o que eu queria. Um dia ele me disse que sabia um meio de voltar a terra dos vivos e que podia me ensinar como, por um pequeno preço. Eu sabia que precisava aprender aquilo, assim teria minha vingança.

Os abusos de Gabriel com Lucas era inevitáveis,claro, minha outra metade se recusava aceitar; lágrimas desciam a face de minha sombra quando nosso filho chamava por nós. Em sua recusa vi minha chance.

Nós aprendemos o que Ardwright tinha a oferecer e agora eu já sabia que havia um meio para nós duas conseguirmos o que queríamos: ela salvaria sua criança e eu teria nossa vingança.

Assim foi feito nosso trato.

Foi difícil no início. Meus músculos não conseguiam se mover, e havia ainda um metro de rochas e terra congelada entre eu e a vida. A força dos mortos é maior que a dos vivos, e não demorou muito para eu alcançar a floresta, escavando através da grama e das rochas enquanto meus ossos se refaziam o melhor que podia.

A primeira coisa que fiz, foi ir até até a loja de bebidas.

Eu estava com sorte, pois era noite e estava escuro, um dia de semana na área rural. Ninguém me viu. Quando cheguei lá, quebrei uma janela com uma pedra e entrei. Infelizmente não contei com a possibilidade do dono estar lá. Por sorte estava bêbado como um gambá, e foi fácil acertá-lo na cabeça com a pedra que usei para acertar a janela. Houve um ruído de osso quebrando, e ele caiu sobre a registradora sangrando silenciosamente. Foi fácil demais – me aterrorizou o fato de ter matado alguém e eu nem me sentir culpada.  Onde foi parar toda a vida religiosa que levei? Onde foram parar meus valores morais? Oito anos de morte foi o suficiente para destruir a crença de vinte anos de vida?

Eu prometi não ferir mais ninguém. Eu pegaria Lucas, talvez assustaria Gabriel um pouco, e iria embora.

Eu precisava achar o colar – colar que me chamava, me puxava para o fundo de um caixa – forte  atrás da prateleira. O cadeado se torceu e arrebentou ante minha nova força, e logo eu tinha o que queria. Me senti estranha ao colocá-lo; me senti mais forte, mas havia um sentimento, quase negro, que me deixou um pouco desconfortável. Meu alívio ao me reunir com minha outra metade foi enorme; eu não desejava passar minha breve vida como uma bugiganga na coleção de alguém. Já era ruim o suficiente ter que usar o meu colar como portal para o mundo dos vivos para incio de conversa. Eu queria meu corpo. Eu podia fazer algumas coisas com este, mas estava praticamente sobre o controle dela, e aquilo me irritava. Eu odiava por ela ter o que eu queria. Pelo menos por enquanto, nossos objetivos se cruzavam, e logo estaríamos satisfeitas.

Logo cheguei até nosso quintal, e puxei um lençol do varal. Me cobri até a metade do corpo com ele para esconder os pedaços rasgados da roupa, agradecendo que a ultima namorada de Gabriel tivesse lavado a roupa.  Quando me aproximei da casa, escutei com meus sentidos aguçados de morta, que meu marido e sua companheira tinham a respiração lenta daqueles que dormem, enquanto meu filho roncava suavemente. Abri a porta, que estava destrancada, bem devagar e me dirigi lentamente ao quarto de Lucas. Com o barulho que eu estava fazendo, tive sorte do quarto principal fosse daquela pequena casa. Assim, um segundo depois, escutei a voz de Gabriel, amortecida pelo sono,sobrepor-se ao baixo volume do radio que ele mantinha ligado quando dormia.

"Vai descobrir o que aquele maldito garoto está aprontando"

Houve um murmúrio acentuado na voz da mulher e então movimento. Eu sai do quarto de Lucas e esperei nas sombras. Podia ouvir que Lucas havia acordado,mas que estava provavelmente muito assustado com seu pai para abrir a porta. Mesmo antes de ver a mulher, pude ouvir Gabriel roncando alto novamente. Então, um intenso ciúmes veio de lugar nenhum, a certeza que Gabriel havia me matado e deixado esta vadia viva e uma fúria me tomou de repente.

Peguei um pesado pedaço de cerâmica em minhas mãos contorcidas e joguei nela quando ela virava no corredor. Antes mesmo de me notar, ela estava no chão, sangrando por uma abertura no crânio. Eu peguei o peso de cerâmica e bati de novo, e de novo, até que sua cabeça se tornou uma massa de ossos quebrados, cérebro e cabelos. Me perdi no som de seu  crânio quebrando até que me pudesse lembrar que não queria que Gabriel acordasse.

Ainda bem que ele fazia barulho enquanto dormia – pois ainda podia ouvi-lo roncando.

Fui para o quarto de Gabriel o mais lentamente que consegui,tentando evitar acordá-lo com meus passos arrastados. Sua respiração era doce, suave e agradável. Seus cabelos loiros estavam despenteados, sua boca entreaberta. Ele parecia, para o mundo inteiro inocente.

Aquilo me irritava.

Subi na nossa cama devagar, com cuidado para não balançar muito. Ele resmungou e virou de costas, eu fiquei ali parada o que me pareceu uma eternidade.  Se eu precisasse respirar, teria parado. Me movi para ficar bem ao lado dele, quase como quando estava viva. Minhas mãos estavam geladas com o frio da terra de outubro, por isso as esquentei nos lençóis antes de tocá-lo.

Coloquei minhas mãos sobre seu estômago, os dedos tocando de leve sua pele. Meus lábios pressionados contra seu ombro, os pelos fazendo uma trilha do peito ao umbigo. Ele gemeu baixinho e se virou, mas não acordou.

Eu sorri.

Devagar, descobri seu corpo. Sua respiração já tinha aumentado mesmo antes de alcançar sua virilha, seu corpo se lembrando do toque que ele conhecia tão bem. Com cuidado comecei acariciá-lo, minha carne morta o apalpando de todas as maneiras que o agradavam.

"Oh, está tão bom..." Ele parou no meio da frase quando acordou, subitamente descobrindo quando onde estava, e o fato de haver uma mulher em sua cama que era sua esposa, e que ele próprio já a havia matado.

Seu grito foi cada pedaço do paraíso que eu poderia ter desejado.

Foi difícil me segurar para não matá-lo. Quase impossível. Mas consegui. Ele ajudou, pulando nú da cama e correndo noite afora. Havia sangue em sua barriga, onde eu o arranhei quando se virou, e eu podia ouvir seus gritos ecoando pela casa enquanto corria.

Respirei aliviada ao reagir assim, agradecendo não ter matado o coitado. Queria poder dizer o mesmo da mulher. Parei ao vê-la lá, nua, as pegadas de Gabriel formando um caminho pelo sangue, mas eu tinha pouco tempo para me arrepender. Entrei no quarto de Lucas um pouco assustada em como ele reagiria a mim, mas todos os meus esforços para me manter próxima ao meu filho me ajudaram. Ele ficou um pouco receoso no começo e não queria se aproximar de mim,mas ele reconheceu e queria ir comigo. Eu o levei tendo o cuidado para que ele não visse a mulher morta e corremos para a floresta.

Finalmente eu e Lucas estávamos sozinho. Não importava os problemas que viriam, eu cuidaria do meu filho, a coisa mais importante do mundo para mim. 

É difícil cuidar de um filho sem o pai, quando descobri que Gabriel havia se entregado a policia. Fiquei imaginando como Lucas reagiria comigo caso eu o matasse de verdade. Mas a sede de vingança ainda não tinha desaparecido. E todas as noites, Lucas me questionava,e queria conhecer o mundo que eu verdadeiramente habitava.  Queria morar eternamente com a Mãe.

Ardwright havia me alertado.  E eu havia aceitado reerguer sobre a terra.  E uma noite em que Lucas dormia, ele tossiu quando agarrei sua garganta com as mãos. Meus dedos frios com unhas quebradas cortando sua carne, deixando marcas profundas.

A ideia de ver Lucas crescer e se tornar talvez uma vítima do Pai quando jovem, já me perturbava há meses. Lucas não reagiu. Ele dolorosamente se apagou para a vida e sabia que nós acordaríamos juntos para a eternidade.

Deixar minha sombra na terra e viver plenamente minha outra metade junto ao meu filho não tinha preço. E esta outra metade, chorou ao vê-lo partir, sorriu para Gabriel, ele seria atormentado por toda sua vida.

Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ By Elyven