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Há, a, à e ah

Iniciado por LoboShow, 01/06/2013 às 03:14

01/06/2013 às 03:14 Última edição: 01/06/2013 às 03:16 por lobozero
  Observe este pequeno texto:

A cidade de Manaus está à margem esquerda do rio Negro, a apenas 18 km da confluência desse rio com o rio Amazonas. nessa cidade pelo menos uma joia que não vem direto da natureza; foi construída pelo homem. 125 anos foi lançada, ali na cidade de Manaus, a pedra fundamental de um dos mais lindos teatros brasileiros de todos os tempos: o Teatro Amazonas. A natureza, por si, já é a grande beleza da região, mas não se pode negar que esse teatro também seja uma das belas riquezas de toda a Amazônia. Ah, quase me esqueci: já passaram pelo seu palco nomes que vão de Margot Fonteyn (bailariana clássica inglesa) a Roger Waters (músico fundador da banda de rock inglesa Pink Floyd).

  Note-se que apesar de as palavras em vermelho terem a mesma forma (ou forma aproximada), a função de cada uma delas no uso não será a mesma. Vejamos:

  I. "HÁ" em português pode ser empregado como:
1. Verbo Impessoal, isto é, sem sujeito, assumindo a 3ª pessoa do singular:
1.1. No sentido de existir:
Exemplos:
a) Há nessa cidade pelo menos uma joia [...].
b) Há vários nomes nessa lista que eu não conheço.

Observação: Todavia, se a escolha de uso for pelo verbo "existir" no lugar do verbo "haver", a concordância, neste caso, se fará normalmente. Exemplo: Existem vários nomes nessa lista que eu não conheço.

1.2. No sentido de passar-se, ter ocorrido (equivalente a FAZ):
Exemplos:
a) Há 125 anos foi lançada, ali na cidade de Manaus, a pedra fundamental de um dos mais lindos teatros brasileiros de todos os tempos. (= Faz 125 anos que foi lançada, ali na cidade de Manaus, a pedra fundamental de um dos mais lindos teatros brasileiros de todos os tempos).
b) Há anos que não vejo meu melhor amigo. (= Faz anos que não vejo meu melhor amigo). Note-se que aqui o verbo FAZER também permanece impessoal (sem sujeito), na terceira pessoa do singular, porque se refere ao tempo que passou.

Obs. É um erro comum em português usar-se o advérbio "atrás" depois de "há". O verbo haver, nesse sentido, dispensa o advérbio.



  II. Já a palavra "A" pode ser empregada como:
2. Artigo definido.

De largo uso no idioma, diz Bechara (em Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2004), o artigo assume sentidos especialíssimos, graças aos contornos verbais e extraverbais:

2.1. Junto a nomes próprios denota familiaridade (neste caso, o artigo também pode ser omitido).
Exemplo: A Maria disse ontem que não viria.

(Observa Bechara que o uso mais frequente, na linguagem culta, tendo em vista o valor já de si individualizante, dispensa o artigo junto a nomes próprios de pessoas, com exceção dos que se encontram no plural.)

2.2. Junto a nomes de certos substantivos próprios geográficos (os que denotam países, oceanos, rios, montanhas, ilhas, regiões, etc).
Exemplos:
a) [...] não se pode negar que esse teatro também seja uma das belas riquezas de toda a Amazônia.
b) A Itália é um país mediterrâneo.

2.3. Emprega-se junto a certos títulos:
Exemplos:
a) A professora explicava para a classe os usos do "há", "a" e "à".
b) A doutora Luiza é bastante competente.

2.4. Junto a nomes de obras literárias e trabalhos artísticos (se o artigo faz parte do título, deve-se escrevê-lo obrigatoriamente com letra maiúscula).
Exemplos:
a) Nem todos sabem que a Eneida foi escrita por Virgílio.
b) A Última Ceia é uma pintura de Leonardo da Vinci para seu protetor, o duque Lodovico Sforza.

Observação: De todos os exemplos, pode-se considerar o mesmo para o uso do artigo definido masculino "o".



  III. A letra "a" também é usada como preposição essencial (preposição essencial é aquela que funciona exclusivamente como preposição. Diferentemente de preposição acidental, que mesmo pertencendo a outras classes gramaticais, às vezes funciona como preposição. Ex.: segundo, mediante, salvo, fora etc).

Ela é invariável e tem como função ligar dois termos entre si, indicando várias noções a partir de seu emprego, tais como:
3. 1. Noção de distância. Exemplo: Manaus está a apenas 18 km da confluência do rio Negro com o rio Amazonas.
3. 2. Noção de tempo (futuro). Exemplo: Avise-o que irei daqui a pouco.
3. 3. Noção de modo. Exemplo: Este terno foi lavado a seco.
3.4. Noção de lugar. Exemplo: Fui à Bahia no mês passado. [à = preposição a + artigo a].


  IV. O Emprego do "à" com o sinal diacrítico ( ` ), denominado acento grave, indica que o artigo "a" é precedido pela preposição "a" como exemplificado acima, em 3.4. O que temos aí é a fusão dessas duas vogais iguais, ocorrendo, dessa forma, o fenômeno da crase**.
Em síntese, quando houver a fusão (crase) de:
a = preposição
a = artigo

O acento diacrítico será empregado, e isso ocorre somente diante de palavras femininas.
Exemplo a) Fui a + a feira. = à feira.
a = preposição
a = artigo
feira = substantivo feminino

Exemplo b) Fui àquela festa. = Fusão de a + aquela festa.

Exemplo c) Esta é a moça à qual me refiro. = Fusão de a + a qual

Exemplo d) Vou à Itália. (diante de lugares)

Exemplos e) A cidade de Manaus está à margem esquerda do rio Negro. Vendi à vista. Saio, às vezes, aos finais de semanas. (Todas as locuções adverbiais femininas, exceto as expressões de instrumento. Ex.: Escrevo a máquina. O infeliz foi ferido a bala.).

**Observação: Evanildo Bechara esclarece que crase é um fenômeno fonético que se estende a toda fusão de vogais iguais, e não somente ao "a" acentuado. Sendo assim, não se deve chamar crase ao acento grave.



  V. "Ah" em português é interjeição. Interjeição é a palavra que exprime nossos estados emotivos. Tem existência autônoma, podendo constituir sozinha verdadeira oração que significa:

5.1. Admiração, surpresa: Ah! Então é você que está aí, não?!

5.2. Alívio: Ah! Que bom que o pior já passou!

5.3. Expressão enfatizante: Ah, quase me esqueci: já passaram pelo seu palco nomes que vão de Margot Fonteyn a Roger Waters.

Observação: Na verdade, o significado da interjeição vai depender do texto e do contexto em que ela aparece.




Créditos para: Jorge Viana de Moraes, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação é mestre em Letras pela Universidade de São Paulo. Atua como professor em cursos de graduação e pós-graduação na área de Letras.