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Tributo à Castlevania SofN - Prelúdio

Iniciado por VincentVII, 10/09/2013 às 20:29

10/09/2013 às 20:29 Última edição: 13/10/2013 às 12:12 por VincentVII
Eu sou um grande fã de Castlevania e um dos meus títulos favoritos da franquia é o Symphony of the Night. Ontem pensei em fazer uma história para homenagear a série. Inicialmente ia ser só um conto de batalha, mas acabei me deixando levar e adicionei mais detalhes (muitos detalhes). Fica aí para quem é fã, ou quem gosta de uma história de vampiros. Tenham paciência e boa leitura!


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As pequenas poças formadas pela água da chuva eram perturbadas pelos passos rápidos e amedrontados de Anabelle. As gotas da chuva estavam pesando suas vestes e se mover estava ficando cada vez mais forçoso. A jovem freira corria entre as ruelas escuras do vilarejo, ofegante e um pouco nervosa. Ela não sabia o que vira, mas tinha certeza que vira alguma coisa. Foi um rápido movimento, algo grande se esgueirando pelas ruas de um jeito feroz. Ela já estava se arrependendo por ter deixado a carruagem. Deveria ter esperado até a manhã seguinte como lhe tinha sido sugerido. Dessa forma não teria chegado tão tarde e muito menos teria pegado a chuva.
Todas as casas estavam com as luzes apagadas e somente o brilho do luar, que hoje parecia estar especialmente mais forte, orientava Anabelle. Sombras se projetavam por todos os cantos nas mais variadas formas. Algumas se moviam como se tivessem vida própria. Anabelle achava que nunca tivera medo do escuro, mas esta noite estava provando ser o contrário. Ela apertou mais o passo, tentando apagar da memória a visão e dizendo para si mesma que tudo não passava de algo inventado pela sua mente assustada.
A igreja já estava próxima. A jovem freira já conseguia enxergar o campanário com seu único e solitário sino se erguendo acima dos telhados. Ele parecia subir até os céus e ser capaz de tocar a lua. Anabelle levantou a cabeça para poder admirar um pouco a construção. A noite não deixava os olhos perceberem toda sua beleza, com as estátuas de gárgulas que se dependuravam nas bordas, os detalhes das colunas artesanais e as belas janelas com vidros multicoloridos. De onde estava só conseguia ver um cone negro que terminava com uma pequena cruz no seu ponto mais alto.
De repente, Anabelle se conteve parando no meio do caminho. Pensou ter visto outra ilusão. Uma segunda sombra, só que agora menor e mais distante, justamente em cima do campanário. Assemelhava-se muito a forma de um homem, agarrado a cruz do campanário, observando a cidade lá do alto.  Porém, quando a freira piscou, já não havia mais ninguém lá. Anabelle balançou a cabeça, ignorando aquilo, e seguiu seu caminho.
A chuva engrossou. As gotas, agora, pareciam pedras se partindo ao tocar o chão. Anabelle não conseguia ir mais rápido, com medo de escorregar. Então um buraco sorrateiro se pôs em seu caminho fazendo a freira tropeçar e perder o equilíbrio. Anabelle caiu, sujando a parte frontal de sua batina na lama que cobrira o solo. Sentiu uma grande dor nos seios e uma certa ardência na perna lhe revelou que tinha ralado um dos joelhos. Quando tentou levantar, Anabelle ouviu o rosnado.
A freira se estremeceu e olhou em sua volta, assustada, tentando encontrar a origem do barulho. Ela estava no meio de uma rua principal, tudo parecia deserto e ela não conseguia enxergar mais do que poucos metros a sua frente. Ao lado de Anabelle se alastrava uma série de casas, uma ao lado da outra, sem o menor sinal de vida. Aparentemente todos decidiram ir para cama ao mesmo tempo nessa noite, para o azar da freira. Era um pensamento estúpido, mas elas não conseguia pensar em outra resposta. Seus olhos seguiram por todas as janelas na esperança de encontrar um rosto zombeteiro que estava lhe pregando essa peça. Não encontrou nada e isso só lhe causou mais temor.
Anabelle se levantou e bateu na roupa tentando tirar um pouco da sujeira. Depois fitou a escuridão hipnotizada. Sua mente começou a imaginar os piores cenários possíveis. Houve silêncio, os pingos de chuva pareceram parar de cair por um segundo. Anabelle prendeu a respiração e... nada!
Anabelle deixou o ar retido nos seus pulmões sair em um longo suspiro. A freira riu:
- É só a minha imagin...
Duas pequenas esferas vermelhas surgiram no meio da escuridão encarando Anabelle. A freira sentiu um frio subir-lhe pela espinha. As duas esferas foram ficando maiores à medida que se aproximavam. Então uma dezena de presas famintas surgiu por debaixo delas. Os dentes se abriram revelando uma grande língua faminta que os lambeu. Outro rosnado. Anabelle gritou em desespero e saiu correndo, entrando numa rua qualquer.
Passos velozes começaram a segui-la. Anabelle pode sentir os dentes se aproximando do seu pescoço, mas a freira não ousava olhara para trás. Pegou uma segunda rua que virava bruscamente e viu que já não sabia mais para onde estava indo. Ordenou que as pernas se movessem com mais rapidez. Elas não obedeceram. Os passos estavam ficando mais altos. A "coisa" estava se aproximando. Anabelle saiu em outra rua. Sem olhar, seguiu em frente e entrou num beco meio escondido entre duas casas. Finalmente cedeu ao medo e olhou para trás. Não viu nenhuma das esferas e nem as presas famintas, mesmo assim não parou de correr. Um sorriso esperançoso brotou no canto de sua boca. Então ela olhou para frente...
O sorriso de Anabelle sumiu junto com o sangue que lhe escapou das pernas fazendo a freira fraquejar. Na sua frente, um extenso muro de tijolos bloqueava o seu caminho. Ela tinha entrado num beco sem saída.
Anabelle ainda tentou dar meia volta, mas ao virar se deparou com as duas esferas vermelhas encarando-a novamente. O susto a faz gritar e cair de costas. Anabelle fez um esforço inútil para se arrastar pelo chão e se afastar da "coisa" como se isso fosse salvá-la. Com as mãos tremendo, Anabelle segurou o pequeno crucifixo que levava junto ao pescoço e começou a murmurar uma oração em meio a lágrimas e soluços.
A "coisa" abriu a boca e avançou. Anabelle fechou os olhos e apertou o crucifixo com mais força. Silêncio... então ela ouviu o barulho da espada. A lâmina se fincou em algo e Anabelle ouviu um latido fino. Ao abrir os olhos viu que não havia nada na sua frente. O beco, as esferas vermelhas, os dentes, tudo havia sumido. Então a escuridão se mexeu como uma onda e Anabelle viu que algumas gotas estavam escorrendo por ela. Ela esticou o dedo e sentiu algo macio.
Havia uma capa preta bloqueando a sua visão. A capa girou e revelou um homem muito jovem, de longos cabelos loiro-brancos e olhos claros. O homem tinha um semblante de nobre, com uma jaqueta e calças também pretas e segurava uma espada ensanguentada. Anabelle empalideceu ao ver o sangue, mais ainda ao perceber a "coisa" morta na frente do homem.
- Q-quem é vo...
Não houve tempo para completar a pergunta, pois o homem agarrou o braço de Anabelle e a ergueu. Depois a puxou, obrigando-a a seguir com ele.
- Vamos! – disse ele rispidamente.
Anabelle estava hesitante e confusa, mas não resistiu. Enquanto ela era arrastada para fora do beco, Anabelle olhou para trás para ter um último relance do que seria aquela "coisa". A visão a deixou mais assustado. Aquilo que a perseguira era um enorme lobo negro, maior do que qualquer animal que ela já vira. Na cabeça da besta se destacava uma grande mancha vermelha escura.
- O-o que e-era aquilo?
- Warg!
- W-warg? Mas eles não existem!
O homem não respondeu e Anabelle preferiu não insistir na pergunta. Ela não sabia para onde estava sendo levada e muito menos quem era o seu salvador. Mas sua maior preocupação estava no warg que a atacara. De onde ele saíra? E onde estavam todos do vilarejo? Como ninguém tinha percebido um gigante perambulando pelas ruas?
  Foi então que ela viu o campanário surgir acima das casas novamente. O homem a estava levando em direção à igreja. Anabelle sentiu uma pontada de alívio.
Subitamente o homem parou e empurrou Anabelle para outro beco.
- O que está... – o homem tapou a boca dela com a mão. Depois encostou o dedo indicador nos lábios e pediu para ela ficar em silêncio.
O homem pôs a cabeça para fora do beco e checou os lados. Novos passos. Anabelle fechou os olhos. Os passos foram chegando mais perto e então se afastaram. Ao se certificar que já estavam numa distância segura, o homem voltou-se para Anabelle e liberou a mão. A freira puxou um pouco de ar e se acalmou enxugando o rosto. A chuva estava ficando fraca. Anabelle, então, começou a lançar diversas perguntas ao seu salvador.
- O que está acontecendo aqui? Por que aquele lobo, quero dizer, war me atacou? Onde estão o resto das pessoas? Quem é você?
- Uma pergunta de cada vez!
Anabelle se acalmou ordenando os pensamentos.
- Quem é você?
- Um viajante
Anabelle franziu as sobrancelhas com a resposta, ela esperava por mais porém não discutiu.
- Por que aquela coisa me atacou?
- Wargs são agressivos e protetores... – ele fez uma pausa para checar a rua outra vez - e você invadiu o território dele.
- Território? Do que você está falando?
- Por que você acha que está tudo tão quieto e escuro?
Anabelle encolheu os ombros, o pensamento que todos estavam dormindo ainda soava ridículo demais. Só que ela não queria pensar em outra explicação.
- Por que estão todos mortos! – o homem foi curto e grosso.
- Não! – os olhos de Anabelle encheram de água – Não pode ser! Você está mentindo!
- Acredite no que quiser! – as palavras daquele homem eram mais frias do que aquela noite – Mas a verdade é que eles morreram, ao menos aqueles que não conseguiram fugir a tempo. E você também irá caso não me obedeça. – ele fez uma pausa e olhou para rua novamente – Venha!
O homem puxou Anabelle pelo braço de novo e continuou a arrastá-la para a igreja. A mente dela agora mergulhava num poço de tristeza, estava muito abalada com a notícia que todos seus entes queriam estavam mortos. Tentou falar para si mesmo que aquele homem estranho estava enganado, que todos deviam estar apenas escondidos com medo do warg. Mas sua mente, de alguma forma, sabia que não era verdade.
- Por quê? – ela pensou em voz alta.
Mas o homem não respondeu. Anabelle se enfureceu e firmou os pés na terra. Depois puxou o braço se libertando do estranho. Ele parou e olhou para trás irritado.
- O que você está fazendo? Não podemos ficar aqui!
- Não! Eu quero saber... – ela pausou quando um soluçou pulou de sua garganta - Por que eles estão mortos? O que aconteceu?
O homem ficou irritado. Ele suspirou e passou a mão nos longos cabelos. Estava prestes a responder quando, de repente, ele arregalou os olhos. O homem avançou em Anabelle e a empurrou para o lado. Então ele pôs uma das mãos nas costas retirando um grande escudo vermelho de dentro da capa. O homem colocou o escudo em sua frente então houve um clarão quando uma bola de fogo atingiu o metal e explodiu, arrastando-o alguns centímetros para trás.
Anabelle tentou imaginar de onde viera o ataque. O homem parecia saber muito bem o que estava acontecendo e ficou atento com o escudo em frente ao peito. A freira viu um segundo clarão quando outra bola de fogo surgiu do meio da escuridão. Ao fundo ela notou que uma segunda besta vinha na direção deles, cuspindo as bolas de fogo pela boca. "Impossível!", a freira pensou tanto admirada quando assustada. A nova fera era muito semelhante ao outro warg, porém seu pelo tinha uma cor marrom escura.
- FUJA! – gritou o homem enquanto parava os ataques com o escudo – Corra para a igreja!
Sem pensar duas vezes, Anabelle se pôs a correr deixando o homem e o warg para trás.
A fera pulou sobre o homem, derrubando-o no chão. O warg abriu a boca tentou morder o seu rosto, mas o homem se protegeu com o escudo e, com a outra mão, puxou a espada. Prevendo o golpe, o animou saltou para trás. O homem se levantou rapidamente e lançou um ataque giratório sobre o warg, que desviou para o lado contornando-o. O homem se virou empunhando o escudo para bloquear o contra-ataque.
Mas o golpe nunca veio. O warg deu meia-volta e foi atrás de Anabelle, que tentava a todo custo alcançar a igreja. Em menos de alguns segundos o warg já tinha a alcançado. A fera saltou sobre ela que se jogou no chão aos prantos. Mas antes que o monstro pudesse abocanhá-la, Anabelle ouviu um barulho estranho e o homem surgiu entre eles com num passe de mágica. Ele abriu a capa e duas grandes esferas negras saltaram dela. O warg foi lançado para trás e o homem aproveitou a chance para desferir um golpe fatal na sua garganta. A fera estremeceu e desabou no chão.
- O-o que é v-você? – disse Anabelle assustada.
- O que você está esperando? – o homem a ignorou. Balançou a espada para limpar o sangue, mas não a embainhou – Vamos logo!
Dessa vez o homem não segurou seu braço, já que em uma das mãos segurava a espada e na outra mantinha o escudo. Ele apenas passou por Anabelle esperando que ela o seguisse. Os dois desceram a rua que daria em frente à igreja.
- Pelo menos me diga seu nome! – a freira fez uma última tentativa.
- Alucard! – o homem respondeu sem ao menos olhar para trás – Ande, já estamos quase lá!
Ambos chegaram à praça em frente à igreja. Anabelle pôs as mãos no joelho, arfando de cansaço. Ela não corria tanto assim desde que era uma criança. Alucard, no entanto, não parecia nem suar. Mantinha uma pose nobre com o olhar frio e sério.
- Me escute – ele começou – Você vai se trancar na igreja e se esconder até o nascer do sol. Não saia de lá independente do que ouvir. Depois disso eu quero que você se afaste o máximo possível do vilarejo.
Anabelle assentiu obediente.
- Ótimo! Agora vá - Alucard apontou para a porta da igreja.
Ela pisou no primeiro degrau e então olhou para trás.
- Mas e você?
- Eu vou ficar bem! Vai!
Anabelle subiu as escadas. Em frente à porta deu uma última olhada para trás, Alucard ainda estava ali esperando que ela entrasse. A freira pôs a mão sobre a grossa maçaneta com a forma de uma argola de ferro da porta. Estava destrancada como de costume. O padre (que Deus o tenha) confiava demais no povo e sempre dizia que a casa do Senhor deveria estar sempre aberta para as almas desamparadas. E foi infelizmente essa atitude que causara sua morte. Anabelle puxou a argola com força e a grande porta de madeira rangeu.
Nesse momento Alucard teve um mau pressentimento. Tentou gritar:
- Espere!
Então ambas as portas se abriram com uma violenta ventania. Anabelle foi lançado ao ar. Alucard correu e a pegou antes que ela caísse no chão.
- O-o q-que foi isso? – a freira perguntou apavorada.
Alucard fez uma careta desconfiada. Ele a pôs no chão com cuidado e ordenou:
- Fique aqui!
Alucard saltou sobre a escada, pulando numa altura sobre-humana e entrou na igreja. O interior estava gelado e escuro, mas os olhos de Alucard conseguiam enxergar nas mais profundas trevas. Eles não encontraram nada de diferente. As cadeiras estavam enfileiradas perfeitamente e ao fundo enxergava um altar com uma imagem de Jesus e duas portas fechadas. Podia ver também que havia uma bíblia aberta em cima do altar. Alucard se aproximou e viu que havia uma citação demarcada, Mateus capítulo 6 versículo 26: "Pois, que adiantará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou, o que o homem poderá dar em troca de sua alma?".
- Aaaaaaaahhhhhh!
O grito chamou a atenção de Alucard, a freira estava em perigo. Ele saltou sobre o altar e saiu da igreja. Lá fora Anabelle tentava lutar contra dois pares de braços que saíram do chão e agarram a sua batina. Em seguida uma cabeça apodrecida surgiu do solo tentando morder Anabelle. Ela puxou a batina com mais força e o tecido rasgou. Então a espada de Alucard caiu sobre a cabeça, fazendo um crack ao atingi-la. A cabeça soltou um gemido rouco e depois ficou imóvel.
Então mais gemidos começaram a ecoar pela praça. O chão se abriu e dezenas de corpos em decomposição se levantaram. Anabelle não conseguiu conter o grito. Eram os antigos moradores do vilarejo. Seus rostos estavam verdes e cheios de buracos. Alguns tinham vermes saindo do buraco onde outrora ficam seus olhos. As roupas estavam carcomidas e desmanchavam-se
- Fique perto de mim! – disse Alucard puxando a feira para mais perto.
Em poucos segundos o casal estava cercado pelos antigos moradores.
- O que a-aconteceu c-com eles?
- Foram transformados em zumbis! – ele explicou sem mais detalhes.
Uma fumaça negra começou a circular o braço de Alucard. Ele deixou que os zumbis se aproximassem mais e então o ergueu. Quatro pequenos espíritos saíram de sua mão e atacaram os mortos-vivos. Ao toque dos espíritos os zumbis começaram a pegar fogos. Alguns começaram a cair, mas a maioria continuou andando com os braços erguidos tentando alcançar o casal. Alucard avançou na direção deles e começou a decepá-los com poderosos golpes com a espada. Os zumbis tentavam agarrá-lo, porém ele se movia rápido de mais para que eles conseguissem acompanha-lo. Um a um, eles foram caindo imóveis, carbonizados ou sem cabeça. Quando o último deles atingiu o chão os quatro espíritos desapareceram.
Alucard olhou para Anabelle. Seus olhos estavam arregalados e a freira tremia muito. Ver os corpos de seus antigos conhecidos voltarem à vida como zumbis e então serem decaptados e queimados foi mais do que a mente, e o corpo, dela conseguia suportar. Ela entrou em estado de choque. Alucard tentou sacudí-la, mas ela permaneceu estática.
Então um irritante bater de palmas veio da igreja. Alucard olhou para porta e viu um homem com aparência um pouco mais velha e pálida descendo as escadas. Ele trajava uma jaqueta um pouco parecida com a de Alucard, porém sua capa era vermelha e a lapela era adornada com diversas plumas brancas.
- Ora, ora! – a sua voz emitia uma certa melodia fúnebre - O que temos por aqui? Adrian, oh não, me desculpe, Alucard! É um prazer te encontrar por estas bandas.
Alucard soltou a freira e ela caiu sobre os joelhos.
- Como sabe meu nome? – ele perguntou.
- Seu pai me contou.
- Meu pai está morto! – Alucard não conteve o ódio ao mencionar a palavra "pai".
- Jura? Então pode me mostrar o cadáver? – sem resposta – Seu pai já morreu muitas vezes.
- E continua morto!
- Então o que você faz aqui? Não deveria estar dormindo debaixo de uma rocha ou coisa parecida?
Alucard franziu as sobrancelhas. O homem estava certo. Ele deveria estar em seu sono auto-induzido, mas algo o fizera despertar. E isso só podia significar uma coisa...
- Oh, que grosseria de minha parte! – o homem fez uma reverência – Bartolomeu Vondrac, um antigo conhecido do seu pai.
Alucard ficou em silêncio encarando o homem. Bartolomeu esticou o pescoço para o lado para ver a freira melhor.
- Vejo que você está acompanhado, Alucard! Pretende ter um banquete essa noite? Incomoda-se se eu me juntar? – ele estendeu a mão
Alucard se pôs a frente de Anabelle. A freira permanecia ajoelhada. Sua mão conseguira encontrar o crucifixo de novo e seus lábios se mexiam numa prece melancólica.
- Fique longe dela! – advertiu à Bartolomeu.
- Ora, ora, Alucard! Não vai compartilhar a refeição com um irmão vampiro!
- Não me chame desse nome! Eu não sou como vocês!
Bartolomeu sorriu.
- Você pode negar o quanto quiser, mas não pode mudar o fato que o sangue de seu pai corre nas suas veias. Você é um vampiro, Alucard!
- Não sou! – ele disse firmemente.
- Não me diga que você não consegue sentir o cheiro. – as narinas de Bartolomeu dilataram e uma expressão de prazer assustadora tomou seu rosto – Ah, sangue de virgem! O melhor que existe.
Alucard enxugou os lábios e Bartolomeu percebeu o gesto. Isso fez com que ele gargalhasse.
- Vê? Você também sente sede. Vamos, Alucard, vamos no saciar do sangue dessa virgem.
Bartolomeu se aproximou mais dos dois e esticou o braço tentando tocar no rosto de Anabelle. Alucard respondeu balançando a espada em sua direção.
- Eu disse para ficar longe!
Bartolomeu sentiu a mão queimar onde a lâmina a acertara. O corte pulsou um pouco e então se regenerou. Ele fechou o punho irritado.
- Então vai ser assim? Vai atacar sua própria espécie? De novo?
- Eu não sou um vampiro.
- Isso é culpa daquela bruxa! A vadia teve o que merecia.
O sangue de Alucard ferveu.
- Não ouse falar de minha mãe, desgraçado!
- Seu pai nunca deveria ter se envolvido com essa tal de Lisa. Ainda bem que queimaram a prostituta.
- CALE-SE!
Alucard girou a espada na direção do pescoço de Bartolomeu, mas o vampiro se abaixou. Alucard tentou descer a lâmina em sua cabeça e Bartolomeu deu uma cambalhota para o lado e espada se fincou no chão. Antes que Alucard conseguisse removê-la o vampiro saltou sobre ele com os braços abertos. Da ponta de seus dedos se projetavam afiadas unhas na forma de garras. Bartolomeu tentou rasgar o rosto de Alucard, mas este contra-atacou movendo o escudo. O metal se encontrou com o queixo do vampiro, que foi lançado para trás. No ar, Bartolomeu girou e caiu com as mãos no chão. Depois se impulsionou e se lançou de volta para cima. Flutuando no ar por um segundo, o vampiro abriu sua capa e um enxame de morcegos saiu dela. Alucard balançou a espada em X cortando os animais ao meio. Alguns deles conseguiram escapar e arranharam Alucard com suas pequenas garras e ele acabou soltando a espada. Tentou afastá-los de si com a mão livre e o escudo.
Quando as pestes deixaram de atacar Alucard, ele ouviu Bartolomeu se mover. O vampiro não tentou avançar em sua direção, ele começou a rodeá-lo. Bartolomeu correu formando diversos círculos em volta de Alucard. A velocidade do vampiro foi ficando assustadoramente alta e criaram a ilusão de diversos homens um atrás do outro.
- O que foi, Alucard? Sente-se confuso?
A voz do vampiro veio de todos os lados confundindo Alucard. Então viu o vampiro por a mão dentro da jaqueta. Alucard, instintivamente, pulou no exato momento em que a adaga foi lançada em seu peito. Enquanto ele estava no ar, Bartolomeu parou e saltou em sua direção conseguindo agarrá-lo pelo pescoço. As unhas do vampiro se enterram no pescoço de Alucard, mas ele conteve o grito de dor. Bartolomeu sorria largamente.
- Este é todo seu poder, dhampir? – Alucard também não gostava daquele nome, mas era melhor do que ser chamado de vampiro.
  Ambos ainda se encontravam no ar quando Alucard também abrira um sorriso.
- Só queria que você chegasse perto.
Alucard agarrou as mãos de Bartolomeu e as apertou com força. Depois as tirou de seu pescoço e abriu os braços do vampiro. Então lhe deu uma forte cabeçada na testa, seguida de uma escudada no canto do rosto e por fim um chute no estômago. O último golpe lançou o vampiro para trás enquanto Alucard girou no ar aterrissando em pé. Pegou a espada e correu para onde o vampiro caíra. Alucard empunhou a espada e tentou espetá-la no torso de Bartolomeu, porém este se recobrou dos golpes e rolou para o lado. O vampiro respondeu com uma rasteira, mas Alucard deslizou para trás como se seus pés não tivessem atrito com o chão. Bartolomeu aproveitou a chance, deu uma cambalhota para trás e se levantou. Seu rosto pálido agora tinha uma expressão sombria.
As mãos do vampiro ficaram totalmente negras. Ele estendeu os dois braços na direção de Alucard e um imenso raio negro se disparou deles. Alucard pôs o escudo no peito. A rajada negra atingiu o escudo e começou a empurrar Alucard para trás. Ele tentou firmar os pés, mas a força era bem superior à dele. Bartolomeu começou a dar passos lentos em sua direção. A força do raio foi aumentando conforme a distância entre eles diminuía. Quando o vampiro chegou poucos centímetros de Alucard este fez um último esforço e moveu o escudo para o lado conseguindo, então, desviar o raio.
Com o vampiro tão perto, Alucard tentou outro ataque ao seu pescoço, mas Bartolomeu segurou seu braço e o torceu. Depois deu um soco em seu cotovelo e Alucard ouviu o som do osso se partindo A espada de Alucard escapou de seus dedos e Bartolomeu pôs a mão em seu peito. O braço dele escureceu novamente e soltou outro raio. A rajada negra lançou Alucard para longe e ele atingiu a parede de uma casa. Ele caiu no chão, o braço doendo insuportavelmente, a respiração ficou pesada. Então ele sentiu uma forte pontada quando sua espada se enterrou no seu ombro lançada pelo vampiro. Bartolomeu gargalhava como um sádico.
- Você nunca terá a força de um vampiro, dhampir, seu lado humano lhe deixa fraco. Até que você poderia ter sido grande, mas resolveu nos trair por essa escória. – Bartolomeu cuspiu no chão – Você é uma desgraça para a nossa raça.
O vampiro bateu palmas e outros zumbis se levantaram do chão.
- Acabem com ele – os mortos-vivos obedeceram e se dirigiram para Alucard. Bartolomeu olhou para Anabelle, lambendo os dentes que agora revelavam suas presas – Hora do jantar!
- Isso ainda não acabou! – Alucard gritou.
Alucard lançou o escudo no vampiro. Ele voou um pouco pelo ar e aterrissou sem atingir o alvo por metros de distância. Bartolomeu deu um riso debochado.
- Como eu disse, uma desgraça!
Alucard ignorou o comentário e puxou a espada do ombro. Imediatamente ele caiu com um joelho chão. O braço ardia, amplificado pela dor no ombro, e ele gemeu de dor. Ele abaixou a cabeça. Os zumbis chegaram perto. Mesmo em suas órbitas vazias podia-se perceber o olhar faminto. Eles estenderam a mão para agarrar o homem caído. Ele ficou imóvel...
Então Alucard se levantou. Seu olhar adquiriu uma cor vermelha intensa, assim como a aura que surgiu em sua volta. Sua boca se contraiu. Ele apertou o cabo da espada com força. O primeiro zumbi se jogou sobre ele e Alucard arrancou sua cabeça com um golpe só. Os outros vieram em seguida. Alucard brandiu a espada e começou a lançar cortes e chutes sobre eles. A cada zumbi que caía ele parecia adquirir mais força. Bartolomeu franziu as sobrancelhas. Alucard foi abrindo o caminho. Os corpos foram se acumulando atrás dele. Então o braço quebrado se moveu totalmente curado. Alucard trocou a espada de mãos e começou a dar golpes mais fortes e mais velozes. De repente ele se impulsionou para frente, agarrando o escudo no caminho. Alucard ergueu a espada e lançou um golpe diagonal no vampiro, rodopiando no ar.
Bartolomeu virou para o lado para escapar do corte e então sentiu a cabeça latejar quando o pé de Alucard atingiu-lhe a nuca. Como ele ficara tão rápido? Bartolomeu tentou se recobrar do golpe, porém o escudo de Alucard lhe atingiu a testa. Depois sentiu o peito rasgar com o toque voraz da lâmina. O vampiro se jogou para trás, tentando ganhar distância, mas Alucard estava o acompanhando facilmente e lançava várias estocadas rápidas. Bartolomeu tentou desviar, mas sentia o toque frio da espada raspando em suas costelas. Então Alucard pisou em seu pé, parando a perna por um segundo e, com o escudo, esmagou lhe o joelho. O vampiro sentiu uma dor que há muito tempo não sabia existir. Alucard deu-lhe uma joelhada na cabeça e o derrubou no chão. Sua espada encostou-se à garganta do vampiro. Os dois se encararam.
- Você acha que venceu? – disse Bartolomeu irritado – Você não pode impedir o retorno do mal. O castelo das sombras já se ergueu. O Lorde das Trevas irá retornar! Isso é só o começo!
- Mas para você é o fim!
Alucard enterrou a espada no coração de Bartolomeu. O vampiro soltou um grito esganiçado, que ecoou pela praça, e então tornou-se uma imensa mancha vermelha de sangue.
Alucard passou a mão no cabelo e suspirou aliviado. Guardou a espada e o escudo e procurou pela freira. Ela ainda estava ajoelha no chão, mas já não se encontrava mais em choque.
- Acabou? Por favor, me diga que acabou! – ela suplicou.
Alucard meneou a cabeça. Passou pela freira e, de costas, falou tentando tranquiliza-la:
- Você está em segurança agora! Nada mais lhe fará mal.
Ela se levantou e agarrou sua mão.
- Por favor, não vá! – ela implorou com o rosto coberto por lágrimas - Não quero ficar sozinha.
Ele a olhou profundamente nos olhos. Podia ver a dor e o medo na mulher.
- Qual o seu nome, freira?
- Anabelle!
- Anabelle... – ele apertou suas mãos - Adeus!
Dizendo isso ele se virou e saiu correndo. A freira tentou falar algo, mas as palavras se perderam no meio do ar. Ele sumiu por entre uma das ruas deixando Anabelle para trás. Ele não podia ficar, isso nunca fora uma opção. Como Bartolomeu dissera: aquilo era só o começo. 
Em sua mente, uma única palavra: Castlevania!
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Viva a lenda!



13/10/2013 às 11:55 #1 Última edição: 13/10/2013 às 12:03 por K.A.O.S
 Terminei de ler. Que texto, ein?

Notei um erro de gramatica aqui e ali(na verdade são erros tipo... Era pra ser 'fez' mas acabou escrevendo 'vez') mas foram pouquíssimos. Sempre curti Castlevania e admito que o meu favorito tambem é o SOTN, apesar de ter gostando de alguns outros como Order of Ecclesia.

Curti o que li, foi bem fiel e inclusive consegui imaginar o jogo rolando dessa forma, passou uma sensação muito boa mesmo.  Meus parabéns!
Clique nas imagens p/ visualizar as aulas



Uhul! Um comentário!  :wow:

Valeu por ter tido a paciência de ler o texto todo, K.A.O.S. Já arrumei o erro que você me falou, é um dos mais comuns que eu tenho cometido. Que bom que tenha gostado da história e obrigado pelo elogio!

Viva a lenda!