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O Broto Esquecido

Iniciado por B.loder, 17/12/2013 às 21:39


Essa foi uma tentativa não tão boa de fazer algo inspirado nas obras do estúdio ghibli, para todos os efeitos, espero que gostem:
O Broto Esquecido
O homem colocava mais um pedaço de madeira sobre o toco da árvore, preparando-o para o machado. Era parrudo, queixo largo e braços fortes, parecia tentar expressar o esforço da tarefa em seu rosto, fazendo caretas estranhas. O machado cortou o ar zunindo e acertou o toco, marcando-o mais uma vez, apenas uma entre as várias cicatrizes que tinha. Ele pegou os dois pedaços e jogou em um saco.

— Isso deve dar, Lúcia, onde está sua irmã?

— Não sei, ela deve ter ido brincar perto da floresta — a garota comentou desinteressada, segurando uma flor entre suas duas mãos como se protegendo-a.

— Vá buscar ela, eu disse que é perigoso entrar na floresta!

— A culpa não é minha — virou o rosto para o lado fingindo arrogância.

— Ora moleca — gritou deixando o machado de lado e correndo na direção dela — Vá buscar sua irmã sua moleca! — falou segurando-a pela barriga e levantando, finalmente pousou-a sobre o chão e fez cócegas nela, a garota esperneava e chutava o vento tentando fazê-lo parar.

— Tá bom, tá bom! — gritou quando ele finalmente parou. — Já volto — disse antes de sair correndo animada pela grama alta, já tendo esquecido a flor.

Ela tinha cabelos longos e negros, lisos eles esvoaçavam enquanto corria, não parecia ter mais de oito anos e sua pele era clara. Usava um casaco preto que ia até o joelho, seu tecido era pesado e reconfortante no frio daquele lugar, dois bolsos na parte das coxas onde mantinha as mãos para esquentá-las e um pano vermelho com bolinhas brancas que usava como uma gravata borboleta muito estufada.

Continuou com passos apressados na direção das árvores, já observando sua casa desaparecer atrás de si, aquele chalé de pintura azulada rodeado de verde e de vida que ela amava. Parou por um segundo, sentindo o vento gelado passar por ela, observando calmamente seu lar, algo nele lhe chamava atenção, ela simplesmente decidira admirar a paisagem. Puxou uma lufada de ar e deixou-o escapar parecendo névoa. Ouviu um farfalhar da grama atrás de si, subitamente ficou nervosa. Engoliu em seco, seu pai falara dos animais que ficavam por ali durante a noite, e não faltava muito.

Virou-se devagar, sentindo o sangue em suas veias pulsar.

— BU! — deu um pulo assustado para trás e caiu de costas, levantou-se rápida e nervosa.

— Mei eu vou te matar!

— Desculpa — ela riu.

— Eu...!

— Não me mata por favor — pediu desculpas e se encolheu.

— Sua criaturinha chata!

— Não me mata, não me mata! — começou a gritar e subitamente virou-se correndo na direção da floresta.

Ela tinha cabelos à altura dos ombros, dourados como o sol que já começava a se por. Seus olhos eram verdes como os da irmã, era pouco menor e usava uma tiara com uma rosa no cabelo. Mei vestia um casaco verde cheio de botões brancos no meio, este ia quase até seu tornozelo, onde estava aberto para que pudesse andar sem tropeçar, tinha também uma bolsa pequena marrom presa em um ombro cuja alça atravessava seu busto e pendia ao seu lado, além do cachecol muito grande que cobria parte de seu rosto e pendia para trás, formado de bolinhas verdes, brancas e azuis.

— Mei! É sério! — Lúcia gritou já preocupada, correndo atrás da irmã que estava a pouco de entrar nas árvores.

— Não me mata, não me mata! — ela continuou alegremente enquanto corria da irmã mais velha, já entre os troncos imponentes das árvores e as plantas rasteiras que cresciam ali.

Continuou correndo atrás dela, com medo de que ela se perdesse sozinha ali dentro, entre a vegetação baixa estava difícil vê-la, conseguia seguir o rastro principalmente graças às pegadas que deixava sobre a grama macia onde chovera havia pouco tempo. Conseguia ver os cabelos loiros dela voando à sua frente como se tivessem vida, dançando por entre os galhos em movimentos apressados enquanto tentava copiá-los.

Aos poucos o verde tomou conta de sua visão, havia perdido a irmã de vista, ficou completamente apavorada e sem saber o que fazer, continuou correndo, tentando seguir o som de folhas tendo sua paz perturbada que ainda vinha de algum lugar, era a melhor pista que tinha para achar Mei. Olhou ao redor sentindo o medo tomar conta de seus pensamentos, não conseguindo acreditar que deixara sua irmãzinha se perder.

— MEI! — gritou com todo o ar que tinha em seus pulmões.

— Aaaahhh! — ela gritou de volta de algum lugar.

Conseguiu identificar sem muita certeza de onde viera o grito que parecera ser de dor, sentindo seu coração apertar mais forte, torcendo para que não fosse nenhum animal que tivesse encontrado-a primeiro. Chegou à um monte de arbustos e ao passar por eles quase caiu, havia um barranco e lá embaixo sua irmã estava assustada enquanto sentada no chão, segurando o próprio pé sobre a outra coxa e observando-o.

Ela desceu tomando cuidado, entre passadas e escorregões, finalmente chegou ao chão e correu para o lado da irmã, sentindo a preocupação diminuir e o peso em seus ombros se dispersar.

— O que aconteceu?

— Meu pé! — falou muito alto, quase chorando. — Meu pé tá doendo!

— Calma — sorriu para ela. — Vai passar logo logo, deixa eu ver — estendeu a mão para tocar, mas ela puxou subitamente.

— Não!

— Calma, deixa só eu ver, prometo que não vai doer... — tentou ficar calma, a luz já vinha de entre as árvores, sabia que o sol estava se pondo.

Ela deixou Lúcia olhar, não parecia ser qualquer machucado sério, imaginou que a irmã mais nova tinha apenas torcido o tornozelo, mas ela provavelmente não conseguiria andar, então sentiu subitamente o peso voltar para seus ombros, como se carregasse elefantes, um em cada lado. Olhou ao redor preocupada, sem saber o que fazer. Tentou sorrir para Mei.

— O que foi? — ela comentou com aquela voz infantil que acalentava a irmã, a inocência naquele som conseguia quase diminuir o medo que ela sentia.

— Você dá conta de andar?

— Não, dói muito.

— O que nós vamos fazer?

— Hã?

— Você não quer dormir no meio da floresta, quer?

— O papai vem buscar a gente — comentou observando-a, sem entender a preocupação, confiando que seu pai poderia enfrentar demônios para salvá-la.

— E como o papai vai achar a gente? — odiou estragar a inocência da garotinha.

— Ele...

— Vamos ter que passar a noite aqui — observou ao redor. — Eu não quero dormir aqui.

— Eu também não!

— Ao menos a gente não vai ficar com frio — tentou ser positiva, sem muita sorte. — A gente pode...

— À noite tem bicho!

— É verdade, tem bicho aqui, foi o que o papai disse — suspirou cansada. — A gente pode dormir em uma árvore.

— A macaca aqui é você — disse parecendo irritada. — Ai meu deus, o que a gente vai fazer?

— Eu não sei Mei! — se encolheu, abraçando os próprios braços, ao menos não estava mais tão frio. Sentou ao lado da irmã a abraçou-a com medo, ainda atenta.

Quando a lua finalmente tomou seu lugar no céu as plantas pareceram perder seu esverdeado comum, tons cristalinos de azul tomavam seu lugar, os troncos das árvores pareceram ficar pálidos e as folhas reluziam a luz do luar que entrava ali, tornando a visão clara o suficiente.

— Eu nunca tinha notado que isso acontecia — Lúcia comentou abraçando-a mais forte, sentindo o nervosismo percorrer seu corpo.

Ouviu um farfalhar na grama e se virou atenta. Ficou pálida de medo e subitamente seu coração palpitou mais forte, como se quisesse sair de seu peito e correr para longe dali, mas não podia fazer nada, precisava proteger sua irmã. Detrás de uma árvore uma criatura surgia, observando-a com grandes olhos absolutamente brancos cercados pelo que pareciam ser escamas azuis, sua boca parecia surgir depois do queixo, sendo que só podia notá-la quando estava aberta, e ela estava, como se tentasse falar.

O ser também tinha longos dedos azuis que reluziam como a mata dali, eles eram pontudos e lembravam garras, essas eram as únicas características visíveis dele, o resto de seu corpo era como se feito de vidro, pelo pouco que conseguiu identificar, ele lembrava um lagarto, com o tronco flexível e movimentos esguios. Lúcia sentiu sua mão tremer. A criatura continuou completamente imóvel, observando-a.

Ela abraçou a irmã mais forte, puxou uma lufada de ar profunda até seus pulmões não aguentarem mais e soltou-a, deixando o vapor se formar à sua frente, ele ainda não se movera. Se levantou devagar, tentando não fazer qualquer movimento brusco e sentindo os olhos dele seguirem-na. Abraçou a irmã por trás e começou a puxá-la na direção do barranco, para longe da criatura, Mei coçou os olhos, já quase adormecida. A criatura saiu detrás da árvore e deu um passo em sua direção, a garota pegou uma pedra e jogou contra ela.

— Sai!

Um barulho alto chamou a atenção delas e do ser, algo que pareceu uma árvore tombando ao longe, logo pisadas barulhentas de um animal enorme pareciam se aproximar. Elas se encolheram perto do barranco, sentindo o medo tomar conta. Mei já não emitia qualquer som, afundara o rosto no ombro da irmã e deixara lágrimas escorrerem, sem querer saber o que ia acontecer.

A criatura azulada correu na direção delas, seus corações pularam algumas batidas, mas ela não fez nada, apenas ficou ali parada de frente para elas, com uma atitude que lembrava um cachorro dócil, cheirando-as. Ele parou e encarou a floresta, ficando de costas para elas, deixando-as sem entender nada.

Uma criatura quase idêntica à primeira, com exceção da cor de suas escamas, estas eram de um avermelhado que lembrava barro, seus dedos eram menores e pareciam mais finos, ele mantinha a boca aberta e a língua parecida com a de uma cobra chicoteava o ar à sua frente. Esta observou o lugar até seus olhos se encontrarem com os do ser azulado, este parecia irritado, ambos rugiram um para o outro, até que o primeiro ficou de lado à frente delas, em uma posição ameaçadora.

— O que... — Mei murmurou observando através do corpo transparente dele, o outro parecia ter desistido, encolhendo-se em movimentos indecisos. Ele tentou investir subitamente contra o azul, mas este se colocou sobre duas patas e suas garras se moveram furiosamente como chicotes, finalmente ficou amedrontado e virou de costas, correndo para dentro da floresta enquanto seu corpo gigantesco fazia as árvores penderem para os lados ao se chocar contra elas deliberadamente.

As garotas ainda tremiam assustadas quando o azul se virou subitamente para eles, o chão tremeu quando ele pisou firme uma das pata e segurou Mei pelo casaco, levantando-a do chão enquanto se debatia e a irmã tentava segurá-la, finalmente ela foi movimentada pelo ar, levada pelo braço invisível que imaginaram como seria, já que fazia movimentos inimagináveis. Finalmente ela pousou sobre o lombo da criatura, pouco atrás de seus olhos, onde ficou sentada observando pasma a situação.

Ele começou a caminhar na direção das árvores e Lúcia o seguiu apressada, com medo de ele fugir levando sua irmã com ele, ao perceber que ela estava tendo certa dificuldade ele diminuiu o passo, andando mais devagar para que ela pudesse acompanhar. Continuou por aquele caminho ao lado da criatura, pelo espaço que se formava entre as árvores, numa trilha malfeita.

— Você não vai me comer, né? — Mei perguntou com inocência.

Ele negou com a cabeça.

— Você vai ajudar a gente?

Ele assentiu.

— Viu, a gente achou um bicho bonzinho na floresta.

— É... — ele emitiu um som que pareceu uma suspiro alegre, então ela continuou. — Eu não confio muito nessa coisa — seus olhos pareceram esmorecer.

Continuaram andando pela floresta que parecia não ter fim até encontrarem um grupo de luzes que da qual se aproximavam à passos lentos. Havia uma dúzia de lanternas vermelhas com desenhos de árvores nestas presas à um fio que estava preso à arvores e finalmente acabava preso em uma casinha de madeira no topo de uma árvore. A criatura bateu no chão três vezes, fazendo-o tremer, esperou alguns segundos e bateu mais três vezes.

— Já vai, já vai! — alguém gritou, deixando as garotas curiosas. Era uma voz masculina e parecia ser de um adulto. Ele desceu as escadas de madeira presas à arvore desengonçado enquanto Lúcia o examinava, notando que a irmã já quase dormia em cima da criatura, ele bocejou e se surpreendeu ao vê-las. — Boro, o que é isso?

Ele murmurou um longo gemido.

— Sim, sim, humanas, você quer que eu explique a história da floresta?

Ele assentiu.

— Tudo bem então.

O homem se virou para ela, ele tinha aproximadamente a sua altura e orelhas pontudas, usava um short verde que lembrava a coloração natural das folhas, seu corpo lembrava uma criança, mas a barba em seu rosto indicava que era um adulto.

— Criança, o que ele me pediu para explicar é que você precisa sair daqui — falou sem devaneios. — Se ainda estiverem na floresta quando o a lua se pôr, vocês vão ficar presas aqui para sempre e ninguém vai se lembrar de vocês, nem seus pais.

— O quê? — respondeu subitamente preocupada. — Como assim?

— Essa floresta é amaldiçoada, se você entra e fica a noite, é até morrer.

— Você sabe o caminho para sair daqui?

— Não se preocupe com isso Boro está levando vocês para a saída, mas ele trouxe vocês aqui para eu avisar para tomarem cuidado — ele parecia desatento. — Vocês não podem comer nenhuma fruta daqui ou ficarão presas, então mesmo que fique com fome, não coma nada, certo?

— Uh-hum — confirmou confiante. — Tudo bem, nós temos que ir agora, muito obrigada senhor...

— Jun, meu nome é Jun, o seu?

— Lúcia — ela sorriu. — Muito obrigada Jun.

— Não há de quê, agora continuem, vocês não tem tanto tempo.

— Mas...

— Veja onde ela está, vocês já estão aqui faz horas — suspirou apontando para a lua com o olhar. — O que ficaram fazendo?

— Mas... — tentou entender, parecia que haviam chegado fazia tão pouco tempo, como haviam se passado horas? — Certo, vamos Boro.

— Ah, Boro! — ele gritou de cima da árvore. — Não deixe elas verem o vale das cordas, tudo bem?

Ele assentiu e continuou andando. Lúcia o seguia ainda não confiando nele, mas sabendo que não tinha em quem mais confiar, portanto seguiu calada. Ao olhar novamente a lua já estava mais baixa, parecendo que poderia se pôr e selar o destino das garotas a qualquer momento. Os sons da floresta pareciam ter cessado, cigarras não ousavam dar um grito sequer enquanto aquele ser azulado cruzava a trilha carregando a garotinha adormecida em suas costas. A irmã seguia atenta e já se sentindo muito cansada, apesar de tudo, era uma garotinha assustada.

A noite já estava mais escura e através das árvores a garota conseguia ver pouco, percebera que Boro havia apertado o passo, caminhando mais rapidamente e olhando esporadicamente para trás, checando se ela o estava acompanhando. Uma árvore caiu para a direita, o som que ouvira antes era fácil de reconhecer, a criatura vermelha aparecia novamente para atormentá-los. Como um raio rubro ele se jogou contra o ser azulado, fazendo Mei voar, caindo ao lado de uma árvore na terra macia e já reclamando com dor nas pernas.

Lúcia correu até a irmã apressada e pôde ver o monstro avermelhado se aproximar rapidamente dela, com passos que pareciam saltos de um jaguar que ia esfomeado atrás de sua presa, se jogou contra ela erguendo as garras furiosamente, pouco antes de encontrá-la um furacão de azul o jogou para o lado, os olhos da criatura estavam cerrados em fúria, ele correu rugindo na direção do outro, fazendo-o fugir assustado. A garota se acalmou, a cena havia acontecido muito rápido e mal conseguira assimilar o que aconteceu, respirou fundo, puxando uma lufada de ar gelado.

Checou se a irmã estava bem, já estava acordada, assustada ela abraçava forte o braço de Lúcia, que estava feliz por aqueles momentos de pânico terem passado depressa. Boro se aproximou dela devagar e pela primeira vez sentiu que podia confiar naquela criatura caricata, estendeu a mão e colocou sobre a cabeça dele, em um gesto de carinho. Lágrimas escorreram de seus grandes olhos brancos. Foi quando finalmente ela conseguiu sentir, em seu braço estava um corte fino de onde escorria uma linha tênue de sangue, a criatura aninhou seu rosto no peito dela, a garota deixou sua cabeça pender sobre a dele, sem entender o porque de ele ficar triste.

— Eu só... — soluçou. — Eu devo ter caído em uma pedra...

Ele gemeu de forma triste.

— Vamos logo, a lua! — falou quase gritando, ele fechou os olhos e deixou lágrimas descerem, empurrando sua cabeça contra ela que o abraçava tentando acalmá-lo. Ele recuou e colocou as duas garotas sobre seu lombo, voltando à trilha.

Quando chegaram ao ponto em que as árvores não continuavam a lua já estava perto de sua despedida. Desceram da criatura, Lúcia ajudando a irmã e permitindo que ela se apoiasse em seu ombro para continuar sem precisar usar o pé machucado. Quando estava prestes à sair foi como quando alguém se choca com uma parede de vidro que não vira, ela simplesmente estava ali e não conseguia atravessá-la.

Ela não entendeu, então a irmã se sentou ao seu lado e ficou olhando enquanto ela deixava seus dedos deslizarem pelo que parecia uma parede de vidro, ela pressionou a palma de sua mão contra a saída, sem efeitos ficou furiosa, socando-a. Deu um chute e recuou com dor, então se jogou contra a parede invisível, colocando seu peso no ombro e tentando incessantemente quebrar sua passagem para fora dali.

— Mas... A lua... — falou enquanto lágrimas começaram a se formar em seus olhos meio abertos que observavam a odiosa redoma de vidro que lhe impedia de sair. Boro se aproximou com passos calmos e macios, finalmente ao lado dela, apontou para o ferimento no braço com sua garra, aquele de onde o sangue já não saía mais. Ela demorou um pouco para entender, fora a criatura vermelha que fizera aquele corte nela, por isso a amigável criatura azulada chorara por ela, por saber o que aconteceria.

Ela se levantou e foi até a irmã, estendeu a mão e ajudou-a a levantar, permitindo que ela se apoiasse nela e caminhando até o limiar de onde podia ir. Soltou-a e incentivou a continuar com um movimento das mão.

— Mei, vai — falou. — Não se preocupe, eu já vou.

— Tudo bem — hesitou, então continuou. — Não demora! — ela falou enquanto andava em tropeços na direção da saída sozinha, olhando para trás constantemente e, após atravessar a fronteira, olhando para frente, esquecendo-se completamente. Se encolheu sentindo frio e se abraçou enquanto andava na direção de casa.

— Tchau Mei! — Lúcia gritou caindo sobre seus joelhos, a garota hesitou, olhou para trás uma última vez e continuou em frente.

A menina ficou ali sozinha encostada na redoma de vidro que não devia estar ali, lágrimas escorriam de seu rosto enquanto ela apertava com força a terra, sentindo-se frustrada e odiando todos. Boro se aproximou dela, tentando confortá-la, queria descontar nele, mas sabia que não era justo, então abraçou-o e se permitiu ficar em prantos, lembrando da irmã e pensando em tudo que não aconteceria em sua vida.

A jovem desceu as escadas enquanto seu cabelo loiro balançava, usava uma calça jeans e uma blusa branca com decote pequeno que seu pai analisara bem antes de dar um parecer, ele sorriu, significava que podia usar a blusa. Ela se sentou à mesa e pegou uma das torradas que ele preparava na torradeira.

— Pai... — comentou enquanto mastigava. — Eu sonhei com ela de novo.

— Aqueles sonhos sobre sua amiga imaginária?

— Não é uma amiga imaginária — protestou. — Acho que dá para dizer que é uma irmã imaginária — deu de ombros. — Acordei meio triste por isso, é estranho.

— Huh, acho que você deveria ir num psicólogo, essa coisa de ter irmã imaginária não é normal, sabia?

— Eu estou bem, só fico tentando lembrar de quando foi que eu inventei ela, nunca parei para pensar nisso, ela simplesmente aparece nos meus sonhos.

— Deve ter sido quando sua mãe morreu e vocês ficaram solitárias.

— Vocês?

— Você — se corrigiu. — Eu estou ocupado, me deixe em paz e vá logo para a escola Mei — comentou lendo o jornal enquanto passava manteiga em outro pão que iria para a torradeira.

— Tudo bem, tchau pai — abraçou-o, pegou a mochila e saiu caminhando.

À frente da casa havia aquela floresta que nunca ousara adentrar, olhou para ela por um segundo e se virou para continuar seu caminho, e no canto do olho viu uma jovem de cabelos negro observando-a. Voltou-se para o lugar subitamente, mas não havia ninguém lá, deu de ombros e continuou seu caminho.

— Talvez seja melhor eu ir num psicólogo mesmo — comentou para si mesma enquanto andava pelo campo cheio de grama alta na direção da cidade.
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