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Iniciado por felipefalcon, 24/10/2013 às 19:23

24/10/2013 às 19:23 Última edição: 24/10/2013 às 19:26 por felipefalcon
    Deitada em minha cama chorava, como sempre, olhando para o teto. Meu pai me trancou no quarto outra vez. Estava muito triste, pois só tenho nove anos, e gostaria de ser como as outras crianças. Sempre felizes, brincando na rua, como se não houvesse o amanhã. Este último era para mim, eu não sabia se iria ter o amanhã.

    Olhava cada canto do quarto, procurando algo para me distrair. Pois nem pensamentos estavam fazendo isto direito. Enxugava minhas lágrimas com minhas mangas, estavam molhando minha saia. Meu quarto é extremamente pequeno, fica abaixo do quarto do meu pai, e atrás da cozinha. Era para ser mais um quartinho de empregados, mas visto que não tínhamos, meu pai me deu. Moramos sozinhos, minha mãe faleceu há quatro anos, mas não me lembro bem, pois era muito nova quando o acidente ocorreu.
Nele fica um piano que fica a frente de minha cama, um guarda roupa que fica a minha direita, junto de uma prateleira de livros. E a porta que o liga a cozinha, ao lado da prateleira. A minha esquerda, há a parede, pois minha cama é junta dela. Não há mais nada, além disto.

    Depois de um tempo chorando, vi que isto não faria diferença. Já era para estar acostumada a estas situações. Não tinha medo do que via, e sim do que meu pai podia me fazer. Mesmo sendo do seu próprio sangue, ele não se conte ao jogar toda sua raiva em cima de mim. Com socos e tapas.
Levantei-me da cama, ainda com os olhos cheios de lágrimas, e fui à prateleira. Peguei um livro e comecei a folheá-lo voltando a me deitar, como se não quisesse nada menos, que aquela situação fosse embora. Que meu pai abrisse meu quarto, e finalmente me deixasse sair. Mas isto não ocorreu pelo menos não, nas últimas 2 horas.
    Parei de folhear até notar o que se passava no meu quarto. Exatamente no piano.
"Olá", falei com ela. Ela como sempre não me respondeu. Fiquei um tempo esperando a resposta, mas mesmo assim, ela não se mexia do banquinho em que estava sentada, muito menos se virava. "Poderia tocar para mim? A sua música me acalma", tentei falar com ela de novo. Como sempre... Sem resposta.

Sua roupa era larga, parecia ser antiga, de empregada. Não fazia nem um movimento que pudesse ser notado. Seus cabelos negros e ondulados, amarrados com uma fita branca, não faziam movimento também, mostrando que não tinha vento. Aliás, era para ter? Meu quarto nem se quer tem janelas.

Já havia desistido então voltei ao meu livro deixando-a ali. Até que de repente, vejo suas mãos se mexerem. Uma das únicas vezes, que a vi assim. Quer dizer, é a primeira vez, está meio tremida.
Seus dedos percorreram o piano, levemente, até ouvir um pequeno som que se iniciava a melodia.
Fiquei só olhando, ela em outra vez tocou Quinta sinfonia, era tão maravilhosa. Ela toca como uma profissional. O jeito que ela desliza seus dedos sobre o piano, a torna uma pessoa bem diferente das outras. Meu pai também tocava quando eu era menor, quando ele gostava de mim. Ou melhor, quando morávamos na outra casa. A melhor coisa que me ocorreu, foi tê-la conhecido. Assim ficava menos sozinha. E ela era uma companhia agradável, nem se quer fazia barulho.

    Quando os vizinhos começaram a falar para o meu pai que eu era uma bruxa. Tudo começou a mudar. Ele é muito bravo, disseram-me que ele casou-se obrigado com minha mãe. Mas não acredito, sei que ele me ama, e minha falecida mãe também. Estes vizinhos são uns fofoqueiros, e não sei por que fizeram isto justamente comigo. Nunca mexi com isto, tenho até medo destas coisas sobrenaturais. Meu pai de começo não acreditou, pois ocorriam algumas coisas estranhas, mas nada que levasse a crer que seria eu a causa. Mas isto mudou, quando estávamos na mesa jantando, e um copo voou em sua direção. Sua mão ficou toda cortada, eu nem se quer tive reação na hora, já havia visto objetos voando no meu quarto. Na hora ele gritou de dor, ou até talvez de medo. Correu para o banheiro, indo se limpar, e eu fui atrás. Mas ao me aproximar, fui recebida com um tapa no rosto. De tão forte fui derrubada ao chão. Meu rosto ficou marcado, e doía muito, ainda tentava me levantar chorando, tentando mesmo assim ajuda-lo, mas ele esquivava como se fosse eu que tivesse feito aquilo. Passei a viver como um animal enjaulado depois disto.

   O som de passos vindo de cima do meu quarto interrompem meus pensamentos. Enquanto a garota ainda tocava o piano. Percebi do que se tratava rapidamente ao ouvir se aproximar descendo as escadas.
"Pare, por favor!" Gritava para a garota. Que não parecia me escutar, e continuava a tocar, Fur Elise. Estava perto do final. Eu me levantei da cama, ficando em pé, estava pronta para tira-la dali.
A porta começou a se mexer, a tremer. Alguém estava tentando abri-la. O medo me percorreu, neste momento.
"Para", repeti desesperada. Mas já era tarde demais. Ele entrou no meu quarto. Meu pai, ao abrir a porta, olhou diretamente para o piano, que continuava a tocar, já sendo finalizado. No momento, ele apenas colocou suas mãos sobre seu rosto. Como se fosse chorar. Eu fui me sentando levemente, tremendo.
"Pai eu pedi para ela par..." fui interrompida com um soco, que acertou o lado direito de minha face. Fazendo-me derrubar o livro, que antes estava vendo, no chão. Chorei de dor, e a música ainda continuava, parando lentamente. Meu pai me pegou pelo braço, e jogou-me no chão, fazendo-me bater a cabeça. Então foi me arrastando pelo chão, como se fosse apenas um corpo de um cachorro morto, enquanto chorava pedindo para ele parar. A música já estava prestes a ser finalizada. "Não aguento mais," respondeu. Com um rosto deformado pela sua raiva. "Acaba hoje".

    A última coisa que me lembro, foi ver a garota finalizar a música, e bater suas mãos sobre as teclas do piano fortemente. E então como nunca houve antes, ela se virou, e olhou diretamente para mim, no chão. Sua expressão era vazia, era muito triste. Foi a coisa mais estranha que já havia visto. Seus olhos, cheios de lágrimas, ela estava tocando enquanto chorava, provavelmente. Ela deu um último aceno para mim, uma coisa reconfortante. Até ela desaparecer de minha vista, como se fosse fumaça ou como se nunca houvesse estado ali. E de algum modo sentia, que era a última vez que ia vê-la. Num último instante chorei mais ainda, desesperada. Até ser apagada completamente, por mais soco de meu pai, o mais forte que já havia levado.

  

Estou ficando sem energias para comentar nos contos... Mas não desistirei!

Tirando alguns excessos de vírgulas achei que o texto ficou bem escrito. Porém eu não sou professor de português então não confie em mim nesse aspecto. Eu gostei da forma que a história foi progredindo, mas o final me deixei um pouco decepcionado. Gostei do desfecho triste, é o meu favorito como eu já disse diversas vezes hoje, porém eu fiquei pensando: "É só isso?". Não foi um desfecho interessante porque eu esperava por uma participação mais marcante daquela aparição, ela só fez o papel de um NPC que fica ali observando os personagens viverem a história.

Viva a lenda!