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A Inspiração

Iniciado por Corvo, 10/11/2017 às 18:59

10/11/2017 às 18:59 Última edição: 10/11/2017 às 19:05 por Corvo
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[box class=plainbox]Trabalhando[/box]

Digamos que você seja um freelancer. Você precisa entregar uma matéria até às quinze horas ou perde o trabalho. O editor não quer saber se você está com problemas, não se interessa caso você esteja doente e pouco se importa se você não dormiu bem. Por mais que você se concentre, não consegue colocar uma linha no papel. O que você faz?

  • Tenta argumentar com o Editor sobre bloqueio criativo.
  • Pede para trocar sua matéria por algo mais interessante.
  • Admite que você não está em um dia bom e pede uma folga.

Todas essas opções levam à um lugar: a fila de desempregados. A primeira também pode te levar ao hospital, mas esse não é o assunto dessa matéria. A questão aqui é: o que fazer quando a inspiração não aparece?

[box class=plainbox]Conhecendo o Inimigo[/box]

Em primeiro lugar, o que é a inspiração? Segundo as nossas crenças, são senhoritas muito bonitas e misteriosas que, com a mera presença, fazem milagres na cabeça dos criadores. Mulheres difíceis e de temperamento imprevisível, aparecem quando, como e onde querem. Suas visitas podem durar um segundo ou uma década e os intervalos entre elas são impossíveis de calcular. Em geral, são ciumentas e cheias de não-me-toques. Podem gostar de um estilo musical específico. Podem ter uma coleção de quadros e referências visuais. Implicam até mesmo com a alimentação, hábitos diários e, principalmente, com sua interação com terceiros. Olhe para o seu pescoço agora mesmo. Deve haver alguma coleira com o nome dela escrito.
Tire isso e recupere sua dignidade.

[box class=plainbox]Às Armas[/box]

A Inspiração representa uma variável imensa de condições que te permitem ou não criar. Se criar é o seu trabalho, você não pode se dar ao luxo de não criar só porque não está inspirado. Imagine que você é o chefe de estado de um país em guerra. Você tomaria decisões importantes apenas quando sua esposa estivesse de bom humor?

Um exemplo de trabalho não inspirado está diante de você neste exato momento. Eu, como qualquer outro mortal, tenho problemas com essas senhoritas. Elas não me visitam com frequência, então eu tento me virar sem elas. Há poucos minutos eu olhava para uma tela em branco sem ter saber o que escreveria nela. Bloqueio criativo? Não, indecisão. Eu queria escrever algo, apenas por escrever, mas só conseguia pensar em como me faltava inspiração no momento.

Ora, então eu comecei a escrever sobre isso.

Às vezes, você não sabe como criar algo. Você sabe o quê quer criar, mas não tem ideia de como. O que as pessoas não costumam perceber é o seguinte: essa ignorância, essa falta de ideia é uma ideia. E, arrisco dizer, é assim que nascem os estilos próprios. Com isso, você já tem um ponto de início. Mas, digamos que você não tenha tanta liberdade no momento. Você precisa criar algo sobre determinado tema. Ninguém começa do zero, então, o que você tem?

Uma palavra é mais que o suficiente.

Você não deve esperar ideias aparecerem, nós já falamos sobre isso. Então, se você tem uma palavra, um ponto de partida, comece a trabalhar. Qual é a sua palavra? O que ela significa? O que ela representa para você? Ela te faz lembrar de alguma coisa? Ela te passa alguma imagem ou situação? Qual sensação ela te transmite? Procure cada vez mais fundo. Não se importe com o quanto isso vai demorar, haverá tempo depois. Quando você descobrir o que você tem a dizer sobre aquela palavra, você tem sua ideia. Esse conceito se aplica à músicas, objetos, sensações, lugares, enfim. Qualquer coisa é o suficiente para uma boa criação.

Dito isso, você agora sabe que não precisa viver ajoelhado aos pés das senhoritas supracitadas. Isso não quer dizer que elas irão te abandonar de vez. As visitas ainda acontecerão esporadicamente. Nesses raros casos, você saberá aproveitar melhor o momento e poderá criar com muito mais rapidez e facilidade. É possível que em um desses encontros a Inspiração apareça com sua obra prima. Até lá, tente criá-la sem ela. Nós dois sabemos que você odiaria ter de dividir os royalties com aquela mercenária aproveitadora.

[box class=plainbox]Bônus![/box]

Neil Gaiman é considerado um dos dez melhores escritores vivos. Vencedor de muitos do maiores prêmios da literatura mundial, enfim. É uma das pessoas a serem consultadas quando você pretende escrever. Aqui estão oito dicas deste grande mestre para auxiliá-los em seus textos:

1: Escreva.
2: Escreva uma palavra após a outra. Encontre a palavra certa e escreva.
3: Termine o que estiver escrevendo. Seja lá o que você tiver de terminar, termine.
4: Depois deixe de lado por um tempo, então leia como se você nunca tivesse lido antes. Mostre a amigos cujas opiniões você respeita e a outras pessoas que gostem do tipo de coisa que você fez.
5: Lembre-se: quando alguém diz que há algo errado ou que simplesmente não funciona para elas, provavelmente elas estão certas. Quando elas dizem exatamente o que está errado e como consertar, certamente elas estão erradas.
6: Lembre-se, decore isso: cedo ou tarde você terá de deixar o texto ir embora e começar um novo. A perfeição é como seguir o horizonte. Continue correndo.
7: Ria das suas próprias piadas.
8: A principal regra da escrita é que se você escrever com confiança o suficiente, você pode fazer o que quiser. (Esta pode ser uma regra da vida, mas definitivamente é uma regra da escrita.) Então escreva sua história como ela precisa ser escrita. Escreva honestamente e da melhor forma que puder. Eu não tenho certeza se existem outras regras, mas isso não importa.

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Olha que lidar com essa pressão de ter que fazer algo sem ter a mínima ideia de como fazer não é exclusividade da redação não, hein!? No meu trabalho mesmo, chega um cliente querendo uma arte que seja, senta do meu lado e não tem como eu informá-lo que infelizmente não poderei fazer a arte dele naquele momento pois estou desinspirado. É começar posicionando alguns quadrados na tela para aparentar saber o que estou fazendo e ir desenvolvendo a partir dali. O legal é que no fim eu refaço a parte que fiz no começo, justamente porque não tinha ideia do que estava fazendo  :derp:

Mas boa abordagem. E aliás, acho que o pessoal confunde muito estar inspirado com estar disposto. Tem horas que tu não quer fazer nada, só ficar deitado olhando para o teto, e mesmo gostando de... desenhar, por exemplo, tu vai sentar na frente do papel e ficar parado, pois não está à fim de fazer aquilo, só acha que está com vontade porque gosta.

Ótima matéria, rapidinha pra ler ^^ eu concordo contigo e também com o Gerar. Acho que isso de "Bloqueio Criativo" é só desculpa pra não se aprofundar nas coisas — falo por mim mesmo, eu sempre estou com problemas pra me inspirar. E cara, lendo isso, eu posso começar a pensar melhor sobre as coisas que eu faço. Por exemplo, eu estava escrevendo um texto. Deve ser a nona vez que o escrevo, mas nas primeiras oito, não saí da introdução. Pode parecer perfeccionismo, mas eu não conseguia avançar com a minha história, ela ficava presa num primeiro capítulo infinito, sem continuação. Quando eu me despojei mais e comecei a fazer de forma mais relaxada, consegui sair do lugar. Eu já tinha um contexto na minha cabeça, só não conseguia desenvolver ele de uma forma que me agradasse. Aí eu sempre colocava a culpa no bloqueio, mas nunca percebi que, na verdade, cada vez que eu reescrevia o texto, ele melhorava um pouquinho. Fosse na personalidade das personagens, no ritmo da história ou na história propriamente dita. Se eu tivesse me empenhado em escrever ao invés de ficar buscando formas de superar meu bloqueio criativo, talvez eu estivesse bem à frente com a minha história.

Acho que as pessoas se preocupam muito com o processo, não com o produto. Querem fazer tudo da melhor forma, mas acabam esquecendo que os protótipos são para nós mesmos. Um erro que eu cometi muito foi querer sempre lançar uma versão final, sem alpha, beta... então, eu buscava fazer tudo de uma forma que ficasse agradável, sem perceber que não importava a forma como eu escrevesse as primeiras dez, quinze, cem versões, mas sim a versão final. Que cada erro se tornaria em mais uma reflexão e aperfeiçoamento do meu trabalho.

Muita gente tem esse problema, muita gente mesmo. Não o bloqueio em si, mas não conseguir ver através dele. Uma ótima matéria, Poe, deve ajudar a abrir a cabeça de muita gente :D

Citação de: King Gerar online 23/11/2017 às 08:36
[...]

Eu imagino como é criar uma imagem com o cliente fungando no seu pescoço haha. Excelente ponto esse, pessoal confunde qualquer coisa com bloqueio criativo. Criar é um trabalho como qualquer outro, logo é preciso um mínimo de esforço, mas nem todo o esforço do mundo vai ajudar se você simplesmente não quiser fazer algo no momento.

Citação de: Manec online 25/11/2017 às 09:46
[...]

Grande [user]Manec[/user]! Eu mesmo demorei pra aprender isso. Tinha de escrever os textos do começo ao fim, já numa versão aceitável, sem planejamento nenhum. Depois que parei pra pensar não no que estava fazendo, mas em como, minha vida facilitou bastante. Por exemplo, estou escrevendo lentamente o primeiro capítulo. Não terminei, mas tive uma ideia pro décimo. Dane-se o primeiro, ué. Depois eu volto lá. Sobre as versões, é exatamente isso. Escrever as primeiras versões errado ajuda não só na fixação da ideia, mas a encontrar lacunas que não aparecem de outra forma.