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Degeneração

Iniciado por RuanCarlsyo, 20/07/2014 às 21:28

20/07/2014 às 21:28 Última edição: 24/07/2014 às 22:34 por RuanCarlsyo
https://drive.google.com/file/d/0B3BgKWp_NYMUMmxuX1o4S0R1N2c/edit?usp=sharing

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Qualquer semelhança desse conto com Clube da Luta não será mera coincidência.

Me foi pedido em outro fórum para que deixasse a opção de ler o texto por aqui também, então lá vai

Sinto sua pulsação.
Natural, selvagem, correta.
Ponho a mão por debaixo de sua roupa, e seguro firme.
Procurar significado no ato era como tentar destrinchar a razão da nossa existência. Necessário? Talvez, mas não tanto quanto a cerimônia.
O encaro no abismo negro das suas pupilas despertas e em movimento.
Prazer. E silêncio.
Prendo-me no caos da minha alma desorientada. Ainda éramos apenas dois homens? Ou algo além?
O derrubo, seu corpo se chocando contra a superfície e ecoando o barulho pelo local.
Aceito o que eu sou.   
O obrigo a trocar de posição, com violência descometida. Nossas respirações cadenciadas são melódicas como uma sinfonia de relâmpagos.
Eu sou um pouco do sangue espalhado na terra como arte abstrata universitária.
Subo em seu corpo suado. Estamos cansados, mas não o suficiente para desistir.
Eu sou apenas um urro gutural. Um barulho irracional que pondera ser melódico. E desistir de triunfar sobre a carcaça do outro era desistir da única coisa que não parecia vazia.
Meu poder se esvai quando ele trava meu braço. Solto um grunhido involuntário de dor. Repreendo-me. Se for para eu acabar assim, que seja em silêncio.
Eu sou as veias saltadas do assassino adormecido em mim faz um milênio.
Sem pedido de misericórdia. Sem perdão. Rápido como um chicote. Será que ele respeita isso?
Eu sou o cão não domesticado. O que não abaixa a cabeça. Apenas mais um cão. Mas tenho raiva.
Em um giro, caio de costas.
Merda.
Não é sobre ganhar ou perder.
Seu cotovelo bate em um golpe acidental (ou não) contra minha bochecha. Sinto o meu sangue.
É sobre resistir e lutar.
Bebo o meu sangue.
Meu rosto é espremido sobre a superfície lisa. Sinto suas baforadas em algum ponto atrás de mim.
O mundo deixa de ser um enigma a ser decifrado. Eu não preciso mais responder as perguntas básicas da filosofia, entender metafísica ou saber dizer se um círculo é um polígono com infinitos lados ou não.
Eu não preciso de Deus.
Eu só preciso deixar meu corpo agir.
Começo a me debater com violência. Não. Assim não.
Compreendo a gentileza dos canibais.
De não deixar que a existência dos derrotados acabe esquecida enterrada debaixo da terra. De dar a honra dos fracos apreciarem a glória do futuro como sangue e parte viva de seu corpo. Isso é mais do que eles merecem. Mais do que deveriam ter.
Rolo meu adversário por cima de mim, e saímos do tatame, indo para o chão duro de apenas concreto. Bato minha cabeça com força no chão, e abro um talho na minha testa.
Não paramos. Não pararemos.
Lembro também de ter lido um artigo científico de manhã. Sobre nós sermos limpos demais. Uma das razões da epidemia de alergias é que nossos anticorpos atacam coisas que não nos oferecem mal, como poeira e camarão. Se não tivesse uma bactéria ou um vírus de verdade para combater, talvez esses retardados parassem com essas retardadisses. Mas, assim como eu, eles vivem em um mundo cercado de educação e sabonetes e banhos e bons-dias e álcoois em gel. Nós não somos heróis. Nós não temos uma grande guerra para vencer. Nós não temos nada.
Se isso fosse apenas um esporte, se eu não estivesse sangrando, se toda minha alma não estivesse aqui, eu seria um anticorpo lutando contra uma poeira. Achando que estou salvando o mundo, mas apenas enchendo o saco do meu corpo inteiro.
A dor excruciante me faz sentir tão vivo que é como se tivesse passado a minha vida toda ensaiando para esse preciso momento.
Eu sou uma besta demoníaca. Eu sou o câncer da sua sociedade. Porque eu me lembro do que sou. Eu aceito o que sou.
Vários alunos da aula de jiu-jitsu se juntam em torno de nós.
Eu não estou fora de mim. Nunca estive tão por dentro.
O professor não diz uma palavra, e continuamos sincronizados, disputando o topo da cadeia alimentar.
Ele me dá outra cotovelada, e desta vez sei que não foi acidental. Minha mandíbula se desloca, e sinto o doce som de ossos se partindo. Soco o seu nariz, esmigalhando sua cartilagem, e a estrutura do meio do seu rosto explode em sangue.
Rio histericamente.
Alguns alunos tentam nos separar, mas a maioria deles permanece petrificada. Qual é o problema deles?
Eu continuo sendo um ser humano. A diferença é que eu aceito o que eu sou. Aceito o meu eu primitivo. Aceito o fato de que sou um animal.
Nunca foi um esporte. Já chega de simulações. Não dá pra simular isso. Isso é real. É apenas isso que é real.
Olhem para mim. Ele percebe algo diferente. Isso. Olhe para mim. Ele não entende. Qual é o problema dele? Ele não me entendia? Mesmo nesse jogo sem palavras?
Falo, finalmente, dando uma pausa aos socos, e me concentrando em agarrar seu pescoço.
Minha voz sai embargada, rouca, baixa, disforme. Mas audível.
— Não importa... — Recupero o fôlego. Não existe o resto dos alunos, não existem seus esforços para nos separar, não existem as ameaças de ligar para a polícia. Existe apenas ele e eu.
E mais nada nesse mundo.
— Não importa o quanto eu te trucide, você continua com esse olhar... Esse olhar de que ainda vai vencer... Eu vou te mandar para o inferno junto com esse olhar... O que acha disso? Hein?
Não tinha ódio dele. O respeitava por ele ser como eu. Mas odiava o que ele representava.
— HEIN?!
Agarro sua cabeça com ambas as mãos e a bato contra o chão. O som do baque surdo ecoa como um instrumento de percussão. O som delicioso que me deixou viciado.
— HEIN?!
Sua cabeça rachando era minha heroína. Não queria sair do transe hipnótico.
O leão mastiga as tripas da gazela. O homem esmaga a formiga. O gato mata o rato. O mais forte domina o direito de decidir sobre a vida do mais fraco.
Eu sou o predador alfa.
Eu te domino, mais fraco.
Alguém bate um extintor de incêndio contra minha cabeça. Ouço as sirenes da polícia.
Se ajoelhem ou morram!
Minha visão fica turva e eu caio no chão.
Porque eu sou o rei!
Sinto o som de várias pisadas de botas chegando. Algo frio tenta prender minha mão, mas não paro de me debater.
Porque eu...

Sinto um tapa atrás da minha cabeça. Abro os olhos, zonzo, e todos os engravatados me encaram. Meu chefe contorna a mesa e diz:
— Fica esperto, gordinho. Se continuar assim, já sabe onde vai continuar a dormir!
Suspiro fundo. Qual o sentido da vida mesmo?
Volto a imprimir cópias de relatórios. Meu chefe se afasta.
Não permitirei isso. Não serei o dominado. Hoje não.
Inale, exale. Para frente, para trás.
Meu espírito já está cansado da espera pela revolução.
Depois de um minuto, junto toda a minha coragem. É agora.
Um, dois, três, quatro, cinco.
Volto a dormir.

Eu acho que vou ler, clube da luta é um filme muito bom, pena que houve aquelas mortes associada ao filme.
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20/07/2014 às 21:54 #2 Última edição: 20/07/2014 às 22:02 por RuanCarlsyo
Eeerr, não sabia disso. Vou ver no google. Valeu, de qualquer forma. Espero sua avaliação. Ah, também avisando que deu um edit no arquivo, corrigindo alguns erros.

Edit: Agora eu vi, mas a causa não foi o filme em si, foi só um maluco qualquer, acho. Pela foto dele que eu vi, já tem mó cara de psicopata.

Bem eu gostei ate segue o que eu achei...

o inicio tem uma conotação sexual desagradável...
o meio é excelente e representa bem os sentimentos de um combate real.
o final é cômico e também desagradável....
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