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Mors Immortalis

Iniciado por B.loder, 25/05/2013 às 01:15

25/05/2013 às 01:15 Última edição: 29/05/2013 às 18:02 por B.loder


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Esquartejamento -6º Capítulo
   Passamos alguns dias na estrada, apesar de sempre conversarmos, estava sendo tedioso esperar ali sem fazer nada. Quando finalmente chegamos saí do trailer com alívio e observei atentamente o local. Estávamos nas proximidades de um pântano, ali o cheiro já era suficientemente desagradável. A grama estava molhada e havia muita lama, era difícil distinguir onde estava alagado e onde não.
   Pegamos as caixas e fui seguindo ele, esperando que soubesse por onde andava. Os sons de grilos e sapos davam ao clima o tom certo de desolação. Atravessamos boa parte do local sem maiores problemas, então chegamos a uma canoa parada à beira de um lago. Ao lado desta encontrei três tijolos de concreto.
   Ele pegou uma corda que deveria estar ali e amarrou com incontáveis nós as caixas ao concreto, garantindo que a corda não cedesse. Quando todas estavam bem preparadas ele se virou para mim, até então estava tão concentrado no movimento metódico que pareceu se espantar ao perceber que estava ali.
   - E a cabeça? - perguntei, vendo que ele se voltara para as caixas.
   - Nós vamos ficar com ela, por garantia.
   - Ele... Morreu?
   - Não seja tolo, se fosse tão simples todos já teríamos cometido suicídio. Ele vai ficar inconsciente até que as partes vitais se conectem novamente.
   - E como você sabe que não vai quebrar a caixa ou algo assim?
   - Eu já fiz testes, é difícil definir algo como sangue capaz de flutuar de volta ao corpo ou braços que te seguiriam por milhas, mas não impossível - ele parecia orgulhoso. - Enquanto um membro tenta voltar ele exerce força sobre as coisas, em meus experimentos constatei que não é uma força muito poderosa, não conseguiria, por exemplo, levantar um tijolo de concreto.
   - Então ele vai dormir até tudo isso ser destruído pelo tempo?
   - Basicamente, mas até aquele cofre ser deteriorado... Talvez ele acorde em alguns milhares de anos.
   Ajudei a colocar tudo em cima da canoa, subimos e remei até o meio do lago. Pegamos as caixas e jogamos, eram cinco ao todo. Quando lancei a última senti-me estranho, não sabia como entender o que acabara de fazer ou o que pensar disso. Voltamos para a margem e entramos no veículo sem falar.
   - E agora?
   - Você vem comigo para Nova Iorque, a cidade é tão bagunçada que ninguém repara no velho que vive no apartamento há cem anos. Você se lembra de Ben?
   - Acho que sim, era aquele ruivo?
   - Esse mesmo. Quando chegarmos lá vou pedir um favor a ele, isso vai melhorar a sua situação.
   Assenti e voltei para o fundo do trailer, imaginando que teria de passar muito mais tempo viajando. Decidi não pensar sobre o que fizera. Pensar sobre tudo nunca me deixara feliz, nunca ajudou a mudar minha vida, apenas sobreviveria sem me preocupar com nada por algum tempo, isso não deveria fazer mal.
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Imortalidade -1º
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   A pior parte é ver todos ao seu redor morrerem, a dor pode tentar tirar sua lucidez, mas o tempo cura tudo e aqueles que discordam simplesmente não esperaram tempo suficiente. Após algumas décadas os rostos de seus pais, amigos e irmãos se tornam vultos irreconhecíveis, a memória destes já é ignorada por sua mente e deixada de lado.
   É até irônico como essa é uma das únicas memórias que jamais perderei, e ao mesmo tempo a que eu não consigo recordar. Éramos um grupo de vinte, o mais jovem era Edard, deveria ter seus dezessete anos e todos se perguntavam por que ele estava ali.  Recebemos uma ordem bastante simples, desbravar quanto conseguíssemos e voltar vivos para contar o que aguardava ali.
   Consigo me lembrar dos três dias que passamos na mata, rezando para não encontrar nenhum indígena ou animal perigoso. Não aconteceu nada demais nesses dias, diria até que foi tedioso, mas no quarto dia a situação mudou muito, e é nesse ponto em que minha memória acaba. Não sei o que aconteceu, mas uma semana depois acordei e estava de volta à Londres, nos braços de minha Chelsea.
   Após nos reunirmos novamente, ninguém conseguia lembrar o que acontecera, então tentamos seguir normalmente com nossas vidas, tudo correu sem qualquer acontecimento estranho por bastante tempo. Era tarde da noite, todos já estavam dormindo e ouvi alguém bater à porta de minha casa.
   Abri e era Edard, seu rosto estava assustado e gaguejava, havia sangue em seu peito, a blusa branca de seda estava manchada com vermelho. Só podia pensar que ia morrer ali, uma facada no peito era o suficiente para matar qualquer homem, estava surpreso por ele ter chegado ali antes de dar o último suspiro.
   Abri sua blusa para ver o ferimento. Peguei água para ele, sem entender o que ocorrera, estava curioso e assustado, nem sequer uma cicatriz sobrara. Ele levou algum tempo para se recompor e explicar que fora assaltado, que tentaram matá-lo.
   Parecia uma mentira idiota, ele mostrou cortes em suas roupas, mas aquilo não me convencia não havia sangue algum no tecido, e ficava mais preocupado com a sanidade dele e com minha segurança. Retirou um canivete do bolso e meu coração disparou, já me afastava com medo de o que ele faria.
   Fez um corte na mão, o sangue caiu e manchou o tapete que ficava na sala. Seu rosto estava imóvel, era cético quanto ao que ocorreria. O sangue pareceu flutuar do tapete até sua mão, então o corte se fechou com perfeição. Ficamos ali parados, sem saber como reagir.
   Com o tempo acabei descobrindo que eu também tinha essa habilidade, e ao final de bastante pesquisa descobrimos que todos os vinte homens que estavam lá naquele dia também se tornaram imortais. Isso não gerou problemas por algum tempo, pudemos viver em paz, mas logo as pessoas notariam.
   Acabei me mudando para a América com minha mulher, não tentava de fato descobrir o que acontecera, mas estar ali perto e imaginar que em algum momento talvez pudesse entender, me acalmava. Vivemos em uma casa isolada até ela morrer. Os eventos que ocorreram durante duzentos anos me levaram a tomar a decisão de matar cada um dos homens que entraram naquela floresta comigo.
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Depressão -2º
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   Muitos imaginam como seria viver eternamente, a imortalidade é o desejo de muitos homens, quando se imagina uma sociedade imortal e estagnada, sentimos certa felicidade ao ver nossos parentes não precisarem se preocupar com a lenta praga da morte, mas a situação nunca pertence ao ideal, há sempre problemas.
   A sociedade mantinha constantes mudanças, as novas tecnologias faziam o mundo se mover cada vez mais rápido, quando se vê a televisão como artigo de luxo e em algum tempo descobre que homens já pisaram na lua, a sensação é no mínimo estranha, você se sente deixado para trás, sente-se um retrógrado.
   As sensações de ver valores que pregávamos para nossas crianças serem deixados para trás afetou mais alguns que outros, mas acima de tudo, isso alterou o íntimo de alguns de nós. A primeira vez que decidi agir foi ao ver uma notícia na televisão, falava sobre um homem que assassinara a irmã de uma mulher numa cidade vizinha.
   Disse que ao chegar em casa o marido lutou contra este, pegou a arma na gaveta da cozinha e atirou três vezes, o estranho estava caído morto no chão, mas sem explicação ele levantou e fugiu. Reconhecia esse incidente, já acontecera antes quando tentaram me assaltar em uma viela, acordei alguns minutos depois, enquanto estavam levando o corpo, a reação deles foi no mínimo engraçada.
   Matara os dois e não ressentia, após ter feito isso imaginei se todos os outros conseguiam matar sem sentir peso na consciência. Decidi que iria procurar por quem quer que tenha feito aquilo, ele estava em uma cidade próxima, então seria mais fácil encontrá-lo, porém, ainda seria suficientemente difícil fazê-lo, reconheceria seu rosto, mas ele poderia estar em qualquer lugar.
   Eu andava com uma arma de fogo, algumas balas e uma espada japonesa que os jovens chamavam de "katanas". A única forma efetiva de se livrar deles era cortar em pedaços e espalhá-los por toda parte, garantindo que não pudessem se reconstituir.
   Sentia-me um traidor, tentando eliminar aqueles poucos que passaram pelo mesmo. Precisava lembrar de que era a atitude sensata, a grande maioria deles já devia ter se tornado um assassino, alguns pareciam ter se ligado à máfia e os outros eram simples desabrigados que roubavam e matavam sem muita preocupação.
   Peguei um trem para a cidadezinha, o tamanho dela provavelmente ajudaria quando tivesse que procurar por uma pessoa no território vasto de toda uma cidade. Procurei nas casas abandonadas, eu tinha ficado em várias enquanto pensava no que faria com a imortalidade que recebera. Parei em uma casa de dois andares, era feita de madeira e fora desgastada pelos anos, sentei em uma cama de casal no quarto e fiquei pensando.
   Por que eu estava fazendo aquilo? Não era minha obrigação me livrar deles, eu simplesmente tinha decidido que iria fazê-lo porque meus objetivos estavam esgotados, não sentia mais desejo de fazer absolutamente nada, passar tanto tempo simplesmente sobrevivendo havia tirado de mim todo o ânimo humano, aquele que me fizera por muito tempo continuar caminhando mesmo entre a névoa.
   Deite-me, era noite e sentia sono. Sentia-me vazio, não me importava com ninguém, não tinha objetivos, simplesmente existia e estava ali para ver a morte consumir a vida com o passar dos anos. Pensei em tentar entender o que acontecera, mas nada explicaria o que aconteceu naquela floresta enquanto homens vagavam por ela inocentemente.
   Tentei lembrar daqueles que conhecera, provavelmente não se pareciam em nada com o que foram, com aqueles que encontrou quando voltaram para Londres. Provavelmente todos já haviam tentado cometer suicídio, eu havia tentado sete vezes até então, mas nada funcionava, fechou os olhos e tentou ignorar o vazio que crescia em seu peito e dominava seu pensamento completamente.

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Parceria -3º
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   Passei duas semanas na cidade, procurando por alguém que nem sabia se estaria lá. A angústia em meu peito crescia, já fazia anos que eu sobrevivia assim, procurando por algum objetivo, algo que me fizesse continuar andando a despeito de tudo. Usei a maior parte do meu tempo nos poucos bares da cidade, eram cinco e estavam posicionados em todos os cantos.
   - Samuel?
   A voz lembrava um homem cansado, e só quando me virei consegui recordar seu rosto. Não conseguia dizer seu nome, mas o conhecia, era um dos homens que estavam naquele dia comigo. Tenso, levei a mão até o bolso, ninguém parecia perceber o que acontecia ali.
   - Acertei? - perguntou com inocência.
   - Como?
   - Seu nome é mesmo Samuel? Faz tanto tempo que não tenho mais certeza.
   Seu cabelo era negro e tinha alguns fios brancos nascendo. Sua pele não aparentava ser velha, deveria ter seus quarenta anos quando adentramos na floresta. Usava uma calça jeans e uma blusa sem estampa, seu rosto era caridoso.
   - Sim, eu sou Samuel, qual era seu nome?
   - Ah, sim, eu sou Cameron, lembra-se de mim?
   - Eu me lembro dos rostos, só esqueci os nomes - comentei.
   - Foi você?
   - Hm?
   - Matou a mulher que apareceu no jornal...
   - Não, achei que tinha sido você - pensei um pouco. - Por que está aqui?
   - Eu vim me livrar dele, nossa exposição é um perigo.
   - O que quer dizer com isso?
   - Eu tenho um trailer parado aqui perto, gostaria de ir até lá comigo?
   Ponderei. Todos nós havíamos mudado muito com os anos. Pedi que dissesse onde estava estacionado, precisaria pegar minhas coisas antes de entrar ali, era minha garantia. Fui até a casa abandonada onde havia escondido a espada e uma mochila com roupas sujas que eu carregava. Procurei pelo trailer com cuidado.
   - Entre - abriu a porta quando bati. - Eu gostaria de conversar com você.
   - Roubado?
   - Não, eu não faço essas coisas, eu comprei esse trailer.
   - Como?
   - Quando eu percebi que não estava envelhecendo, lembrei que desde minha infância até a fase adulta o preço do ouro aumentou muito, eu guardei tanto ouro quanto pude e vendi parte por uma pequena fortuna pouco tempo atrás. Achei que todos teriam essa ideia.
   - Não - senti-me burro. - A maioria só estava preocupada em esconder isso.
   - E por isso eu agradeço, vamos conversar sobre meu objetivo aqui.
   - Achei que queria se livrar de quem matou a mulher.
   - Sim, mas por quê? Assassinos andam por aí todos os dias, um de nós matar alguém não é nada demais, eu só tenho um problema com isso - ele ofereceu uma bebida. - Se algum de nós acabar expondo esse probleminha... Bem, a ciência não pode por as mãos em um de nós, isso seria um perigo.
   - Não acho que a imortalidade seria tão ruim se não tivéssemos que ver o mundo avançar e ficarmos para trás, se todos fossem imortais...
   - Ambos sabemos que não funciona assim - seu rosto estava frio. - O vazio, após alguns anos todos nós, invariavelmente, deixamos de viver. Sobreviver é para aqueles sem intelecto, para animais irracionais, para nós simplesmente sobreviver é doloroso. Facilmente todos nós seríamos diagnosticados com depressão. Imagine se algo assim ocorresse ao mundo inteiro.
   - Colocando desse jeito... Mas qual é o seu objetivo então?
   - Eu vou dar um jeito em todos os que se expuserem demais - já havíamos tomado algumas canecas de cerveja. - É por isso que estou aqui, e você, por que está aqui?
   - Eu planejava virar um justiceiro ou algo assim, acabar com os imortais que estivessem causando problemas... Mas como você disse, é só mais um assassino, não preciso caçar ele por isso... Incomodaria se eu ficar aqui por mais algum tempo?
   - Pode dormir aqui, não tenho que me preocupar com você me matar enquanto durmo ou algo assim - sorriu claramente afetado pela bebida. - Se quiser, podemos nos ajudar para encontrar esse cara, se ele tiver saído da cidade não preciso me preocupar com a exposição por hora, mas se ainda estiver aqui, teremos problemas.
   Enquanto estava deitado observando o telhado do trailer, ponderei sobre o que estava fazendo ali. Em momento algum parecia ter passado pela minha cabeça qualquer dúvida sobre confiar ou não em Cameron, eu mal o conhecia. Ele era inteligente, também não confiaria em mim sem motivo.
   Peguei a arma em meu bolso e coloquei na mão, deixei-a sob o travesseiro e dormi com o braço ali, apenas como precaução. Tentando entender porque decidira confiar nele, percebi que não confiava, apenas era confortável estar com alguém que conhecia após tantos anos vivendo isoladamente. Eu estava agindo como um filhote, não podia me permitir agir assim, de agora em diante deveria ser cauteloso.
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Notícias -4º
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   Acordei quando a porta do trailer se fechou, ele entrou e sentou-se à mesa, tomou um jornal e ficou lendo em silêncio, fiquei quieto. Ele pareceu não se importar quando levantei e fiquei parado ao seu lado, prestando atenção às figuras e sem me importar tanto com o que estava escrito.
   - Eu passei na delegacia hoje - entregou-me uma folha. - Você disse que lembra do rosto de todo mundo, é um de nós?
   Observei com cuidado, era um retrato falado não tão bem desenhado, e alguns traços mal feitos dificultavam o trabalho de reconhecimento. Levei algum tempo para conseguir recordar os traços do rosto, eram joviais.
   - Eddard - respondi, ele assentiu sem tirar os olhos do jornal.
   - Então ele é um de nós, você conhecia?
   - Conversamos um pouco, não éramos grandes amigos ou algo assim...
   - Ele tinha algum problema? Qualquer coisa que nos ajude a identificá-lo.
   - Acho que... Ele bebia muito. Mas faz uns duzentos anos, ele deve ter mudado.
   - Ele está em uma cidade pequena, apostaria que vamos encontrá-lo em um bar.
   - Acho que não, eu fiquei em bares por muito tempo antes de você aparecer.
   - Quantos bares tem nessa cidade?
   - Eu encontrei cinco.
   - Você não estava em todos ao mesmo tempo, estava?
   - Passei a maior parte do tempo naquele de ontem.
   - Ele não entraria ali, o lugar estava lotado, qual deve ser o bar menos frequentado?
   - Tem um na saída da cidade, não tem muitos fregueses.
   - Então hoje nós vamos acampar lá, se em uma semana ele não aparecer, entenderei que ele saiu da cidade.
   - O que você pretende fazer se ele tiver desaparecido? - ele desviou o olhar do jornal por alguns segundos e me fitou.
   - O que você andou fazendo? O que te manteve entretido por esses anos?
   - Bem... Nada em particular.
   - Você está sofrendo de depressão - pareceu me examinar. - Se ele não estiver aqui você vem comigo, se mais alguém aparecer vou precisar de ajuda - sorriu. - E eu também já estava ficando solitário, vai ser bom ter alguém por perto.
   - Acho que isso serve - tentei não parecer tão feliz quanto estava. A depressão que me consumia desaparecera por alguns instantes.
   Um aperto de mão. Ele voltou ao jornal e ao terminar de lê-lo pegou um notebook, alternou entre várias páginas de notícias. Achei interessante como ele se era fascinado pelas notícias e dificilmente se distraia, mas após os dois dias que passei ali percebi que era costumeiro, e continuamos indo ao bar para esperar.
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Assassinato -5º
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Assassinato -5º Capítulo
   Já visitávamos o bar pela terceira vez seguida e os frequentadores começavam a se perguntar o que estávamos fazendo ali. Era uma noite fria e usávamos casacos, eu sempre deixava a espada escondida fora do local, se precisasse enfrentar Edard ela estaria ali, e não teria que entrar no bar carregando-a. Não há forma discreta de se carregar uma espada de um metro.
   Tomamos alguns canecos de cerveja e conversamos sobre o pouco que nos lembrávamos dos anos seguintes à quando nos tornamos imortais. Ele não recordava tanta coisa, eu falei de minha mulher e sobre como descobrimos que o jovem era imortal, ele ficou surpreso com minha boa memória.
   - Talvez seja por isso que está demorando a se adaptar, precisa esquecer algumas coisas.
   - Talvez seja - meneei a cabeça.
   Ouvimos o ranger da porta, mas nenhum de nós estava de fato animado para procurar se era ele ou não. Olhei por trás do ombro de relance e não consegui identificar a pessoa, então levantei e fui até a mesa em que ele estava, dei um tapinha em costas e já preparava para pedir desculpas e dizer que pensei ser alguém quando nossos olhos se encontraram.
   - Sam... Samuel? - assenti. - Que coincidência, o que você está fazendo aqui?
   Só então percebi que estava prestes a matar ele, eu estava sendo recebido amigavelmente pela pessoa que ia assassinar. Ele fez um gesto para me sentasse à mesa, recusei e acenei para que me seguisse, saímos do estabelecimento e Cameron saiu logo depois, nos seguindo.
   Edard só percebeu que estávamos sendo seguidos quando cheguei perto da espada, não disparar tiro algum seria a coisa mais inteligente a se fazer. Desembainhei e apontei-a para seu pescoço, ele suou frio e tremeu um pouco.
   - O... O que está... Por quê?
   - Você é uma ameaça - Cameron disse, poupando-me a resposta. - Sentimos muito, mas teremos que te matar.
   - Ah - disse com desdém. - E como pretendem fazer isso?
   - Essa parte você não precisa saber.
   Ele tirou a arma do bolso e deu um tiro no meu braço, a dor fez deixar a espada cair e ele aproveitou o momento para correr. Ouvi mais um disparo, ele estava caído no chão, contei aproximadamente dez segundos até meu braço se recuperar completamente. Peguei a espada e fui a sua direção.
   - A cabeça, rápido - Cameron gritou.
   Corri até o corpo caído e dei um golpe, o pescoço ficou aberto com o corte, mas tive que deferir outros ataques, tentando tirar a cabeça do corpo, e assim garantir que ele não acordaria tão cedo. Finalmente retirei-a, o sangue que estava espalhado já se concentrava no corpo e sentia a cabeça tentar voltar para o corpo.
   - Como vamos fazer isso? - perguntei.
   - Temos que levá-lo para o trailer.
   Carregamos o corpo, eu tinha que manter o tronco longe do cérebro para garantir que ele não acordasse. Ao chegar ele pegou um cofre e guardou a cabeça dele, assim não teríamos muitos problemas com ele voltando à vida novamente. Ele pegou uma faca e esquartejou. Primeiro senti nojo, mas logo não me importava mais, o sangue se mantinha junto aos membros e tudo ficava limpo.
   Colocou as partes separadas em caixas para que a reconstituição não ocorresse e falou que faríamos uma viajem. Sentei e observei a estrada enquanto partíamos no escuro, imaginando se havia feito a coisa certa, e se deveria mesmo confiar em Cameron. Nos últimos dois dias, conversamos bastante e algo me levava a crer que ele merecia minha confiança, na pior das hipóteses, deixaria ele me tirar daquela cidade.
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Esquartejamento -6º
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   Passamos alguns dias na estrada, apesar de sempre conversarmos, estava sendo tedioso esperar ali sem fazer nada. Quando finalmente chegamos saí do trailer com alívio e observei atentamente o local. Estávamos nas proximidades de um pântano, ali o cheiro já era suficientemente desagradável. A grama estava molhada e havia muita lama, era difícil distinguir onde estava alagado e onde não.
   Pegamos as caixas e fui seguindo ele, esperando que soubesse por onde andava. Os sons de grilos e sapos davam ao clima o tom certo de desolação. Atravessamos boa parte do local sem maiores problemas, então chegamos a uma canoa parada à beira de um lago. Ao lado desta encontrei três tijolos de concreto.
   Ele pegou uma corda que deveria estar ali e amarrou com incontáveis nós as caixas ao concreto, garantindo que a corda não cedesse. Quando todas estavam bem preparadas ele se virou para mim, até então estava tão concentrado no movimento metódico que pareceu se espantar ao perceber que estava ali.
   - E a cabeça? - perguntei, vendo que ele se voltara para as caixas.
   - Nós vamos ficar com ela, por garantia.
   - Ele... Morreu?
   - Não seja tolo, se fosse tão simples todos já teríamos cometido suicídio. Ele vai ficar inconsciente até que as partes vitais se conectem novamente.
   - E como você sabe que não vai quebrar a caixa ou algo assim?
   - Eu já fiz testes, é difícil definir algo como sangue capaz de flutuar de volta ao corpo ou braços que te seguiriam por milhas, mas não impossível - ele parecia orgulhoso. - Enquanto um membro tenta voltar ele exerce força sobre as coisas, em meus experimentos constatei que não é uma força muito poderosa, não conseguiria, por exemplo, levantar um tijolo de concreto.
   - Então ele vai dormir até tudo isso ser destruído pelo tempo?
   - Basicamente, mas até aquele cofre ser deteriorado... Talvez ele acorde em alguns milhares de anos.
   Ajudei a colocar tudo em cima da canoa, subimos e remei até o meio do lago. Pegamos as caixas e jogamos, eram cinco ao todo. Quando lancei a última senti-me estranho, não sabia como entender o que acabara de fazer ou o que pensar disso. Voltamos para a margem e entramos no veículo sem falar.
   - E agora?
   - Você vem comigo para Nova Iorque, a cidade é tão bagunçada que ninguém repara no velho que vive no apartamento há cem anos. Você se lembra de Ben?
   - Acho que sim, era aquele ruivo?
   - Esse mesmo. Quando chegarmos lá vou pedir um favor a ele, isso vai melhorar a sua situação.
   Assenti e voltei para o fundo do trailer, imaginando que teria de passar muito mais tempo viajando. Decidi não pensar sobre o que fizera. Pensar sobre tudo nunca me deixara feliz, nunca ajudou a mudar minha vida, apenas sobreviveria sem me preocupar com nada por algum tempo, isso não deveria fazer mal.
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Espero lançar um capítulo por dia, agradeço desde já a todos que leram, aguardo comentários e críticas.

To Die Is To Find Out If Humanity Ever Conquers Death

25/05/2013 às 01:30 #1 Última edição: 25/05/2013 às 01:34 por felipefalcon
Achei bem escrito conseguiu prender minha atenção durante todo o texto.
Vou esperar o resto para então saber, o por que deste objetivo, que ainda não é compreendido nesta parte, e que parece ter cometido uma fail, que acho que será explicada.

Objetivo não compreendido: Por que matar os outros homens que estavam com ele na floresta.

Fail: Se eles não podem morrer, ou melhor dizendo se são imortais, como ele matará? XD(Acho que imortais não morrem né)

Este último, acho que é algo que você irá explicar mais tarde com o resto sendo feito^^
Até, espero ver o resto.
  

Sim, esse último parágrafo é aquele em que deixo coisas à serem explicadas para tentar manter o leitor interessado mesmo que a escrita seja ruim. No mais, obrigado pelo comentário, já estou escrevendo o resto, porém ainda mantenho a ideia de postar um por dia, deixará mais dinâmico e interessante, acredito eu.
To Die Is To Find Out If Humanity Ever Conquers Death

Citação de: B.loder online 25/05/2013 às 01:37
Sim, esse último parágrafo é aquele em que deixo coisas à serem explicadas para tentar manter o leitor interessado mesmo que a escrita seja ruim. No mais, obrigado pelo comentário, já estou escrevendo o resto, porém ainda mantenho a ideia de postar um por dia, deixará mais dinâmico e interessante, acredito eu.
Oba, que interessante, prendeu minha atenção. Escreve bem bom, até um pouco poético. E fiquei ainda mais interessada nesta questão de imortalidade e talz já imagino como será alguns capítulos seguintes, eu acho. Que desafio, um capitulo por dia? Escreverá um livro? kkk Manda ver!
E Felipe Falcon, há possibilidade sim de matar imortais! Cortando suas cabeças! Nunca viu Highlander? Este conto tá bem estilo Highlander kkkk u_u

Citação de: Elyven online 25/05/2013 às 21:59
Citação de: B.loder online 25/05/2013 às 01:37
Sim, esse último parágrafo é aquele em que deixo coisas à serem explicadas para tentar manter o leitor interessado mesmo que a escrita seja ruim. No mais, obrigado pelo comentário, já estou escrevendo o resto, porém ainda mantenho a ideia de postar um por dia, deixará mais dinâmico e interessante, acredito eu.
Oba, que interessante, prendeu minha atenção. Escreve bem bom, até um pouco poético. E fiquei ainda mais interessada nesta questão de imortalidade e talz já imagino como será alguns capítulos seguintes, eu acho. Que desafio, um capitulo por dia? Escreverá um livro? kkk Manda ver!
E Felipe Falcon, há possibilidade sim de matar imortais! Cortando suas cabeças! Nunca viu Highlander? Este conto tá bem estilo Highlander kkkk u_u
Pior que eu jogo jogos que usam e abusam desta história, e já ouvi várias vezes mas nunca tipo tinha notado XD
Vlw pela informação.
  

26/05/2013 às 09:59 #5 Última edição: 27/05/2013 às 18:20 por Guilher_MakerVX
Eu li o primeiro capítulo, e gostei. Mas mesmo que você revele o porque de matar os caras, não deixou muito claro que iria. Bom, gostei da história, cara... Depois que eu for ler o capítulo 2 dou um edit. :D


EDIT/No segundo capítulo, fala sobre a depressão do protagonista, no terceiro sobre encontrar um "amigo", que podia ser um companheiro ao passar do tempo, ou talvez um inimigo. No quarto fala sobre o início do trabalho dos dois, e também uma "amizade"... Até agora foi muito bem escrito, muito bem produzida a história... Mas... Até agora os quatro capítulos não levaram à lugar nenhum. Espero que os outros tenham um pouco mais de conteúdo, mesmo sendo bem feitos, esses não estão contando quase nada da história. Mas, parabéns, é uma ótima história. XD

Desculpem não ter comentado, estava aguardando para quando lançasse a parte de hoje.

Citação de: Elyven online 25/05/2013 às 21:59
Citação de: B.loder online 25/05/2013 às 01:37
Sim, esse último parágrafo é aquele em que deixo coisas à serem explicadas para tentar manter o leitor interessado mesmo que a escrita seja ruim. No mais, obrigado pelo comentário, já estou escrevendo o resto, porém ainda mantenho a ideia de postar um por dia, deixará mais dinâmico e interessante, acredito eu.
Oba, que interessante, prendeu minha atenção. Escreve bem bom, até um pouco poético. E fiquei ainda mais interessada nesta questão de imortalidade e talz já imagino como será alguns capítulos seguintes, eu acho. Que desafio, um capitulo por dia? Escreverá um livro? kkk Manda ver!
E Felipe Falcon, há possibilidade sim de matar imortais! Cortando suas cabeças! Nunca viu Highlander? Este conto tá bem estilo Highlander kkkk u_u
Não pretendo fazer um livro, especialmente porque ele será pequeno demais para ser um. Estou, propositalmente, usando o estilo minimalista para escrever os capítulos. Também tentarei focar mais nos sentimentos e razões, e não em batalhas e cenas assim, afinal quando se é imortal, tomar uma decisão pode acabar sendo mais importante que matar alguém. Sobre como matar imortais, isso deve aparecer nos próximos dois capítulos.


Felipe, e se você morre tendo a cabeça arrancada você não é imortal, apenas tem juventude eterna. Depois você verá o que acontece ^^

Novo capítulo aí, amanhã trago mais, eu acabei tendo um sonho e vou fazer um livro sobre ele, e também tem o livro que já estava escrevendo, então se eu demorar um pouco, me desculpem xD
To Die Is To Find Out If Humanity Ever Conquers Death

Citação de: B.loder online 26/05/2013 às 19:34
[...] eu acabei tendo um sonho e vou fazer um livro sobre ele, e também tem o livro que já estava escrevendo, então se eu demorar um pouco, me desculpem xD[..][/justify]
Nunca entendi como os escritores conseguem escrever seus livros baseados em seus sonhos; e acaba escrevendo grandes Best Sellers. Nunca lembrei de meus sonhos, eu acho que eu nem sonho! kkk Boa sorte! Esteja focado! Sobre o 3 capitulo não li, lerei-o e depois posto o que achei.

Passando para avisar que lancei mais um capítulo, esse é pequeno, mas nem todos serão grandes para o desenrolar da história :P

Sobre o design, estava fuçando no tópico e gostaria de pedir a opinião de vocês. Eu achei que ficou bem melhor fora do spoiler, mas deixar todos os capítulos fora de spoiler deixaria o tópico grande demais rapidamente, acham que é viável? Também alterei a fonte e tamanho da letra, gostaria de saber se isso piorou de alguma forma a leitura.

Também manterei sempre o último capítulo no topo, também avisando qual ele é. Já agradeço a todos que estão lendo ^^

Ely: É simplesmente pegar o que você sentiu no sonho e através da escrita tentar passar isso ao leitor, não dá para ser 100% fiel ao sonho, e provavelmente terá que tapar muitos buracos que a memória deixou com a própria criatividade.
To Die Is To Find Out If Humanity Ever Conquers Death

Eu não estou comentando mas eu estou lendo viu.

Achei o fato de eles se "tornarem" amigos rápido demais, e também tirando que se ele tentou de suicidar 7 vezes...

Por que ele não pediria para este amigo dele matar ele?(Mas aí não teria uma história né, então isto não tem sentindo XD)
  

Quinto capítulo publicado.

E felipefalcon, eu só queria saber o que acharam do design mesmo, e não precisa comentar sempre :p
To Die Is To Find Out If Humanity Ever Conquers Death

Li o quinto e sexto capítulo, e gostei. Agora sim está ficando bom... O personagem ganhou um rumo, você explicou um pouco sobre os imortais... Não tem muito o que comentar, no geral está bom. XD

Obrigado pelo comentário Guilher Maker.
Seguinte, se alguém quiser ser avisado por pm quando eu lançar novos capítulos - para assim não ficar fazendo double posts. - comente aqui e eu enviarei sempre que lançar um novo o/
To Die Is To Find Out If Humanity Ever Conquers Death

30/05/2013 às 00:18 #13 Última edição: 30/05/2013 às 14:10 por VincentVII
Vejo que ainda está mantendo o estilo minimalista (é assim que se escreve?). Como eu já tinha dito, preferia uma coisa mais detalhada, mas cada um como seu estilo!

Agora, a partir dos capítulos 5&6, parece que vai ter mais ação, não é? Só teve uma coisa que não entendi direito,  não da pra matar os caras então? Porque fatiaram o lorde Stark ali, mas você diz que ele acordará em uns milhares de anos. Então, se cortar o cara em pedacinho ele morre ou não morre?

Anyway,

Queria só fazer uma recomendação, aumentar esse período entre postagens. Só pra dar mais tempo de você maturar as ideias!

P.S: Fique ciente que, na primeira oportunidade, eu vou explodir o seu tópico que, ao contrário do meu, não resolve sacanear o autor e ficar sumindo com os capítulos!  :malvado:

Viva a lenda!



Gostaria de avisar que a partir de agora a história não terá publicações diárias, e isso se dá por duas razões: primeiro, eu pretendo deixar o estilo minimalista que utilizei no que considero a introdução, então levarei mais tempo para escrever. Segundo, estou agora trabalhando em uma história de quatro capítulo e só voltarei a escrever o Mors Immortalis ao finalizá-la. Garanto que não desistirei dessa história, ainda há vários acontecimentos por vir nela, e não permitiria que morresse assim. Se alguém quiser ver o outro texto, pode verificá-lo aqui: Sonhos Perdidos
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