O TEMA DO FÓRUM ESTÁ EM MANUTENÇÃO. FEEDBACKS AQUI: ACESSAR

A Canção das Terras Escuras

Iniciado por FilipeJF, 06/11/2014 às 22:28

06/11/2014 às 22:28 Última edição: 09/12/2014 às 22:59 por FilipeJF
É uma história de poucos e curtos capítulos, os quais produzirei e postarei gradualmente aqui e em outros diversos sites. A ideia é clichê, portanto o desenrolar e elementos não. Eu estou escrevendo ela num estilo diferente, algo que nunca tentei antes... uma narrativa mais "épica", vamos dizer assim.

Faz tempo que não posto alguma coisa aqui.

Eu estou escrevendo num programa chamado FocusWriter. Recomendo pra todo mundo. Dá barulhinho de tecla de máquina de escrever! É muito legal. Além disso, ele não tem aquela tela poluída do Word. Sinceramente, ajuda muito na concentração.

Edit: Eu transformei os dois capítulos em um, fica bem melhor.

Capítulo I: Nas terras do Oeste...

Spoiler
CitarAs nuvens escuras cobriam a luz e silenciavam as terras do reino esquecido do Oeste.
Diante da caverna, corpos de cavaleiros e guerreiros desprovidos de suas identidades jaziam, abandonados e infelizes, na grama verde-musgo. No fim da trilha, uma ponte; uma vasta construção de pedra, erguida por mãos imensas de gigantes e pregadas com um toque de dedo.
A muralha, bem longe, circundava o burgo. O burgo do silêncio e morte, onde a escuridão predominava acima de tudo. Naquelas terras, havia um ciclo, um ciclo que mantinha o equilíbrio acima de qualquer coisa. Mas ele foi partido, e sua reposição nunca foi feita. Nunca poderia ser feita.
Um guerreiro ergueu-se, caído há muito no chão úmido e frio da caverna. A luz do sol jamais bateu ali. A espada estava embainha, muito afiada e limpa. Sua armadura, cheia de cortes e sujeira.
Os passos eram o som da vida. Quando tocaram o chão, o barulhou retumbou forte no ar e alcançou todo o lugar. Os passos avisaram à alguma coisa que alguém estava vivo: um novo Portador da Luz, vagando solene e decididamente na direção da ponte.
O vento era cortante e úmido. Aquele topo de montanha não estava recheado de neve, mas de cinzas provenientes de chamas antigas que tentaram por si só sobreviverem ao fim. Na encosta da montanha via-se um mar, muito quieto e azul, de água salgada cheia de histórias para contar. Afinal, aquele reino era de navegadores. Foi ali onde o inventor do navio com velas nasceu, viveu e morreu. Seu nome não era mais sabido.
Uma ponta de castelo foi revelada dentro da névoa que regia o interior da muralha. Não, não um castelo. Uma igreja, com o sino de ouro acima de todas as construções. Aquele era o burgo, não tinha um castelo ali. O Portador viu o sino. Pisou na ponte. Como era seu nome?
O ar o atirou para o lado, obrigando-o a se deitar no chão. Não tinha nenhuma espécie de cerco na ponte. Se caísse, não voltaria a subir.
Ajoelhou-se e assim seguiu adiante. Frio. Água. Silêncio. Morte. Como era seu nome?
Sua cabeça estava confusa. Ele não se recordava. Ele não tinha nada do que se recordar. Ele sabia porque estava ali, ele sabia o que teria que fazer. Ele sabia. Do que mais tinha que se recordar? Parecia ter algo.
Mas não tinha.
Um grito ressoou no ar. O vento se contorceu, as árvores se agitaram e todos os mortos pareceram estar vivos.
– Não cruze a ponte. Não terá como fazer o que veio para fazer. Muitos tentaram, muitos conseguiram. Mas nenhum lhe contou histórias. Nenhum cruzou essa ponte vindo da muralha.
O grito ressoou no ar, mas as palavras ditas não. Vinham dele próprio, achava o Portador... da própria cabeça.
Continuou a caminhada lenta em direção à muralha soberana, gigantesca e erguida também pelos temidos gigantes. Nunca vira um. Ninguém vivo o fizera. Como era seu nome?
Ventania. Deitar-se, levantar-se. Deitar-se, levantar-se. Repetia-os.
Britas surgiram no caminho. Um novo topo de montanha, terreno do burgo e de todo o reino. A mão que segurava o mundo dos que ali viveram e pereceram. O portão estava trancado...
Um rilhar barulhento e grave, seguido de uma onda enorme de poeira e britas disturbou a paz silenciosa e morta. A entrada fora liberada, e diante disso as nuvens começaram a se distanciar do sol. Um calor conhecido tocou-lhe a pele. De onde o conhecia?
As correntes de ferro no portão se soltaram. Bateram no chão, rachando-o e erguendo sujeira até o alto da muralha. Um tremor sacudiu a montanha. Foi a anunciação da chegada de mais um Portador da Luz.
Os pés se moveram, devagar. Muito devagar. Como era seu nome?
No alto, um segundo portão. Em baixo, o início de uma escadaria. Uma escadaria luminar, grandiosamente bela e imponente. A muralha pela qual passara estava partida do lado direito. Olhando adiante, por dentro da névoa que se movera naquela direção de pedra tombada, uma terceira montanha.
O Portador não se dirigiu à escadaria. Andou com a muralha destruída, lento.
Um largo pedaço de tecido encontrava-se na borda do precipício; uma elevação por baixo. Um gemido. O cinza foi jogado de lado, planando no abismo para o mar profundo.
– Mais um peregrino – a criatura revelada disse. Era uma voz grossa, incomum em algo do tamanho. – Como é seu nome?
– Meu nome... Meu nome...
– Apresento-me primeiramente, peregrino. Meu nome é Morimgor. Morimgor de Domnaill. Como é seu nome?
– Meu nome é... Portador da Luz.
– Um belo nome.
– Um belo nome. Sim.
– Por que veio, Portador da Luz?
– Eu vim para quebrar a Escuridão. Quebrar o silêncio e a morte. Trazer a Luz e a vida.
– Trazer a Luz. Eu escutei essa frase já faz tantas vezes. Eu escutei, mas ninguém o cumpre. Ninguém o cumpre, Portador da Luz, pois ninguém me olha. Ninguém. Todos passam e sobem a escada. Às vezes, falam comigo. Mas depois, sobem e não retornam.
– Eu lhe olho, Morimgor de Domnaill. O que é você?
– Eu não sou nada. Eu era alguma coisa. Eu era um gigante, peregrino Portador da Luz. Eu me lembro... Eu fui um gigante, o último. O restante. Eu não construí pontes porque eu não tinha força... eu atravessava o mar, porém; ah, eu era, Portador da Luz, o maior de muitos! Meus pés acertavam o fundo do oceano e minhas mãos as nuvens mais altas do céu... Eu fui um ser amável, Portador da Luz. Eu contei aos que passaram aqui, aos que passaram e eram como você, eu contei que eu os ajudaria. O fim da Escuridão e nascer da Luz está no horizonte que você vê por dentro da névoa fraca, peregrino, nas montanhas do sul sobre Domnaill, a Cidade Sob o Mar, a casa dos gigantes. Agora, morta. Vazia e silenciosa. Triste.
– Eu devo chegar ao outro lado, Morimgor de Domnaill. Eu devo destruir a Escuridão. É disso que...
Ele foi interrompido.
– Como é seu nome?
– Portador da Luz.
– Você sabe seu nome, Portador da Luz. Você sabe o que tem de fazer. Sua sanidade está inteira. Faça enquanto há tempo. No fim, na demora, a Escuridão destrói você, o que você é de verdade. Me resta ainda parte de minha sanidade. A Escuridão me tomou a aparência, memórias e sentimentos. Eu me lembro de meu nome, de minha origem, mas não me lembro da vida... somente do silêncio e morte.
– Eu preciso chegar ao outro lado, Morimgor de Domnaill.
– Você chegará, Portador da Luz. Mas um gigante é o único, sempre foi e será, o único que lhe levará e lhe trará. A minha alma foi tomada, a parte de minha sanidade. A Escuridão a tem. Prometa-me, Portador da Luz, você me dará a aparência e eu lhe carregarei como em tempos antigos. Eu lhe prometo.
– Eu lhe prometo.
– Você é o primeiro a prometer-me, Portador da Luz. Você o fará rápido, antes do nascer e pôr do sol em trinta dias. Esse é o tempo que a Escuridão lhe detém a sanidade completa. Se minha alma não for encontrada, traga-me um livro. Um livro sobre essa cidade, sobre seus reis e rainhas, cavaleiros e curandeiros, comerciantes e banqueiros... sobre a vida. Eu quero saborear a vida, Portador da Luz.
– Você o fará, Morimgor de Domnaill. Eu lhe trarei sua alma perdida, mas não trarei o livro. Eu lhe darei a vida propriamente dita.
Por um instante o antigo gigante fechou os olhos. Respirou fundo. Quando o ar foi expelido, sua vida de milhares de anos foi constatada. Era velho, tão velho quanto o Oeste, e vira sua raça ser dizimada pela Escuridão. Suas memórias eram ouro e seu tempo de vida uma eternidade.
Os olhos se abriram. A cor era distinta, de um amarelo forte.
– Mais um peregrino. Como é seu nome?
O Portador da Luz recuou e deu as costas ao antigo gigante. Em voz baixa, disse para que a criatura o escutasse:
– Feche os olhos, Morimgor de Domnaill. Feche-os. Quando eu chegar, estarei com sua alma. Neste momento você abrirá seus olhos e tocará o céu com a mão.
A criatura fechou os olhos, obediente, e só abriria quando sua alma ali estivesse.
Pedras, estilhaços. A escadaria estava quebrada. Desviava, pulava. No térreo, na beira do abismo, o gigante de tempos remotos dormia.
Um novo portão: grades firmes, mas não invencíveis, sabia o Portador da Luz. Um minúsculo tornado de poeira varreu o local bem à sua frente. Seguindo reto, além das grades, uma estrada de pedra com uma porta dourada no fim. A porta da igreja.
A muralha lhe impedia de prosseguir...
Desembainhou a espada. O sol a tocou. A lâmina brilhou como um raio.
Gritou, e atacou a grade. Faíscas. Ataque. Faíscas. Ataque... seus dedos amoleceram, largando a espada. Ajoelhou-se e pegou-a. Repetiu os movimentos. Falhou. Embainhou a espada.
O vento tornou a ser frio. Uma gota de suor, uma gota de vida, descia pela sua testa. Ele estava ofegante. Pensou em alguma coisa, mas sua mente não deu atenção. Olhou para o céu negro, para o crepúsculo. Depois, examinou o local. Frio, escuro. Triste.
A muralha cercava todo o burgo. Não havia como atravessá-la. A espada era inutilizável. Do lado esquerdo, distante da rachadura que afundara metade da montanha, notou uma depressão no chão. Terra, poeira, grama. Sem vida.
Não existia vida... mas as plantas ali estavam. O Portador e Morimgor de Domnaill não eram exclusivos.
Caminhou até o local e cuspiu violentamente dentro do pequeno vão de terra. Uma onda de sujeira, uma tosse, veio da montanha. A terra saltou como um gato e espalhou-se, acertando o cotovelo protetor do Portador da Luz, salvando-lhe os olhos. Ele olhou dentro do negrume.
– Aqueles que descem jamais encontram a saída. Esse é o fim. É a Escuridão.

Como era seu nome?

Sua cabeça doeu, mas ele ainda sabia...
Ele chamava-se Portador da Luz. Isso, ele afirmou.
Os avisos eram palavras, mas as palavras não vinham de outro alguém... as palavras vinham da própria cabeça. Eram invenções tenebrosas de seu interior. Ele reconhecia o medo, lá no fundo. Mas escolheu não crer nisso. Escolheu crer na Luz, na salvação de todas as coisas. Encarou novamente a negritude. Inspecionou-a, durante muitos segundos. Minutos. Meia-hora.
O que haveria ali? Sua espada era sua tocha, seu guia no gélido desconhecido. Ele queria se lembrar de alguma coisa, de algo distante, algo que estava ali mas não estava. Seus pensamentos estavam confusos, mas seguiam um objetivo. Esse objetivo era tudo. Ele o tinha, mas nada vinha além do mesmo. Era só isso. Ele se resumia à Luz. Ele se resumia em trazê-la para as terras esquecidas do Oeste.
Uma migalha. Um ponto, talvez uma estrela... foi o que viu na sombra.
A mensagem significava cinco anos. De cinco em cinco anos. O que era isso?
A resposta não era longe. Respirou fundo. Agarrou o cabo da espada.
Então, saltou.
Seus olhos azuis penetraram no preto, indo cada vez mais para longe do céu com o sol de luminosidade ostensiva, que era consumida pelo crepúsculo de fim do dia.
– Você teme a Escuridão, Portador da Luz. Você a teme. A Luz a teme.
– Eu a temo, mas não a Luz. Eu estou aqui em nome da Luz, não em meu próprio nome. Você errou, Escuridão.
A Escuridão vinha da própria cabeça. Tentava lhe tirar as ideias, seu nome e objetivo. Sua sanidade...
Ou fosse mais que isso, mais que uma negritude interior.
Talvez fosse o terceiro alguém.
Um grito, de dor. Sofrimento. Depois, um grito de guerra. Dor. Mais sofrimento.
Cinco anos.
Ele permanecia caindo. Nenhuma lembrança veio, nenhuma. Mas os cinco anos ecoavam, infinitos, em sua mente. Uma coisa importante, ou não. Ele iria descobrir. Foi seu motivo de pular. Foi o que tomou sua decisão, o que afirmou sua vontade de trazer a Luz, de ser um Portador da Luz.
Um reflexo. Água.
O som de impacto com o lago subterrâneo foi o primeiro em muitos anos no silêncio depressivo e de aura tristonha que carregava aquele buraco. A armadura era pesada.
Ele bateu os braços, as pernas e a cabeça. Seu corpo não subia. Começou a gemer. Sua mente disse alguma coisa.
Luz.
A espada, um dos muitos braços da Luz. Seu fôlego era pouco, mas ele decidiu que não morreria. Ele não ligava se isso porventura ocorresse, mas sabia a importância de seu nome, de seu título. Seus dedos cercaram o cabo branco. O braço deu um arranque para trás.
A lâmina brilhou como um raio, mas não era um. Era um brilho amarelo, uma lucidez sublime como a do sol. O fôlego estava no ponto final. O corpo, desesperado.
Então, sob a iminência mais vívida e vigorosa da luminosidade, as sombras da água se dispersaram e o Portador nadou abruptamente à superfície.
Resfolgou e observou a arma. Sua salvadora.
A espada foi capaz de iluminar absolutamente tudo, como se fosse um... um fragmento do sol.
Fragmento do Sol.
Ela lhe salvara a vida. Ela merecia um nome, a tal formosa e bela espada de poucas lutas. E o nome seria aquele.
O ambiente era cercado por uma praia de areia e muito maior do que o esperado; o lago era a maior parte de tudo aquilo. Ele bebeu um pouco d'água. Tinha fome.
Nadou com muita facilidade à margem mais próxima. Estava encharcado.
Primeiro retirou o elmo, cheio de riscos e marcas passadas. De onde elas vieram, ele não sabia. Os cinco anos poderiam contá-lo. Precisavam contá-lo.
Depois veio os espaldares, um deles amassado. A couraça tinha um pano rasgado preso no centro, e tudo o que se via era um cabo branco de espada pintado sobre um fundo amarelo. As manoplas, encouradas para melhor manejo de armamentos, derramaram muita água ao caírem na areia seca. Depois veio os braços, pernas e escarpes. Esses últimos desempenharam o mesmo papel das luvas.
Manteve as roupas simplórias de algodão no corpo. Ficar nu não era o objetivo.
Ele tinha fome. A luz da lâmina fraquejou.
Como era seu nome?
– Portador da Luz – declarou em voz alta como resposta. Queria que todos escutassem.
Sua voz se propagou mais do que era possível.
Todos lhe escutaram.
–Você é o primeiro que por este caminho segue, Portador da Luz. Nenhum outro ousou saltar na escuridão da Praia dos Remotos.
A voz, feminina. Doce, penetrante e sábia. Mas não era alta. Era baixa... vinha como... vinha como a quietude.
– Não há o que temer quando está sob a Luz.
– Não, não há.
– O que é você?
– O som do silêncio.
– O som do silêncio.
– Você me disturbou a paz de anos, Portador da Luz. Acordou-me de um sono tão remoto quanto se diz este lago. O que lhe dá a coragem, Portador da Luz, de atravessar a Escuridão?
– Não há coragem. Há a Luz.
– Há a Luz, mas há algo mais. Humanos são movidos por sentimentos, emoções.
– A emoção não interferirá no caminho da Luz.
– Como é seu nome, Portador da Luz?
A pergunta tinha uma resposta. O som do silêncio a proferira por si só.
– Portador da Luz.
– Uma situação peculiar.
– Peculiar?
– Sim. Seu nome é o título dos muitos que por essas terras abandonadas passaram. Todos pereceram. Todos se esqueceram das coisas.
– Meu nome... um título. O que são cinco anos, som do silêncio?
– É o que costumava ser, Portador da Luz. Cinco anos era o tempo em que os como você apareciam aqui. Mas o último pereceu há um ano. Eu o escutei cair, em meu silêncio e sono. Ele tinha desistido. Fracassado.
– Existe algo mais.
– Não, não existe. Mas você quebrou este evento. Você veio, mas veio depressa. E acordou-me.
– Eu sinto muito.
– Não há de sentir. Eu lhe agradeço, Portador da Luz. Você veio em nome da Luz. Você é forte. Você permitiu-me despertar. Eu não só escuto, agora. Eu sou a propagação do silêncio e sua vontade. A vontade dele é lhe agradecer. Sua vontade será saciada, Portador da Luz.
Vontade. Vontade de alimentar-se, de acabar com a fome.
O som do silêncio o compreendera.
De repente, muito inesperadamente, um peixe foi levado por uma onda singular à margem onde se encontrava o Portador. Morto, como tudo naquele reino. Obrigado, agradeceu.
Andou agachado na direção do animal, com a Fragmento do Sol empunhada pela mão canhota. Observou os olhos arregalados da criatura. Nunca chegou a viver, era o presente do silêncio. Fincou a espada calorosa no corpo. A lâmina assou-o rapidamente. Depois, ele aproximou-a da boca e deu uma mordida. Quente, macio.
Ele descansou por mais alguns minutos, porém não pretendia dormir. Não. Isso lhe atrasaria.
O sono lhe devoraria a sanidade.
Vestiu a armadura, posicionando e prendendo todas as partes muito firmes. Não as tiraria uma segunda vez. Ergueu-se, e depois levantou a espada para o alto. Os raios amarelos cruzaram o lugar e denunciaram a saída mais próxima. Era uma entrada escavada do outro lado do lago.
Do outro lado.
O chão tremeu. Então, as paredes e teto também. Rochas desabaram de todas as partes. Uma caiu ao lado do Portador, e ele não mexeu sequer.
Uma agitação na água. Ondulações fracas. Depois, ondas de verdade.
Um rugido furioso.
Uma montanha d'água começou a nascer, imponente e amedrontadora. Quando grande o suficiente, ela explodiu.
A luz diminuiu.
A negritude cobriu o lugar...
...Mas para aquilo não era preciso luz.
Uma criatura escamosa e cheia de dentes no exterior, que saíam exclusivamente da parte superior da boca, estava no centro do lago. Não tinha olhos. Não tinha orelhas, nadadeiras ou asas. Era um ser distinto. Uma forma cilíndrica de bocas e dentes imensos.
Um enviado da Escuridão.

[close]
fear is the mind-killer