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A Guarda Narrativa

Iniciado por Vifibi, 29/06/2013 às 08:54

A Guarda Narrativa

I — Uma viagem inconveniente

Spoiler
A carroça chacoalhou, acordando o rapaz. Ele tinha cabelos castanhos e um queixo pronunciado embora um pouco fino. Abriu seus olhos castanhos e olhou ao redor, surpreso. Estava rodeado de homens e mulheres, alguns que aparentavam ainda serem adolescentes e outros que pareciam à beira da morte. Ao seu lado, sentado na poltrona da carroça que era estranhamente rústica para a época, repousava um rapaz de cabelos ruivos e que lhe parecia suspeitamente familiar.

— Eu não te conheço de algum lugar — o rapaz falou.

— Não — o homem ruivo respondeu. O rapaz de cabelos castanhos olhou com mais atenção, e então um nome apareceu em sua mente.

— Ei, você não é o R...

— Não. Seja lá qual for o nome com marca registrada que você for falar, eu definitivamente não sou ele. Sou alguém perfeitamente original e de forma alguma criação de uma mulher com um ódio inesgotável por pessoas ruivas.

— Tem certeza? — O homem perguntou novamente — Você parece muito.

— Não, eu esqueci quem sou e agora estou me lembrando qual meu nome é. Você tem razão, eu sou essa personagem fictícia de marca registrada.

— ... Sabe, você podia ter simplesmente dito "não", eu teria entendido. Quem é você, então?

— Meu nome é R... — ele se prendeu ao 'r' por um segundo, olhando ao redor — Rodovia. Merda. Rodovia? O que porra estou pensando? Foda-se. Meu nome é Adriano.

— Prazer. Meu nome é Kale — Kale estendeu a mão. Adriano observou a mão, desconfiado.

— Kale, huh? Devo assumir que você vai de alguma forma estar sempre certo e vai ser naturalmente bom em tudo?

— Uh... eu sei tocar piano desde meus seis anos de idade. Isso responde sua pergunta bizarra?

— Imagino que sim. Prazer em conhecer, homem com nome idiota. Esta aqui é minha amiga, Naomi.

Ambos os homens olharam para Naomi, a jovem de cabelos escuros e curtos que dormia encostada na parede da carroça que era surpreendentemente grande, visto que nela cabiam por volta de cem pessoas, e tinha um carpete de pele de urso polar com cortinas nas janelas. Adriano deu uma cotovelada leve em Naomi, e ela acordou dando um tapa em Adriano, fazendo o xingar e bater de leve na perna de Naomi.

— É, vocês totalmente vão continuar só amigos até o fim disto tudo — Kale disse em monotonia.

— Quem é você? — Naomi resmungou, esfregando os olhos.

— Esse é Kale. Ele estava dormindo e falou comigo. Acho que vamos virar amigos ou coisa parecida.

— Bom te conhecer. Bem, não. Eu queria mais é estar dormindo, mas acho que isso também serve. Ei, já que você está calmo, você sabe onde estamos indo?

Kale bateu no rosto com a palma de sua mão.

— Raios, esqueci de preocupar-me com isso! Onde estamos indo? — ele gritou, esperando uma resposta de algum dos figurantes da cena. Como é de se esperar, ninguém respondeu.

— Por que ninguém normal e fácil de perder numa multidão fala comigo? — Kale resmungou, cerrando os olhos.

— Bem, eu não sei onde vamos — Adriano falou, olhando pela janela — mas não é um local comum.

Kale olhou pela janela e engoliu ar. A carroça peculiarmente espaçosa e luxuosa estava precariamente balançada numa estrada fina de terra e barro posicionada acima de absolutamente nada, com montanhas flutuantes cobertas de grama e neve alternadamente com cachoeiras formando rios que desciam por nuvens até formarem lagos sem fundos. À distância, seguindo a rota da carroça, via-se uma fortaleza de arquitetura Escandinávia, com tetos altos para fazer a neve deslizar e paredes altas de rocha cortada e paredes interiores de madeira e pedras, de forma circular e culminando numa torre esguia no centro, com luzes psicodélicas emanando de seu cume. Kale não sabia se devia pular da carroça ou ficar impressionado.

— Pois bem, isso não é algo que se vê todo dia — ele comentou.

— Não; só aos fins de semana — Adriano retrucou.

— Você me entendeu.

— Talvez. Sabe o que aquele lugar é?

— Não. Me parece familiar, mas não.

— Como raios uma fortaleza gigante te parece familiar? Você foi criado em uma, por acaso?

— Não. Em uma cidade grande, na verdade. Mas não sei explicar.

— Ok, isso obviamente é só um presságio irritante. Acho que não temos escolha senão ir para esse lugar... idiota. Por que estamos aqui, mesmo?

— Como eu vou saber? — Naomi perguntou — Estava em casa um dia, fui me deitar e acordei com você me cotovelando feito um idiota.

— Pare de ser dramática. Pelo menos você está vestida.

— ... Isso só me deixa ainda mais desconfortável! — Naomi gritou, olhando para si mesma e seu vestido de couro e tecido com capa e decote.

Kale sentou-se ao lado de Adriano e ficou observando a fortaleza chegar cada vez mais perto — além de ficar cobrindo seu decote com sua capa. Por fim, eles chegaram e desceram da carroça — que por fora parecia prestes a desmoronar e era liderada por um cavalo sem pernas — e entraram na fortaleza, apreensivos. Viram a cidade dentro das muralhas, cheia de pessoas que pareciam ter vindo de diversas épocas da história da humanidade, e ficaram ainda mais apreensivos.

— Meu deus — Naomi comentou —, é como se estivéssemos numa feira renascentista que se expandiu pela cidade toda!

Um homem à frente que Kale não conseguia ver guiou o grupo para dentro da torre que ficava ao centro da fortaleza, que era consideravelmente mais larga embaixo do que em cima. Entraram pelo portão da frente para um saguão enorme com escadas à frente e portas aos lados. O lugar era muito maior por dentro do que parecia ser por fora. Um homem encapuzado estava no topo da escadaria, observando as pessoas. Quando a última pessoa passou pela porta, o homem retirou o capuz, revelando uma face de aparentemente quarenta anos com barba e cabelos negros e olhos azuis-claros, e falou jovialmente.

— Olá, meus companheiros! Sejam bem-vindos — ele fez uma pausa dramática — à Guarda Narrativa!
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