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Depressão

Iniciado por Majora, 14/06/2014 às 02:35


Depressão


Berna estava arranhando a porta. Mesmo com as farpas afiadas entre as unhas, o sangue não a fez parar. Queria sair.
Ouviu um amargo canto do lado de fora. Seu coração reconheceu a voz, mas a memória falhou. Outras vozes lembradas pelo coração acompanharam a lenta e agonizante melodia, isso a fez parar.
O silêncio reinou na escuridão. A canção parou ao mesmo tempo em que a insistência de Berna. Havia alguém do outro lado. Alguém com muitas vozes.
— Tem alguém aí? – Ela gritou com o pouco ar que lhe cabia nos pulmões.
Ninguém respondeu apesar de Berna sentir uma presença palpitante. A coisa estava esperando algum movimento, esperando mais uma onda de vontade de sair dali.
Começou a ouvir algumas batidas tímidas no assoalho de madeira, como se a presença do outro lado estivesse entediada.
Ela não sabia o que fazer. Queria desesperadamente abrir aquela porta, mas a coisa estava aguardando.
Com uma pontada de pavor, sentiu olhos fitarem a porta, como se uma decisão tivesse de ser tomada. Instintivamente, fechou as pálpebras com toda a força que podia, pois queria evitar os olhares, mesmo sabendo que havia uma porta entre os dois.
— Apenas desejo ir embora, deixe-me! – sua voz não era mais que um choro desesperado.
— Agora choras pequena?
  Mil vozes responderam ao choro de Berna.
— Choro porque não me deixa sair.
— Nunca a impedi de sair. Até pensava em dar-lhe a mão e mostrar o caminho. – A voz era assombrosa, como se a cada letra pronunciada milhares de arrepios corressem pela pele de Berna.
— Mentes.
— Por que mentiria? Vejo o seu desconforto, quero ajudá-la.
Ela não tinha opções, seu choro já não tinha lágrimas e o ar lhe ficava cada vez mais pesado.
— Por que existem tantas vozes?
— Só há uma voz. As outras vozes não são minhas.
— Você não está sozinho?
— Estou sozinho. As outras vozes são tuas.
Berna abraçou os joelhos e se recostou na porta. Por algum motivo olhou para cima, estava escuro, não viu nada.
— Vais me ferir, não o quero!
— Sozinha, não achará o caminho para sair. – Sentiu um sorriso maldoso do outro lado.
Depois de minutos de silêncio, ouviu a coisa andando na outra sala. Uma cadeira rangeu, como se agora suportasse um grande peso.
— Esperarei. – as vozes eram melancólicas.
Berna não falou mais com a presença, estava com medo.
Não tentou sair.

Legalzinho. Me faz passar algum tempo imaginando se teria algum sentido metafórico ou algo profundamente literário escondido aí, mas não encontrei nada (que fizesse muito sentido, claro). Parece mais um flash rápido de uma cena de terror. E se for só isso, até que ficou legal. Me lembrou um livro (excelente) do Stephen King, O Iluminado, com a cena da porta e talz. Mas só uma coisa, se quiser realmente assustar, ou pelo menos dar um clima que incomode o leitor (o que não tenho certeza se foi sua intenção), vai com menos sede ao pote. Trabalhe mais a cena.

Não é um "flash rápido" de uma cena de terror, muito menos o objetivo do texto é assustar.
Se você prestar atenção no título fica fácil entender.


Hasta la vista

14/06/2014 às 15:32 #3 Última edição: 14/06/2014 às 15:35 por RuanCarlsyo
Então a entidade misteriosa é a depressão? Ou é uma pessoa tentando ajudar e só parece assustadora porque para a protagonista a ajuda é repulsiva? Passou pela minha cabeça algo assim, mas eu tinha imaginado que se fosse isso você não daria um nome próprio para a garota. O que eu disse só fez sentido na minha cabeça, mas enfim.
(Na sua última frase faltou um baby).

c:

É exatamente isso que você falou.
A "coisa" representa a ajuda que alguns oferecem, mas, para a pessoa deprimida, acaba interpretando como uma ameaça ou um ato invasivo.
"As vozes não são minhas"
O que tornava aquilo assustador para ela, na verdade estava na sua própria mente. :3


Hasta la vista

Agora que você explicou eu pude entender direitinho.

Nossa bem legal seu texto, sou meu ruim nessa área então acabo nem postando nem
comentando, mas seu texto me chamou a atenção.

Parabéns Majora!


Hasta luego! (Resident Evil 4)
Prazer, Terror dos Modinha

Achei que tinha ficado mais fácil de interpretar, mas agora to pensando que nem tanto E.e
Obrigado pelo comentário, Makers!


Hasta la vista

16/01/2015 às 23:28 #7 Última edição: 16/01/2015 às 23:31 por Zugzwang
Havia lido há um bom tempo, mas resolvi comentar. Melhor do que o terrível pirocomancer (digite pai na busca e seja feliz ou não), e outros texto do autor -- infelizmente, muitos. Digo isto para citar um famosinho.

Mais ainda, a mensagem tem sua profundidade, o que é incomum. Só diria que o que a moça tem deve ser mais do que depressão, mas isto não me parece tão importante.

Você deveria ser mais frequente, se forem textos dessa qualidade.

Boa sorte.
For all to be accomplished, for me to feel less lonely, all that remained to hope was that on the day of my execution there should be a huge crowd of spectators and that they should greet me with howls of execration.

Spoiler
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16/01/2015 às 23:56 #8 Última edição: 17/01/2015 às 00:14 por GuilherVX
Bom texto, Majora; não sabia que você escrevia bem assim.

Gostei bastante, sua narrativa tem uma boa colocação de palavras, e gostei dessa interpretação da depressão, mesmo achando um pouco exagerado — acho que se enquadraria melhor se fosse esquizofrenia ou crise de pânico —. Enfim, bom trabalho, Joras. o7

Ninha,
Devia ter comentado há um bom tempo então q
Brincadeira. Que bom que transmitiu ao menos alguma profundidade que eu tentei passar ^^

Guilherme,
Agradeço por achar que eu escrevo bem E.e
Talvez tenha ficado um pouco exagerado mesmo, mas fiz assim pra passar uma impressão do sentimento ser algo "forte".

Obrigado a vocês dois pelos comentários!


Farewell, my friends. Farewell.