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Magia de Cura

Iniciado por Silverlake, 13/06/2015 às 11:46

Olá meu povo!!
Bom, direto ao ponto, eu começei a escrever um livro a um tempo atrás e até já postei algumas artes de capa e personagens dele por aqui. Eu escrevo em um ritmo muito lento mas últimamente eu ando meio desanimado... Então resolvi postar o prólogo dele aqui pra ver se algumas críticas (boas ou ruins) me dão uma moral pra continuar.

Spoiler

Prólogo
Magia de Cura

   Suzanne acabara de chagar ao porto. Uma viagem de duas semanas em um navio deixaria qualquer um cansado, porém ainda não tinha acabado, havia alguns quilômetros até a vila de Hioku que, infelizmente, teriam de ser seguidos a pé já que estava sem uma única moeda para pagar uma carroça. A chuva não era nem um pouco animadora. Não via uma tempestade como aquela desde sua infância. As gotas de água caiam com violência, acompanhadas dos clarões cegantes dos relâmpagos e dos estrondos ensurdecedores dos trovões, uma combinação bela e ao mesmo tempo mortal. Mas apesar disso, nada superava sua vontade de ir para casa depois de nove meses fora.
   A caminhada era difícil e o barro fazia com que seus pés afundassem na terra. Em sua mão direita, tentava manter levantado o cajado para que não se dissipasse a barreira de energia que impedia que fosse golpeada por enormes gotas d'água e em sua mão esquerda, carregava sua mala que se revelava cada vez mais pesada.
   Os deuses devem estar me punindo por algo, pensou enquanto saia de uma poça que a deixara molhada até os joelhos. Porém logo parou. Ela percebeu um som diferente em meio a todo o barulho que a chuva proporcionava. Um arrepio subiu pelo seu corpo quando uma primeira hipótese surgiu em sua mente. Um urso da floresta... A tempestade devia ter destruído seu ninho. Enfrentar um urso enfurecido no meio de um dilúvio daqueles seria, no mínimo, suicídio. Mas este mesmo motivo fazia com que correr também não fosse uma opção.
   A possibilidade mais sensata no momento era manter-se imobilizada. A água que caia poderia ofuscar a visão da fera fazendo com que talvez a confundisse com uma pedra ou árvore morta..
   Tomou sua posição enquanto cuidadosamente virava seu rosto para ver caso a besta fosse embora, mas tal gesto foi seguido por um susto. Suzanne largou seu cajado fazendo com que a barreira desaparecesse e as gotas d'água a atacassem deixando-a ainda mais molhada. Mas não ligava mais para isso diante da verdadeira razão do som desconhecido.
   Havia uma pessoa... Um homem caído na sua frente. Usava uma longa capa preta e um capuz que a impedia de ver o seu rosto. Ficou paralisada por alguns segundos mas logo retornou a seus sentidos e correu para ajudar a alma daquela pessoa. Ela correu em meio ao barro até chegar à sua fronteira com a campina onde se ajoelhou ao lado do encapuzado.
   _ Oh Deuses! _ Exclamou _ Você está bem?
   Não obteve resposta, mas percebeu o seu braço se mexer e sua mão apertar um amontoado de capim que estava na beira da estrada. Está vivo, pensou.
   _ Venha comigo. _ Falou enganchando seu braço em seu pescoço dando suporte para o homem se levantar _ Consegue falar? _  Perguntou enquanto o observava lutando para manter-se em pé.
   Novamente não obteve respostas. Ele emitiu alguns grunhidos irreconhecíveis fazendo Suzanne perceber que não faria nenhum efeito tentar perguntar onde morava, qual era seu nome ou algo do tipo.
   Então manteve-se calada, simplesmente apanhou seu cajado e sua mala e o guiou pela estrada enquanto a chuva os deixava cada vez mais molhados.
   Logo que abriu a porta de casa, o forte cheiro de guardado tomou conta de suas narinas. O local estava escuro e empoeirado após ficar nove meses trancado. Precisava de uma urgente faxina, mas não era hora para isso no momento, pois havia um homem quase desacordado em seus ombros.
   Levou-o até uma cadeira e sentou-o com cuidado e então correu para buscar algo para enxugá-lo. Subiu as escadas até o quarto e apanhou dois panos. Enrolou-se rapidamente em um deles e levou o outro até a sala.
   _ É melhor se secar um pouco. _ Falou logo que chegou ao cômodo.
Colocou o tecido cuidadosamente sobre as costas dele, mas foi surpreendida por um urro de dor que se ocupou de toda a sala. A reação do rapaz a assustou de tal forma que retirou rapidamente o pano e se afastou com seu coração dando pulos. Foi nesse gesto que percebeu que por baixo das longas mangas de sua capa algumas gotas de sangue escorriam misturadas com a água que estava em sua roupa e em sua pele.
   _ Está ferido? Deixe-me tirar essa capa.
   Suzanne começou a tirar a enorme capa negra do rapaz. Foi uma tarefa um tanto difícil. Tentava tirar o mais cuidadosamente possível mas o homem urrava cada vez mais de dor. Seus gritos quase a deixavam surda, mas ela continuou retirando a peça de roupa que aparentemente era a única que vestia além de uma calça da mesma cor.
   Ao terminar o serviço não conseguiu segurar o grito de horror. Parecia que o homem tinha sido esfaqueado! Havia grandes cortes em suas costas, ombros e em seu peito, espalhando o sangue por todo o corpo. Algum eram tão profundos que era possível ver seus ossos além do buraco. Seus braços estavam fraturados com machucados em carne viva e queimaduras.
   Suzanne estava horrorizada. Se afastou em um gesto de desespero e acabou tropeçando em suas vestes encharcadas e caindo no chão empoeirado. Levantou-se rapidamente e correu até a porta, onde deixara seu cajado. Apanhou o objeto de madeira e retornou até a cadeira.
   _ Me desculpe, mas isso vai doer um pouco. _ Falou com uma voz baixa.
   O suor começou a sair de seu rosto e se misturar com a água que descia de seus cabelos molhados. Segurou o cajado com as duas mãos e o apontou para o homem e então pronunciou as palavras:
   _ Amana Hêllium!
   Uma luz emergiu da ponta do bastão de madeira retorcida, seguida por mais um urro ensurdecedor. A dor fez com que ele caísse da cadeira e começasse a chorar no chão. Ela correu e se ajoelhou ao seu lado.
   _ Por favor, eu preciso curar estes ferimentos! Só um pouco você tem que aguentar! Para seu bem!
   O homem acalmou-se. Suzanne apanhou o cajado e assumiu sua posição ainda ajoelhada.
   _ Amana Hêllium, repigo tryant!
   A luz surgiu novamente e mais forte do que antes. Os gritos de dor continuaram saindo de sua boca mas ele tentava manter-se imóvel. A luz permanecia enquanto os machucados paravam de sangrar, os músculos se regeneravam e os cortes se fechavam até que ela se apagou lentamente deixando apenas algumas pequenas cicatrizes. Ao terminar Suzanne largou seu cajado e se afastou recostando-se na parede mais próxima. Estava ofegante e assustada. As roupas encharcadas a incomodavam, então puxou seu pedaço de tecido e se enrolou nele. Nunca havia curado ferimentos tão graves, e a energia que usara em sua magia a deixara esgotada. Sentia arrepios quando imagens da situação do homem passavam em sua cabeça.
   Por isso que não quis ser enfermeira, pensou consigo mesma. Depois começou a refletir sobre o ocorrido. O que teria acontecido se eu não fosse uma curandeira? A frase surgiu em sua mente acompanhada de diversas possibilidades de diferentes destinos que o rapaz poderia ter vivido caso tudo isso não tivesse acontecido.
   E então, parou para prestar atenção na figura deitada no meio de sua sala. Era um homem alto. Era magro mas possuía uma musculatura bem definida. Possuía uma pele tão clara que chegava a reluzir com a luz das lamparinas e tirando das cicatrizes recém adquiridas não havia uma única marca ou mancha, era uma pele perfeitamente limpa. Não possuía barba e seu rosto estava meio coberto pelos cabelos molhados que eram completamente brancos, mesmo ele sendo uma pessoa de aparência jovem.
   Imaginava de onde teria vindo. Nunca tinha visto ninguém como ele na vila antes. Hioku era uma única vila em uma pequena ilha do extremo leste de Raytan. Quase não tinha turistas, era pouco conhecida e pouco valorizada. Tinha uma população composta, em sua maioria, por pescadores e fazendeiros, e nenhum desses aparentava ser o ramo de trabalho que este homem praticava.
   A força da tempestade havia diminuído, substituindo os estrondos de raios e trovões por leves sons de pingos d'água atingindo o solo úmido. O frio começou a tomar conta do recinto fazendo Suzanne se encolher ainda mais, tentando deixar todo o seu corpo coberto pelo tecido. Os pensamentos continuavam a fluir em sua mente enquanto voltava sua atenção para o fogo de uma lamparina que dançava incansavelmente e que continuaria dançando até que o pequeno refio de cera se esgotasse.
   O clima de horror que estava naquela sala minutos atrás começava a se dissipar. O silêncio fazia seus olhos pesarem enquanto a chama da lamparina continuava em seu show. Suas pálpebras foram se fechando e tudo começou a ficar escuro até que Suzanne se rendeu ao cansaço e caiu no sono no chão frio.

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Aí está. Critiquem à vontade (aqueles que tiveram paciência de ler...)

"Era uma vez um elfo encantado que morava num pé de caqui..."

Silverlake, você escreve muito bem. E descreve muito bem. A história me prendeu, li até o fim. E a curiosidade me tomou conta. Quem é esse homem, e o que fará com a curandeira caída de sono, toda molhada, num frio daqueles?

Citação de: Nandikki online 13/06/2015 às 20:28
Silverlake, você escreve muito bem. E descreve muito bem. A história me prendeu, li até o fim. E a curiosidade me tomou conta. Quem é esse homem, e o que fará com a curandeira caída de sono, toda molhada, num frio daqueles?

Muito obrigado  :*-*:. Acho bom que tenha ficado curioso, porque foi exatamente esse o meu intuito (que bom que funcionou). Assim como eu disse, isso é um prólogo, então há uma história inteira a ser desenvolvida a partir dele.
Eu postei aqui para saber se alguém se interessaria em saber o resto (que por sinal já está todo em minha cabeça, só falta a parte mais difícil: passar pro papel)

"Era uma vez um elfo encantado que morava num pé de caqui..."

Curti e também apreciaria ler um pouco mais. Só achei meio deslocado o urso, ele foi embora? Subitamente a cena mudou sem muita explicação, mas fora isso achei tudo muito bem descrito.

Vlw, e fico muito feliz por querer ler mais  :*-*:.
E na verdade a cena não mudou e não tinha nenhum urso. Suzanne escutou um som estranho e pensou que fosse o urso, porém depois de bolar todo o plano para se proteger dele, ela percebe que a verdadeira origem do som era o homem caído na estrada.

"Era uma vez um elfo encantado que morava num pé de caqui..."

Juro que isso nunca passou pela minha cabeça, mas de fato. A profundidade da hipótese de ser um urso me confundiu sobre o que ocorria. )o)