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O Conto da Sereia

Iniciado por zodv, 04/03/2014 às 10:04

Mais um texto simples de minha autoria... Críticas são bem-vindas, quero crescer! :)

Prólogo

Spoiler

   - Sereia, por que tu me atraíste?
   - Porque eu não consigo me entregar totalmente a um único amor, preciso de outro, para complementar este primeiro, e mais outro para completar esse segundo e assim se segue... Por isso atraio tantos marinheiros para cá, geralmente os mais inexperientes...
   - Estás me chamando de inexperiente?
   - De maneira alguma! Só digo que, geralmente, aqueles quem atraio são inexperientes. Tu és uma exceção! Em minha opinião poderias ser até capitão!
   - Consegues entender o que digo? Isso é o exemplo perfeito! Tu me atraíste para cá e me encheu de esperanças, e, agora, me deixa por um marinheiro iniciante! Não fazes tu uso de uma tática por muito covarde?
   - Que dizes! Jamais foi essa a minha intenção! Eu gostei de ti. Trouxe-te para cá com toda minha alegria, mas, de repente, meu coração palpitou por outro marinheiro que andava pela beira da praia. Então, chamei-o para cá também. Por isso este lugar está assim, tão cheio. Não consigo passar um dia sequer sem convidar algum homem frondoso e encantador para cá!
   - Eu me encantei quando vi todo o teu cuidado para comigo. Mas não imaginava que tu eras cruel a este ponto... Só queria tua atenção, todo aquele carinho que me destes quando cheguei aqui. Agora quero apenas sair daqui.
   - Tu não vais a lugar algum! Se não fores meu, não serás de mais ninguém!
   - E que farás tu para me impedir? Matar-me-á?
   - Sou capaz de fazer qualquer coisa por teu amor! Inclusive matar-te, para que fiques aqui para todo o sempre em minha companhia.
   - Pois mate-me, porque eu não aguento mais um amor falso como esse!
   - Amor falso?! Como podes desdenhar de meus sentimentos?
   - Teus sentimentos de abandono e desprezo? Fica-te com eles. Eu não faço questão nenhuma. Prefiro ter uma mulher mortal que me dê amor verdadeiro, por pouco que seja, a uma mulher imortal que me promete vida eterna em troca da aceitação de seu total abandono.
   - Eu já disse que se não fores meu não serás mais de ninguém. Ficai! Vivas ao meu lado e deixas que eu te mostre o amor que tenho por ti.
   - De teu amor eu já estou cheio. Eu já disse que a própria morte para mim é mais satisfatória do que este teu amor fajuto.
   - Será que terei que te explicar mais uma vez como sou?
   - Não! Eu disse que prefiro a morte, então me mate logo, ou então me deixe sair!
   - Pois bem! Já que não sabes o valor de meus sentimentos tão singelos, vá-se! Mas não tenha esperanças de me ver novamente penteando meus cabelos nas longínquas águas do mar.
   - Será um prazer não vê-la de novo.
   - Adeus, meu amado.
   O marinheiro deu as costas à mulher de corpo escultural e saiu da sala-caverna passando por uma cortina de algas, soltando algumas ramificações com a força da passagem. O recinto agora se encontrava totalmente vazio, exceto pela presença da figura inerte de uma sereia. Seu olhar perdido focalizava o nada. Gotas mais cristalinas do que a água, que pareciam ter luzes próprias, começavam a subir levemente mar acima. Depois de certo tempo, a sala parecia receber luz do sol, ficando cada vez mais clara. A sereia, pela primeira vez, chorava por um homem. A sereia, pela primeira vez, amava verdadeiramente um homem.
   Saiu de seu refúgio. Procuraria pelo marinheiro até o fim do mundo, se fosse necessário. Ela nunca deixara um homem debochar de seus sentimentos e não seria essa a primeira vez. Pediu educadamente a lança a um dos Grags, os protetores do Palácio de Coral, e saiu agitando sua cauda violentamente.
   Dois dias de busca se seguiram. Debaixo de toda pedra, toda camada fina de areia, procurou ela pelo marinheiro. Começava a sentir o cansaço. Uma suave luz prateada banhava o mar. A Lua, pensou. Ouviu passos atrás de si. Conhecia aquele andar, aquela forma vacilante de pisar no chão. Sim, era ele. Não poderia ser outro. Por um momento, torceu como uma criança para que fosse verdade. O breve instante de se virar e olhar com delicadeza parecia mais longo que o normal. Ele estava de pé, um tridente na mão. Era de lá que a luz prateada vinha.
   Como dois dias poderiam modificar tanto uma pessoa? Ostentava uma armadura digna de heróis de histórias infantis. Toda forjada em aço reluzente, sem nenhum arranhão. Ela largou sua lança no chão e avançou no marinheiro a sua frente. Abraçou a água. O homem esquivara-se no último instante de seu abraço.
   - Pelo visto estás arrependida do que fizestes.
   - Sim! Eu estou! Não deveria tê-lo deixado fugir!
   - Espero que não tenhas criado falsas esperanças de nosso reencontro.
   - Que queres dizer?
   - Acabou-se. Nada poderá mudar minha opinião.
   - Não consigo te compreender.
   - Adeus, mulher.
   O tridente prateado logo foi banhado de um líquido espesso e rubro. Na ponta deste, um corpo de uma figura exótica: metade mulher, metade peixe. As águas marinhas logo espalharam todo o sangue, deixando a sereia de pele mais branca ainda, quase transparente.
   - Agora não fará mais mal algum a marinheiro nenhum.
   O marinheiro então retirou o tridente do tórax do cadáver, deixando-o cair. Longe, ao fundo, um tridente incrivelmente maior brilhava. Porém, à medida que se aproximava, ficava menor. Quando estava próximo o suficiente do homem, a luz azul se intensificou, de onde uma voz grave o suficiente para fazer o chão tremer falou.
   - Obrigado por teres libertado os homens da maldição de minha filha, marinheiro.
   - Senhor Netuno, sempre foi minha vontade conhecer-te.
   - Venha e te torna um de meus guardiões do mar. Tu provaste tua coragem. Espero-te em meu palácio.
   - O que fiz foi de fato certo? – Questionou o recém-formado guerreiro. Porém, a figura já se havia ido.
   Desta feita, o ex-marinheiro tomou o corpo da sereia nos braços e começou sua longa caminhada até os Palácios Primordiais.
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Zodv