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"Um conto de ladrão".

Iniciado por Charles R. R. Maker, 02/01/2015 às 16:50

02/01/2015 às 16:50 Última edição: 02/01/2015 às 18:37 por Charles R. R. Maker
Decidi abrir esse tópico para expor um dos meus textos aqui e ver como você (s) reage (m) a ele. É um texto relativamente recente, sobre um jovem ladrão chamado Marte. Eu estava desenvolvendo um projeto onde ele seria apenas um personagem secundário (ele seria o líder de uma Guilda de Ladrões, mas mesmo assim, secundário) e essa parte de sua história é apenas para enriquecer o enredo. Abandonei o projeto porque ainda preciso aprender uma penca de assuntos sobre scripts, pixel art e sonoplastia, pois percebi que ripar o que tinha a minha disposição excluiria toda a riqueza que eu queria para a minha história. De qualquer forma, leem, avaliem e comentem! Significa muito para mim saber o que vocês acham dela.

As ruas de Valor eram acolhedoras para aqueles que viviam do favor dos demais. Ali cresciam órfãos, ladrões, criminosos e mendigos, e também viviam veteranos sem mais nada pelo que lutar. Alguns chamava um lugar em especial, onde a maioria se reunia para compartilhar o pouco que tinha, de "Ninho de Rato". E lá vive Marte, um desses órfãos que teve a infância descartada por Valor. Sua vida, desde que se lembra, tem sido pegar o que não é seu e correr o máximo que podia - e era bom nisso. Conseguia fugir dos guardas como ratos fogem de cães, pelas ruas que conhecia muito bem, passando por pedestres despercebidos e vielas labirínticas. Não era uma corrida honrada, ele com seus velhos trapos esfarrapados e os guardas de armaduras, carregando suas espadas e escudos, e sabia muito bem aproveitar essa vantagem. Certa vez quase foi atingido por uma flecha, e teve que ficar no Ninho por um bom tempo até esquecerem de sua existência novamente: aprendeu que roubar de nobres era mais perigoso do que da plebe. Mas se era bom em fugir, melhor ainda era em furtar. Seu nome completo era "Marte Mão-Leve", e assim ficou conhecido no Ninho quando já era jovem. Conseguia roubar tudo e muitas vezes a vítima só percebia quando já era tarde demais. Era simples se você conseguia distrair e ter a agilidade necessária para pegar o que queria nesse meio-tempo.
Teria se tornado apenas um bandido comum se certa vez não tivesse roubado um misterioso anel no Mercado Central, tirando-o do dedo de seu dono e este só percebendo quando ele corria. Era dourado, com uma pedra de um intenso carmesim - a princípio achou que era um rubi, mas depois que observou melhor concluiu que aquilo era muito mais que um simples rubi. Certamente valeria bastante ouro no mercado oculto de Valor. Conseguiu vender por algo que o manteria longe do perigoso trabalho por pelo menos uma semana, e sabia que com isso tinha conseguido um bom negócio... Até um dia ser abordado de surpresa por um senhor já idoso. Era o dono do anel. A princípio pensou em fugir, mas o velho foi rápido em impedi-lo - uma experiência nova para Marte.
- Onde está o anel? O que fez a ele!? - Marte só pensava em como ele o teria encontrado, se havia guardas atrás dele ou se finalmente tinham conseguido pegar o Mão-Leve.
- Não há ninguém buscando você garoto, mas terá se não me devolver o que roubou. Onde está ele?! - As mãos do velho apertavam seu braço com uma incrível força. Sobrenatural.
- Eu... Eu o vendi. - A ira foi visível, mas quase que instantaneamente o velho se acalmou.
- Para quem?
- Não tem como saber, o vendi no Outro mercado. Pode ter sido para qualquer um. - O velho o soltou, e Marte viu nisso uma chance de correr para longe, talvez até o próximo reino, abandonar Valor, o Ninho, sua antiga vida. Mas a proposta veio antes.
- Olha garoto, se você me conseguir o anel de volta, darei a você algo que vale cem vezes mais ouro que você ganhou. Você pode me achar no Mercado Central quando o tiver. - E foi embora, deixando Marte ir.
Cem vezes o valor do anel... Teria que falar com Risco no Ninho sobre isso. Risco era servo de um nobre e fugiu depois que este ameaçou dizer que mandaria o pai o matar se não encontrasse o urso de pelúcia dele. Ele não encontrou o maldito urso e então teve que salvar-se. Era um dos poucos que conseguia contar e fazer algumas contas básicas e com certeza sabia quanto é trinta vezes cem. Marte não acreditou. Aquilo o manteria por dois anos, poderia ser rico! Um nobre... Fantasiou andando a cavalo, tendo uma espada, um castelo, uma princesa... Só faltava uma coisa. Onde o anel estaria agora? Venderá ele no Outro mercado, onde se consegue vender qualquer coisa a qualquer preço. Remo era o nome do seu contrabandista, para quem geralmente levava coisas que valiam muito ouro. Perguntou sobre o anel a ele, mas antes de responder, Remo perguntou qual era o interesse. Marte era esperto suficiente para saber que se Remo soubesse o motivo, conseguiria o anel de volta para ele mesmo. Não entregaria sua fortuna tão fácil assim.
- O dono dele me encontrou e me ameaçou entregar pra Guarda se eu não devolvê-lo.
- Hahaha! Então o Mão-Leve finalmente foi pego? Ok, eu o vendi para um homem estranho na Alçada. Ele é um mago e tem uma loja de alquimia chamada Caldeirão Negro aqui em Valor. Não acho que ele vá te devolver, pareceu bem surpreso em eu vender aquilo a ele.
A Alçada... É um bairro de Valor perigoso para um ladrão. Não há uma rua que não tenha um guarda vigiando, e as casas tem grades altas. O Caldeirão Negro era uma loja comum, com uma entrada, uma saída aos fundos e poucos fregueses. A estratégia de Marte de furtar e correr não dará certo ali, pelo menos, não na forma como estava acostumado furtar e correr. Vira o mago que Remo falou abrir e fechar a loja, e ir para casa depois disso. Nenhuma ida ao Mercado, à praça, um passeio, nada. E pior ainda: não tinha o anel consigo. Ambas casa e loja pareciam impenetráveis. Tentou durante a noite arrombar a saída do Caldeirão, mas a tranca não se abria com uma gazua comum. Os muros da casa eram altos e a grade pontiaguda na parte superior. Precisaria de ajuda. Mas de quem? Não podia ir pedir ajuda a alguém do Ninho, mancharia sua reputação. Não poderia ser de Remo, ainda mais porque ele já falou que Marte é o ladrão e ele o negociador. Não concordaria em ajudar. Talvez... Se o velho, o verdadeiro dono do Anel, o ajudasse a entrar na loja, poderia procurar e encontra-lo. O velho propôs conversar com o tal feiticeiro, mas Marte disse que ele não o devolveria por um pedido. Não foi fácil convencer um senhor de idade a ser cúmplice de um crime, mas era a única maneira de recuperar o seu anel. Se não estiver na loja, só poderá estar na casa do Mago, e isso já ajudaria Marte em alguma coisa. O plano era simples: O velho entraria na loja e distrairia o vendedor enquanto Marte sem ser notado, vasculharia os fundos em busca do objeto que o faria rico. Foi até fácil, entrar e passar pelo feiticeiro distraído, só que quando chegou aos fundos Marte se deparou com uma pilha de barris e caixas, enfileiradas de forma a criar um labirinto. O Caldeirão Negro parecia ser maior por dentro do que por fora. Ao checar o último corredor, encontrou uma porta trancada. Arrombou-a após quebrar várias gazuas e quando abriu-a, viu uma bizarra mão negra aberta e nela não tinha somente o anel mágico que procurava, mas outros 3 que retirou e guardou todos no bolso. Após tirar o último, e afastar-se, a mão misteriosamente fechou-se com força, mudando sua coloração negra para uma branca-violeta. Saiu o mais rápido possível até a saída e encontrou o mago solitário no balcão. Percebeu que demorará demais e que seu parceiro teve que ir embora - e agora estava sozinho. Não tinha como ir até a saída sem ser notado e ali era a Alçada, onde tinha mais guardas do que todos os outros oitos bairros de Valor juntos - correr não era algo inteligente a se fazer. Teria que fazer uma distração. Voltou para os fundos e derrubou uma grande caixa com algumas coisas retorcidas dentro. O barulho foi alto. Se escondeu atrás de um barril no corredor principal e esperou o mago ir até onde estava a caixa e sua sujeira esparramada no chão para correr até a saída.
- Ei, você! - Quando o mago gritou Marte já dobrava a esquina para fora da Alçada. Virou por várias ruas, correndo como nunca tinha corrido antes. Conseguiu se distanciar mais alguns metros até ser parado por um guarda a sua frente.
- Aonde vai com tanta pressa garoto? - Era o fim. O pegaram. Marte não conseguirá pensar numa resposta que o livrasse, e pensou ter ouvido alguém chamar seu nome há algumas ruas atrás.
- Ah Marte! Finalmente o encontrei seu servo mau! - Uma voz anciã soou atrás dele e o guarda o soltou.
- Desculpe-me senhor, esse garoto é seu?
- Sim, sim, eu e meu servo que você teve o favor de encontrar viemos nos encontrar com um amigo aqui mas então quando minha visita acabou percebi que o pivete tinha desaparecido! Com certeza levará uma boa lição por conta disso. De qualquer modo, obrigado.
- Disponha senhor - disse o guarda, distanciando-se.
- Não sou seu servo. - Resmungou Marte.
- Foi o que eu pensei no momento para te tirar dessa situação. Achou o anel?
- Sim.
- Então vamos sair daqui.
Na casa do velho Marte mostrou os anéis roubados. Era muito mais o que o tal cúmplice esperava, e sua animação em ver que Marte conseguirá achar os 4 foi mais do que visível.
- Agora, me dê a recompensa. - Falou Marte com firmeza. O idoso foi até uma estante na sala e de lá, trouxe um livro.
- Aqui está.
- O que é isso?
- Um livro.
- E quanto vale? - O rosto do velho assumiu uma expressão de comiseração.
- Bem, em ouro, vale 100 vezes mais que o anel, como eu havia dito a você. Não minto quanto a essa parte... Mas o quanto você ganharia lendo-o, isso meu jovem, é algo de valor incalculável.
Marte olhou para o livro, folheiou-o e olhou para o velho.
- Mas eu não sei ler.
- Eu poderia ensina-lo - rebateu.
- Por que faria isso?
- Você recuperou muito mais que apenas o anel que roubou de mim. Também achou os outros motivos pelo qual eu vim até Valor. Tenho procurando eles há muito tempo, mas não esperava encontrar 3 deles aqui. No final das contas, ganhei muito mais com você me furtando. Te devo muito mais que apenas uns 500 de ouro que você conseguiu no Outro mercado.
Marte olhou para o livro. Pensou em seus sonhos que poderia realizar vendendo-o. Pensou tendo seu castelo, seus servos, sua princesa, e pensou se aquilo era possível. Um valor incalculável. Passará a vida inteira correndo e agora tinha um livro e a chance de saber o que havia escrito naquelas estranhas páginas.
- E... Quando começarei a ler?

Hahahaha amei o texto continue assim!
+ouro por me proporcionar uma ótima leitura!