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Os sete pecados

Iniciado por Hanzo, 11/09/2014 às 18:52

Seu pai os havia convocado mais uma vez. Ele era um homem baixo, poucos acreditariam que aqueles sete eram irmãos, muito menos que tinham aquele senhor decrépito como pai, mas assim era. Ele veio andando pelo corredor daquele velho prédio, no centro de São Paulo, bem em frente ao Mercadão.

Tinha muita gente falando e andando pelos corredores, mas parecia que ninguém notava o velho e sua cartola, até que finalmente ele encontrou "o corredor". Esse remetia aos velhos tempos do Edifício São Vito, parecia nunca ter sido afetado pelo tempo.

O velho, baixinho, banguela e de cartola, seguiu sozinho pelo corredor silencioso, até chegar ao apartamento de número 625. Ele bateu uma única vez sua bengala no chão e foi como se todo o prédio tremesse ligeiramente. Seu terno rasgado se agitou e a porta se abriu.

Ali dentro já havia uma pessoa. Sentado a mesa havia um homem, braços cruzados e cabeça abaixada. Qualquer um dos outros filhos teria esboçado alguma reação à entrada do pai, mas não aquele, aquele continuou como estava, braços cruzados e cabeça abaixada. Seu cabelo castanho, cumprido, lhe cobria a face, mas o velho tinha certeza que ele não havia nem sequer aberto os olhos para recebê-lo.

A porta nem sequer havia fechado quando voltou a se abrir e por ela passou outro homem. Esse era loiro e alto, olhos claros, cabelo curto, bem cortado e penteado. Seu terno era de um tom cinza claro, feito sob medida para ele. Seu andar era decidido, elegante, caminhou até a mesa como se estivesse se dirigindo ao trono do maior império que já existiu sobre a terra, caminhou para sentar-se naquele trono. Pousou sua mão sobre a cadeira como um dia fizera no ombro de Hitler e disse:

   - Me desculpe, amado pai, por não ter chegado antes, a viagem de Washington para São Paulo não foi tão rápida quanto eu esperava, mas pelo menos a primeira classe continua sendo muito boa. Vejo que somos os dois primeiros a chegar. Bem, não poderia ser diferente, não?
   - Sente-se, Stolz, vamos aguardar a chegada de seus irmãos.
   - Sim, amado pai. E você, Mrzelivost, como está? Vejo que seus cabelos cresceram desde a última vez que nos reunimos... mas suas roupas continuam sendo aquele mesmo trapo da década de 50!

O homem que já estava sentado à mesa quando o velho de bengala e cartola chegará ao apartamento continuou de braços cruzados e cabeça abaixada, sua única reação foi parecer respirar pela primeira vez desde que seu pai havia entrado no recinto.

O corredor que dava acesso ao apartamento 625 estava mais uma vez sendo transposto. Um homem de estatura mediana e pele bronzeada. Seu terno roxo era bem alinhado, fino, caro, e destoava do tênis de marca e boné aba reta, além é claro da corrente de ouro com o pingente em formato de cifrão. Era uma figura ridícula de se olhar, mas muitos diriam que ele era uma pessoa de estilo.

Cruzou o corredor com o gingado de um rapper e parou em frente à porta, analisando-a. Ele gostava daquela porta, era uma porta simples, mas tinha algum charme, talvez valesse a pena comprar aquele lugar só pela porta. Tocou a maçaneta e a porta se abriu. Ele logo pensou que deveria ter vindo com seu terno cinza, ou talvez ele devesse pegar aquele que seu irmão usava emprestado. Em conjunto com a cartola e a bengala do pai ele tinha certeza que ficaria excelente.

   - Vejam se não é o pequeno Greed que chegou agora! Nem com todo esse dinheiro consegue chegar antes do que eu, hein, meu caro irmão? – provocou Stolz.
   - Sabe como é, não, é meu irmão? Viagens, carros, há muitas coisas importantes para comprar por ai, e por isso me atrasei um pouco... Quase não chego para nossa reunião pois estava negociando a compra de um prédio importante aqui nessa cidade, acho que da para vê-lo daqui, é aquele ali, aquele bem alto, parecido com aquele de Nova Iorque, sabe? – perguntou Greed, enquanto a porta se fechava.
   - Acho que para comprar aquele você precisará de alguém mais bem afeiçoado, alguém como eu, por exemplo, caso contrario você poderá assustar a outra parte.
   - Dinheiro, Stolz, dinheiro, é só isso o que importa! – respondeu Greed. – E então, pai, vai me vender essa cartola e essa bengala?
   - Greed, você sabe que estou na frente nessa linha de sucessão. – respondeu Stolz.
   - Claro que está, todos nós sabemos que você é o preferido. – disse uma voz vinda da porta.

A porta se abriu e mais um dos irmãos havia chegado. Ele era moreno por natureza, mas havia descolorido seus longos cabelos e agora eles tinham um tom platinado, apesar de a raiz já mostrar sua cor negra original, usava um terno cinza, tênis de marca e uma corrente dourada, sem pingente. Em uma das mãos carregava uma bengala. Em seu olhos lentes tornava-os algo entre o azul e o verde.

   - Pavydas, bonito terno, quase tão bonito quanto o meu. – disse Stolz, não disfarçando o sorriso em seu rosto.
   - Se seu tênis não fosse igual ao que eu usava ontem, eu o compraria de você, Pavydas. – disse Greed.
   - Já estão quase todos aqui. Entre Pavydas e sente-se em qual cadeira quiser. – disse o velho desdentado.
   - Me sentarei ao seu lado, pai.
   - Eu já estou ao lado dele, irmão. – disse Stolz.
   - Sentarei do outro lado então, oras! Ficarei de frente para você, só você acha que pode ficar no melhor lugar?
   - O melhor lugar é o meu, Pavydas. – provocou Greed.
   - Qual é o seu lugar? – perguntou surpreso.
   - Nenhum lugar seu pode ser melhor do que o meu lugar, Greed! – ponderou Stolz.
   - Meu lugar é aqui na janela, tenho a vista de todo o centro de São Paulo daqui...
   - Me sentarei ao lado do pai então, mas virarei minha cadeira para a janela, assim terei a mesma vista que você! E assim terei o melhor lugar! – exclamou Pavydas.
   - Grande coisa a vista dessa cidade de merda, nesse prédio de merda... Minha sala no Empire States tem uma vista muito melhor da Big Apple do que essa sala tem dessa cidadezinha que cheira a esgoto e gente pobre.

O homem de cabelos cumpridos, cabeça abaixada e braços cruzados respirou profundamente mais uma vez durante a discussão, era como se fosse a segunda vez que ele respirava desde que seu pai entrara no apartamento de número 625 do Edifício São Vito. O velho de bengala e cartola apenas olhava para os filhos enquanto eles discutiam, ainda faltava à chegada de três para que estivessem todos ali.

Aquela era uma reunião importante, provavelmente seria a última naquele prédio, pois a prefeitura da cidade estava planejando derruba-lo. O prédio era antigo, já havia sido tomado, vandalizado, virado uma mancha no centro da capital econômica de um dos países mais importantes do cenário mundial atual, uma das dez maiores economias do mundo.

Mas, talvez com a presença de Mrzelivost ali, naquele quarto a demolição demorasse um pouco mais. A presença dele ali, naquele apartamento, na verdade, era o que fazia com que Stolz, Greed e Pavydas ainda não tivessem rolado no chão, brigando feito crianças.

   - Filho do puta de transito do inferno nessa cidade do caralho! – gritou uma voz vinda porta, e continuou. – Quem foi o imbecil que achou que nos reunirmos nessa cidadezinha de merda seria uma boa ideia? Ideia de merda!
   - Relaxa, Gnev! Pelo menos a comida aqui é uma delicia! – disse uma voz vinda do corredor.
   - É, seu gordo de merda, essa ideia deve ter sido sua, alias você deve tê-la cagado depois de comer tanto resto de porco naquela gororoba que esse povo daqui chama de comida.

O mais alto e forte dos irmãos havia chegado, ele era negro e tinha o tronco forte como o de um touro, tinha a cabeça toda raspada e estava barbado, usava uma camisa polo rosa agarrada ao corpo. Ele parecia realmente procurar encrenca. Deu alguns passos a frente liberando a porta de entrada para seu outro irmão.

   - Putz... não tinha nenhuma roupa melhor onde você comprou essa, Gnev? – perguntou Stolz. – Por que você não para de comprar roupa na mesma loja que o Greed e vai comprar na mesma loja que eu?
   - Por que você não fecha essa sua matraca, Stolz, antes que eu te deixe banguelo igual ao nosso pai?
   - Oras, Gnev, meu irmão, da última vez que brigamos você ficou tanto tempo naquele hospital que o Greed acabou comprando aquela espelunca... E depois o Pavydas acabou comprando mais dois hospitais.
   - Você é um bosta, Stolz! Vamos lá pro terraço que eu acabo com a sua raça. Anda seu bigato branco! – vociferou Gnev.
   - Ah vá, Chica da Silva, temos coisas mais importantes para resolver aqui do que eu chutar a sua bunda mais uma vez. – respondeu Stolz.

Nesse momento o outro irmão que estava no corredor atravessou, com alguma dificuldade, a porta do apartamento 625. Ele era grande, pesava algo próximo há 150 quilos, sua pele era alva e seus cabelos negros eram encaracolados desde a raiz. Em sua mão ele segurava uma taça de sorvete de chocolate. Em sua camisa azul, marcas de suor indicavam o quanto chegar até ali era um esforço grande para aquele corpo.

   - Isso é sorvete de chocolate, você trouxe mais, Bedrywe? – perguntou Pavydas.
   - Eu até tinha trago, mas acabei tomando tudo, Pavydas, meu irmão.
   - Humpf... espero que engasgue com o resto então. – amaldiçoou Pavydas.
   - Mas é claro que ele ia tomar tudo, esse gordo do cacete! Você, Bedrywe, só não é pior do que o Stolz, esse sim é um merda! – bradou Gnev.
   - Quer me vender esse sorvete, ele parece bom? – perguntou Greed.
   - Olhando daqui não se parece em nada com os da Häagen Dazs que costumo comer em Wall Street...
   - Sorvete de bicha... só podia ser o Stolz pra comer essa bosta.
   - Bicha? E vejam se não é o mais afetado e "dodói" negão de rosa que está falando isso. – retrucou Stolz.

Nesse momento apenas o pai e Mrzelivost estavam sentados, todos os outros homens do recinto estavam de pé, discutindo sobre a masculinidade um do outro e sobre os sorvetes de Wall Street e de São Paulo, até que a porta se abriu pela última vez e todos os sete filhos se reuniram depois de anos.

Na porta uma loira estonteante, trajando um longo vestido vermelho, de mesmo tom que seu batom. Seus lindos cabelos dourados desciam em ondas até a metade de suas costas e cobria parcialmente a parte que o vestido deixava amostra. Os voluptuosos seios também ficavam parcialmente expostos graças ao generoso decote, enquanto praticamente toda a perna direita podia ser apreciada pelos irmãos graças a grande fenda no vestido.

Seus olhos verdes penetraram fundo em cada um deles e o silencio se fez no apartamento de número 625 do Edifício São Vito. Mrzelivost respirou fundo mais uma vez e levantou a cabeça, olhando em direção a irmã, esquadrinhando lentamente cada parte de seu corpo, enquanto ela caminhava em direção aos irmãos, que também a encaravam.

   - Bom dia, meus irmãos, papai.

Ela passou por eles e seguiu em direção ao velho desdentado, que a aguardava, sentado na ponta da mesa.

   - Maravilhosa como sempre, Lust! – exclamou Stolz. – Linda como você é, só poderia ser sangue do meu sangue, o que é uma pena...
   - Isso não me impediria de compra-la. – murmurou Greed.
   - Nem a mim de toma-la de você. – murmurou Pavydas.
   - Eu a comeria no café da manhã. – respondeu Bedrywe, lambendo os lábios.
   - Só de pensar nessa cena já me da vontade de quebrar essa sua fuça gorda. Essa loira ai não vê é a hora de deitar comigo, isso sim. – afirmou Gnev.
   - Com essa tampa de caneta bic que você tem no meio das pernas, Gnev, ela voltaria correndo pros meus braços, que é onde normalmente ela está. – retrucou Stolz.
   - Vamos lá rapazes, vamos parar com essa discussão e fazer algo mais prazeroso? – questionou Lust, enquanto levantava uma de suas sobrancelhas e lambia seu lábio. – Como você está, Mrzelivost.
   - Lust. – respondeu Mrzelivost, descruzando os braços.
   - Muito bem, agora que todos estão aqui tomem seus acentos e vamos dar inicio a última reunião no Edifício São Vito. – ordenou o senhor de cartola.
   - Sim, pai. – responderam todos ao mesmo tempo, enquanto puxavam suas cadeiras e se sentavam.

A exceção foi Mrzelivost, que cruzou os braços, abaixou a cabeça e respirou fundo mais uma vez. Os sete pecados se calaram para ouvir as instruções de seu pai. E enquanto eles ouviam atentamente as palavras do velho senhor de cartola e bengala, a prefeitura dava inicio a desocupação dos 624 apartamentos do Edifício São Vito, no centro da cidade de São Paulo.

Fim.

11/09/2014 às 19:06 #1 Última edição: 11/09/2014 às 19:08 por Akkain
- Com essa tampa de caneta bic que você tem no meio das pernas, Gnev, ela voltaria correndo pros meus braços BR LEVEL 12345678 kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

p.s: c eles são os 7 pecados o pai deles é o kpiroto em pssoa?

Citação de: Akkain online 11/09/2014 às 19:06
- Com essa tampa de caneta bic que você tem no meio das pernas, Gnev, ela voltaria correndo pros meus braços BR LEVEL 12345678 kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

p.s: c eles são os 7 pecados o pai deles é o kpiroto em pssoa?

... Você tem algum tipo de autismo não-diagnosticado, por acaso?

Mas enfim. Hanzo, excelente texto, estou adorando te ver tirar a ferrugem! Volte em cheio, amigo, que assim eu até me motivo a competir de novo nesses concursos onde o Lotmaker tenta desesperadamente nos entediar até a morte. Só acho que a fluidez da narração precisa de um pouco de prática, e que as personagens estão um pouco mais rasas do que estou acostumado com seus textos (o que não é algo que espero que você volte a ter logo de cara, é só que ainda considero Oeste Selvagem uma inspiração eterna, ainda mais por estas bandas.


Citar"... Você tem algum tipo de autismo não-diagnosticado, por acaso?"
Boa tarde pro senhor, também.

rs... valew Akkain!

Vifibi, meu amigo! q bom q curtiu o texto! Vamos ver se consigo voltar a escrever com mais frequência agora, não custa nada tentar! hehehe... valew!

Citar... Você tem algum tipo de autismo não-diagnosticado, por acaso?
... Você tem algum tipo de distúrbio mental não diagnosticado, por acaso?

Enfim. Curti bastante esse teu texto Hanzo. Você escreve muito bem meu rapaz! Espero realmente te ver voltar da ferrugem, e ter ver no colosseum novamente, por que hoje em dia, o Lotmaker, não está trazendo tanta diversão como antigamente. Só acho que pecou um pouco na narrativa, ela ainda está bem simples, comparando com as que você já utilizou Oeste Selvagem fale por si só!

rs... pois é, nem sempre a gente consegue acertar em cheio, mas vamos tentando... faz tempo que não escrevo, então as coisas vão saindo meio mais ou menos...

não sabia q a galera gostava tanto desse outro texto... eu mesmo quase não me lembro dele... acho q vou posta-lo de novo por aqui! hahaha...

enfim, valew!