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Como em um crepúsculo

Iniciado por Hanzo, 08/12/2013 às 16:48

O elfo abriu os olhos. Já fazia algum tempo que ele não ouvia aquele som que o despertara. Aço se chocando contra aço. Era o som de espadas se digladiando, e não eram apenas duas. O cheiro de fumaça já entrava na estalagem, ele deveria sair e lutar contra os agressores, afinal aquelas famílias de bem não poderiam pagar pelo simples fato dele estar naquela pequena cidade.

Hanzo levantou-se da cama e conferiu se a corrente que carregava em seu pescoço ainda estava lá. Pegou a espada que estava em pé, ao lado do criado mudo, abriu a janela e saltou do primeiro andar da estalagem direto para o centro do combate.

Os homens do vilarejo já estavam quase todos caídos, enquanto os bandidos, em grande número sorriam pela desgraça causada. O sorriso deles se desfez no segundo em que o elfo se levantou, sacando a espada.
- Ele esta aqui! – gritou um dos bandidos.

- É, elfinho de merda, nós te achamos e agora você vai pagar caro por ter roubado da gente!
- É!!! – gritaram os outros.
- Última chance de recuarem, se não quem irá pagar serão vocês pelo que fizeram a essa vila.

Os bandidos que estavam em outros cantos da cidade começavam a chegar à frente da estalagem. Já somavam quinze ou vinte homens contra o elfo, ninguém se mexia. Hanzo deixou cair à bainha da espada e se posicionou para a batalha.

- Senhores, vão apagar o fogo, podem deixar que desses aqui cuido eu. – ordenou o elfo.

Os homens saíram em disparada sem nem se quer pensar duas vezes, suas casas pegavam fogo, mulheres e crianças podiam estar em perigo, eles tinham de salvá-los, o elfo que se virasse com os bandidos por enquanto.

O suor escorria pela lateral do rosto dos bandidos. A noite era fria e o calor produzido pelas casas pegando fogo não era suficiente para aquecer quem estava do lado de fora, mesmo assim o suor descia. Todas as espadas estavam apontadas para o elfo, mas nenhum dos agressores dava um passo a frente.

- Podemos começar? – perguntou Hanzo.
- Ataquem seus covardes! – gritou alguém entre os bandidos.

Nesse momento um deles saiu em disparada, flanqueando o elfo, que bloqueou o ataque com maestria, deslocando o incauto bandido e pondo-lhe a espada no pescoço. Por alguns segundos, os outros bandidos perderam o fôlego achando que o elfo desprenderia a cabeça de seu amigo do resto do corpo, mas ele não o fez. Com um movimento rápido, Hanzo chutou-o de volta para o grupo que se abriu para receber, quase como em um abraço o companheiro de antigas badernas.

Quando eles olharam novamente para frente o elfo já não estava no mesmo lugar. Ele havia se movido com a leveza e velocidade características de sua raça e já estava entre eles, não tinha mais jeito, agora eles teriam de lutar.

A pressão que o elfo exercia sobre eles a distância, que impedia que eles tivessem avançado contra ele antes, era ainda maior com ele tão próximo. Os adversários não conseguiam acompanhar seus movimentos e os quinze, vinte bandidos não duraram dois minutos em combate. Nenhum deles era páreo para a habilidade do elfo.

- Muito bom! Não podia esperar menos do lendário "guardião do colar". – disse alguém em meio à escuridão.
- Não sou mais o guardião, o colar está em um lugar seguro, onde ninguém poderá acha-lo. – respondeu Hanzo.
- Hum... que pena! Se estivesse com você eu poderia tomar, além da chave, o colar também.
- Você poderia até tentar, mas na há garantia nenhuma de que conseguiria tomar algum deles de mim. De toda forma, por que não aparece aqui para que possamos fazer o tira-teima? – perguntou o elfo.

Hanzo percebeu bem a tempo um tentáculo de sombras saindo da escuridão em alta velocidade para ataca-lo e teve tempo de se esquivar do ataque repentino. Assim que se deslocou para a esquerda, um novo tentáculo veio em sua direção, mas esse veio do outro lado da pequena praça em que se encontrava.

Uma serie de tentáculos começaram a vir de varias direções, obrigando o elfo a aumentar cada vez mais a sua velocidade, até que ele saltou em direção ao céu. Do alto ele pode ver grande parte da cidade e por alguns instantes ele sentiu como se a cidade o olhasse de volta, com olhos brancos, sem pupilas. E então a escuridão investiu novamente contra ele. Os tentáculos viraram-se para cima e reiniciaram o ataque.

- Tempestade de espadas! – gritou o elfo.

Para quem visse a imagem de longe, teria a nítida impressão de que uma serie de espadas surgiam em volta do guerreiro e que elas abriam caminho por entre as trevas. Hanzo voltou ao chão e antes que tivesse tempo de se levantar, mais e mais tentáculos o atacavam. Ele rolou e logo se levantou, bloqueando as investidas vindas das trevas.

- E então, Hanzo, já esta começando a sentir?

A resposta era sim, o elfo estava começando a se sentir sufocado, o céu estava a cada segundo mais escuro, as ruas estavam a cada segundo mais escuras, o ar estava cada vez mais pesado e os tentáculos atacavam a cada segundo mais rápidos. A magia era forte e o estava aprisionando em uma redoma de trevas. Mais uma vez ele sentiu como se a cidade o encarasse em meio à escuridão. Duas criaturas poderiam fazer aquilo, restava saber se era a que teria condições de escapar. Que não fosse Bill então.

- Eu sei que você esta sentindo, a magia também é forte em você. Me entregue à chave e te digo onde está o drow. – ofereceu a voz que vinha da escuridão.

As palavras suaram como música aos ouvidos do elfo. Não era o Bill, e ainda por cima tinha alguma pista a respeito do maldito Orgoloth. Depois de meses sem uma única noticia a respeito do paradeiro do elfo negro, finalmente uma luz em meio às trevas.

- Pois bem, se você sabe onde está o Oswald, Ladefol, nós podemos negociar. – disse o elfo.

Na mesma hora a pressão se desfez, a lua voltou a brilhar forte no céu azul estrelado e a fumaça já era bem pouca na vila, provavelmente os aldeões já tinham conseguido apagar os vários focos de incêndio.

De uma das vielas uma criatura saiu. Feita totalmente de sombra, ela flutuava como um fantasma em direção ao elfo. Parou com cerca de oito metros de distância, algo relativamente seguro, já que o elfo teria que se deslocar para acertar-lhe um golpe.

- Onde está aquela sua espada bonitona, Hanzo? Oswald a levou também? – provocou Ladefol.
- O que você sabe sobre o drow?
- Direto como sempre! Já havia me esquecido de como sua companhia era agradável!
- Sem enrolação, criatura. O que você sabe sobre o paradeiro do elfo negro?
- Estou falando serio, Hanzo, eu gosto dos elfos! Gosto tanto que mantenho um deles preso lá em casa... um elfo negro... será que ele é o drow que você procura?
- Duvido muito... Oswald não seria capturado por você. Nós dois sabemos que você não poderia capturá-lo, não é? Suas artes das trevas são excelentes, mas não funcionam muito bem contra outras criaturas das trevas.
- É verdade, mas elas vão funcionar em você! Lanza Oscura multipla! – gritou a criatura, arremessando três gigantescas lanças formadas de pura trevas.

Antes que a primeira forma de lança surgisse na mão da criatura, o elfo já havia se posicionado para contra atacar. Ladefol conhecia bem aquela posição e torcia para que seu ataque acertasse antes, se não as coisas ficariam ruins para seu lado.

- Tormenta do Leão Celestial! – gritou de volta o elfo.

Quase como mágica, leões pareciam saltar da espada do elfo e ir de encontro com as lanças da criatura. Seis leões contra três lanças, não havia lanças suficientes para parar os leões e eles avançaram com ferocidade contra a forma humanoide coberta por trevas. Assim que se chocaram contra Ladefol foi como se o elfo desintegrasse de onde estava e surgisse logo atrás da criatura.

As trevas se dissiparam e um homem assumiu seu lugar. Ele cuspiu sangue e caiu de joelhos no chão. Hanzo se virou e correu em direção ao pobre coitado que tivera seu corpo tomado pela entidade das trevas. Era um homem barbado, um guerreiro valoroso, eles haviam lutado a pouco mais de um ano para proteger o castelo de Lorde Aldarion do ataque de uma Hidra. Ele era Edrevlav, um dos cavaleiros da guarda do castelo, fora ele que dera a dica a respeito do paradeiro da chave que hoje o elfo carregava. Parece que Ladefol também o havia encontrado.

- Edrevlav! Edrevlav! – chamou Hanzo enquanto corria em sua direção.
- Hanzo... eu tentei lutar contra ele, mas... mas ele era muito forte... ele tomou a informação a força, eu não consegui impedir, ele... ele tomou meu corpo e... ele matou todos no castelo de Lorde Aldarion... ele quer a chave...
- Não se preocupe Edrevlav, ele não a terá, agora temos que encontrar um curandeiro para ajuda-lo.
- Não, não tem mais jeito... eu só fiquei vivo até agora porque... porque ele estava comigo. Agora... agora que ele está indo embora, eu não tenho mais... não tenho mais chance. Cuide da chave... não deixe ele pegá-la. Prome... prometa! – ordenou o moribundo.
- Eu prometo, Edrevlav. Eu prometo, ele não tocará na chave.
- Obrig...

Uma risada ecoou pela cidade enquanto a vida se esvaia do cavaleiro. O elfo fechou os olhos do pobre homem e o deitou no chão da praça. Levantou a cabeça e fitou os vários corpos dos bandidos levantando. Suas peles estavam enegrecidas e seus olhos estavam esbranquiçados. Agora parece que ele teria ainda mais trabalho. Pegou novamente a espada e levantou-se.

- Não prometa o que não pode cumprir, Hanzo. Entregue a chave e deixo você partir, pelos velhos tempos, que tal? – ofereceu Ladefol, através de todos os corpos reanimados.
- Parece que as coisas vão ficar interessantes, Ladrão de Folego.

Os corpos avançaram contra o elfo. Hanzo avançou contra a turba. E foi como aquele momento em que o Sol tenta vencer a densa escuridão da noite e um novo dia nasce.

Fim

Hanzo