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Os muros

Iniciado por Moon[light], 09/01/2014 às 10:23

Havia uma cidade, em algum lugar, da qual ninguém jamais podia sair. A cidade inteira era cercada por muros e todos que os tocavam desapareciam.
Nessa cidade, vivia um rapaz. Todos os dias, ele corria para o meio da praça central e gritava para as pessoas que o muro deveria cair, que o Mestre da cidade o havia construído para impedir que as pessoas chegassem ao outro lado, pois lá elas seriam livres e ninguém poderia controla-las. Mas ninguém jamais acreditou no rapaz. Alguns até mesmo o ofendiam, chamavam-no conspirador, mentiroso. O rapaz, porém, não se abalava. Deixava de lado as ofensas; as pessoas eram tolas, alienadas, ele sabia; e voltava para casa, pronto para retornar à sua missão no dia seguinte. Um dia, as pessoas veriam a verdade. Ah, se veriam! E nesse dia, que haveria de chegar!, elas o agradeceriam.
Eis que em certo momento, boatos surgiram sobre uma garota capaz de atravessar os muros. Diziam que ela era uma Bruxa ou Telepata, Deusa ou Demônia. Quando ouviu dessa garota, o rapaz encantou-se. Ora, ela era a prova de que precisava! Se a encontrasse e convencesse a falar; ah!, se conseguise, ela revelaria o que existe do outro lado, mostraria a liberdade do além, os campos verdejantes, os rios, montanhas, comunas onde todos eram iguais. Ela incitaria a todos a ir além do muro, a derruba-lo e erguerem em seu lugar uma flor. Encontra-la! Sim, tinha que! O faria e tudo mudaria!
Mas, onde estava ela? Não nas ruas, nem nas casas, tampouco nas fábricas, menos ainda nas lojas. Estaria escondida? Ou talvez capturada, trancada numa cela, presa a esperança, torturada, despedaçada pelas garras cruéis das paredes! Como ousaram? Vilões, demônios, é o que eram! Tinha que resgata-la, invadir as prisões, tomar os palácios, mostrar a ira do povo oprimido e, todos juntos, libertariam a flor e suas raízes, fundariam um mundo novo! De pé! Ás ruas! Pela esperança!
Porém, então, de além do muro, surgiu, meio que aparição, meio que sonho, atravessando a matéria sólida com displicente vagar, não heroica marcha, a garota apareceu. Não parecia uma bruxa, telepata, deusa ou demônia. Não parecia, de fato, outra coisa que não uma garota.
Não importava! Ela estava á! E agora poderia revelar o mundo além dos muros! Tomando coragem, o rapaz abriu o braços e falou em alto tom:
— Bem vinda, mensageira! A você, salvação de todos, meus cumprimentos! O povo te espera! Mas antes, me conte, ó, Esperança, do mundo de lá! Digam-me as maravilhas d'além muro!
Como que confusa pela calorosa recepção, a garota recuou encarando o rapaz. Numa voz desconfiada e tensa ela disse então:
— Eu te conheço?
— Não – respondeu o rapaz. – Mas que há nisso? De que importa conhecer se nossos corações são iguais? Vamos, conte-me do além! Como faz para cruzar o muro que nos prende?
— Por que você não vai lá e olha?
— Ah, como eu gostaria de poder fazer isso! Meu coração palpita com o desejo de me desvencilhar das correntes que me prendem e como um pássaro voar livre para além dessas paredes! Ensine-me a fazê-lo, eu te peço!
— Ensinar o quê?
— A vencer a muralha que nos cerca!
— Não tem  o que ensinar. Eu só ando.
— Mas o muro desaparece com aqueles que o tocam!
— Como você toca algo que nem está lá?
— O quê?
— Não tem muro ali. Isso é coisa da sua cabeça.
— Não pode ser!
— Pode, sim. E é. Quero dizer, é obvio. Só olha para ali. Não é real.
O rapaz olhou para o muro, completamente desnorteado. Estava lá, podia vê-lo. As pedras e tijolos, arame farpado e grades. Estava ali como sempre estivera. Como ela podia dizer que não era real? Era! Claro que era! E ela o atravessou com sua magia! Como? Ah! Era óbvio. Ela não queria revelar seu segredo. Preferia guarda-lo para si, ser apenas ela livre, desfrutando do paraíso além-muro! Traidora, era o que ela era, traidora! Iria fazê-la revelar, ah, se não ia! Que direito ela tinha de manter para si o poder? Aquilo deveria ser de todos! Pois bem, onde ela estava? Iria mostra-lhe uma coisa.
Mas a garota não estava mais lá. Fora embora enquanto o rapaz pensava. Agora, sozinho, ele se pôs a encarar o muro e pensar no que dissera a garota. Talvez fosse verdade, no fim das contas. Talvez ela realmente fosse apenas uma garota e o muro não fosse real. Talvez devesse tentar atravessa-lo. Mas, se o fizesse, poderia desaparecer. Ora, do que importava isso? Vivia preso naquela terra de idiotas, cheia de homens covardes! Que importava que morresse? Se desaparecesse ali, tudo bem, antes isso a viver naquela prisão. E mais, tornar-se-ia em mártir! As pessoas haveriam de se erguer sob sua bandeira e começar a revolução que desejavam! Pois bem, estava decidido! Morrer, viver, que importa? Lutar, sim! Isso sim! Adiante! Adiante, através dos muros por um mundo novo!
O rapaz tomou fôlego e se lançou em disparada. O muro, parado, se aproximava, ameaçador. Recuar? Jamais! Acelerou! O muro chegou, mas não ofereceu resistência. Revelando-se na ilusão que era, se desfez perante os olhos do rapaz. Exasperado pela revelação maravilhosa, ele encheu-se de coragem. Agora revelaria a verdade a todos! O muro era mentira, um engodo, um truque do Mestre para dominar o povo! A revolução começaria!
E então o rapaz abriu os olhos e viu. E vendo, abaixou a cabeça, virou-se para trás, e voltou para dentro do muro, pensando enquanto voltava em como derrubar aquele muro. Talvez um martelo funcionasse. Talvez.

Eu realmente estou ficando muito babaca... ou muito velho. Você decide.

Ok, eu fiquei meio perdido com esse final, quer dizer, se era ruim o que estava do outro lado do muro,  por que ele insistia em quebrar ele?  No geral eu gostei bastante, ficou bem desenvolvido e curti o estilo em terceira pessoa com influência do personagem. Isso aí lembrou bastante o conto da caverna de... Era Platão? Well, esse, foi inspirado por ele? :p
To Die Is To Find Out If Humanity Ever Conquers Death

Eu gostei bastante da história!
Me lembra aqueles contos de livros que a gente compra e lê para dormir ou passar a tarde!
A história foi bem interessante que me fez ler até o final!
Eu imaginei as cenas na minha cabeça e foi magnífico!
Espero ver mais desses por aqui!

Bloder: Isso. Platão mesmo. No caso, o conto foi inspirado pela minha... impressão de algumas pessoas mais... politicamente ativas, digamos. Do tipo que não luta por um objetivo, mas que luta por lutar, mesmo sabendo que, no fim, não vai dar em nada. Esse tipo de coisa.
Obrigado pelo comentário.

Alisson: Cara, fico realmente feliz que tenha passado essa impressão. A ideia era realmente ser algo bem leve mesmo. Que bom que deu certo.
Ah, e eu queria dizer isso faz tempo: The Raid é foda.
Valeu por comentar.

Eu realmente estou ficando muito babaca... ou muito velho. Você decide.

rs... inspirado nos politicos brasileiros! não importa se algo é bom, se foi o outro partido q fez, vamos destruir! rs... mas ele não cabe apenas para a parte politica. Desconsiderando, de certa forma o final, ele cai muito bem para aquelas pessoas q acabam prendendo a si proprias dentro de muros q na verdade não estão ali. Achei bem legal o texto Moon! Parabéns!

Hanzo: Sim, cara. É bem isso. Destruição não é necessariamente algo ruim, mas destruição como um fim para si mesma é algo estúpido. E, bem, criar muros na própria cabeça mesmo quando se sabe que eles não existem, esse tipo de mentira... às vezes me pergunto se não são algo necessário.
Bem, obrigado mesmo por comentar.

Eu realmente estou ficando muito babaca... ou muito velho. Você decide.