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Oportunismo ou Recompensa? Eis a dúvida quanto à comercialização de jogos maker

Iniciado por Kazuyashi, 17/01/2014 às 13:53

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Texto por Kazuyashi
Logo por Uhtred
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[box class=windowbg2]Constatações
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Há algum tempo, a revista eletrônica iMaker, coordenada pelo membro [user]Fbu[/user], publicou, em sua terceira edição, um artigo que fala sobre projetos duvidosos de RPG Maker financiados no Kickstarter. Projetos esses de qualidade totalmente questionável, mas que ainda assim fizeram seus desenvolvedores embolsarem quantias exorbitantes de dinheiro quando comparadas ao que ofereceram em troca. Esta constatação aponta, ainda que de modo nebuloso, para uma forte tendência no cenário da criação de jogos independentes: a tendência que diz respeito à comercialização e ao lucro com jogos amadores completos ou em desenvolvimento.

O presente artigo, independentemente da qualidade que tais jogos possam ter, e independentemente do quão extenso seja a abrangência deste assunto, desconsiderará todos os desdobramentos possíveis e restringirá seu alcance apenas aos jogos de RPG Maker. Propor-se-á, também, a direcionar os olhos — longe, é claro, de tecer qualquer opinião conclusiva — para uma questão que talvez valha a pena ser debatida: a questão de até que ponto a comercialização de jogos produzidos no RPG Maker é sadia e quais seriam os limites da tênue linha que divide, nestes casos, o oportunismo da recompensa.
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[box class=windowbg2]Definições
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Antes de tudo, é necessário definir os dois termos trabalhados aqui. O primeiro, oportunismo, de acordo com o dicionário, significa a "tendência ou aptidão para aproveitar as oportunidades ou as circunstâncias, normalmente sem preocupações éticas"; o segundo, recompensa, é apresentado como "prêmio dado em reconhecimento de um serviço, favor ou boa ação". Em outras palavras, o primeiro diz respeito ao ato de um indivíduo se favorecer inescrupulosamente de uma situação, enquanto o segundo também diz respeito ao aproveitamento da situação por parte de um indivíduo, mas este colhendo apenas o que lhe é de direito, como recompensa pelo trabalho prestado, e agindo conforme manda a ética.[/color]
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[box class=windowbg2]Comercialização: da Digerati aos tempos atuais
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Trazendo-os ao tema, estes termos representam dois lados opostos de algumas moedas. Dentre eles: o lucro e o não lucro; o lucro em termos materiais e o lucro em termos pessoais; ou, ainda, o lucro financeiro exacerbado e o lucro financeiro módico. Não importa qual desses exemplos seja aplicado, todas essa dualidades vêm desempenhando, hoje, um papel significativo na pós-produção de jogos de RPG Maker. Perguntas como "devo ou não lucrar com meu jogo?"; "será que só a satisfação de tê-lo concluído e ver outros o jogando não me é suficiente, e eu preciso comercializá-lo?"; "se sim, qual valor devo cobrar?" são frequentes, e parte dos utilizadores da ferramenta se encontra diante destes impasses.

Tais dilemas, contudo, apesar de estarem em voga, não são frutos de um fenômeno tão recente quanto se pensa. Ainda que catalisados pela divulgação em "vitrine" que sites como Steam e o próprio Kickstarter proporcionam, estes não são precursores na comercialização dos jogos aqui no Brasil. O que é novo é a forma de comércio e o despertar dos desenvolvedores para ela — o que antes não havia —, mas não a venda e o lucro de fato. Eles já se faziam presentes nove ou dez anos atrás. Prova disso é que a maior parte dos veteranos que utilizam a ferramenta, por exemplo, conheceu-a por meio de um comércio.

Tutoriais, jogos, recursos e a própria ferramenta RPG Maker eram extraídos das comunidades e sites do passado, como Maker Universe e Casa dos Jogos, gravados — às vezes de forma inescrupulosa — em um CD-ROM, empacotados com uma revista e vendidos nas bancas de jornal de todo o país. A verba arrecadada com a venda, no entanto, não era repassada aos criadores que tiveram seus conteúdos originais depositados no produto, e pouco faziam ideia que seus trabalhos estavam nele. Inclusive, se os próprios não se dessem autoria no que divulgavam, sequer eram creditados.
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[hs width=320 height=240]http://i.imgur.com/2h0BPHF.png[/hs]
Legenda: Um dos CDs vendidos pela Digerati. Créditos da foto: Kazuyashi

Além do modo suspeitoso de agir da empresa, e a despeito de os CDs da Digerati terem sido responsáveis por parte da projeção da ferramenta no território nacional, também era ilegal por comercializar o RPG Maker como se ele fosse a versão original — embora não deixassem isso claro —, licenciada, quando, na verdade, na passava de uma versão pirata, traduzida sem fins lucrativos por outros desenvolvedores. Por este olhar, a Digerati agiu com oportunismo. Viu na ferramenta um potencial de venda, embalou-a com recursos vários de modo a pouco se importar com questões éticas, e traficou-a. Tirá-la da obscuridade e ampliar seu raio de utilização foi apenas consequência deste ato.

Postura, no entanto, totalmente oposta a apresentada pelos desenvolvedores. Não havia, na época, a consciência coletiva de angariar fundos com o que quer que fosse. Eram, sob este aspecto, inocentes e que priorizavam o hobby e a diversão acima de tudo. Não viam o comércio e o lucro como uma opção e somente agiam em prol da recompensa pessoal. Muito disso, talvez, pelo fato de não existirem meios tão eficazes de divulgação e nichos suficientemente desenvolvidos para comercialização, entretanto, ainda que houvesse, provavelmente poucos ousariam vender seus trabalhos.

Nos tempos atuais, todavia, este tipo de comércio findou. A divulgação física virou démodé e as vitrines virtuais tomaram espaço. Com elas, a própria empresa responsável pela criação do RPG Maker, ASCII/Enterbrain, facilitou a aquisição da ferramenta original e muitos desenvolvedores brasileiros aproveitaram para adquiri-la. Para estes, ainda que alguns ajam com oportunismo e outros ajam movidos pela recompensa, estão, ao optarem pelo comércio de seus jogos, de certa forma protegidos pela lei — exceto, talvez, quando utilizam recursos de terceiros. Mas há aqueles que utilizam a ferramenta "com tapa-olho" e buscam os mesmos resultados, o que claramente não demonstra uma postura lá tão ética.

A questão é: independentemente de possuírem ou não a licença, agem esses desenvolvedores, assim como a Digerati agiu no passado, com oportunismo? Ou só buscam a recompensa pelo bom trabalho que fizeram? Afinal, há jogos produzidos com tanto esmero e originalidade que alguns poderiam considerar ser quase um "crime" não comercializá-los. Isto faz levantar outra questão: independentemente da originalidade que tais jogos possam esbanjar, não deveriam se considerados os jogos produzidos no RPG Maker apenas como um hobby, um passatempo, feito de jogador para jogador e sem fins lucrativos? Ou abandonou-se por completo a visão nobre sobre isto, se é que um dia ela foi nobre? Talvez ainda seja cedo demais para que alguém as possa responder ou inferir com certeza. Vive-se no olho do furacão das transformações. O processo ocorre gradualmente e só estabilizará no decorrer dos anos. A despeito disso, há alguns sinais de oportunismo e outros de recompensa evidentes. Independentemente de qual prevalecerá, talvez somente o tempo seja capaz de nos fazer afirmar algo com contundência.
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Ótima materia gostei muito, esse e um assunto que tem repercutido muito no mundo maker atual.
Eu até pensei em postar um projeto que estou desenvolver (comercialmente) no kickstarter mais achei que não era a hora correta ainda quero desenvolver mais um pouco depois ver como o publico fica perante ao projeto (ainda tenho um longo caminho a percorrer), mais obrigado por essa materia interessantíssima Kazu.
Aquele abraço meu parceiro.

Takkun!~

Valeu pela presença e pelo comentário, Takkun! (Vou ver se acostumo a te chamar assim agora, rs) Fico feliz que tenha gostado. E é mesmo. É um assunto que vem sendo debatido pacas. Achei que seria uma boa escrever sobre. E é isso aí, cara. Kickstarter e Steam são o futuro. Boa sorte com o projeto! xD

Obrigado novamente e um grande abraço!

 Digerati, mesmo fazendo coisas ilegais, se não fosse por eles, eu não estaria aqui agora.

Gostei da matéria, parabéns Kazu, voltando com tudo para a redação. Como o Faalco (sim, te chamarei assim xD) disse, é um assunto bem comentado atualmente, vai depender de cada um escolher entre o oportunismo e a recompensa. Acredito que deveriam ter limites sim na questão da comercialização dos jogos no RPG Maker, pelo que vi no site do Kickstarter, os jogos ou projetos quem nem chegam a ser lançados são feitos nas coxas, o que estraga a imagem do RPG Maker de ser uma boa engine para criação de jogos e de quem usa.

Projetos como o do Sinchross deveria estar no lugar desses.

2010 ~ 2016 / 2024

Eu tenho esse e outro cd aqui, eles até mudavam o nome dos jogos. O do Rygar no cd é Rygar and the king's knights.


CitarO que é novo é a forma de comércio e o despertar dos desenvolvedores para ela (...)

Esse trecho descreve bem a situação atual do Kickstarter, do Greenlight e de uma penca de outros sites de crowdfunding. A impressão que se tem é que antigamente, quando não se tinha o prospecto de criar um jogo e vendê-lo, coisa que era difícil justamente pela distribuição se dar em mídia física, os autores gastavam muito mais do que umas poucas horas na criação dos seus projetos e o dobro do tempo para finalizá-los. Ou seja, a ânsia de lucrar era substituída - em alguns casos, não todos - com dedicação e capricho. Antes mesmo dos fóruns tomarem as dimensões que têm hoje, muita gente abria o maker com o intuito de fazer um jogo simples, algo que pudesse mostrar para a família e os amigos.

Esse processo de aprendizado, caracterizado por tentativa e erro, é o que falta hoje em dia. Afinal, boa parte dos projetos que se vê nesses sites, parece ter simplesmente pulado essa etapa e, sem filtragem e autocrítica nenhuma dos autores, ido direto para a divulgação, para a parte de atrair o público. Enfim, o acesso fácil à licença original e uma plataforma de distribuição ampla, como são a maioria dessas vitrines que lidam com mídia digital, acabou despertando esse lado oportunista dos desenvolvedores. O que resta mesmo, já que não dá pra tentar meter juízo na cabeça alheia a força, é tentar separar o joio do trigo.

Ótima matéria, a propósito.

[user]Vash[/user]
Campeão! Você por aqui!  :wow: Obrigado pela presença e pelo comentário, cara. E é verdade. Se não fosse a Digerati, muitos makers não estariam aqui hoje. Tudo tem um lado bom e um lado ruim. E eu concordo com você. Também penso bem parecido. Obrigado novamente pela presença! \o

Um grande abraço!

[user]Bode Fuceta[/user]
Tenho alguns CDs aqui também, mas os nomes estão corretos. De qualquer forma, não duvido nada que tenham mudado. rs

Obrigado pela presença.

[user]Yuna[/user]
Olá, moça! Primeiramente, obrigado pela presença e pelo comentário! E, nossa, eu não tenho absolutamente nada para acrescentar no seu post. É definitivamente isso. Você resumiu meu texto inteiro em dois brilhantes parágrafos, rs. Obrigado pela contribuição, Yuna. E também obrigado pelas palavras. Fico feliz que tenha gostado. Espero vê-la mais vezes nos meus humildes textos.

Um grande abraço!

Kazuyashi.

Eu cheguei a ver e presenciar o andamento de diversos projetos totalmente "zoados" no KickStarter feito com o RPG Maker, e posso dizer que é aquela coisa: "Todo trabalho deve ser recompensado", eles pensam.

Depois que apareceu uma enxurrada de pessoas alegando que todo tipo de trabalho deve ser recompensado (o que não é errado) começou uma outra onda de pessoas que acharam uma grande brecha dentro dessa alegação: O oportunismo.

Foi bem colocado tudo dentro desse texto. Muito mesmo.

Citação de: Bode Fuceta online 17/01/2014 às 17:48
Eu tenho esse e outro cd aqui, eles até mudavam o nome dos jogos. O do Rygar no cd é Rygar and the king's knights.

Rygar and the King's Knights = Rygar e os Soldados do Rei




Digerati, sua malandrinha...

Eu não acho que todo trabalho merece recompensa. Não é qualquer coisa que merece um elogio ou até um bonificação em dinheiro, principalmente esses projetos desleixados que spawnam no Kickstarter. A Yuna fez um argumento bem claro então nem vou me repetir aqui.

Boa matéria, boa matéria, Kazu!

Viva a lenda!